domingo, 31 de agosto de 2014
sábado, 30 de agosto de 2014
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
Dabacuri – memória 4/5
Zemaria Pinto
sonolento,
um carro de boi atravessa
a praça deserta
flores de jambeiro
espalhadas pelo chão
– caminho de cores
espalhadas pelo chão
– caminho de cores
memória desperta –
a bola de cernambi
quica na calçada
vela derretida
em pingos que se combinam
– destino anunciado
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A poesia é necessária?,
Dabacuri,
Haicais,
Zemaria Pinto
Aborto sob a vigilância laica
João Bosco Botelho
A
ausência de registros laicos proibindo ou punindo sugere que os métodos
abortivos utilizados como contraceptivos poderiam ter sido usuais na
antiguidade. Não é razoável pressupor a inexistência ou que não eram utilizados
na gravidez indesejada. Dois dos mais antigos textos legislando a ação médica,
o Código de Hammurabi, do século 17 a. C., e as leis de Eshnunna (1825‑1787 a.
C.), não fazem referência ao assunto.
Por outro lado, a leitura do juramento
de Hipócrates mostra a clara expressão contra o aborto dos médicos gregos da
Escola de Cós: "...Não darei venenos mortais a ninguém, mesmo que seja
instado, nem darei a ninguém tal conselho e, igualmente, não darei às mulheres
pessário para provocar aborto". É possível pressupor que essa passagem do
juramento de Hipócrates esteja estritamente ligada às interdições de qualquer
procedimento médico capaz de provocar a morte, semelhante ao da cirurgia para
retirar pedra na bexiga, já que ambos seriam capazes de matar o doente e nesse
caso não poderiam ser executados. A essência da estrutura teórica da Escola
hipocrática estava assentada na existência da Medicina e dos médicos para manter
a vida! Seria impensável aceitar qualquer a ação médica capaz de ocasionar a
morte do doente!
No
mesmo período, houve certa indulgência em Aristóteles (Política, VII, 4) que aconselhava a interrupção da gravidez frente
às necessidades médicas, desde que o embrião não tivesse recebido o sentimento
e a vida. Essa posição aristotélica valorizando “o sentimento e a vida” do
embrião como limite à prática abortiva serviu de instrumento teórico dos Doutores
da Igreja, em diferentes períodos, no medievo cristão, para proibir mais ou
menos o aborto. Sob outro argumento, teoricamente, as complicações do aborto
provocado são mais graves na medida do avanço da gravidez. Desse modo, não é
também possível dissociar a precaução de Aristóteles quanto as possibilidades
de o aborto causar a morte da gestante.
Após a cristianização das práticas médicas, na
Europa medieval, é fácil e imediato reconhecer a influência do pensamento
cristão nas leis sobre o aborto. No século 6, os visigodos adotaram a pena de
morte para quem quer que fornecesse drogas para provocar aborto. A mulher, se
fosse escrava, seria punida por meio de castigos físicos; se fosse livre, seria
degradada. No século seguinte a pena de morte passou a valer tanto para o
vendedor da droga como para o marido da gestante, caso este ordenasse ou consentisse
no crime.
Na França, até a Revolução Francesa, os médicos e parteiras
que praticassem aborto, quando descobertos, eram condenados à forca. Com o
advento da Revolução Francesa esta pena foi reduzida para vinte anos de cadeia.
Depois
de quase dois mil anos de limitações impostas pelos poderes laicos, a estimativa
do número de abortos ilegais, sob condições precárias de higiene, por ano, no
mundo, é impressionante: entre 46 a 55 milhões e 78% realizados em países subdesenvolvidos
e em desenvolvimento, como no Brasil, causando milhares de mortes por infecção.
Sob esse forte impacto, noventa e sete países, inclusive a Itália, possuem leis
que permitem o aborto até três a quatro meses da gestação.
As
análises dos dados da Organização Mundial de Saúde permitem assegurar que a
diminuição da perigosa prática do aborto como método anticoncepcional caminha
ao lado da educação sexual obrigatória nas escolas de ensino médio e da
melhoria socioeconômica das populações.
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
terça-feira, 26 de agosto de 2014
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Inspiração
A inspiração é uma deficiência psicológica que ataca artistas amadores.
