Zemaria Pinto
O pouso leve
Gaston Bachelard, em O direito de sonhar, afirma que o instante poético é “essencialmente uma relação harmônica entre dois contrários”. Na poesia de Alcides Werk, estes contrários (água/terra, mata/urbe, luz/escuridão) têm sempre a presença do homem como elo de ligação. Este terceiro elemento leva-o na direção oposta àquele poeta descrito por Sartre em Que é a literatura?: Werk não se afasta da linguagem-instrumento. A palavra não é uma barreira e por isso ele se dirige aos homens sem o temor de não ser entendido.
A palavra-signo é mais que a palavra-coisa. Refundida no fogo das paixões mais elementares a palavra poética de Alcides Werk assume por vezes conotações muito comuns, como deve ter sido observado ao longo deste trabalho. Aí, mais uma vez, o poeta atalha os velhos caminhos do estabelecido para construir uma poesia cujo maior argumento de vigor é, justamente, sua simplicidade.
Pouco mais que uma centena de poemas publicados, não é difícil concluir – pela emotividade despojada, despejada em cada poema – que Alcides constrói seu trabalho às custas do sofrimento físico que o fazer da poesia lhe impõe. As miragens elaboradas que persegue são raios de uma tempestade longínqua a que ele se acostumou a assistir nos fins de tarde da verde planície de seu exílio voluntário.
E eis que o trabalho encerra. Encerra mas não se esgota, pois que o lavor da palavra é sempre anunciador de boas-novas. Cumpra-se.
Dos instrumentos de voo
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Manaus, 1989