Pedro Lucas Lindoso
Há
pessoas que são viciadas em consumir, comprar coisas. Até mesmo coisas que não
precisam.
A
querida tia Idalina soube que Imelda Marcos havia deixado cerca de mil e
duzentos pares de sapatos para trás. Isso lá pelos anos oitenta do século
passado. O fato ocorreu quando Imelda e o ditador Ferdinand Marcos foram
expulsos das Filipinas. Titia correu para ver quantos pares havia em seu closet. Chocada, contou vinte e oito
pares. De imediato, livrou-se de oito. Um tanto quanto contrariada, pois como
Imelda Marcos, adora um sapato. Mas foi
uma questão de consciência, explicou-me.
Em
viagens, somos todos levados a comprar. Há gente que viaja tão somente para
fazer compras e não são comerciantes. Normalmente, somos atraídos por coisas
que não existem em nossas cidades.
Tina,
sobrinha de Idalina, comprou um enorme cocar do Caprichoso, no último festival
de Parintins. No avião, a aeromoça pediu que colocasse o cocar no bagageiro,
por medida de segurança. Tina se recusou. As lindas penas de cor azul seriam
amassadas e estragadas. A solução foi usá-lo durante a viagem até o Rio de
Janeiro. A moça causou espanto e admiração entre os passageiros.
Meu
colega e amigo Chaguinhas esteve em Cancun, no México. Viu um enorme sombrero.
A mulher dele foi logo avisando:
–
Isso não cabe na mala. Não conte comigo para levar na mão.
Chaguinhas
não resistiu. Desde que assistiu na sua juventude, filmes western, Zorro e outros filmes americanos do gênero, quis ter um
sombrero.
Os
sombreros têm normalmente um cone comprido e largas abas, usadas para a
proteção contra o sol escaldante do México. O sombrero do Chaguinhas tinha um
cone consideravelmente comprido e abas muito, mas muito largas mesmo.
Do
México até Manaus, incluindo uma conexão na Cidade do Panamá, o sombrero só foi
motivo de discórdia. De fato não coube na mala e ninguém queria ser responsável
por carregar o tal enorme sombrero ao avião. Alojá-lo no bagageiro da aeronave
foi bem complicado.
Em
Manaus, a polêmica continuou. Não havia lugar para o tal majestoso sombrero nem
na sala, nem no quarto de ninguém, nem no escritório do Chaguinhas. Chaguinhas
havia pagado trinta dólares pelo sombrero. Conseguiu vendê-lo por cem reais num
site da internet.
Sapatos,
cocar indígena, sombreros e outros tantos, são objetos de desejos de muitas
pessoas. Mas transportá-los pode ser um problema.