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domingo, 30 de setembro de 2018
sábado, 29 de setembro de 2018
quinta-feira, 27 de setembro de 2018
Zona de Guerrilha Franca
Zemaria Pinto
177 – Escolha o seu lado.
Civilização ou barbárie?
178 – Civilização é
justiça social, emprego e crescimento econômico; é o controle dos lucros
bancários e a taxação às grandes fortunas; mas é também programas sociais, como
o Bolsa-Família, por exemplo, que promove justiça social, por meio da
distribuição de renda.
179 – Barbárie é esterilizar
a população de baixa renda, “para diminuir o número de pobres”.
180 – Barbárie é condenar
o Bolsa-Família, sob o argumento de que “os miseráveis agora vivem só de renda”,
ignorando as regras rígidas para a concessão do benefício.
181 – Barbárie é cortar
gastos de investimentos públicos, sob a alegação de que “o estado já é grande
demais”.
183 – Barbárie é diminuir
os impostos da classe média, para aumentar dos que ganham menos, pois é isso a “alíquota
única do Imposto de Renda”.
184 – Barbárie é afirmar
que “as grandes fortunas já dão sua parcela de colaboração na economia do país”,
por isso devem ser isentas de mais impostos.
185 – Civilização é a
universalização do sistema educacional – do fundamental à pós-graduação.
186 – Barbárie é a
industrialização e a privatização do sistema educacional.
187 – Civilização é o
sistema de cotas para índios e negros, visando reparar erros históricos.
187 – Barbárie é afirmar
que “os índios são preguiçosos e os negros são malandros”.
188 – Civilização é o
respeito e o estímulo ao papel da mulher independente, como força motriz da
economia e da nação.
189 – Barbárie é afirmar
que “crianças criadas por mães e avós terminam como soldados do narcotráfico”.
190 – Civilização é o respeito à diferença – de sexo, gênero, crença, religião, cor, etnia, raça.
191 – Barbárie é o ódio e a violência contra o diferente – inclusive, dentro da própria casa.
190 – Civilização é o respeito à diferença – de sexo, gênero, crença, religião, cor, etnia, raça.
191 – Barbárie é o ódio e a violência contra o diferente – inclusive, dentro da própria casa.
192 – Civilização é o
respeito à democracia e à justiça, mesmo quando vítimas de injustiça.
193 – Barbárie é
chantagear afirmando, com duas semanas de antecipação, que se não ganharem “é
porque houve fraude”.
194 – Civilização é o
respeito à democracia e o exercício do diálogo com os adversários, visando o
bem do país.
195 – Barbárie é pregar o
“voto de partido”, independente da vontade do parlamentar.
196 – Barbárie é pregar o
autogolpe ou o golpe, que não é apenas retórica, mas uma possibilidade que se
desenha.
197 – Civilização é
pregar a concórdia e a harmonia, mesmo porque ninguém governa sozinho, quando
todos o acusam de extremismo.
198 – Barbárie é o extremismo
que prega a violência, a tortura, o assassinato.
199 – Civilização é
acreditar que o país só mudará com educação, cultura e pleno emprego.
200 – Barbárie é o ódio à
cultura, à educação e aos trabalhadores.
201 – Escolha o seu lado.
Civilização ou barbárie?
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Zona de Guerrilha Franca
Práticas médicas entre os confrontos ideológicos 2/2
João Bosco Botelho
As propostas oitocentistas incentivadas pela fisiologia
experimental de Claude Bernard aprumaram a ciência na tarefa de explicar como
funcionava o corpo, quase sempre o associando aos avanços da técnica. O pleno
exagero do mecanismo coube às palavras do pensador La Mettrie, em 1748, que
conduziu a mecanização dos corpos ao limite máximo: “Em todo o universo não há
senão uma única substância diversamente modificada, portanto o homem é uma
máquina”.
As sementes dessa estranha concepção linear da dor e do
prazer, se reconstruíram no século 20, trazendo a máquina como o modelo ideal
para ser comparado ao corpo humano. Nesse caso, os corpos, como num passe de
mágica, passaram a ser comparados às máquinas, e as doenças, aos desajustes na
engrenagem.
