Metal Knights World of Forever. Sandra Chang. |
sábado, 31 de agosto de 2013
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Sob a concha da panacarica – estudo 3/8
Zemaria Pinto
2 – Contos apresentados em
sequência linear
Neste bloco, relacionamos sete narrativas que têm uma estrutura
aparentemente simples: são fatos e cenas que vão surgindo em frente ao leitor,
linearmente. O foco narrativo é em 3ª pessoa.
O curandeiro – Epitácio é o rico marido
de Júlia. Seu sonho de varão é ter filhos, mas acha que a mulher não é fértil.
No entanto, através de exames, constata-se que não é da moça o problema. O
marido recusa-se a procurar um médico e reconhecer-se estéril. Assim, recorre a
um curandeiro. Este, entretanto, como não poderia deixar de ser, é um charlatão
que embriaga as clientes e submete-as sexualmente. Por alguns dias, repete-se o
ritual para que Júlia engravide. Esta, bastante desconfiada, acaba descobrindo
o que acontece quando, supostamente, dorme durante os encontros. Descobre
também que tudo é filmado pelo charlatão, roubando a fita que mostrava seus
encontros. Quando se dispõe a
desmascará-lo, já não encontra o curandeiro e sua enfermeira, e os jornais
estampam o escândalo.
Epitácio procura um médico, descobrindo seu problema, cujo tratamento é
dos mais simples. O casal tem, assim, um final feliz. Júlia ficara grávida dos
encontros, mas silencia sobre o ocorrido, para que sua felicidade seja plena.
A lei da selva – Gustavo perde-se na mata.
Encontra uma pobre cabana e é acolhido pelo casal Tião e Zefa. À noite,
aparecem Chico, um antigo namorado de Zefa que não se conforma em tê-la perdido
para Tião, e dois companheiros. Os amigos não esperavam encontrar o casal com
visita, e, assim, Gustavo ajuda Tião a livrar-se dos malfeitores. Tião “capa”
Chico, legitimando sua ação na “lei da selva”, inclusive sendo “acobertado”
pela omissão dos próprios companheiros de Chico.
A narrativa mostra o choque de Gustavo, jovem urbano, com os costumes do
homem interiorano; pelas descrições, podemos classificar o conto como regionalista.
A sonâmbula – Noronha é um regatão
solitário. Um grande amigo seu, coronel Saldanha, pede-lhe que transporte uma
empregada sua, Glorinha. A moça é sonâmbula e, durante os dias da viagem,
mantém encontros sexuais, durante as crises de sonambulismo, com o regatão. Ao
final, tendo dado à luz um menino, descobre-se que Glorinha fingia-se de sonâmbula
para seduzir Noronha, pois nutria amores por este. Saldanha abençoa o casal,
num final feliz.
Outro conto regionalista, sendo
bastante ilustrativa a saída do cais, uma constante na vida do homem do
interior do Amazonas.
O assobio – Lucinha é perseguida por
um assobio que imita o seu nome. É seduzida pelo autor dos assobios, um jovem
misterioso, que não se deixa ver integralmente. Descobertos, Lucinha é mandada
para outra cidade, para encobrir a gravidez. Não sabe o nome do sedutor,
tampouco conhece seu rosto. Ao final, descobrimos que o médico que a ajuda
durante o parto é o homem amado, que era obrigado a esconder-se por estar sob
suspeita de erro médico. Mais um final feliz.
Por vezes, a narrativa lembra o clássico amor de Psiquê e Eros: a jovem
não sabe que o marido é o deus do amor, filho de Afrodite. Seus encontros
dão-se à noite, no escuro. Seduzida pelos conselhos invejosos das irmãs, Psiquê
trai o amado, iluminando seu belo rosto. Descobre, assim, a identidade e o
rosto do marido, mas é condenada, por isso, ao abandono, até que o deus, certo
de que a desobediência fora expiada, a toma definitivamente como esposa.
O sonho de Ana Maria – Ana Maria é moça do
interior, cansada da monotonia do lugar, almejando sair do isolamento em que
vive. Janice é uma amiga que aparentemente vence na cidade grande. A convite
desta, viaja para a cidade. Descobre, então, que a amiga está envolvida, na
verdade, com prostituição, e, dignamente, repudia um pretendente e volta para
sua casa no interior.
Marcos, o pretendente repudiado, na verdade, está disposto a casar-se com
a jovem e vai atrás dela, comprando uma fazenda próxima à casa de Ana Maria.
Final feliz, o casal é abençoado pelo pai da moça.
O conto trata, assim, de um problema – ainda – existente na vida do
interiorano, no choque com a dita cidade grande, podendo, por isso, ser
classificado como social.
O sinal – Telma tem um sinal de
nascença que a incomoda.
Assemelhava-se a um pedaço de fita isolante, de 5
centímetros de comprimento por dois de
largura, aproximadamente. Negro, retinto e peludo. Pêlos também negros,
naturalmente.
