Jorge Bandeira
Oi, Dora,
Oi, Luz del Fuego,
Dia 21 de fevereiro você fez mais um aniversário, e por isso escrevo esta pequena cartinha para lhe falar deste mundinho, que está cada vez mais louco, e também de teu amado Naturismo, por quem você foi capaz de tudo, acho que até mesmo de morrer por ele. Luz, minha querida amiga, saiba que a Maria Luzia, que nasceu na tua bendita terra capixaba, continua até hoje a preservar teu nome por lá, num grupo naturista bastante atuante.
No teu Rio de Janeiro, tem um carinha chamado Pedro Ribeiro que é incansável, ele é magrinho mas tem a força de uma onça pintada quando o assunto diz respeito a preservar o valor ético do naturismo. E são tantos e tantos que posso cometer uma injustiça ao esquecer alguns dos nomes que sabem viver a plenitude naturista, com seus erros, limitações, mas com uma vontade danada de trabalhar pelo bem comum, pelo bem do naturismo. No planalto central tem o Elias, o Jaime, a Lili, um grande amigo cujo nome já está nu, o Tannus, esse é naturista até no nome, tá nu a partir da certidão de nascimento.
Pelo Norte desse imenso país, que não soube muito bem de teu valor como mulher, artista e escritora, tem um tal de João Carlos, que acredita ainda nesse naturismo feito de irmandade, é um batalhador, como tu mesmo foste, uma guerreira índia capixaba, nua, levantando-se sempre das infinitas quedas que a fizeram cair, mas não recuar. Teu horizonte, Luz del Fuego, sempre ultrapassou vastas colinas de sofrimentos e os mais arriscados obstáculos. Dentre outros que trilham pela tua estrada iluminada temos um Flaviano, verdadeiro arqueólogo da memória naturista. Voltando ao Rio de Janeiro, é de bom tom citar também o Paulo Pereira, que tu conheceste nos tempos gloriosos de tua vida exemplar, homem de vasta cultura e dedicação integral ao bom e velho naturismo, este conceito de mais de um século.
Temos muitos que te veneram, mas não como uma imagem inerte, perdida no tempo, nas ruínas da Ilha do Sol, recentemente visitadas pela equipe do Pedro, com olhos vivos e nus, esperando pelo porvir, para um possível museu, um centro cultural de memória permanente dos rastros que deixaste para nós, os naturistas do século XXI. Fabri, Armando, Weslley, Damasceno, Valdir e Fátima, Márcio Braga, Padre Roberto, o saudoso Sérgio Oliveira, Celso Rossi, Carina e Marcelo, Eta, Glacy, Iran, são tantos os nomes que circundam este continente chamado Brasil com a nudez de seus corpos, que adoram ficar nus, que a cada encontro naturista relembram de teu legado, de tua solidez na busca do verdadeiro ideal, dos longos momentos de tua glória artística, e também dos desafios, hoje mais do que nunca somos obrigados a esclarecer pela milésima vez sobre o poder benéfico do bom e salutar naturismo, de sua força centenária, de sua história, de sua trajetória.
Eu mesmo já pensei em desistir algumas vezes desta tua luta, desta ideia que você disseminou, mas meus sonhos não permitem, nos meus sonhos sempre estou nu, no meio de outros corpos nus, que são estes amigos e amigas citados e os que nem citei aqui. São eles que me fazem prosseguir esta jornada, em busca de minha utopia e felicidade, posso afirmar que hoje sem minha nudez sou um homem vestindo nada, mesmo estando de roupa, que não me representam em nenhum momento. Hoje, graças a ti, sou feito de nudez total, na entrega por um ideal. Ou seja, minha nudez é minha principal vocação. Minha nudez é meu oxigênio!
Tantos nomes que até hoje me fazem clamar em voz alta, para nossas fileiras combativas: Zé Wagner, Julíndio, Paulo Campos, Nalva, minha grande amiga feita de uma nudez indígena que me faz acreditar que estamos nos caminhos da segurança ao naturismo familiar. Luz del Fuego, minha amiga que já se foi mas que está sempre presente em minha mente, garanta que as novas gerações, dos mais diversos estados brasileiros, continuem a levar esta nobre filosofia naturista, pelo teu pioneirismo em várias frentes naturistas, que minha filha Carolina seja uma naturista, que a netinha do Evandro também seja uma naturista, para que essas crianças nos apontem onde erramos, que nos ensinem sempre do sentido infalível da tolerância, do poder do silêncio nos momentos de maior desespero, e que, acima de tudo, Luz del Fuego, que você seja nossa mensageira de um dia melhor para todos, naturistas ou não, e que este mundo descarregue o odioso rancor que transforma os seres humanos em lobos do próprio homem, tal qual o leviatã de Thomas Hobbes, Homo Homini Lupus.
Um retorno para a Idade Média, sim, mas uma cidade medieval feito a Nudelot de Florencia Brenner, nossa irmã portenha, ao mundo, tenho certeza, ser o mesmo que almeja meu amigo naturista norte-americano Bruce Willis (não, não é o ator!), este mundo, nobres naturistas, creiam, já está em pleno curso, e estamos construindo com todo cuidado, pois o naturismo precisa de uma fortaleza muito segura para se proteger de todos os que enxergam muito pouco sobre as coisas boas e essenciais da vida, desta vida plena de nudez e de uma tamanha vontade de ter um mundo melhor. Se esqueci de citar alguém, me perdoem, estou tentando desaparecer com minhas roupas, o que é muito difícil nesta floresta amazônica do século XXI.
Manaus, 22 de fevereiro de 2011