A industrialização impondo as linhas de montagem e a
necessidade rápida de mão de obra, os corpos tornaram-se complementos das
máquinas. O mecanicismo trouxe um impressionante conjunto metafórico às
linguagens-culturas: o coração passou a ser a bomba; o pulmão, o fole; o rim, o
filtro; e, finalmente, o cérebro, o computador.
Os reflexos dessas
mudanças na formação do médico não tardariam. Em 1910, o relatório Flexner, que
analisou a competência de 150 faculdades de medicina existentes naquela época,
nos Estados Unidos, seguido, dois anos depois, do segundo relatório,
descrevendo os cursos médicos da França, Inglaterra, Alemanha e Áustria,
selaram o destino da nova metodologia do ensino da Medicina: o maior produtor de saúde estava fincado nas
relações científicas vindas dos laboratórios de pesquisa.
Como consequência, o conjunto formador competente do médico
só poderia existir na certeza o uso de aparelhos, para intermediar as práticas
médicas responsáveis pela melhoria das condições de saúde das populações.
A estrutura teórica que ajuizou a indissociável ligação da
medicina à tecnologia também se apoiou em Talcott Parsons, em 1951, ao entender
que a saúde só poderia ser alcançada sob a estreita supervisão do médico. Essa
abordagem, marcada pelo etnocentrismo americano, da década de cinquenta,
legitimou os relatórios Flexner: “O paciente tem a obrigação de buscar ajuda
técnica competente (fundamentalmente um médico) e cooperar no processo de
recuperação”.
É evidente que o estudo de Parsons só poderia ser aplicado
nos poucos segmentos sociais, nos países industrializados, com grandes recursos
disponíveis para pagar os serviços de saúde. A imensa maioria das pessoas, nos
quatro cantos do mundo, continua sendo tratada pelos curadores populares de
todos os matizes.
quarta-feira, 26 de setembro de 2018
terça-feira, 25 de setembro de 2018
Amazonas, o que é?
Pedro Lucas Lindoso
Era domingo. Fico triste em ler nos jornais mais um ataque ao
Amazonas, seu povo e a Zona Franca de Manaus. Nosso parque industrial é chamado
de obsoleto por um jornal de São Paulo.
Vou à Academia Amazonense de Letras, presidida pelo dinâmico
mecenas Robério Braga. Naquele domingo o sodalício estava de portas abertas. O
projeto Academia de Portas Abertas é simpático e eficaz. Como tudo tocado pelo
Robério. A plateia no salão Álvaro Maia encontrava-se cheia de manauaras,
ávidos por literatura e boa música.
Por que o sudeste nos trata com desinformação e zombaria?
Aqui produzimos de celular a lâmina de barbear. E vários outros produtos,
inclusive os refrigerantes que matam a sede venenosa daqueles que atacam um
projeto que promove o desenvolvimento da Amazônia e preserva a nossa floresta.
Zezinho Corrêa, o artista que levou a música amazonense para
o Brasil e o mundo, entra no salão. Seu repertório que iniciou com o sucesso do
“Tic tic tac’, hoje é bem eclético. E canta Caetano Veloso: ”Isso aqui, ô, ô, é
um pouquinho de Brasil iaiá. Desse Brasil que canta e é feliz, feliz, feliz”.
O Amazonas não é só um “pouquinho” de Brasil. Temos a maior
floresta tropical do mundo. Sim. Cantamos e somos felizes. Temos dança que o
boi balança e o povo de fora vêm para brincar, como também canta o Zezinho
Corrêa no “Tic tic tac”.
O que o jornal paulista não explica é que os incentivos
concedidos Às empesas do PIM – Polo Industrial de Manaus, não são
financiamentos públicos. São benefícios fiscais vinculados à produção. Só
usufruído quando ela é comercializada.
E Zezinho continua cantando a música do Caetano, que, na
verdade, é do grande Ary Barroso: “É também um pouco de uma raça. Que não tem
medo de fumaça ai, ai. E não se entrega não”.
