Amigos do Fingidor

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Medicina e astrologia

João Bosco Botelho



O encantamento pela astrologia, como prática de adivinhação, consolidou-se nos primeiros núcleos urbanos, em torno de cinco mil anos. Não há como separar a astrologia das antigas crenças e ideias religiosas. Os vestígios dessa intrincada dependência podem ser rastreados em alguns registros de escrita cuneiforme. O sinal gráfico, nessa linguagem, correspondente ao divino, elemento incomensurável e todo-poderoso do passado e do futuro, é o mesmo que designa a palavra estrela. Os deuses babilônicos Schamasch, Sin e Ischtar, eram os guardiões do céu sob a forma do Sol, da Lua e do planeta Vênus, os três astros mais destacados do firmamento.

Muitas expressões atuais estão repletas de significado astrológico. O prefixo latino “menstruus”, que originou a palavra menstruação, está ligado ao processo repetitivo de vinte e oito dias do mês lunar.

Para estarem mais próximos dos astros – representação física dos deuses –, os homens instalaram os templos nas montanhas mais altas: os chineses, no Himalaia; os japoneses, na Fuji; os gregos, no Olimpo e os hebreus, no Sinai. Onde não existia montanha, os povos construíram montes artificiais. Os mais antigos exemplos, os zigurates, na Mesopotâmia, com o topo dedicado à morada e culto dos deuses.

No Império de Augusto, em Roma, foi adotada a semana planetária de sete dias. De acordo com a crença no poder dos astros, cada dia era dedicado a um planeta, ao Sol e à Lua.

Com a gradativa cristianização, os primeiros teóricos iniciaram forte resistência contra o culto do Sol, identificado com o deus egípcio Mitra. O intento era desfazer a possível associação alegórica entre a adoração solar com a de Jesus Cristo. A preocupação está clara no Evangelho de São Paulo, repreendendo os Gálatas (Gl 4,8-10) que continuavam adorando as mesmas divindades do politeísmo para identificar os dias e os meses.

Em pleno século XVII, a certeza coletiva de que os planetas determinavam o rumo da vida era de tamanha solidez que a estatística de mortalidade da cidade de Londres, no ano de 1632, registrou treze mortes por “planet” ou pela influência do planeta.

A medicina astrológica, como no passado, continua sendo utilizada pelos adivinhos, atuando como curadores, para diminuir a insegurança em relação ao futuro desconhecido e à morte temida.