Alienígena
Lira –
pocket show com Mauri Mrq e Zemaria
Pinto
O CD-livro Lira da madrugada, lançado oficialmente no último dia 14 de março,
Dia Nacional da Poesia, na Academia Amazonense de Letras, entra em uma nova
fase de divulgação: a realização de pocket
shows, bem informais, onde os autores, Mauri Mrq e Zemaria Pinto,
apresentam-se de forma despojada, interagindo com o público – Mauri
apresentando as canções e Zemaria comentando-as. Esses pocket shows poderão ser apresentados em universidades, escolas,
teatros etc.
O lugar escolhido para a primeira
apresentação foi o sebo O Alienígena,
aquele que tem “um acervo do outro mundo”, comandado pelo multiartista Jorge
Bandeira. “É um lugar emblemático, onde a tradição e a vanguarda convivem em
harmonia, o que tem tudo a ver com o Clube da Madrugada, hoje absorvido pela
tradição, mas que teve um papel revolucionário nas artes do Amazonas”, diz
Zemaria Pinto.
Lira
da madrugada é um objeto contendo três produtos: um
CD, com 16 canções criadas a partir do trabalho de 15 poetas, todos eles
ligados de alguma maneira ao Clube da Madrugada, entidade multicultural criada
em 1954; o segundo produto é um livro com a história do projeto e a trajetória
de Mauri Mrq, além das cifras das músicas que estão no CD; por fim, um segundo
livro, contendo uma análise da formação histórica do Clube da Madrugada, mais a
reprodução integral, pela primeira vez em livro, do “Manifesto Madrugada”, de
1955, e uma análise didática, mas sem firulas, dos poemas musicados. O projeto
gráfico de Rômulo Nascimento junta os 3 produtos num só objeto.
A escolha dos poemas foi do próprio Mauri
Mrq, para quem “cada poema já tem sua música própria, imaginada pelo poeta;
cabe ao compositor descobri-la”. Thiago de Mello, que não participou da
fundação do Clube, pois já se radicara no Rio de Janeiro, é o mais velho dos
poetas enfocados. O mais jovem é Max Carphentier, da terceira geração do Clube,
que começa a publicar na década de 1970. Entre eles estão os já falecidos
Anísio Mello, Luiz Bacellar, Antísthenes Pinto, Farias de Carvalho, Alencar e
Silva, L. Ruas, Alcides Werk e Ernesto Penafort. Dos remanescentes do Clube,
além dos dois primeiros citados, estão Moacir Andrade, Almir Diniz, Jorge
Tufic, Elson Farias e Astrid Cabral.
Na análise histórica da fundação do Clube
da Madrugada, Zemaria Pinto toca num ponto polêmico: ele afirma que a motivação
da fundação do Clube foi política e não estética. “O Clube da Madrugada foi
criado para demonstrar a revolta dos jovens amazonenses contra o marasmo que
dominava a política amazonense. Tanto que pessoas que não tinham nenhuma
atividade artística tiveram papel fundamental na criação e no desenvolvimento
do Clube”, diz Zemaria, citando economistas, como os professores Saul
Benchimol, Francisco Batista e Teodoro Botinelly, o psicólogo João Bosco
Araújo, o jornalista Fernando Collyer, entre outros. Com o tempo, artistas
plásticos e escritores foram dominando o Clube, dando a impressão de que o
Clube existia em função de suas atividades.
Essa polêmica fica mais fácil de ser
compreendida com a leitura do “Manifesto Madrugada”, que fora publicado no
único número da Revista Madrugada, em 1955, comemorando um ano da fundação do
Clube, que assim começa: “No momento em que o Brasil sofre uma crise total em
todas as suas forças intelectivas, morais, educacionais, econômicas e sociais,
a mocidade consciente do Amazonas une-se para defender esta herança social
inesgotável que herdamos de nossos antepassados”. E segue, analisando a
situação de cinco segmentos do conhecimento humano: literatura, artes plásticas,
sociologia, economia e filosofia – de um modo geral, concluindo, que esses
segmentos eram muito pobres ou simplesmente não existiam no Amazonas.
Um outro ponto polêmico do trabalho de
Zemaria Pinto é a afirmativa de que o Clube da Madrugada não é o Modernismo no
Amazonas, como se acreditou durante muito tempo, e ainda hoje se repete. Para
Zemaria, o Modernismo é uma referência ética, sim, mas não estética, uma vez
que, esteticamente, os escritores do Clube ligavam-se à chamada Geração de 45, antagônica
aos modernistas, da qual fazia parte, inclusive, o poeta Thiago de Mello.
“Seria simplório, diz Zemaria, emular estilos de 30 anos antes, já
ultrapassados. O Clube, ao contrário, estava em perfeita sintonia com o que se
fazia em arte no Brasil”.
Feita a análise histórica, Zemaria Pinto esmiúça
os belos poemas que Mauri Mrq escolheu musicar. E nesse ponto não cabem
polêmicas – o professor limita-se a esclarecer ao leitor as metáforas e outras
figuras de linguagem dos poemas, tornando-os de fácil leitura e agradável
audição.
No último dia 22 de novembro, completaram-se
60 anos da fundação daquele que foi o movimento cultural mais importante da
história de Manaus. Lira da madrugada
vem reafirmar a importância do Clube da Madrugada, um marco fundador e um
divisor de águas na cultura amazonense.
Os
autores
Mauri
Mrq
– amazonense de Manaus, iniciou a carreira artística aos 19 anos, desenvolvendo
ao longo do tempo pesquisa em torno da música instrumental brasileira, fazendo
a direção musical de vários espetáculos de diversos grupos de dança e teatro, entre eles o Dança
Viva, Grupo Origem e Cia. Vitória Régia, fundando, posteriormente, o Núcleo de
Teatro Jiquitaia, onde continuou a função de Direção Musical e Produção de
espetáculos, dentre eles das peças A
maldição de Acauã, de Darcy Figueiredo, As
filhas da terra, de sua própria autoria, e a Derrota do mito, de Tenório
Telles, com Direção de Theo Correa. Nos últimos 18 anos, tem se dedicado a
musicalizar e interpretar poemas de autores amazônicos.
Zemaria
Pinto – aos 58 anos, mestre em Estudos Literários e
especialista em Literatura Brasileira, Zemaria Pinto tem 18 livros publicados
em gêneros diversos: poesia, literatura infantil e juvenil, teatro e ensaios. Tem
uma dezena de livros inéditos, inclusive três de contos, gênero ao qual tem se
dedicado nos últimos anos. É dramaturgo, com seis peças encenadas e outras
tantas inéditas. Desde 2004, é membro da Academia Amazonense de Letras, onde
atualmente ocupa a função de diretor de Eventos, promovendo, semanalmente, palestras
e debates.
Serviço
. Pocket show Alienígena Lira, com Mauri Mrq e
Zemaria Pinto;
. Local: O Alienígena –
Rua Lima Bacury, 64, Centro
. Data/hora: dia 30 de abril,
às 19h;
. Entrada franca;
. O CD-livro Lira da madrugada estará à venda no
local por R$ 40,00 (nas livrarias, o livro está sendo vendido por R$ 50,00);