João
Bosco Botelho
O conjunto das novas observações consequentes
da utilização do microscópio – pensamento micrológico – se tornou grande em tempo
tão curto que se formaram inúmeras associações científicas, onde eram
comunicadas e discutidas as descobertas da microestrutura do corpo humano. Entre
as aplicações imediatas das novas observações se destacou a identificação do
ácaro como agente causador da sarna. Esta doença da pele já era conhecida desde
os tempos bíblicos e incluída entre as oito doenças aceitas como contagiosas. A
identificação do ácaro se tornou a primeira prova de os micro-organismos serem
as causas das doenças.
Como consequência da nova abordagem, a
relação direta entre a identificação do micro-organismo e a certeza do
diagnóstico influenciou o modo como os médicos do século 18 se relacionavam com
os doentes. A frieza com que a concepção mecanicista de vida impunha
determinava a simplificação das funções vitais a simples acontecimentos
mecânicos ligados aos micróbios. Os médicos passaram a se contentar com a
descrição dos sintomas a distância do doente: a partir dos dados obtidos de
maneira indireta, estabeleciam o diagnóstico e o tratamento.
As críticas mais contundentes dessa
Medicina mecanicista se mantiveram fortalecidas com as publicações de Thomas
Sydenham (1624-1689). Esse genial autor defendia que o ponto fundamental da
Medicina era a presença do médico na cabeceira do doente, utilizando todos os
recursos que pudessem auxiliar na cura.
O
lado mais espetacular do pensamento micrológico aderiu aos esforços de quatro médicos
extraordinários que se imortalizaram por terem mudado a Medicina e o mundo
evitando a morte e o sofrimento de milhões de pessoas:
–
Louis Pasteur (1822-1895): identificação do estafilococo no furúnculo e na
osteomielite (infecção no osso); identificação do estreptococo na febre
puerperal (infecção pós-parto que matou milhões de mulheres); introduziu o
termo vacinação; realizou a primeira vacinação anti-rábica, em 6 de julho de
1885, numa criança de 9 anos de idade que tinha sido mordida por cão raivoso; introduziu
a assepsia e anti-sepsia com famosa frase: “Se eu tivesse a honra de ser
cirurgião, sempre lavaria as mãos com muito rigor e as exporia, rapidamente, ao
calor, e só usaria instrumentos limpos previamente submetidos à temperatura
entre 130 e 150 graus e água tratada até 110 graus”.
– Robert Koch (1843-1910): definitiva
comprovação de que cada doença infecciosa é causada por bactéria específica; isolamento,
em 1882, do bacilo da tuberculose; identificação, em 1884, do vibrião da
cólera.
– Alexandre Yersin (1863-1943): durante
a epidemia, em Hong Kong, em 1894, esse médico suíço identificou o bacilo da
peste e o papel do rato na transmissão da doença, contudo não associou a pulga
como o elemento contagiante.
– Gehard Hansen (1841-1912): identificou
o bacilo da lepra (Mycobacterium leprae), em 1873, a partir de
preparações frescas e não coradas.