Amigos do Fingidor

quarta-feira, 29 de abril de 2009

A teoria revelada
Rogel Samuel
Clique sobre a imagem, para ampliá-la.

Quando recebi o belo livro de Zemaria Pinto, "O texto nu" (Manaus, Ed. Valer, 2008), logo pensei, pelo título, tratar-se de obra de poesia. Por sabê-lo poeta. Bom poeta. Mas qual surpresa foi a minha ao ver que abria um volume de teoria literária. E mais ainda, um compêndio teórico prático, didático, das diversas teorias literárias, o mais claro possível, o mais facilitado possível, bem escrito, pelo seu bom estilo, para o público em geral e alunos da graduação em letras.
.
O título não engana, porém. Ali a teoria da literatura - como ele a chama - está nua. Desnudada, sem véu.
.
Entramos lá num terreno complexo, variado, infinito, que é aquela disciplina plural, entre filosofia e ciência, vasta e renovável.
.
Poucos são os bons manuais que sobreviveram, por isso. Porque novas teorias sempre aparecem. Localizadas, nacionalizadas. Porque o teórico da literatura deve saber de tudo o muito necessário para dar conta de suas tantas faces daquele conjunto de saberes: a lingüística, as estéticas, as filosofias, as diversas línguas, as diferentes literaturas nacionais etc.
.
Eu me lembro de que, quando iniciei por concurso minhas aulas na Faculdade de Letras da UFRJ me jogaram aos leões, e o joguei durante vários anos, numa maluquice, uma infernal disciplina que se chamava "evolução da literatura", aquela loucura, trapalhada, pois o curso ia desde a Idade Média até as Vanguardas!
.
Quem é capaz de saber, de dominar tudo aquilo?
.
Depois o curso foi extinto.
.
Mesmo assim é a teoria literária francesa, norte-americana, alemã etc.
.
Um dos maiores talentos brasileiros, que foi José Guilerme Merquior, caiu naquela armadilha, a de escrever sobre tudo e sobre todos: Freud, Marx, Hegel, etc. Assim um grande filósofo brasileiro, o Mestre Ivan Lins, comentou que passara a vida inteira lendo Hegel. E no final da vida afirmou: "Estou começando a compreender..."
.
Mas não caiu no laço desse ardil o escritor e poeta Zemaria Pinto. Ele só expôs, no seu livro, as idéias claras e clássicas e consagradas, as mais conhecidas, mais gerais, de maneira direta, sem viés, sem polêmica. Basta dizer que ele não cita ninguém durante o texto, só na bibliografia, onde nos orgulhamos de estar, com dois títulos.
.
(Publicado originalmente no blog de Rogel Samuel, autor do Novo Manual de Teoria Literária, ed. Vozes)
Anavilhanas, laudes
Zemaria Pinto
Anavilhanas, vistas do "continente".
.
O dia clareia lentamente. Os iguanas passeiam pelos domínios que logo serão de humanos. Da varanda, observo outros, camuflados, entre as folhas das árvores. Ficam estáticos, mas seus olhos se movimentam muito, sempre atentos ao entorno.

Na superfície plana do rio, um barco de pescadores desliza, quase sem ruído, ferindo o espelho d’água.

O grasnido de uma gaivota a pescar quebra o silêncio da manhã.

No emaranhado verde, as flores silvestres destacam-se em policromia.

Aos poucos, a brisa vai amornando e encrespando as águas negras.

Súbito, uma revoada de pássaros assustados levanta de vez o dia das Anavilhanas.
drops de pimenta 8

Joca, um quarto de hotel, de madrugada, é um transatlântico à deriva, sob um vendaval.
(Zemaria Pinto)

terça-feira, 28 de abril de 2009

Elson Farias lança livro sobre Claudio Santoro
Capa do mais novo livro do poeta e ficcionista Elson Farias, sobre o maestro amazonense Claudio Santoro.
A OBRA
A pesquisa de Elson Farias, ao relatar a trajetória de Claudio Santoro, registra a memória da cultura musical de Manaus. A pontuação histórica da cidade, desaguando na época áurea da borracha, contextualiza, assim, a chegada dos estrangeiros ao solo amazônico, dentre eles os Santoro. Este apanhado histórico das primeiras manifestações artísticas, e mais precisamente da música, faz do livro de Elson Farias um registro importante, tanto pelo aspecto temporal quanto pelo subjetivo da vida da Manaus do início do século passado.

O olhar cuidadoso sobre a vida e a obra de Claudio Santoro nos é dado como presente nesta obra. O despertar para a música ainda na infância em Manaus, a influência de casa, as origens italianas, a cultura francesa e a fidelidade aos ideais políticos, paralelo aos primeiros aplausos fora de Manaus, os primeiros triunfos internacionais, o encontro com Vinicius de Moraes, o catálogo da sua obra e as consequências que tudo isso trouxe para a vida e a obra de Claudio Santoro está documentado no livro de Elson Farias.

Santoro viajou o mundo, convivendo com outras culturas, mas subjetivamente ligado à cultura popular brasileira, fosse numa leitura rítmica ou num tema composto a partir de uma canção folclórica. Como outros compositores brasileiros, conquistou reconhecimento internacional bem antes de ser conhecido no Brasil como figura promissora no campo da música erudita. Infelizmente, no Brasil, sua música ainda é praticamente inédita. Os amazonenses e os brasileiros só conhecem uma parcela mínima de sua música.

ELSON FARIAS

Elson Farias nasceu em Roseiral, no município de Itacoatiara, Amazonas. Ao chegar a Manaus, aos 18 anos, integrou-se ao movimento de renovação das letras representado pelo Clube da Madrugada. Ingressou, mais tarde, na Academia Amazonense de Letras, da qual foi presidente por 2 mandatos, no período de 2004 a 2007, e no Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. Com alguns companheiros, fundou em Manaus a União Brasileira de Escritores do Amazonas, tendo sido seu primeiro presidente. Foi diretor do Departamento de Cultura, transformando-o na Fundação Cultural do Amazonas, da qual foi o primeiro superintendente. Exerceu, ainda, em diferentes oportunidades, as funções de secretário de Estado da Educação e Cultura e da Comunicação Social. Seu trabalho nos domínios da poesia, prosa de ficção, ensaio e literatura infanto-juvenil expressa temas da Amazônia, a paisagem e o homem, os mitos e a natureza. A música tem sido objeto de seus interesses desde muito cedo. Ouve música erudita desde os 18 anos e fez um curso de história da música, dirigido pelo maestro Nivaldo Santiago, no Teatro Amazonas, no tempo em que cantava no Coral João Gomes Júnior.

CLAUDIO SANTORO
Claudio Franco de Sá Santoro nasceu no dia 23 de novembro de 1919. Na madureza dos seus sessenta anos de idade, Santoro compôs a Sinfonia Amazônica, a décima na ordem das catorze grandes obras que escreveu, nessa que é a mais ambiciosa das obras orquestrais, em forma de sonata, realizada por um músico. Já havia composto oratórios, concertos, cantatas, óperas, poemas sinfônicos, música de câmera e canções, tendo deixado, em tudo o que escrevera, o timbre da sua terra, traço mais evidente no longo ciclo da fase nacionalista.