Seu pai, Cincinato, aceita o
convite de um amigo, Alonso, para ficar hospedado em sua casa. Fernando, filho
de Alonso, enamora-se de Telma após vê-la em trajes de banho. Fernando corteja
a moça e fala que somente casará com uma jovem que tenha sinal de nascença,
descrevendo o sinal de Telma, que, na verdade, vira às escondidas. Final feliz.
“Lua Nova” - “Lua Nova” é um potro que se torna o xodó da
jovem Silvinha. O noivo de Silvinha,
Juvêncio, resolve montar em “Lua Nova”, mesmo sabendo que o cavalo somente
aceita ser montado por sua dona. Derrubado, Juvêncio sente-se humilhado e jura
vingança. Silvinha casa-se e, por algum tempo, por causa de uma gestação
difícil, é obrigada a afastar-se da fazenda e de seu cavalo.
Ao retornar, procura o animal e encontra-o quase morto, graças ao ciúme
do marido. Resolve, então, dividir seus cuidados entre o filho e o quadrúpede.
Ao final, “Lua Nova” salva Juvêncio, colocando-se entre ele e um touro, sendo
atingido mortalmente por este, provando seu amor pela dona.
Arqueologia da doença: macro e micro dimensão
João
Bosco Botelho
A principal diferença entre a
prática médica oficial (autorizada pelo Estado), a empírica (resultante do
conhecimento historicamente acumulado) e a divina (estruturada na fé de que a
matéria, viva ou inerte, pode ser modificada pela ação divina) está assentada
no fato de que a Medicina oficial molda o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento
sobre propostas teóricas.
Esse conjunto histórico
apresenta três momentos (ou cortes epistemológicos, na linguagem de Bachelard):
1. A Teoria dos Quatro Humores elaborada pela
Escola Médica Cós, da Grécia, há 2400 anos. A compreensão da morfologia da
doença recebeu a dimensão do corpo. Nessa época, pela primeira vez, a doença
recebeu abordagem fora do domínio transcendente da divindade;
2. No
século 17, quando a doença saiu do corpo para a microestrutura celular, pelos
estudos de Marcelo Malpighi (1628‑1694). Estava iniciado o pensamento
micrológico. Os hospitais dos países subdesenvolvidos, mesmo realizando
transplantes, continuam executando a Medicina de Malpighi;
3. No
século 19, a genética do frade agostiniano Gregor Mendel (1822‑1844), impulsionou
a passagem da estrutura celular para a molécula e inaugurou a mentalidade
molecular. O fruto final deverá ser a completa compreensão dos genes, não só a
simples identificação gênica do projeto Genoma. Apesar da extraordinária
importância, o projeto genoma só mapeou os nossos genes, muito distante da
futura compreensão de como eles funcionam inter-relacionados com a diversidade
dos seres viventes.
Mesmo com os avanços da melhor
compreensão da morfologia da doença, na macro e na micro dimensão, obtidos em
pouco mais de dois mil anos de história, o médico sofre, no cotidiano,
incontáveis dúvidas. Sem poder empurrar os limites do sofrimento fora de
controle e da morte prematura, notadamente, nos cânceres e nas patologias
imunomoduladas, mesmo baseados nas publicações científicas, repetem os tratamentos
que oferecem melhores resultados sem oferecerem respostas satisfatórias.
Essa é uma das grandes sagas da
inteligência humana: continuar empurrando os limites da vida a partir do
desvendar da arqueologia da doença!
Como o conhecimento atual já domina
parte da estrutura atômica, muito além da molécula, é claro supor que esse será
o caminho da busca da origem da doença nos próximos séculos (já lastimo que não
poderei testemunhar): a busca da cura entre os átomos. Sem dúvida, representará
para a ciência o quarto corte no conhecimento da Medicina. É possível que
teremos muitas respostas que continuam inquietando a Medicina oficial: muitas
formas de cânceres e doenças autoimunes que continuam ceifando incontáveis
vidas, mesmo usando toda a tecnologia disponível.
Por
outro lado, existem questões muito importantes não resolvidas que interligam as
Medicinas oficial e divina. Existiriam, realmente, pessoas com poderes excepcionais
– dom – suficientes para curar pessoas, isto é, mudar a estrutura da matéria viva
fora de todas as leis físicas que regem o universo?
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
terça-feira, 27 de agosto de 2013
A história da Mônica tupiniquim
David Almeida
O nosso país é recheado de casos de corrupção, um
mais cabeludo que o outro: vergonhoso, ridículo, e, me lembrando de alguns
desses casos, deparei-me com o do Renan Calheiros, que foi arrasador, foi o
único que o fez renunciar do seu trono, esse que ele ocupa agora, do qual,
apesar das criticas, não quer sair nem que a vaca tussa: ô carinha sem
vergonha, descarado! Vamos torcer que apareça outra Mônica em sua vida, para se
mostrar pelada na Playboy, e sabe
porquê? Depois que a Mônica se despiu, o Calheiros pegou o seu banquinho e de
mansinho saiu.