(Millôr Fernandes)
domingo, 24 de agosto de 2014
sábado, 23 de agosto de 2014
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Dabacuri – memória 3/5
Zemaria Pinto
mais um velório:
a família se reúne,
mesmo sem querer
Dia dos Pais –
a família reunida,
relembrando
crianças no jardim,
adultos na sala
– visitas
flores sobre o chão
espalhadas pelo vento
– Parque Tarumã
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Zemaria Pinto
O aborto entre o rigor do Didaqué e a teologia de Santo Agostinho
João
Bosco Botelho
A compreensão ético-teológica de Santo
Agostinho (354‑430) se afastou da de Tertuliano e se aproximou da de São
Jerônimo. Possivelmente para abrandar a interdição intransigente contra o
aborto do Didaqué, manual ético‑moral, escrito nos anos 100, a análise agostiniana
de modo genial reconstruiu a separação aristotélica etária dos fetos, o que
possibilitou amenizar a proibição do aborto em até cinco a seis semanas de gravidez:
“Pois uma vez que o grande problema da alma não pode ser decidido
apressadamente com julgamentos rápidos e não fundamentados, a LEI não prevê que
o ato seja considerado como homicídio, uma vez que não se pode falar de alma
viva num corpo privado de sensações, numa carne não formada e, portanto, ainda
não dotada de sentidos”.
Na Idade Média, a Igreja cristianizou
algumas comemorações oriundas do politeísmo. A da Natividade do Senhor, uma das
primeiras, no fim do século 4, iniciando os atributos sagrados às concepções. Seguida
da Natividade da Imaculada Conceição de Maria, celebrada no dia 8 de dezembro, e
a da Anunciação, ou festa da concepção de
Cristo, respectivamente nos séculos 6 e 7. Essas celebrações também
contribuíram para impor maior simbologia sagrada à gestação.
A dúvida sobre a data do início da
animação do feto, oriunda dos conceitos aristotélicos, retomada por Santo
Agostinho, atravessou os séculos. O magnífico São Tomás (1225‑1274), mais
próximo da teologia agostiniana, sustentou que só o aborto de um feto animado
era homicídio. A força da moralidade tomista para a estrutura dogmática da Igreja
influenciou decisivamente no afrouxamento da proibição oriunda do Didaqué.
O papa Gregório XIV, em parte apoiado nas
construções teóricas de São Jerônimo, Santo Agostinho e São Tomas de Aquino, revogou
a Bula de Xisto V (1588), que punia civil e canonicamente os que praticassem o
aborto em qualquer fase do feto.
O retorno da Igreja, no século 19, ao rigor do
Didaqué contra o aborto como método anticoncepcional, tem dois componentes inseparáveis:
um teológico e outro político. O primeiro, teológico, promovido pelo papa Pio
XI, acabou com a distinção multissecular de feto animado e não animado, oriundo
do aristotelismo. O segundo, político, possivelmente relacionado à industrialização
crescente do Ocidente junto à necessidade de mão de obra, já que historicamente
os abortos atados às complicações, inclusive à morte da grávida, alcançaram muito
mais as mulheres oriundas dos estratos sociais mais pobres.
No famoso discurso dirigido às obstetras,
em 1951, O Papa Pio XI se mostrou enfático ao atribuir vida intrauterina plena
antes do nascimento e condenar o aborto em todas as formas: “Todo ser humano, até
mesmo as criancinhas no seio materno, recebe o direito à vida diretamente de
Deus... Não há nenhum homem, nenhuma autoridade humana, nenhuma ciência, nenhuma
indicação médica, econômica, social, moral, que possa exibir título jurídico
válido para dispor direta e deliberadamente de uma vida humana inocente...visando
sua destruição”.
O documento conciliar Gaudium et Spes, considerado
progressista em muitos aspectos da ação social da Igreja, manteve a interdição
incondicional muito próxima do Ditaqué: “A vida, uma vez concebida, deve ser
tutelada com o máximo de cuidado e o aborto, como o infanticídio, são delitos
abomináveis”.