Claudio Santoro começa a aparecer no circuito internacional em 1944, aos vinte e cinco anos. Recebe inúmeros prêmios nacionais e internacionais. No países socialistas realiza inúmeros concertos. Exibe-se a plateias dos grandes centros musicais da Europa. Em 1979, ao completar 60 anos, é alvo de homenagens em várias cidades da Alemanha, onde se realizam concertos com programas dedicados à sua obra. Em São Paulo, recebe o prêmio Moinho Santista e, na capital da República, funda e dirige a Orquestra do Teatro Nacional de Brasília. Compõe intensamente e concretiza projetos como o da criação da Orquestra de Câmera da Rádio Ministério da Educação, considerada a melhor do Rio de Janeiro. Em 1955, encontra-se em Paris com o poeta Vinicius de Morais e realiza as mais belas canções de amor já integradas ao repertório moderno da música de câmera.

Claudio Santoro, paralelamente à atividade criadora, atendia a uma vibrante vocação de professor. Desenvolveu incansável atividade no magistério musical, ensinando Beethoven aos alemães, em Heidelberg, e Palestrina aos italianos. Em Viena, a incontestável capital mundial da música, participou do corpo de jurados do Concurso Internacional de Composição, bem como do Congresso de Compositores Alemães, em Berlim Oriental.

Claudio discutia política, militava na política e a sua música expressa a vida do povo e as aspirações humanitárias, mas era muito ligado à família. Tem obras dedicadas aos filhos. Outra obra que lhe reacendeu a chama das ligações com a "pátria da água" foi a composição de Os estatutos do homem. A obra foi composta sobre poema de Thiago de Mello. Teve estreia mundial em 1986, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

No dia 27 de março de 1989, às 10 horas, sobre o pódio de onde dirigia o ensaio da Orquestra Sinfônica do Teatro de Brasília, preparando o Concerto n.º 2, para piano e orquestra, de Saint-Saëns, Claudio morre fulminado por um enfarto, frustrando os organizadores das comemorações dos seus 70 anos, que ocorreu no dia 23 de novembro daquele ano, com eventos programados no Brasil, na França e na Alemanha.

O maestro Claudio Santoro.
Evento: Lançamento de livro
Título: Claudio Santoro – cantor do sol e da pazPáginas: 112
Autor: Elson Farias
Editora: Valer / Correios
Preço: Distribuição institucionalData: 29 de abril de 2009 (quarta-feira)
Horário: 19h30
Local: ICBEU - Av. Joaquim Nabuco, 1286 – Centro
Contatos: 3635-1324 (Editora Valer) / 3238-3639 (autor) / 9158-3687 (Correios – Auxiliadora)

domingo, 26 de abril de 2009

Novo relatório para a academia ou eu, pusilânime
Zemaria Pinto, après Franz Kafka
Franz Kafka (1883-1924) escreveu Relatório para a academia, inserido na coletânea de contos Um médido rural (1920).
Ilustração: Peter Kuper

Excelentíssimos senhores acadêmicos:

Muitos anos se passaram desde meu primeiro relatório a esta academia, quando comuniquei minha experiência simiesca e metamorfose à humana condição, o que me permitiu pleitear a qualidade de membro deste silogeu, para o qual fui eleito não sem muita polêmica.

A minha condição primata afastou concorrentes humanos, que seriam certamente melhores representantes que eu – mas não representantes simiescos. Obtive uma rejeição de 25%, recorde logo quebrado na eleição seguinte, quando um humano de prestígio internacional, igualmente candidato único, foi rejeitado por 30% de meus pares – entre os quais não me incluí, pois considerava o pleiteante digno de todas as honrarias. A partir desse fato, rejeição deixou de ser um trauma para mim.

A verdade é que as eleições da academia, das quais já participei de meia dúzia, são sempre muito disputadas: se dois candidatos se apresentam, será eleito aquele que obtiver 50% mais um dos votos, o que não deve ser entendido que a rejeição a esse candidato seja de 50% menos um dos votos. Assim, quero dar meu testemunho pessoal e intransferível sobre a mais recente eleição, talvez a mais disputada e certamente a mais tumultuada de todas as que pude observar mais de perto.

Havia dois candidatos humanos. O grupo de votantes aptos dividiu-se na preferência entre esses dois candidatos. De um lado, o grupo com o qual me identifico, afeito às tertúlias filosóficas e literárias – que não ajudam a melhorar a humanidade mas nos divertem bastante – optou pelo candidato cuja obra tem um cunho humanista bem definido. O outro candidato, ligado à esfera política do governo provincial, onde gravita o outro grupo, sob a liderança inconteste do acadêmico-mor, tem vasta obra de cunho técnico-científico – versando sobre assuntos tão complexos e diversos, como física molecular e astronomia quântica – cuja precisão e profundidade eu não tenho conhecimentos mínimos para mensurar. Vamos chamá-los, didática e respectivamente, de candidatos A e Z, identificando os grupos pelas mesmas letras: a separação entre estas dá bem a dimensão da distância ética entre a prática de um e de outro grupo.

Não entrarei em detalhes quanto a provocações, vilanias e traições. Fiquemos na superfície, no que pôde ser visto a olho nu – ainda que com meus simiescos olhos, acostumados desde sempre às ciladas e armadilhas da selva selvagem, mesmo sob a negridão da noite mais absoluta.

Avocando a custódia dos votos enviados pelo serviço postal, de acadêmicos que por um ou outro motivo não poderiam estar presentes no dia do sufrágio, o acadêmico-mor jogou terra nos olhos de todo o meu aprendizado sobre democracia, pluralismo e diversidade. Sua ação lembrou-me, sem nenhuma melancolia, meus tempos irracionais, submetido pela força de um antropoide que ocuparia a liderança do grupo até achar outro que o derrotasse na luta corporal, e ao qual, se sobrevivesse, haveria de se submeter.

Até o dia da eleição, cerca de 40% dos votos possíveis chegaram pelo serviço postal. Neste ponto, chamo a atenção ao título alternativo deste humílimo relatório: a minha pusilanimidade. Sim, no início da apuração, observei que os envelopes com as cédulas eleitorais, que deveriam estar, cada um deles, dentro de um envelope com selos e carimbos do serviço postal, devidamente lacrado, estavam nus – como um bando de macaquinhos na floresta. A desconfiança desabou sobre mim, fulminante. Era tudo muito simples: se o acadêmico-mor tinha liberdade para abrir os envelopes do serviço postal, poderia também trocar os pequeninos envelopes com as cédulas, que não tinham nenhuma identificação, alterando o resultado em detrimento da vontade da maioria. Se eu na hora em que percebi aquela possibilidade houvesse exposto aos presentes a minha suspeição, o acadêmico-mor certamente esbravejaria argumentando com sua condição incontestável de magistrado etc. etc. Mas aí, como em qualquer plenária de pessoas livres, a discussão estaria instalada e certamente o meu grupo pediria a anulação dos votos e mesmo o cancelamento de todo o processo eleitoral. Talvez até se sugerisse, por sua ação contrária ao senso comum, o impeachment do acadêmico-mor. Claro que tudo são suposições. A única certeza é a minha dúvida.

