João Sebastião
Quando não está em estado catatônico – resultante da mistura de crack com conhaque Dreher –, Marmitão Seboso faz discursos inflamados contra a burguesia. Ele entende que burguês é todo mundo que não é ele. Há exceções, claro: os mortos. Alguns mortos.
Quando o vice-presidente de Lula morreu, Seboso escreveu um tocante artigo, onde mistura os “dois grandes josés alencares” – para usar expressão sua: o escritor que, ainda segundo ele, fundou o Romantismo no Brasil em 1822; e o recém morto. Esquecia, o Seboso, que o primeiro Alencar, senador do Império, foi senhor de escravos, e o segundo, apesar de semianalfabeto, senador da República e capitão de indústria. Ambos, ricos e poderosos, exploradores do populacho. Mortos, viraram tudo gente boa, agentes da revolução proletária.
Aliás, se tem uma palavra que Seboso ama sobre todas as outras é esta: revolução. Ou melhor: REVOLUÇÃO! Com maiúscula e exclamação. Cada vez que pronuncia essa palavra, sempre no mais alto e bom som que lhe permitem as forças corrompidas, seus olhos baços adquirem uma estranha luz, combinada às escassas lágrimas que insistem em brotar-lhe, como fonte de suas derradeiras esperanças na revolução inevitável. Insofismável! Inenarrável! Inolvidável! Inexorável! Inoxidável!