Jorge Bandeira
A mulher que vejo nua de óculos rayban,
não é a mesma que encontro toda manhã
(JB)
Há algum tempo, logo que começamos esta viagem boa do Naturismo amazônico no Graúna, Grupo Amazônico União Naturista, descobri que uma das chaves para a descoberta de um naturista leal eram as pupilas. Explico melhor, e nisso o aprendizado em locais de prática naturista me deram o escopo necessário para refletir sobre o que, antes, pensava ser uma paranóia purista de um naturista que estava “vendo fantasmas de roupas” em tudo quanto era lugar de naturismo.
Foi algo intuitivo, creio, pois observava que era grande a proliferação de óculos escuros, por parte de homens e mulheres naturistas. A estatística, porém, apontava um número maior de homens usando este invento medieval. Em princípio achava que seria um surto de conjuntivite, dado o grande número de óculos escuros em locais naturistas, seja aqui mesmo na nossa história de naturismo organizado pelo Graúna ou em minhas andanças em praias e locais privados de prática naturista.
A constatação era (e é!) uma só: tem muita gente de óculos escuros! O questionamento vem de forma imediata, e as respostas são variadas. Por que tanta gente de óculos escuros nos locais de nudez coletiva? Imaginei, na minha confiança no ser humano, ou talvez ingenuidade mesmo, que talvez a proteção aos raios de sol seria para que não prejudicassem os olhos dos naturistas, daí o uso constante dos óculos, motivos suficientes para acalmar o meu espírito inquiridor. Não foi o suficiente, pois mesmo quando o Sol “enfraquecia”, encoberto por nuvens ou no entardecer, após as 17:30, aquelas pessoas continuavam com os seus artefatos de lentes escuras.
Lembrei do poeta – “os olhos são os espelhos da alma” – e comecei a desvendar esse mistério às vezes insondáveis aos naturistas. Outro fator decisivo para minhas elucubrações que aqui exponho, como missivista do naturismo brasileiro, foi das primeiras viagens à grande São Paulo, onde morei por um curto espaço de tempo, fazendo uma pós-graduação por lá. Um amigo disse-me, em relação ao centro velho, lá pelo Anhangabaú: use sempre óculos escuros, por questões de segurança, pois os meliantes precisam saber que você está desatento para lhe furtar algo, e se você usa óculos escuros, eles não podem perceber se você está ou não distraído. Os meliantes precisam enxergar para onde você olha para saber se podem atacar! A ficha caiu na hora em relação à cruel dúvida que me assolava. Nada de conjuntivite, nada de problemas oculares, nada disso. Geralmente esses óculos escondem por trás de suas lentes os famosos olhos do voyeurismo. Eu falo geralmente, não estou dizendo TODOS que usam óculos escuros em locais naturistas.
Procurem bem nos locais que vocês frequentam e observem o que digo: tem gente que usa óculos escuros para ver, de soslaio, homens e mulheres nus(as), sem que sejam “denunciados” pelos olhares perscrutadores, que só faltam engolir as pessoas nuas que observam. Inclusive quando os jornalistas (estes são experts nisso! Lembrando, estou falando de alguns, e se a carapuça servir...) estão em praias e locais de naturismo quem está em seus rostos: os óculos escuros! São peças quase obrigatórias em entrevistas em áreas de naturismo. A técnica é simples, basta sentar e esperar a mulher ou homem nus, com a cabeça firme, não vire o pescoço, olhe de soslaio, com a beira dos olhos, para a esquerda ou direita, alguns tem mais facilidade de mover a retina mais para um lado do que para o outro. Pronto, já viu a mulher nua ou o homem nu sem dar mancada de seus atos. Ou seja, é um voyeurismo mesmo, cuja janela e/ou binóculo são os óculos escuros.
Não tenho motivos de proibir ninguém de usar óculos escuros num local de naturismo, mas cá pra nós, como é bom, legal, olhar nos olhos de todos que conversam conosco nesses locais, caminhar sem aquela sensação de que é um bicho de zoológico humano, sendo bisbilhotado nas entrelinhas de seu corpo. A naturalidade do olhar é outro aspecto que mereceria outro artigo, que ainda devo escrever. Por enquanto lanço essas luzes de reflexão, não condenando ninguém, mas criando um espaço para que a segurança e a sinceridade das retinas dos naturistas não deixem margem a um olhar embaçado pela mente, que, por falar nisso, óculos embaçam a realidade facilmente.
Explicação necessária: Jorge Bandeira é naturista do Graúna; nas ruas têxteis usa óculos escuros por recomendação médica e para burlar a ação de maus intencionados. No Naturismo, não usa, jamais, óculos escuros.