Hoje, dia 25 de setembro de 2011, se aparta de nós o poeta-irmão Joaquim de Alencar e Silva (o Neto, como sempre foi chamado), e, em seu lugar, nesse Rio de Janeiro que ele tanto amara, fica a primavera recém chegada, somando às flores do seu velório uma galáxia de bogaris e crisântemos, numa festa também de rosas ao lírico de LUNAMARGA e tantos outros livros de sua autoria. Chegou-nos a notícia através de um telefonema do Max Carphentier, e, logo, pela Internet, começa a expandir-se a foto do poeta e um resumo de sua biografia. Tudo muito rápido, enquanto as grandes famílias Dutra e Alencar pranteavam o trespasse desse inigualável pai e esposo, sem a menor quebra de harmonia entre sua pena de ouro e os encargos decorrentes do aconchego doméstico, frequentemente dividido com os amigos de longos anos, parentes e a gente humilde de Botafogo, bairro onde a Casa de Rui Barbosa permanece como um símbolo de tradição e respeito à história de nossa cultura.
Para mim, que devo tudo o que sou a ele, no que tange ao saber e ao aprendizado das letras, e apesar do quadro de saúde nada esperançoso que vinha apresentando nos últimos meses, a notícia dada pelo Max à Izabel, pelo telefone, encontrando-me eu ausente de casa, conseguiu nos abalar como se o mundo acabasse de ser atingido por aquele meteoro de que nos fala Henri Klibnik, autor de “La Grande Peur de Lan 2000”. Sem ação, contudo, restava-nos apenas ficar imaginando o que realmente teria acontecido ao Neto, sem ninguém disponível, nesse domingo, a nos dar qualquer luz nesse túnel de angústias e dolorosas interrogações, tendo às voltas dramas e tragédias como estas das cidades desertas pelo final de semana, a par de uma inexplicável ausência de profissionais da saúde nos postos de atendimentos. Em seguida, porém, telefonou-me o Renato Farias, ansioso também para obter informações concretas sobre aonde poderia se dirigir para o último adeus ao querido amigo. E, por último mesmo, recebi o telefonema do Saulo, quando, enfim, já não tinha mesmo jeito, choramos juntos.Alguns meses antes, presenteou-me o Alencar com um bilhete de passagens Fortaleza-Rio-Rio-Fortaleza, com estada em sua própria residência, em Botafogo, tempo esse, de dez dias, em que estivemos juntos, ajudados pela Hilma, sua filha, na escolha de 200 sonetos de todos os seus livros, para futura publicação, cujo prefácio escrevi, tomado por uma alegria e um orgulho imensamente juvenis, chegando a sentir-me azul diante desse mistério narcísico, segundo uma parábola de Oscar Wilde, em que o discípulo se vê como se fosse o mestre, olhando-se em seus olhos.
Antes de meu retorno a Fortaleza, ele e Nair, sua esposa, deram-me um terno novo do poeta, para que eu o provasse, e, dando certo, ficasse com ele como lembrança daqueles dias memoráveis. E assim o fiz, não contendo as lágrimas, já a bordo da aeronave, quando pude compreender o segredo e o mistério do verdadeiro afeto, diante do mar e da eternidade.