Amigos do Fingidor

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Possível soneto para Marcos Gomes

Jorge Tufic


Com meu alef te brindo por ser abd
Das suras no adaã que faz o adab
Dos sábios na adafina da linguagem
Dando ao soneto acordes de alaúde.

Navegas como a lua sendo alfange
Despertando anafis, andaluzias,
Polissêmicos fogos, Meca e pedra,
Tal fossem os arabescos de alefris.

Sem aravias, o alcatrão destilas
De um novo idioma a síntese, o acanto
Trançado com jasmins para o salã.

Despertas Mai das noites indormidas,
Serralhos do Butão; e esta vontade
De ser derwiche, um zégel solitário.


Glossário


Alef- principal letra do alfabeto arábico.

Abb- servo; escravo de.

Sura- série, sequência, o mesmo que surata. Cada um dos capítulos do Alcorão.

Adaã- fala do muezin do alto do minarete, convidando os fiéis à oração.

Pedra- Pedra Negra, objeto que é o centro simbólico de todo o Islã; foco material de toda a religião muçulmana.

Adafina- coisa oculta; tesouro.

Anafil- longa trombeta usada pelos mouros.

Alefris- incisão, corte, entalho.

Aravia- arabia, linguagem atrapalhada e difícil. Algaravia.

Salã- a paz (de Alá seja contigo). Palavra de saudação ou cumprimento. Salmo, salema.

Mai- pseudônimo de Maria Zlady, poetiza árabe contemporânea.

Serralho- harém.

Derwiche- místico de seita islâmica.

Zégel- bailado; gênero de poesia popular em Al-Andaluz.