Pedro
Lucas Lindoso
Juca,
o andarilho, tem esse apelido porque gosta de duas coisas na vida: uísque Johnnie
Walker e pescaria. Como dia 15 de novembro é dia da Proclamação da República, a
pescaria é dada como certa.
Juca
é talvez o único monarquista amazonense de que se tem notícia. Para Juca, o
andarilho, dia 15 de novembro é um feriado sem graça. Não há festa, nem parada,
nem procissão. Um dia morno que só serve mesmo para estar num igarapé pescando
tucunaré.
Juca
me disse que nesse dia só houve dois fatos importantes aqui em Manaus. O nascimento de
Pro Rep e a mudança de nome da Rua do Imperador para Rua Marechal Deodoro.
Pro Rep tem esse nome porque Dona Constantina,
sua amada mãezinha, moradora da Matinha, consultava diariamente o santo do dia
na folhinha do cromo. Naquele 15 de
novembro, a folhinha marcava: PRO, de proclamação e REP, de república. PRO REP.
Achou que devia ser uma santa importante, afinal era feriado. Santa Ignorância.
Cromo, explicou Juca, é como
Constantina chamava o calendário.
Pois bem, além de se comemorar o aniversário
da Pro Rep, só nos resta mesmo é ir pescar. Nada mais a comemorar.
A república foi proclamada por um marechal,
velho, doente, vaidoso e que se dizia amigo do imperador. Segundo Juca, nunca
deveria ter feito isso. O brasileiro gosta mesmo, segundo ele, é de monarquia.
Veja só, aqui tem o rei Pelé, do futebol, o rei Roberto Carlos e o rei Momo. Em
Manaus, a garota mais importante do ano é a rainha do Peladão. Por essas e por
outras que Juca prefere a monarquia.
Segundo o bisavô de Juca, aqui no Amazonas, em
1889, a
libra esterlina era a moeda corrente. Só se falava na Rainha Vitória. Ninguém
deu bola para a proclamação. Aliás, o povo nunca foi consultado se queria mesmo
a proclamação da república.
A consulta só se deu no ano de 1993. Lembram
do plebiscito? Nós os brasileiros fomos convocados para votar se o Brasil
deveria ser uma monarquia ou uma república. Juca votou pela monarquia, mas
venceu a república.
Juca,
o andarilho, não se conforma até hoje. Para ele a proclamação foi uma
palhaçada. Foi tudo improvisado. Não tinham nem um hino para cantar. Cantou-se
a Marselhesa, o hino da França. Improvisaram
uma bandeira parecida com a dos Estados Unidos. Uma verdadeira piada. Um
desrespeito a Pedro II. Quem contou isso para Juca foi sua tia Carmosina, outra
monarquista convicta, que se intitulava baronesa do Alto Rio Negro. De repente
alguém mais lúcido argumentou:
–
Mas, Juca, se Deodoro não tivessem proclamado a República, não haveria a rua do
bate palmas. E hoje não seria feriado. Não teria pescaria.
Juca
pensou e no meio do igarapé, em plena mata, gritou:
–
VIVA A REPÚBLICA!