Enfim, pela minha omissão pusilânime, o candidato Z foi eleito por uma maioria de dois votos – exatamente 50% mais um dos votos válidos. Após a proclamação do resultado não houve qualquer comemoração. Do ponto de vista político, entretanto, é preciso reconhecer que o sodalício saiu fortalecido. Afinal, parece que é para isso que se prestam as academias, desde Richelieu. Penitencio-me, entretanto, perante vossas excelências, por me sentir um corpo estranho, literalmente, no interior da academia: neste episódio, agi como um símio. Provei a mim mesmo que não perdi minha condição primordial. Duvido até que mereça pertencer a esta academia.

Era o que eu tinha a informar.

Cardeal de Richelieu (1585-1642), modelo-mor de acadêmico, por Philippe Champaigne (1602-1674).
romance possível romance viii

ah, o romance. antes, eufórico. e elafórica também.



romance possível romance ix

depois, eunuco. e ela nunca mais.

(Allison Leão)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

desejada eternidade

o escritor dizia escrever para burlar a morte. o que lhe restou foi um personagem esquecido num canto de página em branco, do livro que não chegou a escrever.

(Adrino Aragão)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Sobre Um hóspede chamado Hansen

Jorge Tufic é um artífice da palavra. Na poesia, na crônica, no ensaio ou na ficção, emana de seu texto, com um halo de magia, o domínio técnico, aliado a um conhecimento em constante evolução e, sobretudo, um talento que não conhece limites. Afirmo isso com a sinceridade de um convívio no limiar das três décadas, iniciado quando travei, por intermédio de jovens amigos comuns, contato pessoal com o poeta, a quem aprendera a admirar a distância. Uma qualidade desconhecida foi logo realçada naqueles encontros iniciais: a generosidade de Jorge Tufic, capaz de dedicar horas de seu raro tempo para nos passar noções de poética; falar, nem sempre bem, das vanguardas em voga; dos poetas que começavam a ser conhecidos e estudados no Brasil, e mereciam nossa atenção, como Eliot, Pound e Cummings; também da sua paixão pelo soneto, que não compartilhávamos, mas que nos seduziria àquela forma, inexoravelmente. Tudo isso entremeado com histórias da boêmia e dos primórdios heróicos do Clube da Madrugada.

Sobre os demais gêneros praticados, a poesia de Jorge Tufic se destaca, caracterizando-se pela diversidade – o contemporâneo convivendo com a tradição e a experimentação, com as formas fixas. Na ficção, como já ficara demonstrado nos contos de O Outro Lado do Rio das Lágrimas (1976), não é diferente, pois ele não se contenta em “apenas” contar histórias: a linguagem é sua seara, onde planta experimentos e colhe textos de altíssima tensão literária.

Um Hóspede Chamado Hansen o aproxima da marca dos cinqüenta títulos publicados. O que poderia ser apenas mais um livro de um escritor consagrado é uma aventura na linguagem – para o autor e o leitor. Contendo uma novela, que dá título ao volume, e dez contos, o livro é um passeio por uma baudelairiana floresta de símbolos. A começar pela novela: uma alegoria da condição humana sob a ameaça constante do Mal. Os contos, de no máximo página e meia, condensam metáforas que pedem, no mistério do silêncio que as cerca, uma leitura calma, para uma reflexão sem pressa. Não estou aqui falando de hermetismo, mas do silêncio, da calma e da reflexão que a boa literatura exige e pede.

O leitor antigo de Jorge Tufic vai, neste livro, reencontrá-lo em sua melhor forma. O leitor neófito terá oportunidade de conhecer um dos mais brilhantes escritores brasileiros em ação neste início de século.
'
(Zemaria Pinto, na orelha de Um Hópede chamado Hansen, de Jorge Tufic)
Um hóspede chamado Hansen – novo lançamento de Jorge Tufic
Para saber mais sobre Jorge Tufic, clique nos links: O Fingidor e Palavra do Fingidor.
'
Após 53 anos de sua estreia literária com o livro de poesia Varanda de Pássaros, Jorge Tufic, um dos escritores mais expressivos da literatura amazonense, lança sua primeira novela neste sábado, dia 25 de abril, às 10h, na Livraria Valer. Na ocasião, o autor falará da produção do livro e do assunto que permeia a obra. Um hóspede chamado Hansen divide-se em quatro partes, sendo que nas três primeiras apresenta a novela e, em seguida, dez contos inéditos.

O personagem Ronaldo é um desses hipocondríacos que volta e meia encontramos por aí. Ele sai de hospital em hospital para desvendar um mistério: a aparição de manchas luminosas no seu braço. Apesar de toda a procura, o leitor terá uma surpresa ao final da descoberta de Ronaldo. É com esse enredo que o escritor Jorge Tufic constrói a sua novela. Outro destaque de Um hóspede chamado Hansen são os 10 contos que compõem a quarta parte do livro. Pula-Pula, O sonho de Tibério, Condenados na Praça e As cincos rosas trazem textos curtos, que exploram o realismo fantástico do cotidiano. Tanto a novela quanto os contos foram escritos há 23 anos e só agora serão publicados.

O autor

Jorge Tufic, poeta e ensaísta, nasceu no Acre. Descendente de uma família de comerciantes árabes, seu pai desenvolveu suas atividades comerciais nos seringais. Com o declínio da produção de borracha, transferiu-se, no início da década de 40 para Manaus, onde realizou seus primeiros estudos. Exerceu, durante boa parte de sua vida, a atividade de jornalista. Tufic é um dos fundadores do Clube da Madrugada e ocupa a cadeira n.º 18 da Academia Amazonense de Letras. É membro da Casa do Poeta Brasileiro, da Academia Acreana de Letras, da Academia Pré-Andina de Letras e Academia de Letras do Nordeste Brasileiro. A partir do início da década de 90, fixou-se em Fortaleza, dedicando-se exclusivamente à literatura. Sua produção literária é uma evidência de sua identificação com o universo regional, seu esforço em criar uma obra identificada com os mitos, anseios e esperanças do homem da Amazônia.

Principais obras
'
Poesia: Varanda de pássaros, 1956; Chão sem mácula, 1966; Faturação do ócio, 1974; Cordelim de alfarrábios, 1979; Os mitos da criação e outros poemas, 1980; Sagapanema, 1981; Oficina de textos, 1982; Poesia reunida, 1987; Retrato de mãe, 1995; Boléka, a onça invisível do universo, 1995; Quando as noites voavam, 1999; Dueto para sopro e corda, 2000; Sonetos de Jorge Tufic, 2000; Guardanapos pintados com vinho, 2008; Conto: O outro lado do rio das lágrimas, 1976; Os filhos do terremoto, 1978 Ensaio: Existe uma literatura amazonense?, 1982; Roteiro da literatura amazonense, 1983; O Protesto de Bocage, 2004. Crônica: Tio José, 1976. Memória: A casa do tempo, 1987. Novela: Um Hóspede chamado Hansen, 2009. Livros inéditos: Amazônia: o massacre e o legado (ensaios); O Sonho de Tibério (crônicas); Jorge Tufic: o Senador da Cultura (recortes de campanha política); O Soneto no Amazonas: sua história, sua evolução (ensaio com antologia);

Evento: Lançamento de livro
Título: Um hóspede chamado HansenPáginas: 96
Autor: Jorge TuficEditora: Valer
Preço do livro: R$ 25
Data: 25 de abril de 2009 (sábado)Horário: 10h
Local: Livraria Valer – Rua Ramos Ferreira, 1195 – Centro
Contatos: 3635-1324 (Livraria Valer) / 8120-1392 (autor)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A nova colonização
Desembarque de Cabral em Porto Seguro, por Oscar Pereira da Silva.

