Thom Scott. |
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
terça-feira, 29 de novembro de 2011
O amor reduz a complexidade da vida...
Marco Adolfs
Alpinistas. Fumos ácidos. Vinho descendo. Minha cabeça flutuava para longe do corpo, suspensa em uma corda de nylon balouçante, a subir mais uma montanha. Observando, mais uma vez, uma monstruosa percepção da realidade.
– Depois de amanhã estaremos na Áustria! – alguém gritou, brindando.
Mas eu me imaginava, também, dormindo em um pequeno sótão com água-furtada e a escrever um livro. No intervalo para descanso, lendo Spengler. Depois, ficando a ronronar como um gato. Um tigre, talvez. Mas existe muita sensualidade em escalar uma montanha. Ela nos chama para um delírio em busca de uma espécie de gozo. A felicidade de certos homens parece estar sempre em eles ficarem suspensos entre o céu e a terra.
Foi quando Allendy virou-se para mim e disse:
– Estou com saudades da Ana.
– Você deveria tê-la trazido – observei.
– Não quis vir, desta vez... Disse que não aguentava mais subir montanhas.
“O amor reduz a complexidade da vida”, pensei então repentinamente. Quando dois seres se completam, uma montanha torna-se irrisória perante esse sentimento. O escalar desloca o seu eixo para a vida de cada um. E isso é que é bom. Saber que a alma de alguém amado é mais importante do que tudo. Que a verdadeira montanha está dentro de cada um. As verdadeiras arestas e dificuldades de percurso até o cume... Ao clímax... E que, no caso dos seres humanos, estão no espírito de um homem e de uma mulher que resolvem amar.
– Mas quando você voltar terá o mundo real a teus pés – comentei.
– O que nos move? – perguntou então Allendy, após mais um gole de vinho.
– A conquista... conquistar uma montanha... ou a mulher amada.
Após os nossos vinhos naquela noite fria, Paris começou a dormir melhor em cada um de nós. Principalmente em Allendy, que disse a nós todos que não iria mais seguir o grupo e que iria voltar para a sua amada Ana. Quanto a nós outros, precisávamos descansar bastante. Para subirmos mais uma montanha.
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
domingo, 27 de novembro de 2011
Manaus, amor e memória XXXIV
sábado, 26 de novembro de 2011
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Uma análise do Eu – 2/13
Zemaria Pinto
As influências
Num depoimento datado de 1912, ele admite que as suas maiores influências são William Shakespeare (1564-1616) e Edgar Allan Poe (1809-1849). São influências fáceis de serem reconhecidas. As referências a Shakespeare são feitas através de alusões a personagens trágicos seus :
- Macbeths da patológica vigília ... (Monólogo de uma sombra )
Os fantasmas hamléticos dispersos ... (Os doentes )
Observe, leitor , estes fragmentos de A carniça , de Baudelaire, na tradução de Jamil Almansur Haddad, e tire suas próprias conclusões :
Recorda-te do objeto e que vimos, ó Graça ,
Na curva do caminho uma infame carcaça
Num leito que era um carrascal.
Suando venenos e clarões ,
Abriam de feição cínica e preguiçosa
O ventre todo exalações .
(...)
Donde saíam batalhões
Ao largo dos vivos rasgões.
(...)
Aos derradeiros sacramentos
Do amor em decomposição .
Os versos acima nos trazem à mente , leitor , uma outra influência de Augusto dos Anjos , o pintor holandês Rembrandt (1606-1669). Budismo moderno começa assim :
Tome, Dr., esta tesoura , e... corte
O quadro mais famoso de Rembrandt chama-se “A Aula de Anatomia do Doutor Tulp”. Mostra oito cidadãos em torno de um corpo sem vida , cujo braço já fora aberto , deixando à mostra músculos e ossos . O Dr. Tulp, responsável pela dissecação do cadáver , tem uma tesoura à mão . E daí, você pode estar se perguntando, não seria mera coincidência ? Não , porque o poeta era admirador do pintor , ao ponto de citá-lo nominalmente , transformando-o em adjetivo comum :
Mostrando em rembrandtescas telas várias... (Monólogo de uma sombra )
Falamos das influências estéticas , mas não podemos ignorar as influências filosófico-científicas, fundamentais para a leitura proveitosa da poesia de Augusto dos Anjos . Já falamos na influência exercida pelas novas idéias que vinham da Europa. Dois autores são particularmente caros aos adeptos da escola do Recife : Spencer e Haeckel.
