Zemaria Pinto
Andrea
Quando penso em
Andrea, só me vêm cenários de fantasia, como se ela não tivesse acontecido em
minha vida e fosse apenas uma personagem que eu sonhei para preencher o vácuo
da minha solidão. Eu ainda não tinha 40 anos e meu segundo casamento
naufragava. Casada com um político influente de Recife, era um caso raro de
mulher executiva. Nos encontramos pela primeira vez em Maceió, em algum evento
do banco. Quando a vi – uma mesa em U, ela sentada exatamente à minha frente –
não acreditei que fosse possível: era a mulher mais bela que eu já vira fora
das telas de cinema – a pele branca, os cabelos e os olhos negros, o corpo
modelado com equilíbrio e rigidez, o sotaque sedutor. Uma grega nordestina. Nos
amamos entre um e outro aeroporto, regularmente, fazendo complicados exercícios
táticos e logísticos nos hotéis. Nos intervalos entre as viagens, até voltei a
escrever uns poemas frouxos que, ela dizia, a deixavam feliz. Muito conversamos
sobre um futuro a dois, mas havia uma criança em sua vida. Abandonar o
casamento seria abandonar o filho e ser abandonada pela família. Eu não valia o
preço. Perdi Andrea. Nos encontramos ainda em algumas ocasiões, pelos acasos de
serviço. Na última vez em que estivemos juntos, em São Paulo, já não nos
preocupávamos em ser vistos: éramos sobretudo bons amigos. Lembro de Andrea
recortada contra o fundo iluminado da cidade, no piano-bar do Terraço Itália.
Uma lua pálida entristecia a poesia daquele instante – sem palavras nem gestos,
só lágrimas e vinho.