Amigos do Fingidor

terça-feira, 7 de abril de 2015

Viva a República!


Pedro Lucas Lindoso


Juca, o andarilho, tem esse apelido porque gosta de duas coisas na vida: uísque Johnnie Walker e pescaria. Como dia 15 de novembro é dia da Proclamação da República, a pescaria é dada como certa.
Juca é talvez o único monarquista amazonense de que se tem notícia. Para Juca, o andarilho, dia 15 de novembro é um feriado sem graça. Não há festa, nem parada, nem procissão. Um dia morno que só serve mesmo para estar num igarapé pescando tucunaré.
Juca me disse que nesse dia só houve dois fatos importantes aqui em Manaus. O nascimento de Pro Rep e a mudança de nome da Rua do Imperador para Rua Marechal Deodoro.
 Pro Rep tem esse nome porque Dona Constantina, sua amada mãezinha, moradora da Matinha, consultava diariamente o santo do dia na folhinha do cromo. Naquele 15 de novembro, a folhinha marcava: PRO, de proclamação e REP, de república. PRO REP. Achou que devia ser uma santa importante, afinal era feriado. Santa Ignorância. Cromo, explicou Juca, é como Constantina chamava o calendário.
 Pois bem, além de se comemorar o aniversário da Pro Rep, só nos resta mesmo é ir pescar. Nada mais a comemorar.
 A república foi proclamada por um marechal, velho, doente, vaidoso e que se dizia amigo do imperador. Segundo Juca, nunca deveria ter feito isso. O brasileiro gosta mesmo, segundo ele, é de monarquia. Veja só, aqui tem o rei Pelé, do futebol, o rei Roberto Carlos e o rei Momo. Em Manaus, a garota mais importante do ano é a rainha do Peladão. Por essas e por outras que Juca prefere a monarquia.
 Segundo o bisavô de Juca, aqui no Amazonas, em 1889, a libra esterlina era a moeda corrente. Só se falava na Rainha Vitória. Ninguém deu bola para a proclamação. Aliás, o povo nunca foi consultado se queria mesmo a proclamação da república.
 A consulta só se deu no ano de 1993. Lembram do plebiscito? Nós os brasileiros fomos convocados para votar se o Brasil deveria ser uma monarquia ou uma república. Juca votou pela monarquia, mas venceu a república.
Juca, o andarilho, não se conforma até hoje. Para ele a proclamação foi uma palhaçada. Foi tudo improvisado. Não tinham nem um hino para cantar. Cantou-se a Marselhesa, o hino da França. Improvisaram uma bandeira parecida com a dos Estados Unidos. Uma verdadeira piada. Um desrespeito a Pedro II. Quem contou isso para Juca foi sua tia Carmosina, outra monarquista convicta, que se intitulava baronesa do Alto Rio Negro. De repente alguém mais lúcido argumentou:
– Mas, Juca, se Deodoro não tivessem proclamado a República, não haveria a rua do bate palmas. E hoje não seria feriado. Não teria pescaria.
Juca pensou e no meio do igarapé, em plena mata, gritou:
– VIVA A REPÚBLICA!