Herbert Spencer (1820-1903), filósofo inglês , antecipou Darwin na formulação da lei da evolução , estendendo-a a todos os campos da experiência humana . Para Spencer, o conhecimento científico , em permanente evolução , jamais atingirá o limite da realidade absoluta , onde está o incognoscível , porque este transcende a capacidade do conhecimento humano .
Ernest Haeckel (1834-1919), filósofo alemão , foi o principal divulgador do Monismo, doutrina que , como já dissemos, prega que o conjunto dos fatos , lógicos ou físicos , pode ser reduzido à unidade : a nossa alma é apenas uma parte da alma universal ; o nosso corpo é uma partícula do corpo universal . O Monismo, é preciso dizer , opõe-se ao Dualismo , doutrina que admite a coexistência de dois princípios irredutíveis que se opõem e se completam: bem /mal , espírito /matéria , corpo /alma etc.
Monistas evolucionistas (ou vice-versa ?) era como se proclamavam os expoentes da escola do Recife , numa época em que se discutia filosofia naturalmente , nos jornais e revistas , ou nas conversas cotidianas.
A poesia de Augusto dos Anjos é toda pontilhada por citações dessas idéias , sendo recorrentes os nomes de Spencer e Haeckel. Seria ocioso reproduzi-las, posto que são claras e objetivas , embora este seja o “calcanhar de Aquiles” da poesia de Augusto dos Anjos : os termos “científicos”, que tornam indispensáveis o uso de um bom dicionário durante a leitura . Mas observe estas estrofes do poema Queixas Noturnas, de fundamental importância na trajetória do poeta , conforme veremos na análise do estilo :
É vão , é inútil , é improfícuo , em suma ;
(...)
És a árvore em que devo reclinar-me...
Se algum dia o Prazer vier procurar-me
Dize a este monstro que eu fugi de casa !
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Os 80 anos de Luiz Ruas na UFAM
HOMENAGEM A LUIZ RUAS
DIA: 28 DE NOVEMBRO DE 2011
HORÁRIO: DE 15:00 ÀS 21 HORAS
LOCAL: PAVILHÃO LUIZ AUGUSTO DE LIMA RUAS (HALL DO ICHL-UFAM)
PROGRAMAÇÃO
SOLENIDADE DE ABERTURA:
DIRIGENTE DA SESSÃO DE ABERTURA: PROFESSOR DR. NELSON DE MATOS NORONHA (DIRETOR DO ICHL-UFAM)
RECITAL DE POEMAS MUSICADOS:
EXECUÇÃO DA MELODIA DE POEMAS POR PARTE DE ALUNOS DO CURSO DE LETRAS.
RECITAL DE POEMAS DO LIVRO APARIÇÃO DO CLOWN, DE LUIZ RUAS, POR PARTE DOS DISCENTES DO CURSO DE LETRAS – LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESA, ORIENTADOS PELA PROFESSORA DO DLLP, MARIA SEBASTIANA DE MORAIS GUEDES
HORÁRIO: 15 HORAS
CONFERÊNCIA DE ABERTURA:
PROFESSORA DRA. MARIA MATILDE CORRÊA HOSANNAH DA SILVA
(FILOSOFIA-ICHL-UFAM) - MEDIADORA
PROFESSOR OSVALDO GOMES COELHO (FILOSOFIA-ICHL-UFAM)
CORONEL ROBERTO MENDONÇA
HORÁRIO: DE 16:00 ÀS 18:00 HORAS
CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO:
PROFESSOR DR. MARCOS FREDERICO KRÜGER ALEIXO (UEA E PPGL-ICHL-UFAM) - MEDIADOR
ESCRITOR TENÓRIO TELLES (ACADEMIA AMAZONENSE DE LETRAS E VALER) - Ruas: poesia e espiritualidade
ESCRITOR E MESTRANDO ZEMARIA PINTO (PPGL-ICHL-UFAM) – Poemeu, a metafísica do profano
MESTRANDO ALEXANDRE SERRÃO (PPGL-ICHL-PPGL) – Pesquisa sobre Aparição do clown
HORÁRIO: DE 18:00 ÀS 20:00 HORAS
SESSÃO DE ENCERRAMENTO: PROFESSOR DR. NELSON DE MATOS NORONHA
RECITAL DE POEMAS DO LIVRO POEMEU, DE LUIZ RUAS, PELOS DISCENTES MEMBROS DO CECLA – CENTRO ACADÊMICO DE LETRAS
RECITAL DE POEMAS MUSICADOS:
VOZ E VIOLÃO DO DISCENTE RAMON, DO CURSO DE LETRAS – LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESA – ICHL-UFAM
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Zemaria Pinto
Medicina como especialidade social – Cátedra universitária 2
João Bosco Botelho
A cátedra universitária remonta a esse período. O professor ficava sentado numa grande cadeira, daí o nome de cátedra, e ditava a aula aos alunos calados e atentos, ávidos de conhecimentos, sem questionar as exposições do catedrático.
