Amigos do Fingidor

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Max Martins (Belém, 26/06/1926 – Belém, 09/02/2009)

O poeta Max Martins, por J. Bosco.
Max Martins nasceu em Belém do Pará, em 1926. Exerceu cargos públicos até o momento de sua aposentadoria, a qual o Inamps incorporou outra: a de escritor, obtida há alguns anos e transformada, de imediato, no primeiro caso de escritor que se aposenta e recebe benefícios por ter exercido, por mais de trinta anos, a poesia. Hoje é diretor de um núcleo de cursos na área de linguagem verbal, aberto a estudantes de nível médio, universitários e interessados na literatura de um modo geral, conhecido como Casa da Linguagem.

Lançou seu primeiro livro, O Estranho, em 1952 (edição do autor). Dessa edição muitos exemplares se perderam, pois o resultado da impressão, muito precária, àquela época, não tendo agradado ao poeta, deveria ter sido jogada fora, a seu pedido. Porém, o garoto encarregado da tarefa, penalizado, deixou alguns exemplares nas soleiras dos casarões por onde passara a caminho do incinerador público, contrariando assim a ordem expressa do poeta. Graças a esse fato, O Estranho conheceu uma repercussão a posteriori, por ocasião das doações de acervo das grandes famílias de Belém a bibliotecas de universidades e instituições.

O Estranho refletia a percepção, mesmo que tardia, do modernismo, principalmente da musicalidade de Cecília Meireles, e do coloquialismo estilizado de Carlos Drummond de Andrade em Alguma Poesia, bem como do livro O Homem e sua Hora, de Mário Faustino ("O pão dos sábados/E as aventuras de Mário e Juvenal/Já não te comoverão/Na tristíssima volta ao lar paterno").

Em Anti-retrato (1960), nota-se a evolução para o trato com temas que se tornariam recorrentes em seus poemas – evolução impulsionada, de resto, pela aproximação entre as formas de construção da prosa e da poesia postulada por Faustino em seus estudos sobre poética. ("Já é tudo pedra/os dias, os desenganos./Rios secaram neste rosto, casca/de barro, areia causticante").

Esse projeto de escrita vai se aperfeiçoar uma década depois em H'Era (1971) com, entre outros fatos, a declaração expressa em seus poemas da preferência por autores nacionais como Drummond, Jorge de Lima e Guimarães Rosa, e por estrangeiros como Dylan Thomas, William Alden e Henry Miller. ("Palavras famintas pedem bis, e o X/de Hamlet e Henry Miller me visava;/velhas rezavam, se revezavam/em cantos, panos, palinódias").

Em O Risco Subscrito (1976), os poemas de Max Martins ganham um tom mais universalizante, ¡á anunciado no livro anterior. Aqui, a preocupação com a linguagem se torna o próprio assunto do poema; o ritmo bem marcado delimita agora uma nova relação formal com o espaço em branco da página. 0 que Benedito Nunes, na apresentação da obra, chama de "ensaio de espacialismo", principalmente em O Ovo filosófico:

o olho
do ovo
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o ovo
do olho.

Em Caminho de Marahu (1983), a opção pelos temas eróticos transforma-se em um objeto de pesquisa e crítica para o poeta. A influência de João Cabral e dos movimentos de vanguarda, como a poesia concreta e o poemaprocesso, redunda em um certo estranhamento da linguagem dos textos, que associam a natureza da pesquisa de linguagem à natureza do desejo sexual: "O branco apaga tudo – as cores deste gozo/E o próprio gozo/neste poço/ cala/o som da água".
Para Edilberto Coutinho (O Globo, 9/fev/1984), "Max Martins se revela, neste Caminho de Marahu além de poeta, um pesquisador e crítico, na linguagem de Décio Pignatari e dos irmãos Campos, (...) com seus parâmetros mais remotos (dentro da modernidade) em Mallarmé – por exemplo – ou, mais recentemente e de forma mais ostensiva, em Ezra Pound".

Um livro-folder, ou um livro-pôster, assim era 60/35 em sua primeira edição, em 1986. Os dezoito poemas que o compõem parecem confirmar as imagens utilizadas em seus livros anteriores. Como diz o verso de Edmond Jabès, que serve de mote para o autor, "tu és aquele que escreve e que é escrito". Nesses poemas percebem-se decisões quase sólidas na construção dos versos ("Escrevo duro/escrevo escuro"). Característica que constitui sua diferença quando comparados a Marahu, onde, ao mesmo tempo que retorna a temas e imagens anteriores, parece cair em um pessimismo absoluto da linguagem ("Ponho na tua boca as cinzas/da minha insígnia"). Marahu encerra, cronologicamente, a lista dos livros reunidos em Não Para Consolar (1992).

Denyse Cantuária
Mestre em Comunicação e Semiótica.
Professora da Universidade Estadual do Pará, UEPA.