Zemaria Pinto
Nazaré
A magra palidez de
Nazaré incomodava. Um amigo com laivos
de poeta dizia que ela era diáfana. Morava em um quartinho onde mal
conseguíamos nos movimentar, tão pequeno e atulhado. Pouco mais velha que eu,
cuidava de mim e me dava presentes. Retribuía amando-a. Mas meu amor era apenas
físico. Chegava a contar quantas vezes ela atingira o orgasmo, talvez para
minimizar a culpa latente. Não demorou muito. Mas quando, tempos depois, soube
da morte de Nazaré, com pouco mais de 20 anos, tomou-me um sentimento de
autodesprezo, que ainda hoje me perturba.