Amigos do Fingidor

terça-feira, 19 de abril de 2011

Gabriel saiu para almoçar 13/15

Marco Adolfs


O que fazer com a solidão: esse parecia ser o drama de todos os seres humanos. E como o preenchimento desse processo se dava com os fatos da vida. Quase como uma recreação. “Este ensaio”, por exemplo. O preenchimento final do uso da sua vida. Era o preparar-se para o final da sua vida com uma explicação definitiva. Nesta sua atitude de compreender a sua solidão através de um ensaio; ou pseudoensaio; ele, Gabriel Sombra, agia segundo a concepção de Nietzsche, que disse que quem tem um “por que viver”, suporta qualquer “como viver”. A falta disso é que estabelecia um vazio existencial que se configurava no tédio e na angústia sobre os quais os solitários sabiam muito bem. A angústia maior de Sombra se dava aos domingos, quando não sabia “como fazer”; já que tudo parecia ter desaparecido no ar. Onde o passado de sua cidade e de seus dramas pessoais pareciam invadir o seu peito de forma acachapante. “Sentir-se ameaçado pelo vazio é alguma coisa de ridículo”, pensou então, com propriedade, o poeta. Uma condição totalmente subjetiva. De medo infundável. Uma angústia sentida que nada mais era do que uma antecipação da morte. “Foda-se a morte”, pensou com mais força ainda. “Deixarei como legado estas palavras finais”. Se o passado não existe e o futuro ainda veio, retomou a escrita, então o presente tem apenas que ser preenchido com o movimento...