Zemaria Pinto
Madalena e Conceição
Minha querida amiga Nana
divertia-se a valer quando eu lembrava a história de Madalena e Conceição, duas
belíssimas moças que alumiaram minha imaginação de menino. Elas eram o
paradigma da elegância feminina caminhando por aquelas ruas de barro até o
asfalto, onde passavam coletivos, praças e caronas. Madalena, branca, o cabelo
negro chanel, lábios finos, caminhava com vagar, em estado de permanente
meditação. Conceição, a tez de bronze, os louros cabelos curtos mas altos,
lábios carnudos, parecia sempre apressada. Se as duas passavam juntas,
caminhava à frente, parando de vez em quando. Quando as via adivinhava o
perfume que delas emanava, como de um jardim no inverno. Sonhei muito com
Madalena e Conceição – dormindo e acordado, poluções e orações sacrílegas de
Onan. Nas minhas fantasias, reunia as duas e as submetia à minha luxúria
juvenil. – E o que você pensava que elas eram? Putas, claro! A gargalhada de Nana
ecoava por toda a orla de Parintins, onde nos encontráramos; eu, em missão do
banco; ela, em projetos especiais de educação. Madalena era professora de uma
escola tradicional e severa, enquanto Conceição – numa época em que as mulheres
só podiam ser professoras, freiras ou donas de casa – trabalhava em um banco
estatal. Nana estudara com as duas primas e mantivera desde então a amizade. A
fantasia só foi desfeita mais de 30 anos depois. Melhor dizendo, esclarecida;
porque ainda hoje sinto o perfume de Madalena e Conceição, o sedoso de suas
peles, o frutado de seus lábios, a música de seus sussurros e a docilidade da
submissão de ambas à concupiscência do fauno moleque.