Zemaria Pinto
Há um paradoxo comum
nas discussões a respeito
do equilíbrio ecológico :
quando se privilegia a discussão das influências
negativas sobre
o meio ambiente ,
o Homem , motivação principal
da discussão , acaba sempre
relegado a segundo plano .
É claro que
um planeta
saudável favorecerá a vida humana . A discussão que eu proponho, entretanto ,
caminha em
outra direção
que a da relação
homem x natureza :
é preciso discutir
a relação homem
x homem .
Há um
evidente desequilíbrio no “meio ambiente pessoal ” do homem
moderno . Se olharmos ao nosso redor ,
veremos uma situação caótica no nosso
dia-a-dia , decorrente da deficiência no atendimento às nossas necessidades mais
elementares : saúde ,
educação , justiça ,
água , energia
elétrica ... E o que
falar do caos
no trânsito ? E da violência
gratuita , que
se pratica como diversão ?
E da corrupção generalizada? E da absoluta falta de
confiança em
nossos representantes políticos , o que
ameaça , mesmo ,
o próprio sistema
político ?
É preciso
repensar a própria
trajetória humana .
Os valores mais
caros da humanidade
parecem relegados a um plano inferior .
Justiça social ?
Oportunidade igual
para todos ?
A globalização da economia
impõe um paradoxo
terrível ao homem
que a vive, na medida
em que
a lei mais
elementar da economia
pressupõe o equilíbrio entre a oferta
de bens , por
um lado ,
e a capacidade de adquirir
esses bens ,
por outro .
O avanço da tecnologia
aumenta o desemprego, diminui salários e, consequentemente, desequilibra a relação econômica .
Posicionarmo-nos contra a tecnologia , entretanto ,
seria não apenas
temerário como
também infantil
e ridículo . A evolução
da espécie tem passado
obrigatoriamente pela evolução tecnológica ,
desde a pedra
lascada.
Comunicação apresentada em um “Workshop ecológico”, no
CAUA, em outubro de 1977.