“Já tive mulheres de todas as cores, de todas as
idades e muitos amores”... Mas com certeza, ele (Martinho da Vila), não teve
uma Mônica em sua vida.
Ahhh, a Mônica, não! Porque Mônica, decerto, não dá
casamento, nem inspiração para ninguém! E o Clinton, quando era presidente dos
“States”, sabe disso.
A história da humanidade é recheada de casos sobre
mulheres que traíram homens. Veja bem, não vai aqui um endosso ao machismo
enraizado na nossa sociedade desde os tempos primordiais.
É evidente que os tempos são outros, e essa cultura
machista está perdendo terreno, devido a vários movimentos de conscientização,
criados mundo afora por pessoas que não pensam mais dessa maneira, porque
homens e mulheres são iguais. Tem sujeito até querendo ser mulher. Não Mônica,
claro! E como devemos respeitar a individualidade de cada um, é de bom tom
deixar o “cabra” seguir em frente.
Só para ilustrar: Dalila traiu Sansão revelando o
segredo de sua força, o que levou o mesmo a ser derrotado pelos seus
inimigos.
Em vários momentos da nossa história existem relatos
que colam a palavra traição às mulheres. Injustiça ou não, em épocas dessas
ocorrências, foi o que ficou registrado e seguido até os nossos dias.
Infelizmente! E até hoje – não todos – o homem anda com a mulher sob a sombra
da traição. Muita gente acha que é o contrário. Será, parente?
Em nossos tempos – e vai ficar para história – mais uma
mulher, deu o tom da traição! Século XXI: a traição das Mônicas; do Clinton e
do Calheiros, que abalaram os meios políticos, nacionais e internacionais;
econômicos, financeiros, e, quem sabe, até o aquecimento global. A do Clinton
foi a primeira, desse bloco, né? Já passou. Deu no que deu. Todo mundo sabe,
que até o “Dólar” do Clinton caiu na “bolsa”.
Mônica Veloso! Essa é a do Calheiros, fabricação
nacional: A Mônica tupiniquim. Causou o maior rebuliço na vida da nossa “incorruptível
República”. Segundo denúncias, ela e sua filha recebiam mesadas pagas com
propina de lobista. Foi só a ponta do iceberg num mar de lama gelado, onde
Renan chafurdava, e boiando, “inocentemente”, dizia: “daqui não saio daqui
ninguém me tira...” Saiu!
E pra salgar mais ainda a Santa Ceia de Renan, a
Mônica apareceu peladinha na revista Playboy. I N T E I R I N H A! Batendo
recordes e recordes de vendas, nas bancas de revistas deste país tupiniquim.
Todo mundo queria ver o “Partido” que era de Calheiros. “E quem não tiver nem
um desejo que atire a primeira pedra”! Inclusive, atazanou a cabeça, dos nobres
senadores da terceira idade, que, assanhadinhos, folheavam a revista, com olhos
gulosos, de um passado já muito distante.
E o telhado de Renan, que era de vidro, se quebrou, o
amor que ele tinha na propina se lascou. Essa história já passou, claro, mas se
alguém, quiser um flashback, apresente uma Monica para o Renan, o povo vai
adorarrrrrr!
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
domingo, 25 de agosto de 2013
Manaus, amor e memória CXXII
sábado, 24 de agosto de 2013
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Sob a concha da panacarica – estudo 2/8
Zemaria Pinto
O delito da bondade – Como de rotina, Zeca
senta-se sob a velha mangueira e recorda os tempos em que era moço, quando
tinha seu pai, Santos, por perto. As
recordações do velho servem para contar a sua história. Os filhos mudam-se para
a cidade, a mulher morre. Zeca
encontra-se solitário na fazenda, e os filhos resolvem fazer a partilha dos
bens, colocando o patriarca em um abrigo de idosos. Zeca foge do asilo e volta
para sua antiga fazenda, pede abrigo com o atual proprietário e, contando com a
solidariedade deste, volta a morar em sua antiga propriedade, numa casinha
humilde. Os filhos não tomam conhecimento do ocorrido. Retorno ao presente,
para presenciarmos a morte de Zeca, entre passarinhos:
E, de repente, o velho Zeca
se sentiu entre eles. E voou, como seu pai, o velho Santos o fizera, anos
antes, para os confins da eternidade.
Se levarmos em consideração que o conto
social tem como característica a denúncia
das falhas e problemas da sociedade,
podemos enquadrar O delito da
bondade como tal, uma vez que aponta para o abandono do idoso e para o fato
de que, em nossa sociedade, o homem só tem valor enquanto é produtivo.
Ingenuidade – Corina olha o infinito,
tentando visualizar alguém. As recordações servem como resumo dos fatos que
decidiram sua atual sorte: o feliz casamento com Bruno; seu convencimento pelas
amigas adúlteras em trair o marido; a traição e a descoberta do ato; a consequente
decisão do marido traído em abandoná-la.
O olhar o infinito constitui-se, sabe-se então, na vida presente de
Corina: o eterno esperar, consumida pela certeza de ter sido a única
responsável por seu sofrimento.
