Inácio Oliveira
Quando meu avô estava
para morrer ele desejou comer uma maçã. Era difícil encontrar maçãs na nossa
cidade; meu pai percorreu todas as feiras naquele domingo sem encontrar nenhum
lugar que vendesse maçãs. As maçãs levavam meses para chegar, vinham do sul em
caminhões cobertos com lona, quando chegavam já estavam quase estragadas. Nunca
vi meu avô comer uma maçã. Quando ele ficou doente era difícil comer qualquer
coisa, tomava quase só líquidos, mas assim que soube que ia morrer pediu que
meu pai lhe trouxesse uma maçã. Meu avô morreu sem realizar seu último desejo.
Ele podia ter desejado comer uma banana, mas queria comer uma maçã. Agora,
quando meu pai encontra maçãs na feira ele compra e traz para casa, coloca na
fruteira sobre a mesa e não come nenhuma, deixa que elas apodreçam no calor da
tarde. Depois de alguns dias as maçãs podres sobre a mesa me parecem uma coisa
bela e comovente, um desejo não saciado.