Pedro Lucas Lindoso
Nas zonas temperadas da Terra as
estações são bem definidas. Com verão de
noites curtas e dias longos e invernos sem sol. Já aqui na Amazônia, o tempo se
mede pela subida e descida do sol, do oriente ao ocidente, sem maiores
variações durante o ano. O que importa é o regime das águas. De janeiro a junho
o rio enche. É quando chove muito. Alguns dizem que é inverno porque o calor é
moderado. De julho a dezembro temos a vazante. As chuvas ficam mais escassas e
aparecem as praias nas margens dos rios.
O caboclo ribeirinho vive uma
existência meio que atemporal. Muitos não usam relógio e sequer sabem ler e
dizer as horas. Conheci um que usava um relógio com bateria vencida. Era um
simples enfeite. Em certas comunidades, relógio não tem serventia, pois as
coisas acontecem nas manhãs, à tarde ou à noite.
O padre Sidney Canto dá
assistência religiosa a uma comunidade ribeirinha no Baixo Amazonas. Padre
Sidney é um homem humanista e valoroso. Dentre suas diversas atividades,
trabalhou na criação do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós.
O padre nos contou que certa
feita foi rezar uma missa num vilarejo ribeirinho e fazer alguns batizados.
Chegou à comunidade por volta das sete horas. Não havia ninguém. Às sete e meia
chegou o ministro da eucaristia e os coroinhas que iriam ajudar na missa. Às
oito horas começou a chegar mais gente. Ás oito e meia, finalmente, inicia-se a
missa. Como já dito, os eventos na Amazônia acontecem nas manhãs, à tarde ou
pela noite.
As distâncias também são em
escalas desconhecidas aos brasileiros do sudeste. O sacerdote havia acordado as
três da matina para chegar à comunidade às sete horas. Enfrentou algumas horas
de lancha, que é mais rápido.
Após a missa aconteceu o
batizado das crianças. O relógio marcava dez e meia quando Pe. Sidney dirigiu-se
à lancha que o traria de volta a Santarém. De repente atracou uma canoa com um
casal e uma garotinha de colo. Vinham para ouvir a missa e batizar a pequena
cunhatã. Haviam remado por duas horas de sua comunidade até o vilarejo.
O padre disse que já havia
rezado a missa e feito os batizados. Mas desembarcou da lancha para atender ao
jovem casal. O rapaz havia argumentado:
– Seu padre, a missa não era
pela manhã?