Zemaria Pinto
Quando o mundo inda era nada
Yebá-Buró, não criada
do nada fez os trovões
e os rios e a luz foram
feitos
mas o universo perfeito
a humanidade pedia
foi então que ela criou
Yebá-Gõãmu, o criador
Umukosurã-Panami, Umukosurã
Das entranhas da serpente
em canoa transformada
fez-se então a humana gente
e a terra foi povoada
Tukano, Tapuia, Desana
Baniwa, Maku, Siriana
entre si distribuíram
as riquezas do Trovão.
Umukosurã-Panami, Umukosurã
Quando o branco apareceu
tendo ao lado o missionário
cumpriu-se o ciclo esperado
inventou-se o tal pecado
e nunca mais houve paz
nos caminhos da canoa.
Com o lento passar do tempo
toda forma se transforma:
o
um no todo se enforma
e o todo se enforma em um
– o um do nada criado
ao todo um dia retorna
fundindo a fôrma com a forma
e o todo se torna um.
Umukosurã-Panami, Umukosurã
(Letra da canção-tema da peça do mesmo nome, baseada no livro de Luís e Firmiano Lana, encenada pela Cia Vitória Régia, ali pela segunda metade dos anos 90, musicada por Armando de Paula)