As mudanças já iniciadas, o desvendar dos corpos pela anatomia e a posição dos filósofos, mesmo com a condenação de Galileu, em 1633, instigam novas leituras da dor, acompanhadas de inevitáveis rupturas com o passado hipocrático-galênico-cristão. Destacam-se, no século 17, o médico inglês Harvey, em 1628, com a publicação do “Exercitatio anatomica de motu cordis et sanguinis in anima”, demonstrando os erros de Galeno sobre a circulação do sangue.
De modo genial, Marcelo Malpighi, em 1666, com o livro “De viscerum structura”, retirou a doença dos humores de Hipócrates, recolocando-a na microestrutura, estabelecendo o segundo corte epistemológico da Medicina como especialidade social: o pensamento micrológico, que mudaria quase tudo nos selos seguintes até a atualidade.
Ocorreu no século 17 quando a doença foi retirada da macroestrutura corporal dos humores para a microestrutura dos tecidos por meio da micrologia ¾ a dimensão celular ¾, descrita nos estudos de Marcelo Malpighi (1628-1694), marcando a nova fase dos saberes da Medicina-oficial.
O resultado foi a instituição da mentalidade microscópica, inaugurando o desvendar da multiplicidade das formas e das funções escondidas dos sentidos natos. Pouco a pouco, o estudo da célula dominou os meios acadêmicos. Hoje, é o sustentáculo do atual ensino da Medicina-oficial. Mesmo nos hospitais mais bem equipados, os tratamentos dependem do diagnóstico microscópico quantitativo e qualitativo das células corporais. Isto significa que a estrutura teórica dos saberes médicos, pelo menos no Terceiro Mundo, em pleno final do século 20, ainda está alicerçada sobre os princípios teóricos da patologia celular oriunda do século 17.
A micrologia enfraqueceu as teorias greco-romanas de Hipócrates e Galeno, entendidas como dogmas das universidades, no medievo europeu. Não muito depois, pouco a pouco, os processos teóricos que amparavam a micrologia, a busca da materialidade da doença na microscopia, substituíram as idéias da Escola de Cós.
Os sistemas teóricos interligados e dependentes de Hipócrates e Galeno, capazes de explicar a saúde, a doença e a expressão do ser no social, mostraram-se tão adequados ao observável que dominaram as regras do diagnóstico, da terapêutica e as bases do ensino da Medicina oficial no Ocidente durante vinte séculos.
Ao lado dessa forte relação em torno das teorias hipocrático-galênicas, que atravessou a Idade Média, alguns religiosos, como Miguel Servet, estudante da Universidade de Tolousse, em 1530, imbuído da leitura dogmática bíblica, ao procurar explicação para o sopro de ar que deu vida ao primeiro homem, no livro “Christianismi restituio”, descreveu a pequena circulação coração-pulmão.
Contudo foram os estudos de Hipócrates e Galeno que suplantaram todas as outras correntes cientificas. Alcançaram o Brasil Colônia e os médicos da corte portuguesa. Durante vinte e três dias de febre e convulsão que antecederam a sua morte, a Princesa Paula Mariana, filha do primeiro Imperador do Brasil, foi submetida às chupadas de quarenta sanguessugas, onze vesicatórios, oito cataplasmas e sete clisteres, prescritos pela equipe de dez médicos que se revezaram à cabeceira real.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
terça-feira, 22 de novembro de 2011
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Notícia de jornal, em poucas linhas
Marco Adolfs
– Saí de casa com dezessete anos – disse Sandy.
– Qual o motivo? – perguntei.
– Meu pai me batia muito – respondeu.
O pai a agredia sem piedade, quando ela chegava da rua. Chegou a ser levada para um pronto-socorro com o rosto inchado de hematomas. Um tapa do pai a derrubou no chão e os irmãos completaram a sova.