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
terça-feira, 19 de agosto de 2014
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Lábios que beijei 27
Zemaria Pinto
Ilsa
Ilsa, dos cabelos
falsamente louros e pele de abacate passado – dizia que tinha 16 anos, mas o
corpo ainda em formação denunciava 13 ou 14 –, era apenas uma entre centenas de
prostitutas adolescentes de uma cidade em ruínas: um ano após a desativação do
canteiro de obras que deu origem a Brasília, São Luís, sua principal
fornecedora, reduzira-se a um lugar de onde os homens desapareceram em busca de
um Eldorado qualquer, deixando as mulheres à mercê dos que se dispunham a pagar
por elas. A falta de voos diários me obrigava a uma permanência de cinco dias,
quando minha missão no banco não me exigia mais que três. Ao final do terceiro
dia, levaram-me a um bar, no centro da cidade, onde tocava uma melancólica
música latina, falando de traições e vinganças. Ela estava lá, entre tantas
outras meninas de aluguel. Não era a mais bonita ou a mais fornida, mas tinha
os olhos docemente blues. Levei-a
para o hotel, com receio de que não permitissem a sua entrada – fizeram de
conta que ela nem existia. Não desgrudamos mais um só instante. E logo deixei
de me incomodar com as possíveis críticas ao inusitado casal – o homem branco
maduro com a meninaputa pretinha. Foram dois dias de êxtase total: a menininha
fazia sexo como poucas mulheres que eu conhecera. Algumas horas antes de ir
para o aeroporto, depois de nova sessão de sexo arrasa-quarteirão, senti-me
estranhamente sonolento. Acordei no dia seguinte, sem dinheiro e sem o relógio
suíço, presente de Cláudia. Como era sábado, tive que ficar mais dois dias em
São Luís. Mas não procurei Ilsa. Feitas as contas, até que foi barato.
domingo, 17 de agosto de 2014
sábado, 16 de agosto de 2014
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
Dabacuri – memória 2/5
Zemaria Pinto
no Mercado Grande,
a cidade em passarela
– manhã de domingo
a cidade em passarela
– manhã de domingo
chocolate, vinho e carne –
depois da abstinência
a mesa farta
domingo de Páscoa:
a família ora em torno
de um cordeiro assado
morangos maduros
sobre a mesa de domingo
– aroma de ausência
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Dabacuri,
Haicais,
Zemaria Pinto
Sábado na Academia: Mário Ypiranga Monteiro Neto palestra sobre o Barão do Rio Branco
O palestrante
Mário
Ypiranga Monteiro Neto, ocupante da cadeira 10 da Academia Amazonense de
Letras, aos 42 anos, é o mais jovem titular daquela casa de cultura, mas
pode-se dizer que, 9 anos depois de sua posse, é dos mais experientes.
Sua
carreira jurídica começou em 1998, como promotor público. É também professor
universitário e cronista.
O homenageado
Destacou-se
na história do país como o responsável pela consolidação das fronteiras
brasileiras.
José Maria da Silva Paranhos Júnior, o
Barão do Rio Branco, é uma das figuras mais populares da história do Brasil:
nome de ruas e escolas em muitas cidades brasileiras, inclusive Manaus, ele foi
um diplomata, geógrafo e historiador, membro da Academia Brasileira de Letras.
O aborto entre os filósofos e os doutores da igreja
João
Bosco Botelho
Os
poderes laicos, em diferentes instâncias, ao longo de quatro mil anos, têm
adotado diversas atitudes frente ao aborto como método anticoncepcional. Por outro lado, tanto nos livros sagrados das
culturas politeístas, do primeiro milênio a.C., quanto no Antigo Testamento não
parece que a interrupção intencional da gravidez, salvo pelo risco de morte
materna, causasse tanta repulsa.
O
AT e o Novo Testamento, mesmo contendo referências específicas sobre a
organização familiar, não citam uma só vez de modo explícito qualquer tipo de
condenação ao aborto como método anticoncepcional. É como se o fato, que
incontestavelmente deveria ocorrer, não tivesse qualquer importância. A Bíblia
não condena nem aprova a interrupção da gravidez por meio do aborto provocado.
É
difícil aceitar que a ausência de citação no AT seria porque as sociedades judias
não conheciam essa forma de método anticoncepcional. É mencionada a pena do agressor
de mulher grávida, se a brutalidade resultasse em aborto. Contudo, o castigo
tem sentido indenizatório.
