Instituto de Educação do Amazonas. Notem os paralelepípedos, a ausência de automóveis e a praça deserta de assaltantes e assaltados. Isso faz muito tempo... |
domingo, 30 de junho de 2013
Manaus, amor e memória CXIV
sábado, 29 de junho de 2013
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Dabacuri – amazônica 10/13
Zemaria Pinto
mangas pelo chão –
crianças de um lado a outro,
entre moscas e porcos
pimenta, limão,
isca de pirarucu
– e o rio nos meus olhos
ianomami canta
“falemos de coisas boas”
– raízes caboclas
tarde em calmaria:
onde as águas mais se encrespam
se encontra um cardume
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A poesia é necessária?,
Dabacuri,
Haicais,
Zemaria Pinto
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Medicina de Hipócrates
João Bosco Botelho
Hipócrates , segundo Sorano
de Éfeso, nasceu na ilha de Cós, em 460 a.C. Filho do médico Heráclides,
aprendeu os segredos da prática médica com o pai e nas viagens a Tessália, Trácia,
Líbia e Egito.
O sucesso da Escola de
Medicina de Cós, onde Hipócrates e seus seguidores estruturaram as bases da
Medicina grega, responsável pela primeira teoria para explicar a saúde e a doença
– a teoria dos Quatro Humores –, representa, sob a construção do filósofo
francês Gastón Bachelard, o primeiro corte epistemológico da Medicina. Nessa
fase, no século 4 a.C., práticas médicas iniciaram o processo de separação das
crenças e ideias religiosas. A cura deixou de ser um atributo exclusivo dos
deuses protetores ou vingadores para ser explicada pela Medicina, onde era
possível e preferível que o homem agisse sobre o outro homem doente, para lutar
contra as doenças.
Dessa forma, é possível
estabelecer quatro conceitos estruturantes na Medicina hipocrática:
– Conhecer o corpo humano e
o ambiente: só é possível entender a saúde e a doença se o homem for estudado
em conjunto com o ambiente onde vive;
– A doença seria consequência
de agressão ao equilíbrio do corpo: as causas e as consequências das doenças
devem ser entendidas em conjunto com as reações naturais do corpo frente à
agressão;
– A saúde seria obtida por
meio do equilíbrio entre os Quatro Humores (sangue, fleuma, bile amarela e bile
negra), que correspondem aos Quatro Elementos de Empédocles (água, terra, ar e
fogo).
As propostas terapêuticas,
também idealizadas em torno da teoria dos Quatro Humores, comportavam
orientações diferentes às doenças agudas e crônicas, e nasceram como consequência
natural dessa fiel organização do exame clínico. Ofereciam cinco vertentes que
poderiam ou não ser utilizadas simultaneamente:
– Regime alimentar: pleno de
regras na quantidade e qualidade dos alimentos;
– Fármacos: compreendiam
remédios tanto de origem mineral quanto de vegetais;
– Cirurgia: procedimentos
cirúrgicos foram descritos com muita precisão, entre outros: excisão de
tumores, abscessos, fístulas anais e hemorróidas.
– O reequilíbrio dos humores
seria obtido por meio das sangrias, vomitórios, cataplasmas, diurese forçada,
diarreia e sudorese.
Esses conceitos hipocráticos
que continham tanta coerência, especialmente o cuidado permanente com os
doentes, procurando sempre a cura, atravessaram como dogmas quase vinte séculos
e chegaram à Coroa portuguesa: durante os vinte e três dias de febre e
convulsão que antecederam a morte da Princesa Paula Mariana, filha do primeiro
imperador do Brasil, foi submetida à chupada de quarenta sanguessugas, onze
vesicatórios, oito cataplasmas e sete clisteres, prescritos pelos dez médicos
da corte, que se revezavam à cabeceira real.
É claro que os conceitos da
teoria dos Quatro Humores foram substituídos, mas mesmo com toda a tecnologia
que ampara as práticas médicas, no século 21, o conceito fundamental da
Medicina hipocrática – jamais submeter o doente a qualquer ato capaz de
provocar malefício – continua atual e indispensável para que os médicos exerçam
com dignidade e competência a Medicina.
quarta-feira, 26 de junho de 2013
terça-feira, 25 de junho de 2013
I Concurso Livro de Graça na Praça – MANAUS (Edital)
I Concurso Livro de Graça na
Praça – MANAUS
EDITAL Nº 01/2013
1. DO OBJETO
1.1. Constitui objeto do
presente Edital selecionar três contos, de três autores distintos, que serão
incluídos na edição do I Livro de Graça na Praça/MANAUS, juntamente com os
trabalhos de autores convidados.
1.2. O livro publicado será
distribuído gratuitamente, em praça pública, com a presença dos autores
convidados e vencedores do concurso, em Manaus.
2. DO TEMA
2.1. Poderão concorrer
pessoas de todas as idades, brasileiros natos ou
naturalizados, com um conto que
não tenha sido publicado por meio impresso ou eletrônico até o dia 15/07/13,
escrito majoritariamente em língua portuguesa e tomando como base o seguinte
tema:
2.1.1. “Manaus”: obra
literária (conto) sobre a cidade de Manaus, ou utilizando o termo “Manaus” como
assunto, personagem, ambientação, referência ou inspiração principal para o
conto.