E
desde então, todos os dias, quando a manhã chegava, ela ia estender o seu olhar
de culpa e de arrependimento pela extensão indiferente da estrada, à procura de
um vulto que o tempo escondera no livro do nunca mais.
O boto – Através das recordações
de Manduca, tomamos conhecimento de que sua mulher, Chica, casara grávida,
vítima da sedução do boto. Sabemos também que o velhaco continua a persegui-la,
e que Manduca quase consegue matá-lo, alvejando-o. No retorno ao presente,
vemos Manduca descobrindo a verdade: sempre fora traído pela mulher com o amigo
Adriano, que é o pai de sua filha Martinha. Resolve abandonar o lar, levando
consigo, como vingança, a “desgraça” de Adriano, que, alvejado no órgão sexual, de nada mais serve
para a fogosa Chica.
E é assim, com humor, que aparece a crendice do homem interiorano na
figura do boto, sedutor de mocinhas, e pai de todas as crianças sem paternidade
reconhecida. Podemos classificá-lo como conto
regionalista.
No igarapé – Judite retorna a sua
terra, após longo exílio, e caminha à beira de um igarapé poluído. Em
lembranças, resume os fatos que direcionaram o seu melancólico presente: em um
tempo distante, às margens do mesmo igarapé, fora estuprada por Vítor. Assim como ela, também o algoz fez seu
exílio, tornou-se um solitário, expiando a culpa por ter maculado seu amor.
Retornando ao presente, testemunhamos o reencontro entre os dois:
Por algum tempo deixou-se ficar, fingindo que dormia.
Depois sobreveio-lhe um choro convulsivo. E confirmou o perdão que já concedera
ao moço.
O sonho – Sandra está deitada na
rede, na sala da fazenda. Relembra uma cena que presenciara outrora: o amor
entre Roseno e Marta, esta traindo o marido – um ato animalesco. Embriagada
pelas recordações, no presente, tem uma espécie de sonho, sentindo-se Marta,
seduzida pelo peão. Descobrimos que e o amante é o próprio marido, havendo,
assim, um final feliz.
O “voyeur” – Ricardo, o marido de
Magda, é um “voyeur”, isto é, uma pessoa que se excita sexualmente olhando, sem
participar diretamente das ações. O termo é francês, mas vulgarmente pode ser
substituído por “brechar”. O casamento acalma os instintos de Ricardo, todavia,
a gravidez da mulher acorda seus sentimentos. Há um retorno ao passado, para
mostrar-nos como começou a hábito do indivíduo. No retorno ao presente,
Ricardo, aproveitando que a mulher e a criança não estavam em casa, observa o quintal vizinho, onde um sujeito
excêntrico e viril é visitado por uma mulher mascarada, para o ato sexual.
Quando sua esposa chega em casa, exausta, repudia o marido que, por acaso,
descobre entre as coisas da mulher a máscara e as roupas usadas pela visitante
do vizinho.
Nas asas do folclore – Marcolino é o velho pai
de Pedro Mateus, que está fazendo uma grande festa para o padroeiro, São Pedro.
Marcolino deixa-se ficar distante da festança, apenas observando os
brincantes. Relembra o porquê de preferir não participar das coisas, de não dar
palpites: vira Edson, um sujeito truculento, mantendo relações sexuais com
Julinha, mulher casada. Fora ameaçado pelo sedutor e resolvera nada falar.
Julinha procurou-o e pagou, com seu corpo, o silêncio do velho.
De seu posto de observação, Marcolino vê duas jovens fazendo adivinhações
juninas: Florinha vê a letra “E” representando o nome do futuro marido. Em
seguida, vê Edson fazendo também uma adivinhação sobre a terra molhada pela
urina de Florinha. Diverte-se em saber que o truculento também crê em
adivinhações. Vê, também, Betinho, comprometido com Tonha, ser seduzido por
Florinha.
Nas outras noites, acompanhou, sem ser visto, os encontros entre ambos,
bem como ficou sabendo que a jovem estava grávida e a solução encontrada para o
problema pelos amantes: Florinha cederia aos caprichos de Edson, que desejava
casar-se com ela.
No final, com sabor de vingança, Marcolino é o único, além do casal de
amantes, a saber que o filho de Edson era, na verdade, de Betinho. Além disso,
Edson deixa de perseguir o velho, pois estava empolgado com a esposa e o
filho.
O folclore, aqui, representado pelos folguedos juninos, aparece em tom de
humor, mostrando as crendices do povo.
Medicina nas primeiras cidades
João
Bosco Botelho
Com
a consolidação do sedentarismo, no Neolítico, entre 10.000 e 5.000 anos a.C.,
importantes modificações foram se processando nos grupos sociais que habitavam
a Mesopotâmia e o Egito. Essas sociedades iriam absorver parte da experiência
acumulada em 500.000 anos de História, desde o aparecimento do Homo Sapiens.