E novamente pelos portugueses... Só que desta vez é uma colonização às avessas, talvez como uma espécie de mea culpa pela morte de tantos índios. Mas vamos ser otimistas e pensar que tem muita gente interessada num mundo melhor, sobretudo interessada na sobrevivência da alma amazônica e em seu futuro humano. Os portugueses de agora vieram nos redimir e nos salvar da praga lançada pela mãe do guerreiro Ajuricaba, e nos mostrar que, tal como aconteceu com o boi morto pelo Pai Francisco que renasceu num boi de pano, a alma amazônica pode renascer no coração de sua gente.

Escrevo sobre a impressão que tive do MANAUARA SHOPPING e torço para que não seja uma precipitação da minha parte, mas aquele buritizal mantido pelo empreendimento já me deixou entusiasmado. Aliás, o negócio já começou a conquistar a gente a partir do nome escolhido, que alimenta aquela velha, mas salutar, pendenga linguística de saber se o certo é manauara ou manauense, e o Shopping já tomou partido. O meu computador, por seu turno, não marcou de vermelho (na correção automática da tela, como sendo escrito errado) nenhum dos dois termos.

O centro de compras português parece que veio para ficar e já nos conquista pela alma e pelo coração mostrando aos amazonenses seus artistas, tal como o fizeram por aqui o compositor Guto Rodrigues nos anos 80, com o projeto Nossa Música, e, mais recentemente, a Lívia Mendes e o Dr. Trigueiro, através da Fundação Villa-Lobos, com o projeto Valores da Terra.

Enquanto por aqui pela província se tenta por todas as vias catequizar o povo amazonense com as culturas europeia e americana, o shopping europeu nos indica que o grande barato do momento é o tucano de aço do Turenko Beça, são as criações inusitadas do Zeca Nazaré; bom mesmo é o livro de contos do Milton Hatoum e são os poemas preferidos do Thiago de Mello. Aliás, os dois escritores amazonenses vão ser homenageados pela Livraria Saraiva com salas que levarão seus nomes. Faço questão de destacar que a Saraiva MegaStore de Manaus é a mais bonita de todas as que eu já vi e até aplacou a minha ira pelo fechamento da nossa Biblioteca Pública Estadual, há mais de três anos. E tem mais: os espaços todos do Shopping têm motivos amazônicos, inclusive com nomes de frutas regionais como tucumã (que o meu antenado computador também não marcou de vermelho), açaí, buriti, e por aí vai, e ainda aproveitam a água da chuva, segundo ouvi dizer. Shopping sustentável, que tal?

O certo é que a nova colonização (às avessas, como já disse anteriormente) veio nos libertar de uma certa preferência pelo feio, pela mediocridade e pela ignorância, locais ou importadas; veio, finalmente, nos transportar do extrativismo da belle époque para o século 21 – sustentável, plural e solidário; veio ensinar a todos que um empreendimento luxuoso e moderno pode se harmonizar perfeitamente com a natureza e a cultura do lugar e ser ainda mais atraente; veio mostrar para o conservador empresariado local, para o Governo do Estado e para a SUFRAMA, depois de tantos anos, que a beleza existe e que jardins e árvores podem melhorar e até potencializar os investimentos comerciais e institucionais, e que a cultura tem tudo a ver com a economia, e pode produzir bons negócios e ainda despertar amor pela Cidade e pelo Estado, além de aumentar a auto-estima do povo amazonense, sem forçar a barra com campanha publicitária.

Sejam bem-vindos os portugueses e que nos colonizem novamente e ajudem a nos livrar dos nossos locais, nacionais e internacionais inimigos da floresta, da alma e da cultura amazônicas.
drops de pimenta 7

Mirinha, aqui faz muito frio. Nem precisa ventilador. Mas, de manhã, lembro de você. E suo muito...
(Zemaria Pinto)
Zemaria Pinto
A fortaleza verde.

O caminho das águas.
Fotos: Carol Figueiredo.

Anoitecer na Estação Ecológica de Anavilhanas, o maior arquipélago fluvial do mundo, a algumas horas de Manaus, a alguns minutos de Novo Airão. Ambas, de costas para o rio, de costas para a vida. A rabeta conduzida pelo Ceará, um clone malproduzido do Didi Mocó, segue monocórdia no caminho das águas. De resto, em tudo há tom: no sol que esmaece, no vento preguiçoso, na água que murmulha... Da fortaleza verde, a dissonância dos pássaros de fim de tarde transforma-se, aos poucos, em sussurros quase inaudíveis. Noite em Anavilhanas. Hora de voltar, no traçado labiríntico do rio. Hora de acordar.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

TUFIC NELES!
Benayas Inácio Pereira
O poeta Jorge Tufic, com destaque para os bigodes, mais negros que as asas da graúna.
Foto de Mauri Marques.
'
Nas paragens da história o passado
é de guerras, pesar e alegria,
é vitória pousando suas asas
sobre o verde da paz que nos guia.

Assim foi que nos tempos escuros
da conquista apoiada ao canhão
novos povos plantaram o seu berço,
homens livres, na planta do chão.

O trecho acima pertence a um hino que vocês devem conhecer de sobejo. Depois eu falo da importância dele na crônica que se segue.

Imaginem a cena seguinte: um senhor, todo circunspecto, diante de dois vigorosos policiais, a entoar com sua voz um tanto débil, anêmica e quase raquítica, a música dos versos acima.

Voltando meia hora no tempo até chegar ao fato, não há como não achar o acontecimento hilário. Em questão de segundos, o personagem desta crônica viu-se envolvido em uma situação inusitada. Chegando de Fortaleza dirigiu-se para um hotel onde pretendia descansar o “esqueleto”. E foi aí que tudo aconteceu...

O encarregado de recepcioná-lo na portaria estranhou o fato deste senhor se encontrar naquele momento sem nenhum documento ou dinheiro, uma vez que eles se encontravam dentro das malas. Apesar da identificação verbal, o “conceituado” chefe da recepção não aceitou o argumento apresentados pelo ilustre visitante. Nos minutos seguintes, o clima foi ficando tenso e, depois de alguns “elogios mútuos” e com a plena conivência do futuro hóspede, a polícia foi acionada. Com a chegada dos policiais as coisas foram se assentando, pois um deles teve uma “vaga” lembrança de quem se tratava. O diálogo que se seguiu foi mais ou menos assim:

­– Qual é o seu nome?

– Jorge Tufic.

– Jorge Tufic... Jorge Tufic... Parece que já ouvi falar do senhor. Deixe-me ver... Por acaso, não foi o senhor que criou a letra do Hino do Amazonas, com a música feita pelo compositor Claudio Santoro?
'
– Eu mesmo.

– Então, para que tudo seja esclarecido e que o fato seja “esquecido”, o senhor poderia cantar um pedaço da música?

Tufic deu uma cofiada nos seus bem cuidados e negros bigodes e falou:

– Com todo o prazer.