Não nos entregamos. Nosso Hino do Amazonas sempre nos lembra:
somos bravos. Bravos que sonham seu canto de lenda. Aos que lutam, mais vida e
riqueza.
O projeto
“Academia de Portas Abertas” da Academia Amazonense de letras seguirá até 21 de
outubro com música, exposições, palestras e encontros com imortais e
intelectuais manauaras.
domingo, 23 de setembro de 2018
sábado, 22 de setembro de 2018
sexta-feira, 21 de setembro de 2018
quinta-feira, 20 de setembro de 2018
Zona de Guerrilha Franca
Zemaria Pinto
164 – Crescer, oscilar,
derreter. Entenda o que significa cada um destes verbos, na patética linguagem
da mídia canalha.
165 – O ato falho “Haddad
oscilou 11 pontos”, vem sempre acompanhado de um sorriso amarelo: “oscilou,
não: cresceu”.
166 – Quem oscila é o
CapCu, que só cresce dentro da margem de erro: soluços.
167 – Mas o barato mesmo
é Marina: ela derrete. Marina é apenas o que é: uma carola individualista, com
um discurso oscilando (opa) entre o falsamente progressista e a mocinha pobre
que venceu na vida.
168 – Vence na vida quem
diz sim, tia, como diz a profecia.
169 – Seus votos migram (ou
se tornam sólidos?) para o CapCu, pelo ódio que ela devota ao PT, e para o
Haddad – dos que declaravam apoio a ela, iludidos pelo seu discurso falso, e só
agora, com o ódio escancarado, se dão conta de quem é ela, realmente.
170 – Candidata de si
mesma, Marina deve contentar-se, a partir de 2022, a compor a bancada
evangélica. Isto se os evangélicos do Acre a aceitarem.
171 – E a vaca fardada,
também conhecido como jumento de carga?
172 – Constituição sem
Constituinte? Caralho. Sem comentários. Imbecil.
173 – E o CapCu quer a
volta da cédula de papel, porque na urna eletrônica ele será fraudado. Ora, em
20 anos, ele nunca foi vítima de fraude. Cuspindo no prato que lambeu. Babaca.
174 – O que está em jogo,
afinal, não é um embate estéril e extemporâneo entre esquerda e direita, que é
sempre resolvido com a entrada em cena da canalha do Centrão.
175 – O embate é mais
embaixo. Entre civilização e barbárie.
176 – Escolha o seu lado.
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Zona de Guerrilha Franca
Práticas médicas entre os confrontos ideológicos 1/2
João Bosco Botelho
Apesar de a medicina oficial, produzida nas universidades,
ter feito progresso no trato da saúde coletiva, retirando-a do espaço fechado
da classificação morfológica, é saudável insistir que prevalecem nas academias
as correntes que colocam a doença como um produto exclusivo da organização
social.
Nesse sentido, a principal proposta teórica, na modernidade,
que associou a doença à desordem social (por corruptela, ao capitalismo) e a
saúde à ordem social (por corruptela, ao socialismo), se fortaleceu a partir
das condições de trabalho e de saúde dos operários ingleses, descritas por
Engels.
É interessante assinalar que a associação entre a doença e a
desorganização das sociedades e o papel político do médico para intervir e
mudar é mais antiga. Na Grécia, nos tempos de Sólon, já estava estabelecida,
expressa no livro de Werner Jaeger Paidéia:
a formação do homem grego: “A função da justiça na sociedade corresponde
para o corpo à da medicina, que Platão ironicamente denomina pedagogia das
doenças. Todavia, o momento da doença é muito tardio como ponto de partida para
uma verdadeira influência educacional. Sendo o médico o conhecedor da doença,
ele pode intervir politicamente para evitá-la”.
Essa leitura mecanicista dos corpos, também anterior aos
confrontos políticos do século passado, serviu para fundamentar uma das mais
conhecidas tentativas para explicar a diferença entre o homem, possuidor de
alma, e os outros animais, feita pelo médico espanhol Gomes Pereira, em 1554,
ao afirmar que os animais são máquinas, incapazes de falar e raciocinar.
