Amigos do Fingidor

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Acredito, uma segunda revolução

Jorge Tufic



Este livro de poemas de Clodomir Monteiro já navega desde anos, até que chegasse ao porto de sua transformação em objeto verbal definitivo, ou seja, em produto que encerra, numa espécie de encontro amoroso, a defesa de nosso Acre, sangrando em sua ex-maior riqueza econômica e o próprio fazer poético, aqui onde ele empresta à palavra e seus mistérios um componente a mais, este personalíssimo, na composição das unidades temáticas que se vão juntando, como um todo, à visão panorâmica de uma obra de arte como poucas existentes na literatura brasileira.

Bastaria lembrar que estes poemas de “Acredito” têm datas de 1979, passam por 2001 e atingem, este ano, o 2009, ainda inéditos, mas donos de uma linguagem inovadora atualmente em voga, como se nada além ou aquém, no tempo, nos desse notícia das ousadias fonéticas, sintáticas ou semânticas desse poeta nacional que fez sua opção pelas Terras-do-Sem-Fim. E aí, em Rio Branco, ele degusta os sucessos do “Derroteiro de Rotinas” e outros títulos de sua autoria, publicados no Acre, sem nunca afastar-se dos misteres de professor da Universidade e presidente da Academia Acreana de Letras,

Os exemplos de sua originalidade, sempre fiel às mutações da práxis, encontram eco, antes da necessária incursão leitural, no texto “Acre/dito em poesia”, bastante explícito, embora modesto em face da grandeza que se lhe estende, após, quando o leitor, ciente da aventura que irá enfrentar ao longo destas páginas, passe a conviver com um tipo de abordagem que Mário Chamie divide em três condições: a) o ato de compor; b) a área de levantamento da composição; c) o ato de consumir. Neste aspecto, Clodomir Monteiro tem a seu dispor um amplo instrumental linguístico, todo ele a serviço da poesia.

Opus magnum, sim. Pode o leitor abrir este volume em qualquer de suas páginas, fixar os olhos em qualquer estrutura verbal que faz da parte o todo, ou vice-versa, que terá a surpresa de ouvir um relógio secar o tempo da máquina na dura realidade que somente o olhar do poeta (e dos caxinauás) sabe adoçar nas lâminas do cotidiano. Na primeira revolução que, segundo a História, o Acre conquistou sua independência política, todos ou quase todos os poetas que se engajaram na luta, tombaram mortos. A denúncia, agora, é de outro poeta contra todos aqueles que traíram o sangue de milhares de voluntários, em nome da usura. Acreditemos.