E com aquela voz maviosa de “taquara rachada”, o visitante comprovou finalmente ser o grande Jorge Tufic.

Agora eu sei que todos os que estão lendo esta matéria já sabem que a letra da música que abre este trabalho é a primeira parte do Hino do Amazonas. Quem se interessar pelo restante da letra é procurar no google.

Pensando cá com os meus botões, cheguei às seguintes conclusões: em primeiro lugar, que o saber não ocupa espaço e é sempre útil em situações como esta. Em segundo lugar, aqui vai um conselhinho a todos que ainda não viraram de página. Se quiserem agir e ter o mesmo sucesso do Tufic, é muito fácil: para isso basta ser jornalista, ensaísta, cronista, poeta (com vários prêmios, inclusive o de “Poeta do Ano”, agraciado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas no ano de 1976), ser sócio-fundador da Academia Internacional Pré-Andina de Letras, ser membro efetivo do Clube da Madrugada, ser imortal pela Academia Amazonense de Letras, escrever “mil” livros, ser premiado em várias partes do Brasil, ter trabalhado nos antigos jornais “O Jornal” e “Jornal da Cultura”, além de colaborar em diversos suplementos literários por este Brasil afora, e ser unanimidade entre todos os que o conhecem. Deixo claro que omiti propositadamente muitos outros atributos relacionados ao Jorge.

Finalmente, e conforme eu ia dizendo, quem quiser se livrar de situações constrangedoras como a que passou o Tufic, é só imitá-lo. Da minha parte, eu prometo começar amanhã cedinho. Espero daqui a 60 anos poder dizer com orgulho: eu sou imitador do Jorge Tufic, aquele que só faz bem, aquele que não tem contraindicação. E quando acontecer de eu topar com algum recepcionista mal preparado para lidar com o público, eu vou bradar: Tufic pra você, ó cara!

As vozes amargas
Rogel Samuel


Depois de muitos anos de busca, consigo As vozes amargas, de Djalma Passos. É um excelente livro, esgotado há 57 anos! Fiquei tão feliz que o transcrevi integralmente no meu blog.

É um livro temático, fechado, que se pode dizer tem começo, meio e fim. Não pode avaliar a poesia de Passos quem só ler um poema. Seu tema é o homem, ou seja, a sociedade e suas questões religiosas e humanas.

Foi publicado em 1952, e poucos anos depois Passos foi meu professor de português no Ginásio de Aparecida. Era um homem calmo e bom, bem me lembro, e morava na época perto da casa de minha avó, na Rua Japurá, onde eu também vivi por alguns anos.

Lembro-me de ter ido à sua casa, não me lembro porquê. E talvez foi lá que eu ganhei um exemplar do livro, que se perdeu ao longo da vida, como tantos. Eu já escrevia quando era adolescente, e dirigi um jornal estudantil feito no mimeógrafo onde colaboravam colegas meus, hoje famosos, como a tia de um hoje Senador pelo Amazonas, a esposa de um Governador e Prefeito de Manaus, e a Ira Esteves, hoje em Los angeles. Não tenho nenhum exemplar, pois logo ganhamos espaço nos jornais de Manaus e fundamos o Grupo Satírico Gregório de Matos.

O livro de Djalma Passos é muito bom. A crítica atual da literatura amazonense não fala dele, menos o falecido Artur Engrácio e o piauiense Assis Brasil. Como desconhecem o maior cronista do Amazonas, Afonso de Carvalho. Mas não faz mal. Djalma Passos será lembrado como um dos maiores poetas amazonenses.

DJALMA PASSOS nasceu, no Acre, no dia 19 de junho de 1923 e faleceu no Rio em 1990. Fez seus estudos no Colégio Estadual do Amazonas e na Faculdade de Direito do Amazonas. Foi tenente-coronel da Reserva da Policia Militar do Estado, professor do Colégio Comercial Brasileiro, Ruy Barbosa e Ginásio de Aparecida. Abandonou o magistério para ingressar na política, tendo sido eleito, primeiramente, Vereador, mais tarde, Deputado Estadual e depois Deputado Federal pelo Amazonas, pelo PTB (1962). Colaborou com as revistas e jornais de Manaus. O Senador Áureo Mello, do PMDB do AM, pronunciou Discurso no Senado em 19/06/1990 em HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SR. DJALMA PASSOS, que hoje tem nome de Rua e Escola em Manaus.

Texto publicado originalmente no blog Livros Online.

domingo, 19 de abril de 2009

romance possível romance vii

um dia perguntei a ela:
– por que todo dia você acorda chorando?
– não é choro não: é orvalho.
(Allison Leão)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

A propósito de uma eleição
Benayas Inácio Pereira
Cardeal de Richelieu (1585-1642), fundador da Academia Francesa, modelo da Academia Amazonense de Letras.
Quadro de Philippe Champaigne (1602-1674).

Abril de 2009. Depois de uma longa, lenta e acirrada batalha de bastidores, aconteceu a tão esperada eleição na Academia Amazonense de Letras. A vaga deixada pelo acadêmico Jefferson Carpinteiro Péres finalmente está preenchida.

De um cantinho solitário e estratégico de Manaus, acompanhei pari passo a marcha da apuração. Para falar a verdade, esta é a primeira vez que sigo mais atentamente uma eleição de academia. Antes eu tinha uma ideia errônea de como eram feitas as eleições acadêmicas. Achava eu que, para ocupar uma cadeira, o candidato deveria ter toda a sua vida dedicada exclusivamente em prol do cargo que almeja, uma vez que, após décadas de estudos laboriosos e de muito empenho, julga-se finalmente merecedor desse prêmio tão ambicionado.

Nesse caso, um médico deveria se candidatar a uma cadeira na Academia de Medicina, o açougueiro, na Academia de Carnes e Afins, o gari, na Academia dos Varredores de Rua, e assim por diante.

Eu tiro essa rápida conclusão tendo como espelho a Academia Brasileira de Letras. Desde a posse de Austregésilo de Athayde na presidência na casa de Machado, e mesmo antes, eu jamais soube de qualquer candidato que tenha sido eleito, não fosse realmente um intelectual. São poetas, contistas, cronistas, romancistas, enfim, escritores que fazem uso das letras, menos para sobreviver, mas sim, para divulgar obras que poderão até mudar os conceitos e destinos da humanidade. Quer dizer, pelo menos, devia ser assim, ora bolas. Partindo desta premissa, a mim, a eleição na Academia Amazonense de Letras desviou-e para caminhos estranhos e um tanto nebulosos, não condizentes aos ideais dessa entidade fundada há mais de noventa anos.

Nos últimos dias que antecederam a votação final, o clima visto pelo meu ângulo privilegiado de simples mortal me pareceu uma simples mescla de influências políticas com BBB (lado A e lado B). Políticas, por saber da vontade declaradamente obsessiva de vitória por parte de um deles. Minha formação pessoal não permite omitir minha opinião de que sempre deverá haver respeito pelo adversário, em qualquer circunstância. Em razão disto, confesso-me frustrado com tudo o que aconteceu.