O peso decisivo para alavancar essas ideias recebeu forte
impulso no filósofo francês René Descartes (1596-1650), ao robustecer o
pensamento mecanicista, defendendo o corpo como o domínio da física e a alma,
da religião.
quarta-feira, 19 de setembro de 2018
terça-feira, 18 de setembro de 2018
Sobre gratidão e agradecimentos
Pedro Lucas Lindoso
Aprendi que a ingratidão é um dos piores defeitos do ser
humano. Devemos diariamente ser gratos. Em princípio, a Deus, da maneira como o
concebemos. Ou mesmo a uma força procriadora ou quântica. Mas é importante ser
grato. Aos nossos pais, aos nossos
amigos, parentes e colegas. Gratidão sempre.
Os falantes de português dizem obrigado, os homens. E obrigada, as mulheres. Há pessoas que
agradecem errado. O Português é difícil, principalmente para as mulheres. Até a
língua é machista.
Alguns cariocas gostam de dizer agradecido. Ou “gradicido”.
Uns dizem até obrigadão. Ouvi dizer que o arigatô japonês teria derivado de
nosso obrigado. Os portugueses rodaram o mundo. Mas nisso eu tenho dúvidas.
O certo é que um “obrigado” dito rápido e banalmente é
diferente de um “muito obrigado, do fundo do coração”. Levei farinha e pimenta
murupi para um amazonense em Brasília. Ele me agradeceu efusivamente:
– Obrigado, mano velho!
Roberto Fukuda, empresário brasileiro que mora em Atlanta, em
visita ao Brasil, contou-me que recebeu como resposta a um “muito obrigado”, a
expressão “é nóis”. As respostas mais comuns são: “de nada”; “às ordens” ou
mesmo “foi um prazer”. Há quem diga: “pode contar comigo”. Acho que isso deve
ter inspirado o jovem que respondeu “é nóis” ao Roberto.
Os americanos dizem “thanks” todo o tempo. Penso que “thank
you” é mais expressivo e equivale ao nosso “muito obrigado”. A resposta é
“welcome”, que literalmente significa “bem-vindo”. Achamos estranho. Contudo,
ao ensinar português para americanos muitos ficavam espantados em saber que
existia “thanks” para homens, o nosso obrigado, e “thanks” para mulheres,
obrigada! Lembro-me de uma americana ter tido um acesso de riso!
Em espanhol, gracias. Ou muchas gracias. Em Italiano, grazie.
Grazie mila! A resposta é intrigante para brasileiros: prego! É que se usa
“prego” em Italiano não só para responder a “grazie”. Mas é resposta para
“scusa”, que é desculpa-me. Prego também é usado para oferecer algo a alguém. O
garçom no restaurante fala “prego”, quando chega com a comida.
Uma simpática portuguesa me ensinou como se agradecia em sua
terrinha. Ela mora no Porto. E lá se agradece assim: “bem haja”. Bem haja
significa muito obrigado, agradecido. Ou como se diz muito hoje em dia: Valeu!
segunda-feira, 17 de setembro de 2018
domingo, 16 de setembro de 2018
sábado, 15 de setembro de 2018
sexta-feira, 14 de setembro de 2018
quinta-feira, 13 de setembro de 2018
Zona de Guerrilha Franca
Zemaria Pinto
147 – Setembro, o mês da
vaca louca.
148 – Primeiro, uma vaca
fala em autogolpe.
149 – Depois, a outra
vaca proclama um golpe, substituindo o candidato esfaqueado, sem combinar com o
resto da quadrilha.
150 – É a maldição dos
vices golpistas. Ou vice-golpistas.
151 – Agora, é pra valer –
com facada ou sem facada, o CapCu derrapa na subida.
152 – Não vou comentar
pesquisas, porque todo mundo já leu algum pitaco a respeito.
153 – O que não dá pra
esconder, entretanto, é que a Marina despenca na descida e o Picolé de Chuchu
queimou as velas.
154 – Sobram o centrão-Ciro,
a direita-CapCu e a esquerda-Lula.
155 – Mas, atenção: Ciro
não é Lula; Lula não é Ciro.
156 – Ciro é uma cortina
de fumaça para tirar votos da esquerda.
