Marco Adolfs
Ricardinho, após a prova
“Para quê esse negócio de estudar se o que nós queremos é apenas ficar livre, brincando? Mamãe e papai nem se falam mais direito? Tem diplomas e estudaram, mas não se falam direito. Prefiro ficar sem fazer nada. Andar com meus amigos por aí. Pegar o Pitomba e levar para passear. Afinal o mundo vai acabar mesmo. Os Estados Unidos e esses árabes, que explodem tudo por aí, vão acabar o mundo. Então eu não estou nem aí para o resultado da prova. Queria mesmo era experimentar aquele bagulho que o Zeca vende pra todo mundo. Deve ser bom, pois todos os meus amigos fumam. Depois ficam rindo de tudo e de todos. É melhor do que brigar ou ficar com medo desses professores idiotas. “Bando de idiotas!” Hoje eu experimento esse bagulho do Zeca antes de chegar em casa. Papai ainda deve estar no escritório e mamãe dormindo com aquela máscara facial. Se não sentem sequer o cheiro do meu sovaco, vão sentir outro. Vou logo lá com o Zeca, aquele traficante que todo mundo conhece, e compro um com o dinheiro da merenda. Pronto. Tem aí?... Me dá um... Quanto é?... Tá certo.... Toma. Me dá. Aí vou lá para a praça fumar com a turma.”
...(Fumando o bagulho)...
“Assim? Hum. Hahahaha. Maneiro! Maneiro! Mamãe e papai deveriam dar uma experimentada também. Talvez ficassem maneiros. Muito maneiro, meu amigo. Claro que gostei. A gente fica numa alegria! O tempo é como uma onda no mar. Legal, mesmo. Vou fazer isso todo o dia. É bom. O mundo que se exploda! Um dia vou oferecer para ela experimentar. Coitada. Sempre naquela cadeira olhando o Cristo Redentor vir buscá-la. Vai ficar alegrinha que nem eu. O tio Otávio fuma, que eu sei. E ela não pode? Claro que pode. Está morrendo.”