O
2º Livro de Samuel descreve o drama do rei Davi após engravidar a mulher do
general Urias. A gravidez próxima de ser descoberta pelo povo, que acreditava o
rei acima do pecado, o aborto não fora aventado. Como opção, o rei conquistador
determinou a morte do militar, na frente de combate, para que fosse possível casarem-se
sem macular as leis judaicas.
A mais antiga e clara referência cristã
antiabortiva está no Didaqué, manual
ético‑moral, escrito nos anos 100: "Não matarás criança por aborto, nem
criança já nascida".
O filósofo cristão Tertuliano (190‑197)
também adotou a posição antiabortiva absoluta: "É homicídio antecipar ou
impedir alguém de nascer. Pouco importa que se arranque a alma já nascida ou
que se faça desaparecer aquela que está ainda por nascer. É já um homem aquele
que virá".
São Jerônimo (331‑420), um dos quatro Doutores
da Igreja, na correspondência à Algásia, argumentou se antepondo à restrição
absoluta de Tertuliano: "Os sêmens se formam gradualmente no útero e não
se pode falar de homicídio antes que os elementos esparsos recebam a sua
aparência e seus membros". Contudo, em outra carta, o monge de Belém
considerou as mulheres que escondiam a infidelidade conjugal com o aborto como
culpadas de triplo crime: adultério, suicídio, assassinato dos filhos. Nesse
caso, parece que a restrição ao aborto como método anticoncepcional estaria
ligada à crítica à infidelidade.
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
Domingo à tarde
Inácio
Oliveira
Havia
aberto a casa, uma réstia de luz entrava pela janela. Era o fim de um domingo
como tantos outros. Passou o dedo pela tela luminosa do celular, dezenas de
contatos se somavam na tela colorida. Agrupados em ordem alfabética estava todo
um círculo de gente que ele conhecia, acessíveis a um toque. Bastaria
selecionar o nome da pessoa e pressionar o botão verde no canto inferior da
tela para que alguém, em algum lugar do mundo, recebesse uma chamada sua. Ficou
olhando para o celular na palma da mão, pensando em quantas coisas incríveis se
podia fazer com aquele pequeno aparelho. Séculos de conhecimento e tecnologia
na palma da sua mão. Se uma pessoa no século XVIII tomasse conhecimento de um
aparelho igual a esse pensaria nisso como fruto de um poderoso sortilégio. Mas
ele, sozinho em casa, olhando para a lista de contatos do seu celular não se
sente poderoso, ao contrário, de alguma forma tudo isso o oprime e ele se sente
ainda mais sozinho.
Observa
um a um os ícones no celular que o ligavam às redes sociais, o f
feliz e azulado do facebook, o pássaro verde do twitter, o whatsapp e todos os
outros aplicativos do celular. Havia um que encontrava os melhores restaurantes
e bares num raio de 20 km, mas ele não sente a menor vontade de ir a nenhum bar
ou restaurante. Olha novamente os contatos no celular, não há ninguém para quem
ele queira ligar, e se ligasse não saberia o que dizer.
Deixa
o celular sobre a mesa e fica olhando para ele. A tela esmaece e em seguida fica
escura. Ele fica olhando um tempo mais para o celular, gostaria que alguém
ligasse para ele, mesmo que fosse engano; principalmente que fosse engano. Por
fim ele desiste do celular e liga o computador. Rapidamente a tela do
computador fica azul e a janela do Windows se abre fazendo um barulhinho
alegre. Abre a página inicial do Google e fica olhando para as letras coloridas
do buscador, estranhamente não consegue pensar em nada que queira ver na
internet. Isso o deprime porque ele é como alguém que vai a um lugar onde tem tudo,
e mesmo assim não consegue se interessar por nada.
Acaba
acessando a página do facebook. Na página inicial do seu perfil ele pode ver
inúmeras publicações de outros usuários amigos seus. Fotos de animais de
estimação, de roupas, de viagem, de aniversários, frases espirituosas e cartões
animados que distinguem aqueles que as publicam e compartilham como pessoas
inteligentes e felizes. Logo essas publicações o aborrecem. Ele abre a página de
amigos, 857 amigos, não sabe se esse número é pouco ou muito para os padrões do
facebook, de qualquer maneira 857 amigos não são pouca coisa. Se ele reunisse
todos os seus amigos do facebook em um só lugar ocuparia uma área de 170 m2.