157 – Suas agressões à vaca
fardada vice visam culpar a “esquerda”.
158 – Ciro vive lembrando
que foi ministro de Lula. É verdade, responsável pela transposição do Rio São
Francisco. Em 3 anos, não transpôs uma gota sequer. É incompetente.
159 – Mas Ciro não quer
que lembremos que foi ministro de Itamar, o topetudo, lambendo as solas de FHC,
em 1994, por 4 meses. FHC se livrou dele, assim que assumiu. É incompetente e
lambe-botas.
160 – Ciro está a serviço
da direita, babando de raiva, como sempre.
161 – A esquerda é Haddad
e é Manu. Haddad/Manu são Lula. Lula é Haddad/Manu.
162 – Enquanto isso, o
criminoso incêndio do Museu Nacional caiu no esquecimento.
163 – E a Marielle
continua assassinada.
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Doença além do social
João Bosco Botelho
A teoria dos Quatro Humores, construída no século 4 a.C. por
Políbio, médico da Escola de Cós e genro de Hipócrates, e a proposição de
Galeno, do século 2 d.C., associando o perfil social como fator nato ao aparecimento
das doenças – teoria dos Quatro Temperamentos – se tornaram dogmas nos estudos
das práticas médicas, no medievo europeu, influenciado pelo fato de Galeno ter
se declarado cristão, ampliou a busca dos limites da cura além do social até os
dias atuais.
A inovação de Galeno não modificou a essência da prática
médica da Escola de Cós, liderada por Hipócrates: o exame do doente por meio da
anamnese, descrita em homenagem à deusa grega da recordação, Mnemis. Assim, o
médico próximo do doente o interrogava na busca dos fatores pessoais,
familiares e sociais que poderiam estar relacionados com as doenças.
Com absoluto predomínio das teorias hipocrático-galênicas a
medicina atravessou o medievo europeu. A pouca resistência se adaptou às
intolerâncias e assim chegou às primeiras universidades, sob forte influência
da Igreja.
No período mais tenebroso da Inquisição, entre os séculos 14
e 15, alguns médicos, sob interpretações equivocadas das teorias de Políbio e
Galeno, construíram exames clínicos para identificar as bruxas, em pouco tempo
abandonados no lixo da intolerância.
No século 18, o avanço seguinte com o suporte da micrologia,
genialmente descrita no século anterior por Marcelo Malpighi, na medida no
aperfeiçoamento do pensamento micrológico celular, obrigou a revisão da ordem
greco-romana de Políbio e Galeno.
A medicina oficial, a produzida nas universidades, continuou
transmitindo, como verdade final, a morfologia das doenças, sob as lentes dos
microscópios, desprezando como e por que as pessoas se relacionam com as dores
e os prazeres.
Apesar da associação saúde-sociedade não ser recente na
história da medicina, nunca se tornou tão obrigatória nos trabalhos acadêmicos,
quanto nos últimos cinquenta anos. Notadamente nos países do Terceiro Mundo,
onde a exclusão social é mais gritante, escrever ou orientar teses médicas
desprovida do suporte metodológico em torno da doença como fruto do social
acabou sendo proibido.
É nessa perspectiva que ocorreram novas intolerâncias:
admitir como pressuposto indissociável que a doença só depende da ordem social,
remete o raciocínio, de maneira obrigatória, à falsa premissa da ausência de
vetores pessoais que interferem com a etiologia das doenças. A herança genética
que molda os corpos dos animais multicelulares foi estruturada, em milhões de
anos, para fugir das dores de todos os tipos, física e mental, e buscar o
prazer como resposta inata contra o sofrimento. As vidas são impossíveis sem a
distensão entre a dor e o prazer, amalgamando o pessoal ao social e vice-versa.
quarta-feira, 12 de setembro de 2018
terça-feira, 11 de setembro de 2018
Arrolar testemunhas
Pedro Lucas Lindoso
Dentre as funções do advogado militante tem-se a de arrolar
testemunhas para um processo. Nem sempre a empreitada é bem-sucedida. Muitas
vezes a testemunha mais atrapalha do que ajuda no deslinde da demanda. Arrolar
significa relacionar as testemunhas e requerer a oitiva no processo. Ora, antes disso é preciso conversar com o
cliente para saber se há alguém confiável, que possa testemunhar com eficácia
os fatos e provas.
