Pedro Lucas Lindoso
Uma das coisas que nos torna
diferentes dos animais é a nossa capacidade de dialogar. Tia Idalina, que mora
há anos no Rio de Janeiro, diz que quem deixa de conversar, quem não bate papo,
está abrindo mão de um privilégio fundamental dado por Deus, aos homens. Quem
não se comunica está, na verdade, renunciando a sua condição de ser humano.
Ela tem razão. Sabemos que a
falta de comunicação e de diálogo já causou muita tragédia. Muitas vidas
poderiam ser poupadas em guerras e conflitos se os políticos e dirigentes
dialogassem mais e melhor.
O Papa Francisco tem se
comunicado de forma espetacular com os católicos e não católicos de todo o
mundo. Afirmou que as mulheres que passaram pela triste experiência do aborto
devem merecer o perdão.
Tia Idalina fez um aborto
quando jovem e afastou-se da Igreja. Questionou um sacerdote sobre a
impossibilidade de ser perdoada e ouviu do mesmo que: “os desígnios de Deus são
insondáveis”. Disse-me que naquela época não sabia o que significava “desígnios”
e muito menos a palavra “insondável”. Parou de ir à missa.
Recebi uma carta de Tia Idalina,
pelos correios, no qual se dizia feliz por ter sido perdoada de um pecado
considerado “mortal”. Informava que estava tão feliz que tinha pintado sua
bengala de rosa “shock”. E o andador de vermelho. Homenagem ao boi Garantido.
Tia Idalina sempre se
comunicou com seus sobrinhos, amigos e parentes, interagindo de forma
fantástica com todos que estão à sua volta. Ela diz que dialogar é treino,
exercício. Quanto mais se conversa, melhor nos relacionamos. Assim, se constrói
uma vida bem mais leve, mais saudável e muito mais plena de felicidade.
Terminou a carta dizendo que,
com esse perdão do Papa, já “podia morrer, hora bolas”.
Em nome do diálogo e da boa
comunicação, peguei o telefone e liguei para ela. Disse-lhe que não queria
ouvi-la falar em morrer e que ora, de ora bolas se escreve sem “h”. No que ela
me respondeu:
– Gastei o “h” à toa.