É lógico que ambos os candidatos são extremamente ilibados, nada se podendo dizer sobre a vida pessoal de cada um deles e tampouco pelos relevantes serviços prestados à população amazonense, sendo, portanto, merecedores de imortalidade acadêmica. O processo eleitoral em si é que deixou a desejar. Corridas atrás de votos e divergências de toda a ordem marcaram de maneira, digamos, não muito ética, o andamento eleitoral.

Brevemente teremos nova eleição na Academia Amazonense de Letras. Uma pergunta grita silenciosa no éter. O que acontecerá? Os enganos cometidos nesta eleição deste cinzento abril se repetirão, ou servirá de lição para evitar novos erros? A incógnita, com certeza, permanecerá até lá.

Longe de tudo e de todos, durante uma noite insone, na minha condição de leigo, sonhei que, ao abrir o livro da Academia, logo após o resultado que apontava o novo imortal, e onde seriam assinados os nomes dos acadêmicos presentes, algo caiu bem em cima da página. Todos olharam para os céus, porém, não havia sequer uma ave.

Na verdade tinha sido mesmo um triste e solitário borrão de tinta que, inadvertidamente, tombou enodoando esta página que tinha como único objetivo enriquecer ainda mais a história daquela egrégia Academia. Que pena!
paixão

divorciado, deu agora de encher a cara e fazer serenatas para a ex-mulher.

(Adrino Aragão)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A farsa do mulateiro

Zemaria Pinto
O ex-mulateiro, na lente do fotógrafo Carlos Navarro.

Dia destes escrevi que o mulateiro situado na Praça da Polícia (não adianta batizá-la com 3 nomes diferentes: é assim que o povo a chama), lendário ponto de encontro do Clube da Madrugada, era uma farsa. Houve (ouvi) choro, gemidos e ranger de dentes. Morta a cobra, agora mostro o pau.
Placa identificando o mulateiro: na verdade, uma sibipiruna, prima-irmã do pau-brasil.
Foto de Roberto Mendonça.
'
Pois é, o mulateiro – um eufemismo para pau-mulato; afinal, mulata, infelizmente, não dá em árvore –, o mulateiro, eu dizia, é uma tremenda Caesalpinia peltophoroides, uma frondosa sibipiruna.

Tem outra placa por lá, confundindo a cabeça de possíveis leitores: diz que ali se reunia o pessoal do Clube da Madrugada e lista uma pá de "fundadores", sugerindo, dissimuladamente, que ali o Clube fora fundado. A verdade: o Clube foi fundado na madrugada do dia 22 de novembro de 1954, na praça de São Sebastião. Os fundadores: Luiz Bacellar, Francisco Batista, Teodoro Botinelly e Saul Benchimol. E só. O testemunho é do próprio Luiz Bacellar, que propôs o nome pelo qual o grupo passaria à história. Quem quiser pode checar com os professores Batista e Benchimol. O Botinelly pediu pra sair.

Por fim. Eu não tenho fotos, mas sei que vocês acreditam em mim, ora bolas. Num laguinho próximo, fofíssimos patinhos brancos... de gesso, isopor, sei lá. Decoração mais cafona só a pintura do zuavo e do legionário, à entrada do palacete. E lembrar que naquele mesmo laguinho nadou o Rimbaud, um pato da estima do poeta Farias de Carvalho... Mas essa é uma outra história.
Escola Estadual Ruy Araújo

Cineclube Escolar PINDORAMA

apresentam


22 de abril de 2009
quarta-feira, às 10h30min
Sala de Multimeios (TV Escola)

Entrada Franca
FICHA TÉCNICA

Título do Filme: HANS STADEN
Gênero: Drama histórico
Duração: 92 minutos
Lançamento: 2000
Diretor: Luiz Alberto Pereira
Roteiro: Luiz Alberto Pereira
Músicas: Marlui Miranda e Lelo Nazário

ELENCO

Carlos Evelin (Hans Staden)
Ariana Messias (Nairá)
Darci Figueiredo (Ipirú Guaçu)
Stênio Garcia (Pajé)
Sérgio Mamberti (Jacó)
Claúdia Liz (Marabá)
drops de pimenta 6

Ai, Joca, almoçar sozinha dá um fastio...
(Zemaria Pinto)

terça-feira, 14 de abril de 2009

Clique sobre a imagem, para ampliá-la.


Clique sobre a imagem, para ampliá-la.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

“Minha pátria é a língua portuguesa.”
(Bernardo Soares, no Livro do Desassossego)
Fernando Pessoa, aliás Bernardo Soares, aliás Álvaro de Campos, aliás...
Ilustração: autor ignorado.


“Minha pátria é minha língua”
(Caetano Veloso, em Língua)


“Minha pátria é minha íngua”
(Zeca Baleiro, em Piercing)
A noite perde os homens
Inácio Oliveira

A noite perde os homens. Talvez fosse Drummond, não sei. É um verso perdido desses que a gente escreve a faca nas paredes imundas. Foi neste lugar tão frágil que o diabo chorou, seus cascos calcinaram esta terra donde nenhuma erva jamais tornou a nascer. Às três da manhã, José a fazer amizade com uma garrafa de whisky, enquanto o garçom emborca as cadeiras sobre as últimas mesas, depois que todos já se foram e o jazz fino e cortante vai baixando baixando de tom. Tudo menos a solidão de uma hora neutra em que é possível ouvir os ácaros a passear sobre a pele. Medo de morrer sozinho num quarto de pensão esquecido do mundo.

domingo, 12 de abril de 2009

romance possível romance vi

– faz, amor, faz o que você quiser com meu corpo!
– ...!
– menos isso, porra!.
(Allison Leão)

sábado, 11 de abril de 2009

Jinriquixá
Benayas Inácio Pereira

O riquixá é um veículo de tração humana, que já foi usado pelas melhores famílias europeias, conforme nos mostra este quadro de Claude Gillot, de 1707, Les Deux Carrosses.

Pensa bem, ó gentio, onde, além do Palavra do Fingidor, obterias informação tão preciosa?...

Esta palavra se origina do japonês e significa “homem-força-carro”. O país que mais utiliza o jinriquixá ou riquixá é a Índia. Nem sei bem o porquê de eu estar explicando tudo isso, já que eu tenho certeza absoluta que todos sabem o que é. Como já comecei, todavia, vou acabar de explicar para não me sentir um leso. Vai servir mais como curiosidade.

É que na Índia a coisa não é muito fácil. O cara que trabalha na zona rural, de repente, se vê sem trabalho e, por viver na miséria extrema, chegando pertinho da condição subumana, resolve ir para a cidade, para tentar ganhar “algum”. Igual a eles, outros têm a mesma ideia e, nesse caso, a população urbana cresce de maneira assustadora. Uma vez que esses ruralistas não têm a mínima escolaridade, o único serviço que conseguem é ser jinriquixaristas. Agora temos uma visão mais clara do jinriquixá. É isso mesmo. É aquela carrocinha puxada pelo homem que, além de transportar pessoas, pode também transportar mercadorias.