Ouvi de um antigo advogado criminalista em Brasília que um
colega seu (talvez fosse ele mesmo) costuma arrolar testemunhas consultando o
obituário do jornal. O intuito (aliás, uma verdadeira chicana) era atrasar o
curso do processo e mais na frente absolver o cliente pela prescrição.
Disse-me outro colega de São Paulo que havia um estelionatário
que se passava por testemunha de “viveiro” para advogados que atuavam no Fórum
João Mendes. Com 24 andares, o prédio abriga 62 varas de Justiça. O volume de
processos em andamento, acumulados nas prateleiras, cerca de 400.000, deve
aumentar ainda mais.
Testemunha de “viveiro” é aquela fabricada, instruída pelo
advogado e partes para relatar algo que não viu e nem tinha conhecimento. É
outro tipo de chicana, de desonestidade de alguns advogados sem ética. E crime,
obviamente.
Como há muitas varas e diversos juízes, o “testemunha de
viveiro paulista” custou a ser descoberto. Mas um dia, um juiz com boa
facilidade em gravar e reconhecer fisionomias desconfiou daquele senhor bem-falante,
didático e preciso, como são todos os estelionatários. Suspendeu a audiência e
convocou auxiliares para pesquisar em quantos processos aquela tão eloquente
testemunha havia dado os seus precisos e eficazes depoimentos. Descobriu-se só
últimos seis meses, 16 processos. Mandou prendê-lo na hora.
No Fórum Trabalhista aqui em Manaus, determinado reclamante
levou o único colega de trabalho que se dispôs a testemunhar suas horas extras
não pagas. Advertido do crime do perjúrio, a testemunha relata que além de ser
amigo íntimo e ter interesse na causa é “namorado” do reclamante. O juiz,
conservador e homofóbico, julgou totalmente improcedente a reclamação.
O criminalista de Brasília contou-me ainda que atuou em caso
de suposta sedução. A vítima e a testemunha estavam sentadas esperando, quando
o escrivão perguntou da testemunha: “Você é a testemunha arrolada?” No que a
moça respondeu: “Eu não. A “rolada” foi nela aí.”.
Não à toa a testemunha
é chamada de “meretriz das provas”. Nem sempre é fácil ter um bom testemunho em
juízo.
domingo, 9 de setembro de 2018
sábado, 8 de setembro de 2018
sexta-feira, 7 de setembro de 2018
Zona de Guerrilha Franca
Zemaria Pinto
133 –
Inacreditável, o ataque ao Capitão Cueca. Daqueles acontecimentos que vão parar
na lata de lixo da história, mas como aconteceu ontem, temos que perder nosso
tempo com ele.
134 –
Pelo que a lobobobo mostrou, a estocada, em linha reta, atingiu uma área –
entre intestino grosso, delgado e uma artéria à altura do umbigo – de 20 cm2.
Uma façanha. Eu diria que um milagre, tantas as forças místicas envolvidas. Mas,
segundo o boner, foi merda pra todo lado.
135 –
Curioso é que na democracia de fantasia em que vive o Capitão Cueca, ele está
sempre de colete à prova de bala – afinal, os petralhas acreanos podem reagir
às suas ameaças de fuzilá-los.
136 –
Ontem, na pacífica Juiz de Fora – de onde uma Vaca Fardada saiu, na noite de 31
de março de 1964, para tomar o poder no Rio de Janeiro, sendo que a capital do
país, havia 4 anos, era Brasília –, ontem, o Capitão Cueca não vestiu o
colete.
137 –
E agora, meu bom José? Casar com Débora ou com Sara? A festa mal começou,
trocaram Noel, Tom e até o Roberto Carlos pelo pessoal do funk, de má poesia e armados
até o olho do cu.
138 –
O idiota que atentou (?) contra o Capitão Cueca é uma espécie de Joana D’Arc
caipira: ouve vozes que ele atribui a um deus imbecil e sua canalha de anjos.
