Pedro
Lucas Lindoso
Um renomado “chef” já disse que é muito
delicado e complicado dar nomes aos pratos, quando se monta um cardápio. Há um restaurante
na cidade, inspirado na culinária italiana, que fez homenagens aos papas dando
nomes de pontífices a alguns pratos do cardápio. Pena que o papa mais simpático
do século 20, o Papa João XXIII, que deu uma forte sacudida em dogmas
ultrapassados da Igreja, ficou fora do menu.
Outros restaurantes mais ousados apresentam cardápio
que estimulam a sensualidade. Uma doceira aqui em Manaus vende o “orgasmo” e o
“beijo na boca”. Há inda as diversas comidas com fama de afrodisíacas. Servem
como temas de cardápios mundo afora.
A última vez que fui a Belém experimentei o Frango
a carimbo. Estava gostoso. Ainda bem que não veio dançando carimbó, pois
poderia ser atropelado. Explico. No dia seguinte, tive a oportunidade de comer
frango atropelado. Bem, comer frango a carimbó na terra do carimbó faz sentido,
mas frango atropelado? A Explicação que me deram foi que as faixas
deixadas pela grelha lembram marcas de pneu, o que inspirou o nome de Frango
Atropelado. Antes
assim.
Aqui
em Manaus é comum as donas de casa trocarem receita de “galinha escandalosa”.
Tal especialidade já foi causa de um sério entrevero entre uma senhora do sul e
a empregada amazonense. No final não se sabia quem era mais escandalosa; a
patroa, a empregada ou a galinha.
Em
Brasília, na casa de um parlamentar amazonense, havia pirarucu de casaca e
caldeirada de tambaqui. Uma jornalista amiga, que detesta farinha, recusou o
pirarucu de casaca, dizendo preferir o peixe cozido, que para ela estava em
traje esporte fino.
Muitos
amazonenses gostam de comer um bicho de casco. As tartarugadas são tão gostosas
quanto proibidas, se a origem das cascudas não for autorizada pelo IBAMA. Para ludibriar
os fiscais e a polícia ambiental, muitos donos de restaurante em Manaus
resolvem disfarçar o menu, chamando os pratos a base de tartaruga de “bodó”.
Faz sentido. O acari, ou acari-bodó, é um peixe cascudo, designação
comum aos peixes
siluriformes da família Loricariidae. Só que o bodó é vítima de muito
preconceito, apesar de ser bastante apreciado na culinária amazônica.
Minha
querida tia Idalina sempre conta a história de que, certa feita, num
restaurante em Paris, havia um prato “à votre plaisir”. Em francês a expressão
significa “a sua escolha’”. Alguém perguntava insistentemente como era esse
prato. E o maitre respondia, também, insistentemente, “a votre plaisir”, o
tempo todo.
Outra
história engraçada de tia Idalina. A empregada nova e inexperiente pergunta a
titia o que fazer para o almoço. E ela displicentemente pede que a moça prepare
“um bifinho”. Na hora de servir, havia literalmente, um único e singelo bifinho para os quatro comensais do dia.
O velho Chacrinha, de saudosa
memória, dizia que “quem não se comunica se trumbica”. Daí ser mesmo muito
importante dar nomes atrativos aos cardápios, para o sucesso do restaurante.
Como é importante se comunicar com a empregada. Para se comer galinha
escandalosa ou um bifinho, sem maiores contratempos, o importante é não atropelar a comunicação.