No entanto, a observar as primeiras pessoas que apareceram na página, nenhuma delas
pode se dizer de fato que é sua amiga. Pensou que talvez a palavra amigo nesse
contexto houvesse ganhado outro significado. No menu lateral da página ele pode
ver dezenas de pontinhos verdes, o que significa que outras pessoas neste
momento estão fazendo o mesmo que ele, diante de um computador ou no celular.
Sente pena dessas pessoas, sente pena de si mesmo.
No
topo da página, o facebook lhe pergunta “em que você está pensando?”. “Em que
eu estou pensando, essa é boa, em que estou pensando?”. Ele ri sozinho diante
do computador, um riso amargo. Anoitece, a sala onde ele ligou o computador
está completamente escura. Apenas a luz da tela reflete em seu rosto. Depois de
algum tempo diante do computador sua vista começa a cansar; ele desliga a
máquina e só então percebe que o sol já se pôs, há muito tempo.
domingo, 10 de agosto de 2014
sábado, 9 de agosto de 2014
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
Dabacuri – memória 1/5
Zemaria Pinto
manhã indo a pino,
curumim corre pra beira
– tchibum! some n’água
um cavalo manco
trota pela rua torta
– carga de carvão
pelos corredores,
a algazarra antecipa
o longo feriado
flores amarelas
desabrocham na manhã
– rua ornamentada
desabrocham na manhã
– rua ornamentada
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Sábado na Academia: Marilene Corrêa fala sobre Joaquim Nabuco
A AAL concederá certificado de participação, com carga horária de até 12 horas, que podem ser usadas como horas de extensão. |
A professora Marilene Corrêa possui
graduação em Serviço Social pela Universidade Federal do Amazonas (1975),
Mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
– PUC-SP (1989) e Doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de
Campinas – UNICAMP (1997), além de Pós-Doutoramento na Université de CAEN e na
UNESCO (2001-2002).
Atualmente, é Professora
Associada III da Universidade Federal do Amazonas e, desde setembro de 2012,
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Sociedade e
Cultura na Amazônia, do qual é professora, pesquisadora e orientadora. Atua
também no Mestrado em Sociologia da Universidade Federal do Amazonas; e no
Mestrado em Agricultura no Trópico Úmido, do INPA.
Foi presidente da AFIRSE (Associação Francofone
Internacional de Pesquisa Científica em Educação) – seção Brasileira, de
(2007-2011); Secretária de Estado de Ciência e Tecnologia do Amazonas (2003-2007);
Reitora da Universidade do Estado do Amazonas (maio de 2007 – março de 2010). Foi
membro do Conselho Nacional do Fundo Nacional do Meio Ambiente (2009-2011); É membro
por notório saber do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (MCT);
Membro do Conselho Diretor da Fundação Oswaldo Cruz; Membro do Conselho
Editorial da Jornal Ciência Hoje,
publicação da SBPC, desde janeiro de 2013; Membro Eleito do Conselho da SBPC,
Área A, Região Norte, período 2011-2015.
Tem vasta experiência
na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia Contemporânea, atuando
principalmente nos seguintes temas: Amazônia, políticas públicas, política
científica, teoria sociológica e desenvolvimento socioeconômico.
Autora de mais de 60
artigos publicados em periódicos, e quase duas dezenas de capítulos
independentes de livros publicados, Marilene Corrêa é autora de 10 livros,
entre os quais se destacam: Metamorfoses
da Amazônia (2000/2013); O paiz do
Amazonas (2012 – 3ª ed.); Imigração
Japonesa na Amazônia: contribuição na Agricultura e vínculo com o
desenvolvimento (coorganizadora, 2011); Estudos
da Amazônia Contemporânea: dimensões da globalização (em parceria com
Marcílio de Freitas, 2000) e Diálogos com
a Amazônia (também com MF, mais Marcus Barros, 2010).
Membro também do IGHA, Marilene
Corrêa sucede Áderson Dutra, desde setembro de 2011, na cadeira n° 24 da
Academia Amazonense de Letras, cujo patrono é Joaquim Nabuco.