Nessa
fase, teve início a modificação da economia produtiva em nível de subsistência
coletiva para uma concreta divisão de trabalho, como aparecimento de excedente
de produção e das trocas comerciais.
As
sociedades mostravam-se francamente hierarquizadas. Apareceu a propriedade privada,
possibilitando o processo de assentamento duradouro, que evoluiu para a organização
das primeiras aldeias. Este aldeamento estratificado é encontrado em torno de
5.000 anos a.C.
As
cidades formaram-se como produto da transformação e fortalecimento dos grupos humanos,
ao mesmo tempo que as sociedades arcaicas se estruturavam social e
politicamente, processando-se assim as modificações que dariam início ao
aparecimento das civilizações regionais.
Entre
elas, destacaram-se pela ocupação territorial e poder de guerra: a suméria,
egípcia, cretense, fenícia , arcádica, babilônica e assíria, que iriam decididamente
influenciar, direta e indiretamente, o pensamento ocidental.
Estas
civilizações regionais formaram e assimilaram ao longo das suas consolidações,
diferentes formas de governos, predominando o teocrático e mercantil-escravista,
que teriam, de diferentes formas, moldado a ação médica às conveniências do
poder.
As
guerras foram frequentes e contínuas, oferecendo como produto final dos saques
novos escravos e territórios, fortalecendo a propriedade privada e a escravidão.
Certamente, durante os conflitos, houve participação ativa dos médicos e
progressos na Medicina, principalmente no manuseio das grandes feridas traumáticas
e amputações cirúrgicas dos membros dilacerados.
Os
metais fundidos, o cobre, a mecanização da agricultura, o barco a vela e o uso
comum do ferro são fatos que contribuíram para aumentar as trocas do excedente
da produção, fortalecendo a maior especialização da sociedade.
O
corpo humano começa a ser manuseado nos rituais de sacrifício religioso e na
conservação do corpo após a morte. É neste contexto que já existe a distinção
entre médico e cirurgião.
A
atividade médica deveria ser intensa e diferenciada nos vários extratos sociais
para dar origem a querelas e atritos frequentes. Sabe-se que o Rei Hammurabi
(1728-1688 a.C.), da Babilônia, dedicou vários parágrafos do seu famoso código
para disciplinar o exercício da Medicina, onde se lê:
. 218
– Se um médico fez em um awilum
(homem livre em posse de todos os direitos de cidadão) uma incisão difícil com
uma faca de bronze e causou a morte do awilum
ou abriu o nakkaptum (arco acima da
sobrancelha) de um awilum com uma
faca de bronze e destruiu o olho do awilum:
eles cortarão a sua mão;
. 219
– Se um médico fez uma incisão difícil com uma faca de bronze no escravo de muskenum (intermediário entre o awilum e o escravo) e causou a sua
morte: ele deverá restituir um escravo como o escravo morto.
. 220
– Se ele abriu a nakkaptum de um
escravo com uma faca de bronze e destruiu o seu olho: ele pagará a metade do
seu preço.
Com
isto, o Código de Hammurabi formou jurisprudência com dois pontos cruciais da ordem
médica: as sanções que devem receber os médicos pela imprudência, imperícia e
negligência e os honorários médicos diferenciados pelo atendimento de diversos
grupos sociais.
Entre
as substâncias utilizadas pelos médicos assírios-babilônicos estão relacionadas:
a beladona, o óleo de rícino, o gengibre, a hortelã, a romã e a papoula. Muitas
delas continuam sendo utilizadas até hoje.
Nesta
fase do desenvolvimento das cidades-reinos, foram introduzidas importantes medidas
sanitárias nas cidades, como a construção das redes de esgotos e abastecimento
de água potável, de fazer inveja às periferias urbanas do nosso Brasil.
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
domingo, 18 de agosto de 2013
sábado, 17 de agosto de 2013
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Sob a concha da panacarica – estudo 1/8
Zemaria Pinto*
Informação biográfica
Almir Diniz de Carvalho nasceu no Cambixe, município do Careiro,
Amazonas, a 06 de novembro de 1929. É bacharel em Direito e jornalista, tendo
iniciado carreira na imprensa em
1947.
Entre outros prêmios como jornalista, venceu, em 1956, o Prêmio Esso de
Reportagem Norte-Nordeste, com a matéria “Borracha: dinheiro, sangue e miséria”.
Exerceu diversos cargos públicos, dentre eles o de Prefeito do Careiro.
Dedicado aos afazeres cotidianos, especialmente do jornalismo, somente
aos 67 anos Almir Diniz resolveu abrir sua gaveta de guardados.
Obras publicadas
. Encontros com a natureza (poesia -
1996)
.
Caminhos da alma (poesia - 1996)
.
Corpo de mulher (poesia - 1996)
.
Andanças poéticas (poesia - 1997)
.
O pitoresco e o hilariante na imprensa (crônica - 1997)
.
Os deuses (poesia - 1998)
.
Sob a concha da panacarica (contos - 1999)
Análise da
Obra
Considerações iniciais
Sob a concha da panacarica é um livro de contos, de
histórias curtas que, obedecendo à estrutura do gênero, têm como objetivo a
solução de um só conflito, que é a sua célula dramática.
