David Almeida
Com a chegada do dia
das mães – 10 de maio – as mensagens na rede mundial de computadores têm
“bombado.” Os e-mails vão chegando com os mais diversos tipos de cartões
virtuais, cheios de arranjos, flores, decorações das mais inusitadas,
acompanhadas de musicas tristes, melancólicas, bucólicas, te arremetendo a um
clima de funeral. Dá vontade de chorar. E se você lê dois cartões virtuais
desses com certeza vai entrar em “deprê.” E pra reverter esse quadro, vai ter
que gastar um dinheirinho no consultório do Dr. Rogélio Casado.
Qual o porquê das
músicas, poemas e textos que falam de Mãe – não são todas, claro, mas a maioria
– trazerem esse tom cinza, quase preto de emoldurar tristeza? Mãe é o amor que
rega a essência da vida. Mãe é o sol que clareia os primeiros passos das
manhãs. Mãe é a lua abraçando a escuridão da noite clareando as estrelas.
Mãe nunca foi símbolo
de fraqueza, nem tão pouco sexo frágil. Mãe nos abre a porta do mundo. Mãe
também não é tudo, mas de tudo pode fazer por nós.
A mulher evoluiu,
passou por cima do machismo histórico que lhe colocava num plano inferior ao do
homem; o casulo da opressão e submissão em que se encontrava abriu-se, e ela
saiu voando bem alto; não é mais a rainha do lar. É a rainha do mundo. O
chinelo na mão estava em lugar errado, o avental todo sujo de ovo deve estar
fossilizado, perdido, em alguma cozinha do passado, pendurado no pescoço de uma
mãe, que não se encaixa mais nos padrões da vida atual.
Apesar de gostar da música
“Ai, que saudade da Amélia”, do ator e compositor Mário Lago e Ataulfo Alves, a
Amélia que era a mulher de verdade daquele tempo, que achava bonito não ter o
que comer, na verdade, morreu de fome, não conseguiu chegar até aqui. O que se
encaixa mais aos tempos de hoje é a Maria subindo o morro com a lata d’água na
cabeça, portanto, tá mais próxima da fibra de muitas Marias, que, no peito e na
raça, sobrevivem firmes, sobre o terreno íngreme, escorregadio de uma sociedade
injusta.
A mãe do século XXI não
morre de fome, muito pelo contrário, acumula serviços, pois cuida dos filhos,
da casa e está profissionalmente preparada na disputa por um lugar ao sol no
mercado de trabalho com o homem.
A mãe, que acreditava em
Chapeuzinho Vermelho, se perdeu no tempo, pelos caminhos, em busca da casa da vovozinha,
e o Lobo Mau, esquecido, não passa de um vira-lata “pirento” e desempregado,
vagando pelas sarjetas e calçadas gélidas de um machismo que ainda agoniza, tentando ser um lobo do bem.
Essa mãe que chega descrita
nos cartões virtuais, na rapidez dessa convergência de mídias, analisada
friamente, é um produto sem conteúdo, embalado simplesmente, com o intuito de
causar muita emoção, amolecer os corações e gerar lucro para um sistema
extremamente egoísta, que nos faz ter um sentimento de pena pelas nossas mamães.
Estamos vivendo o tempo
em que Mães são chefes de estado de vários países do mundo. Maria que apanhava,
virou Maria da Penha, e tantas outras que lutaram e lutam pela moral, pela ética
e respeito feminino.
Mãe é motivo de alegria
todos os dias. Mas, o que fazer? O segundo domingo de maio é a festa maior
delas. É o dia dedicado às mamães. São homenagens, o reconhecimento de quem dá
a vida pela vida, de quem tem a força, energia, inteligência, amor e paz para
transformar o mundo. Que bom te ver assim Mãe: sem o chinelo na mão e o avental
todo sujo de ovo.