– Vagabunda! Viciada!
Ela estava drogada, naquele dia. Conflitos familiares por causa da perda da mãe e da bebedeira do pai ocasionaram uma parte de seu drama. Então, numa bela manhã, fugiu de casa.
Havia arrumado algumas roupas em uma mochila velha e pegou um ônibus. Foi para uma outra cidade. Bem distante. Bem longe. Perambulou pelas ruas e resolveu que deveria se prostituir para ganhar dinheiro e poder sobreviver. Mas, determinado dia sentiu-se um trapo.
Então, naquela manhã, resolveu que se mataria, jogando-se do alto de um prédio abandonado. Cheirou cola até não poder mais; levantou-se e se aproximou do terraço.
Quando caiu, seus cabelos loiros empaparam-se de sangue. Ninguém sabia quem era aquela menina. Só eu, o jornalista. “Mulher atira-se de prédio”. Vinte anos de idade. Notícia de jornal, em poucas linhas.
domingo, 20 de novembro de 2011
sábado, 19 de novembro de 2011
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Uma análise do Eu – 1/13
Zemaria Pinto*
A Escola de Recife
É preciso esclarecer , entretanto , que o que os historiadores chamaram depois de escola de Recife não era exatamente um movimento , mas um acontecimento , ou melhor , uma sucessão de acontecimentos , que , muito tempo depois , a história tratou de juntar como parte de um todo homogêneo .
Voltando à segunda fase da escola do Recife , perguntamo-nos – mas o que era afinal a poesia científica ? Se a poesia trabalha essencialmente com a expressão individual , muitas vezes sentimental , como pode ser científica ? Acontece, leitor , que o Romantismo , inaugurado, no Brasil, 30 anos antes , já esgotara todos os limites . A juventude , inconformista , estava atrás de novas formas de expressão . Da Europa (em particular , da França) vinham muitas novidades . Nas ciências e na filosofia , o Evolucionismo , o Positivismo , o Determinismo . Nas artes , e em especial na literatura , o Realismo , o Naturalismo , o Parnasianismo , o Simbolismo .
A nova forma de fazer poesia não era gratuita , não nascia da simples vontade de meia dúzia de boêmios metidos a intelectuais querendo fazer algo diferente , chocante . Não . Ela nascia do desejo de sepultar de vez os velhos fantasmas românticos, substituindo-os pela racionalidade das novas idéias , cujos principais suportes eram, resumidamente:
1 – o homem não foi “criado”; ele evoluiu de formas inferiores até chegar ao estágio atual ; esse preceito é válido para todas as formas de vida : há uma seleção natural , onde vence sempre o mais forte ; na organização social humana , também prevalece a seleção natural (Evolucionismo );
2 – o conhecimento científico é o único conhecimento utilitário , por isso deve ser valorizado com relação ao conhecimento espiritual ; os males sociais serão eliminados com o progresso material das nações ; a arte deve valorizar o conhecimento científico (Positivismo );
3 – o homem é um produto do meio ambiente em que vive; todos os fatos , físicos ou morais , têm uma causa cientificamente explicável ; a raça , o meio e o momento histórico são fatores preponderantes para o comportamento humano (Determinismo ).
A poesia científica vinha na esteira do Realismo . Prevaleceu, entretanto , o Parnasianismo , que levou a poesia a uma outra direção Vejamos um exemplo da poesia produzida no Recife , àquela época , a partir de um fragmento de Martins Junior:
Buscando demonstrar pela transformação
De uma simples monera a gênese do mundo
Do progresso ; afirmando a lei da seleção
E seu correlativo - a luta na existência !
Tentam reconstruir , fiéis à experiência ,
O vetusto castelo informe do Direito
Podes tudo roer , verme pútrido e imundo !
Esta é a tua missão : devastar a matéria .
E milhões virão mais tripudiar , no fundo
Da cova onde atirar-me a peste ou a miséria !
Podes tudo roer ! Nada , nada te impeça
Na tua faina ! Rói a mortalha , o caixão ,
Se tanto não saciar tua voracidade
(*) Publicado no livro Análise Literária das Obras do Vestibular 2001, este ensaio é o fundamento da minha dissertação no mestrado em Estudos Literários, pela UFAM, em fase, bem adiantada, de elaboração: A invenção do Expressionismo em Augusto dos Anjos.
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