Vou continuar falando, ok? Para se saber em que pé a coisa está, a Índia tem hoje mais de um bilhão e cem milhões de pessoas e, segundo os entendidos, no máximo no ano de 2035, ela ultrapassará a China e se tornará o país mais populoso do mundo. Pô! Isso aqui é uma crônica ou aula de geografia? Vou voltar ao jinriquixá. A Índia possui hoje 8.000.000, isso mesmo; oito milhões de jinriquixaristas. E 95% deles não são donos das “carroças”. A moeda oficial da Índia é a rúpia (50 rúpias valem um dólar). Sem dinheiro para comprar um jinriquixá, sabem o que eles fazem? Não? Ora! Alugam o jinriquixá para labutar.

O aluguel diário é de 25 rúpias e, não adianta procurar outro dono, porque todos os proprietários pertencem a uma espécie de máfia, e o aluguel é tabelado. Tem tanta gente atrás desse trabalho que se, ao final do dia, as 25 rúpias não estiverem nas mãos dos donos, um abraço! No dia seguinte, e sem nenhuma explicação, tem outra pessoa puxando o tal jinriquixá. Dizem as más línguas indianas que por lá estão tentando formar um sindicato e os caras que “puxam” as carrocinhas poderão, com o tempo, adquirir as suas e se livrar dos “mafiosos”. Eles pensam até em pôr publicidade no jinriquixá para poder aumentar a receita e passar menos fome.

O riquixá é o veículo perfeito: não polui a atmosfera, não provoca engarrafamentos, além de ser um excelente exercício para o condutor.

Eu sei que vocês devem estar pensando que eu fiquei louco de escrever tantas baboseiras, pois isso aqui não é crônica nem aqui nem na Índia. Vou tentar explicar.

Numa quinta-feira eu me encontrei com um grande amigo meu. Almoçamos um saboroso prato, falamos besteira, rimos muito e, na ocasião, ele, por mera curiosidade, perguntou-me se eu sabia o nome “daquela carrocinha que puxava pessoas”. Eu tinha um leve conhecimento sobre o assunto, mas resolvi pesquisar um pouco mais, para não falar bobagens para ele. No sábado seguinte, em uma ligadinha, falei rapidamente o resultado do que eu havia pesquisado, mas, por ele ser uma pessoa importante e muito ocupada, fiquei de escrever tudo e passar a ele, para que lesse com mais calma. (Lembro-me apenas de ter citado o nome da tal “carrocinha”).
'
Assim eu fiz, porém, não tive tempo hábil para enviar-lhe a pesquisa onde eu falava em detalhes o que seria o jinriquixá. É que na terça-feira seguinte, ele, marotamente, e sem me avisar, resolveu atravessar aquele rio de águas cristalinas, e não vai voltar mais para este lado. Só espero que esta seja a última peça que ele me prega e que isso não se repita mais. Viu, Sebastião Reis?

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Borges & Borges ou o enigma do outro

Zemaria Pinto
Jorge Luis Borges, por Cameron Stewart.
'
Navegando pelas ondas por vezes tediosas da Internet, deparei-me, dia destes, com uma notícia fantástica: dois homens armados assaltaram uma biblioteca pública na periferia de Buenos Aires e roubaram todos os exemplares ali disponíveis dos livros escritos por Jorge Luis Borges − cerca de 50 volumes.

Os ladrões levaram também 33 exemplares de livros escritos por Borges em parceria com Adolfo Bioy Casares. Pela avaliação do diretor da Biblioteca, os livros eram velhos e não contavam entre eles nenhuma edição rara, não tendo praticamente nenhum valor de revenda. Para trás, os assaltantes deixaram computadores, aparelhos de TV e de vídeo, além de enciclopédias novas e caras.

O fantástico dessa historinha é que ela parece saída das páginas de um livro do próprio Borges, o mais importante autor de língua espanhola do século XX.

Nascido na Argentina a 24 de agosto de 1899, Borges foi menino-prodígio, escrevendo contos e aprendendo línguas antes mesmo de ir para a escola. Aos 15 anos, a família muda-se para a Suíça, deixando o jovem Borges mais próximo do esplendor europeu.

De volta à Argentina, publica, em 1923, seu primeiro livro, Fervor de Buenos Aires, com o qual inicia uma carreira que o transformaria em verdadeiro mito.

Espelhos, labirintos, tigres, punhais e o interminável rio de Heráclito são algumas das imagens recorrentes de Borges. Alguns de seus melhores contos são narrados na primeira pessoa, identificando-se ele próprio como o narrador, como se contasse suas memórias. Borges inventava livros e contava histórias sobre esses livros.

Chegou mesmo a inventar um país e um mundo e toda uma bibliografia a respeito. Em Borges, a fronteira entre ficção e ensaio é tão tênue que Antônio Paulo Graça, no ensaio “As Afinidades Ilusórias”, diz que ele revogou, dinamitou a idéia de sujeito.

Cego aos 56 anos, Borges tinha humor e paixão suficientes para viver unicamente em função da literatura, mesmo impedido de ler e escrever. Umberto Eco homenageou-o como o bibliotecário Jorge, de O Nome da Rosa, que, a despeito da cegueira, era o guardião de todos os livros e autor de todas as tramas...

Perguntado, uma ocasião, em uma praça, se era mesmo Borges, respondeu, irônico: − às vezes... No conto “O outro”, de O Livro de Areia, o velho Borges encontra-se com um incrédulo jovem Borges que o sonhava naquele instante, a quem o velho aconselha, sem melancolia:

− Quando alcançares a minha idade terás perdido a visão quase por completo. Verás a cor amarela, sombras e luzes. Não te preocupes. A cegueira não é uma coisa trágica. É como um lento entardecer de verão.

No poema “Arte Poética”, ele sentencia:

Às vezes, pelas tardes, uma cara
Nos olha lá do fundo de um espelho;
A arte deve ser como esse espelho
Que nos revela nossa própria cara.

Em abril de 1985, Borges despede-se dos amigos argentinos e parte para sua última viagem à Europa. Em junho do ano seguinte, ele morre na mesma Suíça de sua adolescência.

O poeta Thiago de Mello, que fez com o autor de O Aleph, História Universal da Infâmia, Ficções e O Livro dos Sonhos, entre tantos outros, duas grandes entrevistas, poucos anos antes de sua morte, tem uma opinião definitiva e borgeana sobre ele:

− Borges não existe. Desconfio que ele não passa de uma invenção dele próprio. Ele construiu – dia a dia –, com os seus poemas, contos e ensaios, um fascinante labirinto, em cujo pátio de palavras e estrelas deixou gravadas as leis que regem o destino da natureza humana.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Para a orelha de Drops de pimenta

Dori Carvalho



Zemaria Pinto se mostra cada vez mais uma figura surpreendente. Os seus livros de poesia com títulos inusitados - Fragmentos de silêncio, Música para surdos - deixam versos-navalhas cortando nossas almas para sempre.

Não satisfeito com isso, como todo poeta poderia ser, continua desafinando o coro dos contentes, passando longe da literatura certinha, bem-comportada, que toma conta da nossa terra. Se nos apresenta (surpresa!) escrevendo peças teatrais hilárias e ferinas como Papai cumpriu sua missão, tratando a política como deve ser tratada; Cenas da vida banal, brincando com a harmonia reinante entre macho e fêmea; e leva a sério Shakespeare, Eurípides e Kafka, com a solidão de Otelo, a Medéia que há em todos nós e a distância entre nós e a Justiça. Volta ao mundo infantil com a sua Cidade perdida dos Meninos-Peixes, preocupado com este nosso planetinha tão maltratado. Zemaria trilha um caminho que não é o da facilidade, da mesmice, da produção em larga escala e sem talento, tão costumeira. Talento em seu trabalho, aliás, é o que não falta; risco, muito menos, gesto tão raro em professores de literatura.

