Pedro
Lucas Lindoso
José
Burana nasceu na Ilha do Gancho, Município de Manicoré, na calha do rio
Madeira. Quando menino, chorava feito um bezerro, fazendo o som de bu. Foi
apelidado de José Bu. Feito homem, já em Manaus, complementaram o apelido para
José Burana. Sabe-se lá o porquê. O fato é que o apelido pegou.
Ao
complementar quarenta anos, José Burana começou a sentir dores nas articulações.
Foi ao médico de uma dessas UBS – Unidade Básica de Saúde – localizadas na Zona
Leste da grande Manaus.
O
médico atendeu José Burana, em consulta que durou atenciosos 12 minutos e
trinta segundos. O diagnóstico foi reumatismo e a receita um conhecido antiinflamatório.
Segundo
Dr. Isidio Calich, médico reumatologista, professor
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o reumatismo pode acometer articulações,
músculos, ligamentos e tendões. Mais de 250, 300 doenças
diferentes são classificadas como reumatismo. Um dos principais sintomas da doença é a dor. Todavia,
dores articulares podem ocorrer por diversas razões. Há cerca
de 50 anos, os antiinflamatórios foram introduzidos no tratamento do reumatismo.
Ocorre que José Burana cansou de tomar antiinflamatórios. Estava
tendo desagradáveis e intercorrentes efeitos colaterais. Voltou ao médico. Por
sorte foi o mesmo que o diagnosticou. As dores nas articulações continuavam. E
perguntou ao doutor se havia cura para aquilo. Não aguentava mais tanto anti-inflamatório.
Dessa vez o doutor não foi muito simpático. Disse que reumatismo
não tinha cura e que o Zé Burana teria que tomar remédio até a missa de sétimo
dia. E que colocassem anti-inflamatório em seu caixão, porque não vendem no
céu.
Zé Burana agradeceu ao médico e saiu da UBS determinado a procurar
algum tratamento alternativo para seu reumatismo crônico.
Um sábio ribeirinho curandeiro, cheio de saberes tradicionais,
advindos de anos de experiências na floresta amazônica, receitou ao Zé Burana
banha de cobra. Não tinha nenhuma naquele momento para lhe dar. Era um pouco
difícil de achar, mas José Burana deveria tomar. Era tiro e queda.
Em viagem ao vizinho município de Manacapuru, José Burana
encontrou uma banca de produtos amazônicos. Por fim, o dono da banca lhe vendeu
a tal banha de cobra.
Como o gosto era muito ruim, José Burana aproveitou cápsulas de
tetrex, esvaziando-as e colocando a tal banha dentro. A cápsula explodiria no
estômago e ele não sentiria o gosto intragável da banha.
E não é que o José Burana melhorou. Quase ficou bom. Foi lá em
Manacapuru só para comprar mais banha de cobra.
Foi então que o vendedor confessou:
– José, como eu não tinha banha de cobra, eu te vendi banha de
jacaré. Mas não tem problema não, porque o jacaré é mais esperto que a cobra,
mais evoluído.
Quando ele me contou a história eu lhe disse que tinha servido
como placebo.
E ele me perguntou:
– Placebo é sebo de que? Sucuri, jacaretinga ou
tartaruga?