139 –
Mas o estranho nisso tudo, é que os mineirinhos da PM de JF, esmirrados e
famélicos, conseguiram livrá-lo de um linchamento pelos pitbulls do CapCu.
140 –
Era tão simples: eles andam armados, são fortões, especialistas em artes de
bater e de matar. Como conseguiram perder para os soldadinhos fudidos e mal pagos
pelo traidor Pimentel, que prefere o Aécio à Dilma, como companheiro de chapa?
141 –
Era tudo o que eles queriam: vitimizar o Capitão, antes que ele começasse a
perder terreno nas pesquisas, o que deve acontecer a partir de terça-feira, 11,
quando o Haddad será oficializado como candidato, tendo Manuela como vice.
142 –
A Vaca Fardada da vez – aquele que acha que todo índio é preguiçoso e todo
preto é ladrão – já botou a culpa pelo atentado (?) no PT. O coronel dono do
partido aqui em Manaus (um partido de aluguel), repetiu a mesma ladainha.
143 –
Só falta o CapCu dizer que viu a estrelinha do PT brilhando nos olhos do
agressor. Aí fudeu.
144 –
Ah, o tal Adélio já foi do PSOL. E daí? O cabo daciolo aleluia glória a deus
também já foi. Isso só depõe contra o PSOL.
145 –
Só há uma possibilidade de a situação voltar ao que era: um cachorrão do CapCu –
um buldogue, um pitbull – matar o tal Adélio Bispo.
146 –
Matar não, fazer justiça, que é assim que eles justificam seus crimes.
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quinta-feira, 6 de setembro de 2018
A medicina entre confrarias, corporações e irmandades 2/2
João Bosco Botelho
O aumento da circulação de moeda e do comércio pode ter
contribuído para forçar, por parte da população mais organizada, o
preenchimento de um espaço vazio da organização social na assistência à saúde e
à velhice. Pode ter sido por aí que as normas das corporações-confrarias-irmandades
passaram a prever diversas formas de amparo aos membros e suas famílias. A maior parte possuía hospital próprio, como
o da rica Confraria de São Leonardo, em Viterbo, Itália, no século XII, capazes
de prestar vários tipos de atendimento e amparo à viuvez e aos órfãos. Essas
ajudas mútuas estavam atadas aos resultados oferecidos pela Medicina-oficial,
basicamente dos melhores cirurgiões-barbeiros, aderidos à Confraria dos
Cirurgiões. De certa forma, nesse contexto, contribuíram para que a ética dos médicos
retornasse aos bons resultados como o melhor caminho.
Essas mudanças só protegiam pequenos grupos, a maior parte da
população vivendo na miséria. É importante relembrar que as conquistas sociais
da Medicina greco-romana haviam se perdido. O processo de dessacralização da
doença, iniciado na Escola de Cós, por meio da teoria dos Quatro Humores, foi
apagado pela ética cristã inserida na Medicina, que valorizava, exclusivamente,
a doença como castigo pelo pecado cometido.
Essa ética cristã baseada na caridade cristianizada, que
valorizou a exaustão a recompensa pessoal após a morte e da obediência aos
dogmas eclesiásticos, abandonou os cuidados com a saúde pública, a higiene
pessoal, redes de abastecimento de água potável, escoamento dos esgotos e o pagamento
pelo serviço profissional médico.
Por essas razões, a maior parte das populações da Europa
medieval sofreu na pele o descaso pelas normas essenciais para preservar a
saúde coletiva. As cidades não passavam de aglomerações humanas desordenadas, em
torno de suntuosas catedrais góticas, sem água potável e esgotos sanitários,
com habitações inadequadas, onde, de tempos em tempos, grassavam epidemias de
várias doenças infectocontagiosas, que matavam, frequentemente, milhares de
pessoas em poucas semanas.
As regras das corporações-confrarias-irmandades sempre
ofereceram ajuda entre os membros e suas famílias. Como exemplo, o estatuto da
corporação dos curtidores de couro branco, em Londres, datado de 1346, reza no
artigo primeiro que o bem-estar de seus membros era o objetivo maior.
quarta-feira, 5 de setembro de 2018
terça-feira, 4 de setembro de 2018
Oxente!