Linguagens, prêmios e castigos
João Bosco Botelho
A dificuldade para moldar o pensamento
coletivo, de acordo com a conveniência do poder, reside na impossibilidade de encontrar
duas estruturas biológicas exatamente iguais, incluindo duas pessoas que pensem
semelhantes. Sob essa barreira, as estruturas de poder se desdobram para
engendrar mecanismos sociais e políticos de convencimento, na maior parte das
vezes esmagando os limites éticos, sugerindo que são competentes para atenuar
as dores pessoais e, simultaneamente, aumentar o prazer. Nesse sentido, por
meio das linguagens de diferentes matizes, o poder que oferece pão e circo está
claramente inserido nesse pressuposto teórico.
Apesar dos avanços na genética e nas imagens
do corpo, continuam os entraves ao acesso do cérebro humano. Contudo, os casos
clínicos acidentais são capazes de levar aos grandes progressos. Um desses, na
Universidade Western, Ontário, refez conceitos em torno da consciência não
manifesta (ou aparente descompasso entre o comportamento manifesto e a memória)
com uma doente com dano cerebral por intoxicação de monóxido de carbono. Quando
ela se recuperou, era incapaz de identificar a xícara de chá, todavia os
movimentos para segurá-la e levá‑la à boca eram normais.
Esse tipo de comportamento alterado reforça a
existência de, pelo menos, duas formas diversas do reconhecimento visual: uma
dependente da percepção e a outra das funções motoras.
O outro relato significativo, identificado pelo
suíço Édouard
Claparède (1873-1940), um dos mais influentes da escola da psicologia funcionalista, descreveu a paciente portadora de distúrbio
para assimilar fatos recentes. Na consulta inicial, ao cumprimentar o
entrevistador, ela teve a mão levemente furada de modo intencional por um
alfinete. No dia seguinte, não reconheceu ninguém, porém se recusou a repetir o
gesto que provocou dor.
Esse fato sugere natureza física ao
conhecimento historicamente acumulado em torno do controle social girando em
pontos antagônicos: oferecer o prazer pela obediência e a dor como castigo à
indisciplina. Como chamamento, as linguagens laica e religiosa oferecem:
promessa de prolongar a vida, trabalho ameno, comida farta, maior liberdade sexual,
espaço sagrado (templo) ou profano (partido político, tribunal) para defender a
causa comum e julgar os resistentes, aumento da proteção individual e coletiva
e melhoria das situações temidas, causadoras de desconforto: a fome e o frio.
Algo muito poderoso se passou na intimidade
da memória acumulada na espécie humana. Apesar de ainda não ser possível ver as
ideias (elétrons também não são visíveis, mas existem), resta o êxtase do
quanto fascinam os homens e as mulheres alegorias simbólicas que ligam o
passado remoto ao presente vivido: prazer aos que obedecem e dor aos
desobedientes!
As linguagens religiosas e laicas
consolidaram nas mentalidades o processo pendular entre dor e prazer como marcos
do processo humano de sobrevivência pessoal e coletivo.
As linguagens divinas mais poderosas porque
convencem ser capazes de impor a dor tanto durante a vida quanto após a morte.
A dádiva e o castigo divinos não ficam restritos à vida; se prolongam na morte.
Dependendo da obediência, o renascimento será confortável ou aflitivo. As
linguagens laicas repetem sem cessar os anseios genéticos que possibilitaram a
sobrevivência humana: posse e controle do território para garantir o alimento,
em todas as variantes metafóricas, e maior liberdade sexual.
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
terça-feira, 5 de agosto de 2014
Parente, estamos num beco sem saída
David Almeida
Em que lugar vamos
parar, “parentada” com esse ritual de violência generalizada? Todo dia ao ler
um jornal, ligar uma televisão, rádio, ou ter contato com qualquer meio de
comunicação, a violência está estampada de todas as formas em todos os segmentos
da sociedade, fomentada pela miséria, espelhada e espalhada pela má
distribuição de renda, causando a famigerada desigualdade social, distanciando
cada vez mais o cidadão de sua cidadania, e a perda total da sua identidade.
