Pedro Lucas Lindoso
O famoso cronista gaúcho Luís
Fernando Veríssimo, em crônica recente, intitulada “Buracos morenos”, discorre
na verdade, sobre os famosos buracos negros. Diz ele que há mais buracos negros
do que se imaginava. Engolindo tudo, como gigantescos aspiradores. E ainda há
pequenos ductos a nossa volta, também engolindo coisas e pessoas. Fiquei
preocupado. E cita tia Idalina, ”que
todos pensavam que tinha fugido com um boliviano e fora apenas sugada por um
ducto”.
Alguns de meus poucos e amados
leitores sabem que eu tenho uma tia chamada Idalina. Não deve ser a mesma
pessoa, porque minha querida tia Idalina está viva, não foi engolida por ducto
nenhum e ainda mora em Copacabana.
Outra coincidência é que tia
Idalina, em sua juventude manauara, também fugiu. Não com um boliviano, mas com
um peruano. Foi parar em Cusco e teria sido a primeira garota amazonense a
conhecer Macchu Picchu.
Disse-me tia Idalina, que o
peruano era um gentleman, mas ela não se deu bem com a altitude do Peru. Acabou
voltando para Manaus. Ademais ficava constrangida. Não por ter fugido, mas o
rapaz era do Peru e morava em Cusco. Havia ainda o Lago Titicaca, Pisac e Macchu
Picchu. As palavras pareciam copular obscenamente em suas cartas, carinhosamente
remetidas às amigas e aos parentes saudosos aqui no Brasil.
Outra coisa constrangedora, em
desfavor do tal peruano, é que aqui no Amazonas, há um dito popular
desagradável, preconceituoso, e politicamente incorretíssimo. Em todo Brasil,
dizem que só vai para prisão, três tipos de gente que começa com “p”. Aqui em
Manaus, aos três “p”, acrescentam, odiosamente, paraenses e peruanos.
Tia Idalina, que é filha e
neta de paraense, acha isso um desrespeito. Talvez seja uma das razões de ter
se mudado definitivamente da cidade. Quanto ao seu amor peruano, ela jamais o
esqueceu. Um rapaz honesto, carinhoso, educado. O problema foi altitude e não
atitude.
Quanto à prisão, Idalina
proclama que deveriam prender os preconceituosos e infames, que ficam
alardeando por aqui que só vai preso paraense, peruano, pobres. Esqueçam isso
gente! Idalina é enfática quando diz:
“Vamos acabar com
preconceitos.”