Amigos do Fingidor

terça-feira, 12 de abril de 2011

Gabriel saiu para almoçar 12/15

Marco Adolfs



...Foi pensando então assim, neste seu ensaio sobre a solidão, que Gabriel Sombra voltou a lembrar de seus antigos mestres. Precisamente em dois filósofos de sua predileção: Husserl e Heidegger. Dois filósofos da predileção de seu pai, um francês perdido nos trópicos e que se metera com uma cabocla. Um pai que gostava de ler livros de filosofia deitado em uma rede na frente de uma casa flutuante na beirada do bairro de Educandos, antes de sair para o seu trabalho de professor da língua mater em um colégio do centro de Manaus. Mas, voltando a Husserl e Heidegger, em suas elucubrações sobre a noção de tempo, já que o tempo era a grande viga mestra de qualquer solitário que se prezasse. Husserl, e isso Sombra bem o sabia, desenvolveu um trabalho sobre a questão temporal, no qual o movimento de uma consciência era descrito em três momentos importantes: a impressão originária, a retenção e a protensão. O primeiro desses momentos seria o agora (escrevia Gabriel Sombra), o nosso presente dado. O segundo momento, que seria quando o presente era retido e se transformava em passado. E o terceiro momento, finalmente se referia ao horizonte de um futuro qualquer. O que originaria a chamada percepção da gestalt. Pelo o que já havia lido sobre gestalt, Sombra apreendera o fato de que segundo ela o cérebro seria dinâmico, interagindo com os elementos através da percepção e através de uma proximidade. Sendo assim o cérebro teria princípios operacionais com tendências auto-organizacionais de estímulos recebidos pelos sentidos. Aí Sombra pensou especialmente, antes de escrever; mas como a gestalt explicaria o sentimento de solidão? Pela sensação de vazio sentida no peito? O que ele sabia sobre essa filosofia que mastigava o tempo, era apenas que o tempo estava em sua consciência e na de todo o mundo e que ele começava no nada e terminaria no mesmo nada. E quanto a Husserl, sua filosofia justificava as lembranças. Só isso...