Assim, lembremos as características essenciais do conto:
. uma única ação principal;
. número mínimo de personagens;
. unidade de tempo;
. unidade de espaço;
. foco narrativo em 1ª ou 3ª pessoa, sobressaindo-se o diálogo.
Além disso, podemos classificá-lo, de acordo com a ação desenvolvida ou o
espaço onde transcorre, em urbano,
regionalista, psicológico, social, dentre outros.
Estrutura narrativa - Resumos
Sob a concha da panacarica é um livro constituído por
dezenove contos, diversos entre si, havendo algumas poucas semelhanças, mas que
nos permitem separá-los em blocos. Assim, de acordo com a estrutura narrativa
que apresentam, os contos foram divididos em quatro blocos: ao primeiro bloco
foram agrupadas as narrativas que possuem um tom rememorativo; ao segundo, as
histórias cujas cenas apresentam-se numa sequência simples, linear, em frente
ao leitor; ao terceiro, os contos que possuem uma declaração inicial, uma
explicação; e ao quarto, um conjunto unitário, uma narrativa cujo foco
apresenta-se em 1ª pessoa.
1 – Contos em tom
rememorativo
Os nove contos relacionados neste primeiro bloco, apresentam alguns
pontos em comum: um resumo de acontecimentos anteriores à ação principal;
diálogos, por vezes, em forma de monólogo interior; foco narrativo em 3ª
pessoa.
Sob a concha da panacarica -
Rosinha é a
jovem esposa do endinheirado Maurício. Entediada, em uma viagem no reboque da
lancha Ituí, lembra um sedutor que conhecera há dois anos, Roberto. A lembrança
apresenta-se como uma preparação para o presente: Roberto aparece novamente,
consuma-se a traição “sob a concha da
panacarica”; Maurício, que preparara a cilada, mata o sedutor; Rosinha sente-se
liberta, pela consumação do ato sexual, do desejo que a sufocara por dois anos,
e, sem saber que o marido é o responsável pelo desaparecimento do
atravessador, terá um casamento feliz,
pois:
De repente sentiu que se livrara da obsessão que se
intercalava entre eles. E descobriu que amava seu dedicado companheiro.
O ambiente, ilustrado pelo meio de transporte fluvial, deixa margem para
classificarmos o conto como regionalista,
uma vez que aborda aspectos típicos, ou seja, usos e costumes de uma região.
A última pesca – Armando sua pescaria,
Eugênio, em plena crise conjugal,
relembra o início do amor pela mulher, Regina. Revigorado pelas
lembranças, que servem como introdução para a ação principal do conto, deixa a
pescaria e volta correndo para casa, na esperança de poder ainda salvar seu
casamento. Perde a razão ao encontrar a mulher com outro, na cama. A morte dos
amantes é anunciada apenas pela referência à faca de cozinha. De resto é
omisso, apenas com uma sutil referência:
Decidiu sair pela porta da frente. Ao passar pelo quarto percebeu que a porta
estava entreaberta. Olhou com indiferença. Viu um monte de lençóis brancos.
Engraçado, não se lembrava de possuir lençóis brancos com aqueles florões
vermelhos, grandes como manchas...
Em seguida, lembra-se da pescaria armada, volta ao local e,
ensandecido, atira-se no rio, encantado por uma mãe-d’água com o rosto da
esposa morta.
O conto pode ser classificado como regionalista,
pois a descrição da pesca, os peixes citados e a moradia caracterizam costumes
do interior amazônico.
(*) Publicado no livro Análise Literária das Obras do Vestibular 2001 (Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 2000, p. 1-20)
Medicina na mitologia grega
João
Bosco Botelho
As
relações da Medicina com a compreensão
mítica da realidade se perderam no tempo . É impossível
separar as ideias míticas do entendimento
do homem sobre
a saúde e a doença .
Esse fato se deve ao apoio oferecido
pelo mito como forma de conhecimento nas
sociedades que ainda
não conseguem explicar
as contradições da saúde e da doença de outra forma. Contudo, a mitologia nasce da relação
com o mundo
da natureza empírica ,
mas acima
do meramente empírico .
Das
primitivas relações do homem com o animal, posteriormente substituídas pelas
relações com a terra, surgiu empiricamente o uso das plantas na busca da saúde.
A utilização do vegetal, indispensável para a sobrevivência do homem, se
processou em complexa compreensão mítica, que foi marcada pelas explicações que
se sucederam nos milênios sobre a origem primeira e o destino final do ser
humano. Elas evoluíram da Epopeia de Gilgamesh, dos babilônios, à Teoria do Big
Bang, dos modernos astrofísicos, passando pela gênese judaico-cristã e pela
Yebá beló da lenda desana da criação do Sol.
Apesar
da melhor compreensão que temos hoje da transformação do pensamento mítico, a
dificuldade da interpretação aumenta na proporção que recuamos no tempo.
