Pedro
Lucas Lindoso
Charlezinho
da Compensa é um caboclo valoroso. Passou em concurso público nacional para uma
agência reguladora federal, com sede em Brasília. Filho de
dona Jurandilza, que tem esse nome porque é filha de Jurandir e Ilza, Charlezinho
pratica jiu-jítsu, estuda muito, joga futebol e namora bastante, além de tocar
violão. As garotas da Compensa dizem que ele é bonitinho. E o apelido pegou.
Bonitinho foi então, convocado para fazer treinamento no Distrito Federal. O voo
marcado para as 2:40 não foi empecilho para que todo mundo fosse levar o
Bonitinho ao Aeroporto Eduardo Gomes. Além de seus pais, e avós, os três
irmãos, a vizinha solteirona e duas amigas, quatro outros vizinhos, o professor
de jiu-jítsu e três colegas, Dona Francisquinha, orgulhosa professora
particular do Charlezinho e o marido, cinco primos, duas ex-namoradas e a
atual, que se chama Kathyenny, com k e y, que levou os pais e dois irmãos.
Enfim, uma comitiva de 23 pessoas se deslocou da Compensa ao aeroporto para
despedir-se de Bonitinho rumo ao Distrito Federal. Uma viagem para treinamento
e ao final, tomar posse no almejado emprego público. Uma Kombi, dirigida por
Seu Jurandir, e mais quatro carros levaram todos ao aeroporto. Dona Jurandilza
estava muito nervosa. Enquanto terminava de arrumar a maleta do filho houve um
apagão na cidade. A Kathyenny não parava de perturbar. Bonitinho estava muito
ansioso porque seria a sua primeira viagem de avião. E não podia mostrar-se
medroso perante seus colegas de jiu-jítsu, que já haviam viajado de avião para
campeonatos no sudeste. A namorada Kathyenny não parava de chorar. Dona
Jurandilza já estava sem paciência. Ele volta em um mês. Mas quando Bonitinho
entrou para a sala de embarque, Kathyenny deu um grito e desmaiou. Um vexame.
Ainda bem que ele já estava lá dentro e nem viu a leseira da namorada. Em
Brasília, Bonitinho ficou hospedado no Guará, na casa do tio Ilzajur, irmão de
dona Jurandilza. Os primos brasilienses receberam Bonitinho com alegria. Levou
isopor com tambaqui, pirarucu, farinha do uarini, pimenta murupi e dois litros
de guaraná baré. Foi uma festa. Charlezinho ia de metrô para o treinamento na
agência. Pensou que se houvesse um metrô ligando a Compensa até o Distrito, via
Centro, e outra linha ligando o Centro à Cidade Nova e Zona Leste, Manaus seria
outra cidade. Visitou a Catedral, o Congresso, a Praça dos Três Poderes e o
Memorial JK. Tudo postado com fotos pelo Instagram e Facebook. Os primos o
levaram ainda até o Palácio da Alvorada. Bonitinho jogou uma moeda no poço que
fica em frente. E
perguntou com quem ficavam aquelas moedas. Ninguém soube responder. Para a
presidenta é que não é. Noite de sexta, Bonitinho foi a um forró em Ceilândia. Fez
sucesso com uns passos de forró que só os amazonenses sabem fazer. Terminado o
treinamento, Bonitinho retornou para Manaus. Já empossado como servidor público
federal da agência reguladora, mas lotado em Manaus. Charlezinho
gostou muito de Brasília. Certamente não troca a capital por Manaus. Em julho
faz muito frio. O clima é muito seco. Lá não se encontra farinha ovinha e nem
pimenta murupi. A única tacacazeira é na feira da torre de TV. E nem amazonense
ela é. E voltou de Brasília para a Compensa, feliz da vida. Na segunda seguinte
deu expediente na superintendência aqui em Manaus. Semana
passada casou-se com sua amada Kathyenne, grávida de dois meses. Charlezinho da
Compensa, o Bonitinho, é coisa do passado. Casados e felizes “Seu” Charles e
Dona Kathyenne foram morar em condomínio no Tarumã.