Amigos do Fingidor

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A fusão dos opostos em Carlos Augusto Viana

Jorge Tufic


(Sobre Inscrição dos lábios, poesia)

Olvidado, talvez, de si – ou de sua própria letra – o poeta Carlos Augusto Viana demarca a importância de alguns, entre os bastante conhecidos e os pouco divulgados territórios poéticos de sua intimidade eletiva, somando-se, no conjunto, os escritos de Laéria, Francisco Carvalho, José Alcides Pinto, Linhares Filho, Artur Eduardo Benevides, Campelo Costa, Martônio Vasconcelos, Ricardo Lincoln e Rogaciano Leite Filho. Pela ordem das homenagens, contudo, aí se perfila o Jorge Tufic de Poesia Reunida (1988), a seguir de Laéria, que retorna à página 105 na forma de uma canção extraída dos mais densos favos líricos do Cântico dos Cânticos.

Entretanto, ao reunir-se as parte no todo é que se passa a vislumbrar a extensão desse outro território, que é o do próprio autor deste livro, pródigo em metáforas que se vão concretizando num círculo abrangente, imperativo; isto é, numa viagem equilibrada, mas não linear, entre a fala que sangra e os motivos, ou eternos motivos da poesia, como sejam a dor, o tempo, a morte, o vazio, a bruma, o desejo, o pó. Carlos Augusto Viana encontra, assim, na intertextualidade e na metalinguagem, a resposta da identidade que se enriquece enquanto desperta e a lavra, esta, sim, inquietante, do processo intersubjetivo que nos traz à tona esse bloco maior do continente inaugurado.

A linguagem do autor, seu modo, diga-se, “imponderável”, não deixa por menos ao exigir de si mesma o sussurro, quando cabe o sussurro; o galope, quando cabe o galope; a visão plástica da noite ou dos “telhados envelhecidos”, quando cabe a lembrança, os retratos de família, o “gume da ausência”, o “ícone da espera”. Aliás, é só a partir de metáforas que se constroem os poemas de CAV, o impulso inicial e a força motriz indeclinável para que não haja quedas nem a mais discreta hesitação na postura dos caibros. Tijolos, a par dos inefáveis relâmpagos e vozes, cravos e madrugadas que fazem a sua casa, modelam seu barro nativo, gotejam suas pálpebras.