Entretanto, parece ser a partir do século VI a.C. e da Grécia que chegou a nós
material historiográfico suficiente para traçar, com alguma segurança, um
perfil da Medicina na mitologia.
Os
registros históricos que se ocupam da Medicina na mitologia grega são,
provavelmente, o produto das complexas relações do homem que antecedeu a
formação do pensamento grego. É possível estabelecer certo paralelismo entre
muitos aspectos das relações médico-míticas das civilizações babilônica,
egípcia e indiana com as da Grécia antiga.
De
acordo com a mitologia grega, a Medicina começou com Apolo, filho da união de
Zeus com Leto. Inicialmente, Apolo era considerado como o deus protetor dos
guerreiros. Posteriormente, foi identificado como Aplous, aquele que fala a verdade.
Ele agia purificando a alma através das lavagens e aspersões e do corpo com
remédios curativos. Era considerado o deus que lavava e libertava do mal.
Um
dos seus filhos, Asclépio, recebeu educação do centauro Quíron para ser médico.
A escolha do centauro foi feita porque ele dominava o completo conhecimento da
música, magia, adivinhações, astronomia e da Medicina. Além dessas habilidades,
Quíron possuía incomparável destreza. Manejava com a mesma habilidade o bisturi
e a lira.
Para
os gregos daquela época, Asclépio divinizou a Medicina na mitologia. Ele era
celebrado em grandes festas públicas no dia 18 de outubro, data em que até hoje
se comemora o dia do médico no Ocidente. Asclépio conquistou uma fama
inimaginável, tinha a delicadeza do tocador de harpa e a habilidade agressiva
do cirurgião. Todos os doentes que não obtinham cura em outros lugares, procuravam
as curas milagrosas desse deus taumaturgo. Mais cirurgião do que médico, ele
criou as tiras, as ligaduras e as tentas para drenar as feridas. Chegou a ressuscitar
os mortos e por ordem de Zeus, temendo que a ordem do mundo fosse transtornada,
foi morto com os raios das Ciclopes.
Asclépio
deixou duas filhas, Hígia e Panaceia, a primeira foi celebrada como a deusa da Medicina
e a segunda curava todos os doentes com os segredos das plantas medicinais.
Além delas, teve dois filhos, Machaon e Podalírio, médicos guerreiros que se
destacaram na guerra de Tróia. Panaceia continuou a linhagem de médicos que
começou com Apolo, fazendo do seu filho Hipocoonte um médico famoso e ancestral
de Hipócrates.
Existem
muitas comprovações arqueológicas das dádivas de agradecimentos dos doentes
para Asclépio. No hospital de Epidauro, na Grécia, foram encontradas várias
esculturas com o nome do doente a descrição da doença e da cura obtida. Quase
todas as representações simbólicas de Asclépio, produzidas, entre os séculos VI
e VII a.C., contêm uma serpente enrolada num bastão.
O
simbolismo da serpente com a Medicina já estava presente na civilização babilônica,
dez séculos antes da formação da polis grega. Existe no Museu do Louvre, em
Paris, um vaso de cerâmica encontrado na região de Lagash, representando o deus
da cura babilônico – Ningishida –, duas serpentes entrelaçadas.
O
simbolismo da serpente é frequentemente ligado à transcendência da morte. Existem
várias explicações para a relação da Medicina com a serpente. As mais
conhecidas são: a serpente pode viver em cima e embaixo da terra, atuando como
mediador entre os dois mundos e a capacidade da serpente de mudar a sua pele de
tempos em tempos, encenando o renascimento. Esta última interpretação está
relatada no Rig Veda (1.79,1), no qual os Adityas são descritos como os descendentes
das serpentes e ao perderem a pele velha, eles venceram a morte e adquiriram a
imortalidade.
Seja
qual tenha sido a razão que levou o homem, no passado, a estabelecer um elo da
serpente com a Medicina, provavelmente estava relacionada com a luta pela
sobrevivência.
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
terça-feira, 13 de agosto de 2013
As acontecências da malfadada Ponta Negra
David Almeida
“Em rio que tem piranha
jacaré nada de costas”. “Em praia que tem jacaré, ninguém mergulha ou frequenta”.
Não rimou, mas essa é a realidade vivenciada pela nossa mais famosa área de
lazer: a malfadada praia da Ponta Negra.
Cartão postal da
Cidade, ultimamente, a Ponta ficou mais Negra ainda, depois das tragédias de
que foi palco, muitos personagens terminaram por ali. A praia continua vazia e
vai continuar por muito tempo, enquanto os jacarés povoarem as águas do rio
Negro e as cabeças dos banhistas. Os donos das barracas estão insatisfeitos,
suas vendas caíram quase 100% por causa da estória dos jacarés, eles chegam ao
ponto de dizer que alguém inventou tudo isso pra preservar a Praia, porque
nunca viram nada.
