João
Bosco Botelho
No
século 4 a.C., na Grécia, na Escola Médica de Cós, sob a liderança de
Hipócrates, a palavra higiene se impôs no sentido regulador, tanto na alimentação
quanto no caráter educativo. Nesse contexto, a ginástica fazia parte da manutenção
da saúde. Por esta razão, os ginastas permaneceram independentes frente ao
crescente poder médico nas relações sociais e também conquistaram papel
importante no aconselhamento do corpo sadio.
O
texto De um Regime de Vida Saudável se
propõe servir de guia ao público. O autor desconhecido estabeleceu os
parâmetros da cultura médica mínima da vida saudável. O objetivo central do
autor seria estabelecer, pela lei, o caminho que as pessoas deveriam seguir
para evitar a doença.
O
propósito parece ter sido o mesmo do autor do livro Da Dieta que aborda a importância da alimentação balanceada com
frutas e legumes.
A
estrutura teórica da Medicina como paideia, na Grécia, no século 4 a.C., estava
tão bem elaborada que perpassou o mundo romano. No século 2 a.D., o médico
Galeno (138-201), o mais conhecido representante da medicina romana, acoplou a
cada humor da Escola de Cós, da teoria dos Quatro Humores (sanguíneo,
fleumático, bilioso preto e bilioso amarelo) novas categorias por ele denominadas
temperamentos (sanguíneo, linfático, melancólico e colérico). Os escritos
galênicos, valorizados durante mais de quinze séculos no Ocidente cristão,
valorizava a sangria, sudorese, diarreia e vômito como formas de tratamento
para equilibrar os humores e restabelecer a saúde.
Humor
(Grécia) Temperamento (Roma)
|
|
Sanguíneo Sanguíneo
|
Fleumático Linfático
|
Bilioso
preto Melancólico
|
Bilioso
amarelo Colérico
|
A
flexibilidade da Medicina como paideia acabou ferida, na Idade Média, pela
intolerância restritiva exaltando a doença como pecado e o milagre como
principal prática de cura. Os santos substituíram os deuses e deusas
greco-romanos e se tornaram o único tratamento dos doentes sem esperanças, nos
incontáveis santuários, especialmente, em Jerusalém e Compostela.
A
influência greco-romana trazida pelo elemento colonizador marcou as práticas
médicas coloniais: a princesa Paula Mariana, filha do primeiro imperador do Brasil,
sob os cuidados dos mais importantes médicos da corte, faleceu após ser
submetida às muitas sangrias e clisteres para expurgar os “maus humores”. O
mesmo pensamento se manteve na Europa do século 19: o viajante Von Martius, no
Amazonas, descreveu o temperamento dos índios como “fleumático, por terem pouco
sangue nas veias”.
As
construções teóricas dos saberes, independente dos juízos de valores, se mostram
competentes e duradouras na medida da durabilidade do pensamento inovador: a
teoria dos Quatro Humores, do tempo de Hipócrates, na Grécia do século 4 a.C.,
e a teoria dos Temperamentos, do médico romano Cláudio Galeno, no século 1,
sustentaram a veracidade do diagnóstico e do tratamento por quase vinte
séculos.