João Bosco Botelho
A consolidação da cultura grega ligada a pólis,com a estrutura político-jurídica definida e o homem sendo visto como a medida de todas as coisas, constituem o esplendor da nova visão das relações do homem com ele mesmo e com o meio. Nessa Grécia caracterizada pela busca da racionalidade, entre outros gênios, se destacou Hipócrates, considerado o pai da Medicina, nascido no ano 460 a.C., na ilha de Cós. Sem qualquer dúvida, ele fundou as bases da atual ordem médica.
A produção literária atribuída a Hipócrates é enorme. Hoje, sabe-se que muitos dos livros são apócrifos, porém, parece não haver dúvidas da participação de Hipócrates, direta ou indiretamente, na elaboração das seguintes obras: “Epidemia”, “O Prognóstico” e “Tratado Ético”.
Na mesma época em que Demócrito lançava as bases do atomismo – tudo é formado por átomos que são partículas indivisíveis e invisíveis, eternas e imutáveis – e oferecendo pela primeira vez a explicação do odor e do sabor, Hipócrates e seus seguidores propuseram a teoria dos Quatro Humores para explicar a saúde e a doença. Esse conjunto teórico marcou o esboço inicial da separação entre a Medicina e a religião.
Entre as dezenas dos ensinamentos hipocráticos, destacam-se como ainda atuais e pertinentes: os conceitos de diagnóstico, prognóstico e tratamento; distinção entre sinal (material, por exemplo, a fratura) e sintoma (imaterial, por exemplo, a dor); os três aforismos – o médico e a sua arte, o doente e a sua natureza individual e a doença. Esses conceitos, apesar de terem sofrido aperfeiçoamento ao longo dos séculos, continuam válidos e utilizados, mesmo com toda a tecnologia da moderna Medicina.
A própria aparência do médico estava prevista nos ensinamentos hipocráticos. No livro “Tratado Ético”, lê-se: “A norma do médico deverá ter boa cor e bom aspecto... Pois será de grande utilidade para si colocar-se elegantemente e perfumado agradavelmente... E tudo isto agradará ao doente.”