Ninguém se arrisca em
dar um mergulho e boiar de cara com um jacaré açu. Essa espécie de anfíbio pode
chegar até a cinco metros de tamanho, e, como um liquidificador pré-histórico,
tem um giro mortal rasgando, estraçalhando a sua presa. Ele não mastiga, mas
morde, gira e engole. Alguém se habilita em dar um mergulhozinho nessa praia?
Tanto dinheiro público
gasto em sua reforma, a ver navios, digo: a ver jacarés famintos, moribundos e
solitários, querendo se aquecer na areia, ao sol da sua solidão. Mas, me
pergunta o jornalista Mário Dantas: – a solidão não é fria? Eu respondo: –
depende em qual estação ela aparece, como praia está ligada a sol, a gente
pensa logo no verão, e os jacarés, “tadinhos dos bichinhos”, têm sangue frio,
só aparecem para aquecerem-se ao sol, sem intenção nenhuma, então, nesse caso,
a solidão da malfadada Ponta Negra é quente. Como quentes são as noticias sobre
ela.
“Ponta Negra cinza
quase azul”, diz a letra da musica do meu amigo compositor, poeta e artista plástico
Arnaldo Garcez. Ah, meu amigo Arnaldo, na atual conjuntura em que esse espaço
se encontra, entre buracos dissimulados, jacarés, e, ao preço de um real para
as necessidades fisiológicas de seus frequentadores em seu banheiro, a sua
Ponta Negra cinza quase azul, está mais cinza do que nunca.
O que eu não entendo é como
um espaço feito com dinheiro público, para o público, pode cobrar para ir ao
banheiro? Está escrito na porta do banheiro da malfadada Ponta Negra com
catraca, borboleta e tudo, a seguinte frase: “banheiro terceirizado, um real”. Aí,
o sujeito, que precisa ir ao lugar várias vezes, por estar com problemas
intestinais, vai ter que levar no bolso muita grana, ou então vai fazer suas
necessidades nas águas do Rio Negro, o que é pior. E se a onda pega? Já pensou
se começarem a terceirizar os banheiros das instituições públicas? Com certeza,
as ruas, os postes, as esquinas, qualquer espaço que servir para tirar a água
do joelho vai pagar o pato, e a nossa querida Manaus vai ter seu cheiro
característico. Ó, eu acho que o povo já paga muita coisa, ganhando pouca
coisa.
E, ainda mais agora,
com esses jacarés azarando a vida dos que buscam a tranquilidade, lazer, a
renovação das energias, naquela praia, para começar a semana com todo o gás.
O que diria, se
estivesse vivo, o Professor Gilberto Mestrinho, sobre esses jacarés?
Gente, precisamos de um
super-herói, para “desterceirizar” todos os banheiros públicos, tirar os
jacarés das praias, acabar com a malfadada Ponta Negra, e trazer de volta a
Ponta Negra cinza quase azul. Talvez, quem sabe... nas próximas eleições surja
esse super-herói, advindo de um desses programas de televisão, que ajudam pobre
a ficar mais pobre ainda, “né”?
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
domingo, 11 de agosto de 2013
sábado, 10 de agosto de 2013
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
Platônica XI
Jane Cony
Por volta de dez horas chegava nosso companheiro de chá, e mesmo estando ocupados
com as lidas de montar uma exposição, parávamos para conversar e aprender com
Luiz Bacellar. Escolhíamos o tipo de chá, às vezes pela sua exoticidade e daí
fluía uma conversa sobre fitoterápicos, ou sobre uma matéria de alguma revista
ou livro que estava lendo. Às vezes
discutíamos alguns clássicos da literatura que hoje poucos leem e que muitos
perdem. Com Luiz, voltei a falar e reler meus amados russos.
Há onze meses, o Velho Poeta não nos
fala das peculiaridades de ervas e chás, das histórias da aristocracia
vitoriana ou das mudanças em algum dos quartéis de armas no escudo de sua
família. Mas em mim ainda está muito presente nosso último encontro na Fundação.
Cheguei como sempre por volta de nove horas com as revistas e guloseimas. Respirando fundo antes de entrar para que
meus olhos, como sempre, não mostrassem nada além de amor, respeito e otimismo.
Ele estava dormindo quase em posição
fetal, com o telefone no ouvido. O arrumei no travesseiro, coloquei o telefone
ao seu lado e fiquei sentada rezando ao Deus que conheço que não queria ver o
Luiz altivo e orgulhoso, como alguns dos velhinhos ao nosso redor. Implorei a
Deus que o levasse antes que ele perdesse o que mais prezava: sua sanidade, o
pensamento ágil. Ele acordou, falamos um pouco e voltou a dormir. Fiquei mais um
pouco. Foi à única vez que chorei por Luiz Bacellar.
Ele partiu, mas está sempre presente quando alguém fala no meio da
manhã: Vamos tomar um chá? E a cadeira
onde ele costumava sentar geralmente fica vazia nesses momentos. E entre um
assunto e outro sobre a cidade, sempre se ouve: O que Bacellar diria? Cá entre meus botões, penso: responderia com
uma ironia mordaz, que poucos entenderiam.
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