Pedro Lucas Lindoso
Essa crônica é uma homenagem a Maria Clara Coelho Baumann,
tia Clarita, vó Clarita, bisa Clarita, ou simplesmente Clarita.
Não foi à toa que o jovem médico amazonense Justino Baumann
se apaixonou pela bela baiana chamada Maria Clara. Isso nos idos de 1940, na
fervilhante cidade de Salvador da Bahia.
Clarita, além de linda, cantava e tocava piano. Exímia
dançarina de tango, o ritmo favorito de Justino.
Viviam-se os dias agitados da II Guerra
Mundial. Entre racionamentos, toques de recolher e medo de um inesperado
bombardeio, havia sempre a oportunidade de se apaixonar.
Justino Baumann nasceu em Itacoatiara na primeira metade do
século passado. Desejando ser médico, seguiu a trilha de outros médicos
amazonenses. Homens valorosos que hoje dão o nome a hospitais em Manaus. Foi
estudar medicina na Bahia.
A Faculdade de Medicina da Bahia é a escola de medicina mais
antiga do Brasil. Criada em 18 de fevereiro de 1808, logo após a chegada de Dom
João VI e da corte Portuguesa, com o nome de Escola de Cirurgia da Bahia.
Justino e Maria Clara se casaram em 1947, no Rio de Janeiro.
A cidade maravilhosa do Rio de Janeiro sempre foi glamorosa e impactante.
Imaginem no pós-guerra!
Muito trabalho e pouca remuneração em terras cariocas levou o
jovem médico a acreditar no sonho de Juscelino Kubistchek. Contratado como
médico do Instituto dos Bancários, Dr. Baumann, esposa e filhos foram para o
Planalto Central ajudar a construir a nova capital do Brasil.
Dr. Baumann e dona Maria Clara formavam o casal mais
simpático e querido dos acampamentos pioneiros de Brasília. Médico
gastroenterologista e clínico geral, Dr. Baumann atendia os candangos com
eficiência e generosidade.
Com a cidade inaugurada e já funcionando como a nova capital,
Maria Clara foi trabalhar no Senado Federal. Testemunhou inúmeros fatos
históricos. Trabalhou no Gabinete do Senador Auro de Moura Andrade, quando
presidente do Senado e do Congresso. Conta sempre que datilografou o discurso
de posse do senador Auro de Moura Andrade como Primeiro Ministro, o que durou
pouquíssimo.
Talvez o mais impactante foi no dia em que o senador alagoano
Arnon de Mello, pai de Fernando Collor, deu um tiro num desafeto, em plenário.
Errou o alvo e matou o inocente senador Kaiala, que se despedia de uma
suplência pelo longínquo estado do Acre.
A arma foi parar no gabinete da Presidência, em cima da mesa
de dona Maria Clara. Fico imaginando seu espanto. Possivelmente, teria
sussurrado para si: Oxente!
Clarita está com quase cem anos. As agruras e problemas que
enfrentou na vida nunca tiveram o condão de abalar a doce e serena Clarita.
Sempre altiva e forte. Nada pode impedi-la de usufruir da alegria proporcionada
pelos sobrinhos, netos e bisnetos que tanto ama e é por eles imensamente amada.
Isso se chama resiliência. Oxente!
domingo, 2 de setembro de 2018
Zona de Guerrilha Franca
Zemaria Pinto
128 – Setembro não tem
sentido.
129 – O Museu Nacional
arderá por toda a eternidade, metáfora do inferno dos que – por inépcia,
inércia e canalhice – iniciaram o fogo que destruiu 200 anos de história e mais
de 20 milhões de itens.
130 – O espectro de Luzia,
cujo crânio fossilizado virou cinzas, assombrará a canalha pelos próximos 11
mil anos.
131 – Luzia era ancestral
de Marielle, assassinada pelos mesmos facínoras que atearam fogo ao Museu Nacional.
132 – Setembro não
sentido.
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sábado, 1 de setembro de 2018
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