Amigos do Fingidor

terça-feira, 16 de junho de 2015

Pelo fim do preconceito



Pedro Lucas Lindoso


O famoso cronista gaúcho Luís Fernando Veríssimo, em crônica recente, intitulada “Buracos morenos”, discorre na verdade, sobre os famosos buracos negros. Diz ele que há mais buracos negros do que se imaginava. Engolindo tudo, como gigantescos aspiradores. E ainda há pequenos ductos a nossa volta, também engolindo coisas e pessoas. Fiquei preocupado.  E cita tia Idalina, ”que todos pensavam que tinha fugido com um boliviano e fora apenas sugada por um ducto”.
Alguns de meus poucos e amados leitores sabem que eu tenho uma tia chamada Idalina. Não deve ser a mesma pessoa, porque minha querida tia Idalina está viva, não foi engolida por ducto nenhum e ainda mora em Copacabana.
Outra coincidência é que tia Idalina, em sua juventude manauara, também fugiu. Não com um boliviano, mas com um peruano. Foi parar em Cusco e teria sido a primeira garota amazonense a conhecer Macchu Picchu.
Disse-me tia Idalina, que o peruano era um gentleman, mas ela não se deu bem com a altitude do Peru. Acabou voltando para Manaus. Ademais ficava constrangida. Não por ter fugido, mas o rapaz era do Peru e morava em Cusco. Havia ainda o Lago Titicaca, Pisac e Macchu Picchu. As palavras pareciam copular obscenamente em suas cartas, carinhosamente remetidas às amigas e aos parentes saudosos aqui no Brasil.
Outra coisa constrangedora, em desfavor do tal peruano, é que aqui no Amazonas, há um dito popular desagradável, preconceituoso, e politicamente incorretíssimo. Em todo Brasil, dizem que só vai para prisão, três tipos de gente que começa com “p”. Aqui em Manaus, aos três “p”, acrescentam, odiosamente, paraenses e peruanos.
Tia Idalina, que é filha e neta de paraense, acha isso um desrespeito. Talvez seja uma das razões de ter se mudado definitivamente da cidade. Quanto ao seu amor peruano, ela jamais o esqueceu. Um rapaz honesto, carinhoso, educado. O problema foi altitude e não atitude.
Quanto à prisão, Idalina proclama que deveriam prender os preconceituosos e infames, que ficam alardeando por aqui que só vai preso paraense, peruano, pobres. Esqueçam isso gente! Idalina é enfática quando diz:
“Vamos acabar com preconceitos.”