Davi Soledade
Começamos a conversar sobre bebida; eu disse que nunca havia introduzido um gole de álcool goela abaixo. Mas ela, por Deus!, o que eu não tinha bebido ela tinha bebibo por mim. Comecei a tirar algumas dúvidas alcoólicas com ela enquanto me contava sobre suas experiências com a bebida.
“Quando você começou a beber, Bianca?”
“Foi no ano novo de 2009”, ela respondeu. Continuou: “Eu tinha saído da igreja e fiquei em frente de casa sem fazer nada. O vizinho da direita, seu Sávio, convidou a minha família pra comemorar. Fomos eu e minha irmã do meio. Ele deu algumas latas de cerveja pra gente, e a gente bebeu. Não bebi muito nessa primeira vez.”
“Hum… legal. Quando foi seu primeiro porre?”
“O meu primeiro porre foi esse ano. No ano novo também. O seu Sávio, convidou a gente de novo. Dessa vez fomos eu e minhas duas irmãs. Tinha muita gente lá. Formamos uma roda no pátio da frente. Começamos a nos embebedar. Minha irmã mais velha, a Talia, bebia freneticamente. E eu tava a fim de mijar. Beber cerveja dá uma vontade de mijar! Aí a minha irmã se levantou da cadeira que cumpunha lá a roda e abriu os braços. Depois vomitou no pátio do homem. Eu me levantei e fui mijar lá em casa. Cheguei no banheiro e vomitei também. Vomitei tudo. Caiu vômito por cima do vaso, um pouco na pia, na parede e no ralo. Eu tirei minhas roupas e fui dormir. No outro dia, eu acordei eram três da tarde. Fui até o banheiro mijar, estava um brinco. Tudo brilhando e cheirando a lavanda.”
Eu ouvia aquele entusiástico relato com toda minha atenção. Senti vontade de ficar bêbado de uma hora para outra. Mas a cantina só servia suco de cupuaçu.
“E aí, agora você já sabe como é beber, pelo menos um pouco?”
“É… já tenho uma base”, respondi a ela.
Eu fiquei olhando para os peitos dela. Ela sacou um cigarro e uma caixa de fósforos do bolso esquerdo da calça e acendeu o seu Dunhill. Puxou um trago, ergueu o rosto e deu uma baforada.
“Tem dúvidas sobre sexo…?”
Não. Eu não tinha dúvidas sobre sexo. A campa tocou e a aula acabou. Fui para casa. Escutei um colega gritar meu nome enquanto eu saia.
“Ramon, Ramon, espera.”
Esperei.
“Faz a introdução do trabalho de Geografia pra gente?”
“Compra um uísque pra mim?”, tentei uma chantagem barata.
“Como?”
“É… Vai ali na adega da João Valério, como é mesmo o nome?… Vai lá e compra um uísque pra mim que eu faço a tal introdução.”
Ele me passou um pen drive com o trabalho, e depois de voltar um pouco suarento, o uísque. Peguei-o. Eu não sabia julgar uísques, mas aquele parecia ser dos bons.
Fui para casa. Meus pais tinham ido trabalhar, trabalhavam juntos em uma empresa de segurança. Eu tinha a casa só para mim. Legal. Abri minha bolsa, tirei o pen drive e o joguei na mesa do computador. Tirei a garrafa de uísque, despejei o conteúdo no meu copo, e tomei, frio mesmo. Ardia bastante. Era dilacerante. Eu sentia cortar minha goela abaixo quando aquele líquido descia por ela. Bebi tudo.
Deitei no sofá. Eu estava com uma dor de cabeça dos diabos, mas acho que não estava bêbado.