Pedro
Lucas Lindoso
O
mês de agosto nos traz muitas saudades de meu inesquecível pai, JOSÉ LINDOSO.
Não só pelo dia dos pais e pelo dia do advogado, comemorado em 11 de agosto,
mas principalmente pelo dia 21, quando faria 94 anos.
JOSÉ
LINDOSO, advogado e professor, foi secretário de educação, deputado federal,
senador e governador do Amazonas. Todavia, o mais importante para ele foi ser
marido de Amine Daou Lindoso, filho de vovó Zezé e pai de seus sete filhos.
Amigo e companheiro dos filhos e idolatrado pelas filhas, surpreendia nossos
professores em Brasília ao comparecer às reuniões de pais e mestres. Afinal era
senador, líder do governo no Congresso, membro da mesa do Senado.
Antes
de governar o Amazonas foi vice-presidente do Congresso Nacional. Mas sempre
teve tempo para os filhos. Prezava sua família. Gostava de livros, de estudar,
de conversar, dos amigos e principalmente do diálogo com os filhos.
Certo
dia, tia Vitória, sua irmã, chegou a casa e perguntou: “Cadê o Zeca?” Achei
Zeca muito chinfrim e comecei a chamá-lo de Zecão. Pegou. Até os netos o
chamariam de vovô Zecão.
JOSÉ
LINDOSO era um homem simples, despojado de vaidades. Gostava de política, no
bom sentido. No sentido original da palavra “polis+ética” = política. Coisa
rara nos dias de hoje. Em jantares entre políticos, em nossa casa, lembrava aos
convivas que o cerimonial que conhecia era o do “Rio Madeira”. O protocolo era
o aprendido em Manicoré.
Gostava
de ir às livrarias, aos sábados pela manhã. No final da vida voltou a exercer o
magistério no Departamento de Direito da UnB. Caminhava diariamente pelas
arborizadas quadras de Brasília. Nunca precisou de seguranças. Como bom
amazonense, apreciava nossos peixes e a culinária regional. Comia normalmente
de tudo. Só não gostava de estrogonofe.
No
final dos anos setenta, havia uma propaganda de creme de leite na televisão. A
esposa preparava um estrogonofe com o tal creme de leite, quando o marido
telefonava informando que levaria um colega para o almoço. E virava-se para o
amigo e dizia: Arnaldo, vais comer um estrogonofe! Ao ver a tal propaganda,
invariavelmente dizia: Coitado do Arnaldo! Vai comer estrogonofe! A saudade de
meu pai é imensa. Se houver festa no céu e servirem a tal iguaria, com certeza
vai dizer: “Estrogonofe, não. Obrigado”.