Os políticos, nossos
representantes “legais” – quase sem exceção –, continuam com o mesmo discurso:
que vai tudo bem; o novo projeto de segurança está dando certo; mais escolas
foram construídas; hospitais funcionando a todo vapor; o interior está mais
assistido do que antes, é papo para convencer, emocionar o mais duro coração de
pedra. Mas, na realidade continua tudo como era antes. As coisas vão se
acumulando, só mudando de embalagem, para enganar os “eleitrouxas”, que tem as
bênçãos do “Deus” do candidato “Fulano de Tal”. Estamos acuados, Parente!
O que temos que fazer é
acordar, olhar em nossa volta para ter a consciência do que somos e
representamos pra eles, porque nós os elegemos como nossos fiéis
representantes. Não precisamos estar cercados por tudo o quanto é amargo e
negro da vida, neste Planeta ainda Azul. Porque ainda há esperança de mudarmos
tudo a partir de nós mesmos, para não sermos enganados mais.
Só eles têm o direito
de viver bem neste País, são os acumuladores de riquezas, que
inescrupulosamente, subtraem dos cofres públicos. Tendo em seu “Deus” a
fortaleza maior, estão imunes a qualquer atropelo e constroem os seus Paraísos
aqui mesmo, Parente!
O impressionante é que,
quanto mais suas fortunas crescem, mais seu “Deus” os protegem, e, o povo, mais
empobrecido se agiganta na sua fé; se agarra, se amarra, seguindo, se alongando
nas procissões, nas caminhadas sob orações, trôpego, entorpecido, à espera de
um milagre, por menor que seja, para amenizar seu sofrimento. Estamos
encurralados, Parente!
– Parente, eu sei,
estamos num beco sem saída.
– Estamos sim, Parente,
e só existe uma saída: pra cima.
– Mas, Parente, como
vamos sair por cima, se não temos asas?
– Aí é que está,
Parente... Quem sabe com muita reza, num acontece um milagrezinho e a gente
cria asas? Afinal de contas, dizem que Deus é brasileiro...
– É mesmo, Parente... Olha,
formiga que é formiga, que nem sabe rezar, cria asas, imagine a gente.
– Mas, Parente, a gente
de asas vai ficar que nem duas borboletas, num é? A nossa situação é difícil;
se correr, o bicho pega, e se ficar, o bicho come. Acho melhor esperar o bicho,
e esquecer esse negócio de asas, né?
– É, vamos torcer,
Parente, quem sabe aquele balão que trouxe uma vez o boi Garantido pra dentro
da arena num aparece e tira a gente dessa enrascada. Eu sou Garantido, e tu?
– Sou Caprichoso,
Parente, mas eu acho que nessa condição vou virar a casaca.
Portanto, “parentada”,
vamos virar a casaca, a mesa, a urna, o que for preciso: sem medo, porque a
força está nas nossas mãos. Só assim poderemos vislumbrar um futuro melhor para
o beco sem saída.
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Lábios que beijei 26
Zemaria Pinto
Sara
Uma negra baiana sob o
sol amazônico, Sara cheirava a chuva, terra molhada, folha de mato. Pura
entrega, Sara nada me pedia além de carinho. E neste ponto era muito exigente.
Clandestinos, não tínhamos lugar certo para nos amar, mas sempre terminávamos
no quarto do segundo piso de sua casa – bêbados. Mais velha que eu, Sara
transbordava sensualidade, com um recheio de vasta vivência. Uma ocasião, duas
da manhã, entramos em uma casa de strip
no centro da cidade. Pedimos dois uísques e ficamos nos divertindo com o
estranhamento causado: a mulherada amuada, pela concorrência desleal; os homens
me fulminando de inveja. Começamos a nos abraçar e beijar, até que o gerente ou
algo parecido nos chamou a atenção, dizendo que aquele comportamento não era
adequado para aquela casa. E Sara: – mas isto não é um puteiro?! De volta à
Bahia, trocamos promessas de um breve reencontro que jamais aconteceu. Quando
casei pela segunda vez, recebi uma cartinha bem-humorada e carinhosa, desejando-me
felicidades. E nunca mais soube da negra Sara.
domingo, 3 de agosto de 2014
sábado, 2 de agosto de 2014
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