João Bosco Botelho
O simbolismo da saúde e da doença, como consciência da materialidade do corpo, foi tão forte que alcançou as promessas escatológicas dos profetas. Algumas delas definem que, no fim dos tempos, não haverá enfermos nem sofrimentos e lágrimas.
O Novo Testamento (NT) reproduziu muitos parâmetros do Antigo Testamento (AT) sobre as manifestações das enfermidades. Nesses pontos, uma das diferenças marcantes entre o AT e o NT reside na fé de que Jesus Cristo, o filho de Deus tornado homem, curou e ressuscitou os mortos.
A representação da doença presente no NT assume a forma de uma consciência corpórea no pecador, cujo peso das faltas cometidas contra a lei de Deus macula a obra da Criação perfeita em si mesma. A cura dos cegos, leprosos, paralíticos e loucos acaba por legitimar o magistério de Jesus como Filho de Deus e confirmar a promessa dos profetas.
Muitas passagens do NT também procuraram desacreditar os adivinhos e fazedores de prodígios, que desafiavam o poder de Deus. Os milagres assumiram grande significado na legitimação do cristianismo, já que estavam contidos nas antigas promessas dos profetas. Assim, Jesus Cristo também foi compreendido como o maior de todos os taumaturgos.
Igualmente, é possível perceber diferenças entre o AT e o NT em torno dos cuidados coletivos com a saúde. Enquanto o primeiro é rico em recomendações higiênico-dietéticas, relacionadas com as necessidades da época, o segundo ficou estritamente ligado ao enfoque salvífico ou condenatório pessoal.
O poder de Jesus para curar os doentes foi transmitido aos apóstolos como condição fundamental para evangelização, em Mt 10, 1: “Chamou os doze discípulos e deu-lhes autoridade de expulsar os espíritos imundos e de curar toda a sorte de males e enfermidades”, e em Mc 16, 17-18: “Estes são os sinais que acompanharão os que tiverem crido: em meu nome expulsarão demônios, falarão em novas línguas, pegarão em serpentes, e se beberem algum veneno mortífero, nada sofrerão; imporão as mãos sobre os enfermos, e estes ficarão curados.”
Estas duas passagens do NT representam dois dos mais importantes simbolismos adotados pelos seguidores de Jesus Cristo para efetivar a catequese cristã nos séculos que se seguiram, notadamente, durante e após o avanço das fronteiras que se seguiram à colonização das Américas.
Ilustração: Jesus cura um cego, autor desconhecido.