João Bosco Botelho
Os avanços
na busca da materialidade da doença, cada vez mais distanciada das ideias e
crenças religiosas, estão claramente inseridos na dinâmica novecentista,
caracterizada pela busca do agente etiológico das enfermidades.
Sob essa
perspectiva, foram descritas as bases da micrologia bacteriana, tanto
preventiva quanto curativa, oferecendo às populações mais tranquilidade quanto
algumas doenças infecciosas que causaram medo e mortalidade, desde a Idade Média:
hanseníase, tuberculose, malária, tifo, tétano, entre outras.
A Medicina
se acoplou às ideias evolucionistas de Charles Darwin e, sem imaginar a
grandeza do evento, em 1866, presenciou a publicação de Gregor Mendel, sobre o
cruzamento de ervilhas, que inauguraria o pensamento molecular, que produziria
o Projeto Genoma, no século seguinte.
As produções científicas do século 19
fortaleceriam a clínica médica que assentou as bases da atual formação dos
médicos ampliando as respostas quanto aos mecanismos da digestão, respiração,
urinário, vascular venoso e arterial.
Ao mesmo
tempo em que as ordens sociais endereçavam elogios à Medicina e aos médicos
pelos inimagináveis progressos no controle de muitas doenças infecciosas, as
idéias políticas giravam em torno de algumas vertentes, que nos anos seguintes
proporcionariam outras discussões na ética médica:
– Humanismo
de Feuerbach: Ludwig Feuerbach (1804-1872), aluno de Hegel durante dois anos, é
reconhecido pela teologia humanista, considerado a transição entre o idealismo
alemão e o histórico.
–
Evolucionismo de Dawvin: no livro “A origem das espécies” propôs a teoria
evolucionista por meio da seleção natural e sexual.
– Socialismo
científico de Marx e Engels: o “Manifesto comunista”, de 1848, e as publicações
seguintes, especialmente após a Revolução Russa, reconstruíram a deontologia e
a disceologia atadas à ética médica voltadas muito mais ao bem coletivo.
–
Positivismo de Comte: Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1857),
considerado o pai da Sociologia e do Positivismo. Um dos pontos fundamentais do
Positivismo está fincado em torno da lei dos três estágios, descrito no livro
“Curso de filosofia positiva”, renomeado “Sistema de filosofia positiva”, em
1848, onde propõe conhecer o real, sem se ater aos conflitos, e a razão por
meio do conhecimento positivo, como instrumento científico para melhorar a
realidade. Descreve que as concepções humanas passam por três estágios
sucessivos: teológico, metafísico e positivo. As propostas de Comte, nos anos
1960, iriam nortear os conceitos de saúde atados à tecnologia
médico-hospitalar, como parte do "american way of life". As práticas
médicas do Ocidente ainda estão vivendo essa fase: a boa Medicina está com médicos
que usam novas tecnologias.
–
Historicismo de Hegel: Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), considerado
como o ápice do idealismo alemão, influenciou muito o materialismo histórico de
Karl Marx. O livro mais importante de Hegel, “Fenomenologia do espírito”, onde
expõe a proposta de deduzir toda a realidade a partir do conceito da identidade
que não concebe espaço para o contingente, para a diferença. Introduziu a
dialética como sistema para compreender a história da filosofia e do mundo:
sucessão de movimentos para superar as contradições inerentes ao movimento
anterior.
Os
movimentos sociais, no século 19, unem a Medicina ao Direito na busca da
materialidade, respectivamente, da doença e do delito para evitar a morte e a
injustiça.