Zemaria Pinto
O homem ocupa o espaço
XI
O tema do retorno, aliás, está sempre presente na poética de Alcides Werk. Voltar para casa, mesmo que de uma simples pescaria ou de uma aventura de vulto, como a conquista da cidade grande. “Êxodo”, publicado na antologia Marupiara, retoma a ideia de “O tempo entre duas águas”, ou seja, traça um paralelo entre a vida na capital e no interior. Sem a mesma força simbólica deste, “ Êxodo” fala da angústia do homem distante de tudo aquilo que por bom tempo representou todo o seu universo:
pouco mais que uma criança,
as luzes da Zona Franca
me trouxeram para aqui.
Desta vez, a consciência crítica deixa para trás as estradas infindáveis, as promessas impossíveis e situa o homem no centro da multidão. No seu imenso universo interiorano, o homem é um caso à parte. Na capital, ele é um anónimo, um rosto amorfo, de mãos que trabalham no mesmo ritmo que milhares de outras mãos. O homem do interior enumera seres ao seu redor. Na capital, as máquinas, os instrumentos frios, os componentes eletrônicos são sua referência. E o homem consciente ri de si mesmo:
Será que soltas risadas
com mais graça e harmonia
que todos os transistores
de qualquer televisor?
Lá, mesmo vestido de trapos, ele tinha um nome. Ainda que se chamasse José, havia esperança. Ainda que vivesse na miséria, tinha fé na aurora que viria. Aqui, não lhe resta alternativa:
ou será que te vestiste
da farda gris dos escravos?
Sobreviver é a palavra. Mas ao poeta cabe o sonho, a fé, a esperança, que ele constrói dentro de si mesmo. “Êxodo”, o último dos poemas publicados em livro por Alcides Werk, encerra como um sibilo entre dentes:
Quero voltar pro meu lago,
quero enganar a mentira,
assar um peixe na praia
e saudar o sol nascente,
fazer uns versos pro dia
mas nos teus braços, Jupira.
Voltar para “O lago das 7 ilhas” (Poemas da água e da terra), talvez, onde
há 7 ilhas plantadas
e um mundo verde ao redor.
Em cada ilha uma casa
em cada casa uma virgem
em cada virgem um amor.