Zemaria Pinto
Conceição
Dona de uma beleza,
digamos, pouco convencional – branca, sardenta, lábios grossos, altura acima da
média, as carnes fartas e rijas –, Conceição era o sonho de consumo dos
moleques. Mas não me comovia. Sua conversa era boba, como haveria de ser boba a
conversa de uma menina de 14 anos em plena Segunda Guerra, que a nós todos
parecia tão distante. Aceitava os amassos, os toques, os carinhos mais ousados
– e de repente começava a falar em filhos, casa, casamento, essas coisas. Não
passei dos amassos e toques delicados. Ao afastar-me, entretanto, Conceição
passou a me seguir, me vigiar e a insinuar aos amigos em comum que teria havido
algo a mais entre nós, tentando forçar um comprometimento. Não lembro mais como
tudo terminou: é como uma luz intensa que vai esmaecendo rapidamente até a
escuridão total – de onde eu espero surgir Conceição, nua como nunca a vi,
resplendente, bela e tola.