Dito isto deste artista universal do Amazonas, vamos ao Drops de pimenta ou, bem poderia ser, “vida, a arte do desencontro” ou “pimenta no amor dos outros é refresco” ou ainda “nos menores frascos estão os melhores venenos”. São divertidas e displicentes porradas desfechadas contra nosso peito e em nosso pequeno cotidiano amoroso cheio de descaminhos, silêncios e perversidades, nos intervalos da paixão ou nos crimes que cometemos a todo instante contra o ser amado.

Se o(a) leitor(a) não quer cometer nenhum ato tresloucado, tipo fugir de casa, mudar o destino tão previamente traçado, leia apenas um por dia desses pequenos-grandes-contos ou haicontos. A princípio parecem brincadeiras (e são), você vai rir muito, depois, toma conta um certo mal-estar gostoso, um desconforto agradável, desses que fazem a gente rir da própria desgraça e, finalmente, quando você começa a se sentir dentro do livro, uma raiva incontida de si mesmo é inevitável - e vai se perguntar: o que é que eu estou fazendo que não mudo essa droga de vida? Aí vai uma amostra grátis para amantes ou desamados ansiosos e aflitos:

─ Pra ganhar tempo, a gente divide. Eu pego a lataria e os frios. Você, o material de limpeza.
─ Não é possível! Nem no supermercado a gente fica junto?

Mas, como diria o Barão de Itararé, é melhor não levar a vida toda a sério, afinal ninguém sai com vida dela. Drops de pimenta é mais um presente que Zemaria Pinto nos dá, a todos nós, inconformados, inconstantes, espíritos livres, amantes, apaixonados...

Drops de pimenta, o livro, deveria ter saído na segunda leva dos Valores da Terra, quando ainda era prefeito de Manaus o cabo Pereira. Três alcaides depois, Valores da Terra é um projeto morto e enterrado. Mas o Drops continua vivo.

Ilustração: Tamara de Lempicka (1898-1980), Adão e Eva.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

drops de pimenta 5

Mirinha, você não viu nada, ontem. Você imaginou. Eu não tenho nada com aquela. Nem com nenhuma outra. Sou uma nuvem. Você, meu sol?

(Zemaria Pinto)

domingo, 5 de abril de 2009

Pessoal Intransferível
Torquato Neto (1944-1972).

Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela. Nada no bolso e nas mãos. Sabendo: perigoso, divino, maravilhoso.

Poetar é simples, como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena etc. Difícil é não correr com os versos debaixo do braço. Difícil é não cortar o cabelo quando a barra pesa. Difícil, pra quem não é poeta, é não trair a sua poesia, que, pensando bem, não é nada, se você está sempre pronto a temer tudo; menos o ridículo de declamar versinhos sorridentes. E sair por aí, ainda por cima sorridente mestre de cerimônias, “herdeiro” da poesia dos que levaram a coisa até o fim e continuam levando, graças a Deus.

E fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar. Citação: leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi. Adeusão.

(14/09/71)
romance possível romance v – ou esses intelectuais...

– ... mas por que não, amor?
– porque li no Aurélio que isso é tão-só um “orifício, na extremidade terminal do intestino, por onde saem os excrementos.” (1977, p. 31.) [grifo meu, amor.]

(Allison Leão)

sábado, 4 de abril de 2009

Espaço Cultural Jorge Tufic inaugura hoje
Jorge Tufic no "Espaço".

Será hoje, às 18h, no Marbello Ariau Hotel, em Fortaleza, a inauguração do Espaço Cultural Jorge Tufic, com a presença de dezenas de amigos do poeta, das diversas regiões do país. Estaremos presentes, também – em pensamento.
nalgum lugar em que eu nunca estive
e. e. cummings (1894-1962).
Pensando bem, o Kevin Spacey daria um ótimo cummings, não?
'
O poema do norte-americano e. e. cummings (ele grafava assim seu nome, com minúsculas - o que dá bem a dimensão das suas aspirações verbivocovisuais!) publicado hoje nO Fingidor guarda algumas convergências afetivas:

1 – é citado por Woody Allen no filme Hannah e suas irmãs (1986): o personagem de Michel Caine, querendo papar a cunhadinha Lee (Barbara Hershey), dá-lhe de presente a obra completa de cummings, recomendando-lhe a leitura do “poema da página 112”; quando a mocinha lê trechos do poema o reconhecemos, especialmente (porque a tradução não é lá essas coisas) pelo último verso;

2 – Jorge Wanderley publicou, em 1992, uma Antologia da nova poesia norte-americana; esse foi o único poema de cummings que ele escolheu; mas a tradução de Augusto de Campos, que publicamos, é bem superior;

3 – Zeca Baleiro gravou a versão de Augusto de Campos, com o título encurtado para “nalgum lugar”, no cd Líricas, de 2000; vale a pena conferir a melodia delicada de Baleiro para o poema idem de cummings.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A palavra como navalha
Rogel Samuel
Rogel Samuel, no traço de Roberto Magalhães (1973).

O terrivelmente belo poema de Zemaria Pinto, “O exercício da crueldade” acusa desse modo:
'
palavras são serpentes, são navalhas
são balas que explodem dentro do peito
de quem ouve e de quem fala!

Ai palavras! Ai palavras! Estranha potência essa das palavras cruéis, enganosas, ferinas, irônicas, venenosas. Zemaria Pinto diz que elas cortam como navalhas com suas falas, falácias, que trazem espinhos venenosos escondidos, balas explosivas que vão fundo, que lá no íntimo ferem quando querem ferir, e que ulceram a boca de quem diz, de quem dispara. O veneno mais terrível não mata a serpente, mas destrói a alma da humanidade de quem as profere, as palavras danadas infernais. Todos nós já as ouvimos e as sofremos. E até mesmo as proferimos contra nossos inimigos e desafetos! Às vezes elas vêm adocicadas com o invólucro do venenoso mel dos sorrisos falsos, perigosamente afáveis, corteses, finórios.

Onde os venenos e as gozações mais ácidas aparecem é na vida parlamentar, no Parlamento, ali onde reina a esperteza, a sagacidade das inteligências maléficas e malignas prontas para tudo destruir, usurpar, danar, profanar.

Até parece que o homem não merece o sagrado e misterioso dom da fala, da linguagem, mas não é verdade. São demônios falantes, em bom português, em correto inglês etc.


Publicado originalmente no blog de Rogel Samuel, autor, entre outros títulos, do Novo Manual de Teoria Literária e do romance O Amante das Amazonas.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Clique sobre a imagem, para ampliá-la.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Clique sobre a imagem, para ampliá-la.
'
O Sarau Chama Poética vai receber como convidado especial Ernesto Paulelli – o Arnesto, do Samba do Arnesto – que vai contar histórias de Adoniran Barbosa e também receber uma homenagem especial.
drops de pimenta 4

─ Só tem água-e-sal.
─ Gosto. É a minha “madeleine”...

(Zemaria Pinto)