Zemaria Pinto
Rogélia
Casada
com um colega do banco, com quem me dava muito bem, apesar do pudor de chamá-lo
de amigo, Rogélia era de uma beleza difícil de descrever: a pele achocolatada,
os cabelos castanhos muito claros, os olhos profundamente azuis – e um corpo
esculpido com requintes de perfeição. Certa manhã, toca o telefone e ela
pergunta pelo marido, que se sentava à minha frente, no lado oposto da sala.
Ele estava lá, mas ela queria falar mesmo era comigo, queria encontrar-se
comigo, longe da paisagem cotidiana. Marcamos para o final da tarde, no
balneário do Parque 10, cujo bar funcionava a partir de quinta-feira. Ela
estava com um véu sobre a cabeça e óculos escuros, mas era impossível disfarçar
aquele corpo monumental, sem par em toda a cidade. No bar, pouco mais de 18
horas, apenas dois casais, muito provavelmente, clandestinos também. Rogélia
soubera que o marido andava de caso com uma estudante do Pedro II – e queria
vingança. Mas por que eu? – Porque ele não gosta de você; acha que ele, por
inúmeras razões, deveria ocupar o seu lugar no banco; e por muito tempo ele me
pintou você como um sedutor irresponsável, um moleque; agora, eu quero que você
me seduza... Àquela mulher tão linda, era quase impossível dizer não. Tentei
argumentar, mas ela me sufocou com um beijo, o hálito quente, um gosto de
framboesa.
(Continua no blog Poesia na Alcova)