3. DOS PRAZOS E FORMA DE
INSCRIÇÃO
3.1. As inscrições serão
feitas mediante envio por email, do dia 15/06 até o dia 15/07 de 2013, do texto
original, e do formulário próprio devidamente preenchido do anexo I deste
edital, DADOS DO(A) AUTOR(A), todos em arquivos word e anexados à mensagem,
para o endereço do I Livro de Graça na Praça/MANAUS, livrodegracanapraca.manaus@gmail.com.
4. DA INSCRIÇÃO E
HOMOLOGAÇÃO
4.1. Para efeito de
inscrição, os concorrentes deverão enviar, do dia 15/06 ao dia 15/07 de 2013,
email para o endereço livrodegracanapraca.manaus@gmail.com, em que deverão constar no campo assunto os dizeres “I CONCURSO
LIVRO DE GRAÇA NA PRAÇA – MANAUS”, anexando os seguintes documentos:
a) o conto original em
arquivo word, formato A4, com no mínimo 5.000 e, no máximo, 10.000 caracteres
com espaço; no cabeçalho devem constar o título do conto e o nome e sobrenome
do autor, sendo permitido o uso de nome artístico ou literário, tal como deverá
constar nos créditos da obra;
b) formulário próprio
preenchido com os DADOS DO(A) AUTOR(A);
4.1.1 É permitido, mas não
obrigatório, o uso de pseudônimo. O autor deverá indicar o nome que deseja
constar na citação da obra.
4.2. Cada candidato poderá
concorrer com apenas um conto para o tema proposto.
4.3. Somente serão
homologados os candidatos que preencherem os requisitos do item 2.1 deste
edital e cumprirem as exigências dos itens 3.1, 4.1 e 4.2 do referido edital,
ficando os demais excluídos do concurso.
5. DA AVALIAÇÃO
5.1. Os originais serão
avaliados por uma Comissão Julgadora, composta por 3 (três) membros indicados
pela Coordenação do projeto Livro de Graça na Praça.
5.2. O trabalho de julgamento
se dará entre os dias 15 e 20 de julho de 2013, sendo o resultado divulgado no
site do I Livro de Graça na Praça/MANAUS, no endereço http://manaus.lgpbrasil.com, a partir
do dia 20/07/13.
5.3. A Comissão Julgadora
guiará seu trabalho a partir dos seguintes critérios: atendimento ao tema
proposto, clareza do texto e originalidade.
5.3. A Comissão Julgadora
terá absoluta liberdade de avaliação, não cabendo nenhum tipo de recurso contra
o resultado que vier a proclamar.
6. DA PREMIAÇÃO
6.1. Consistirá da premiação
para cada um dos autores dos contos vencedores:
a) a publicação do conto na
edição do I Livro de Graça na Praça/MANAUS;
b) convite para a
participação no evento na condição de autor, sem nenhum
tipo de ônus para a
coordenação do projeto Livro de Graça na Praça;
c) 5 (cinco) exemplares da
obra publicada.
6.2. O livro publicado será
distribuído gratuitamente, em praça pública, com a presença dos autores
convidados e vencedores do concurso, em setembro, em Manaus.
6.2.1 O projeto Livro de
Graça na Praça não cobre quaisquer despesas com deslocamento, estadia ou
alimentação dos vencedores do concurso.
6.3. Caso seu conto seja
selecionado, o(a) autor(a) deverá enviar por correio o formulário II, TERMO DE
CESSÃO TEMPORÁRIA DE DIREITOS AUTORAIS impresso, devidamente preenchido e
assinado, para o endereço físico que será disponibilizado no site do concurso, http://manaus.lgpbrasil.com, a partir
do dia 20/07/13.
6.3.1. Se o autor for menor
de 18 anos, um representante legal do autor deverá assinar a autorização para a
cessão dos direitos, nos termos da lei.
7. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
7.1. A inscrição do
concorrente implica na prévia e integral concordância com as normas do presente
Edital.
7.2. Os casos omissos neste
edital serão decididos pela Coordenação do projeto Livro de Graça na Praça.
Belo Horizonte, 5 de junho de 2013
Para obter a íntegra do Edital, incluindo seus anexos, clique aqui.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
Aparições de Lola – 1/5
Inácio
Oliveira
I
Eu estava atrasado e cheguei quase
correndo, mas Lola sorriu pra mim e disse. “Eu fico feliz quando te vejo.” Foi
quando Lola disse isso que me apaixonei por ela novamente. Uma mulher que sabe
dizer a palavra certa na hora certa, que tem a forma precisa de olhar e ser
olhada, que sabe jogar o jogo; que, enfim, sabe iludir: uma mulher assim pode
conquistar qualquer homem; porque nós, os homens, vivemos disso, de ilusões. Foi
nesse dia então que eu me apaixonei por Lola outra vez, mas eu ainda não sabia
disso. Havia chovido muito, formavam-se poças d’água nas ruas e eu estava
ensopado da água da chuva. Lola me deu uma toalha sua para que eu me enxugasse;
na toalha estava o exato cheiro do seu corpo depois do banho. Se eu pudesse
teria roubado aquela toalha para mim.
Estávamos sós no apartamento. Minhas
mãos que conheciam tantos segredos paravam indecisas no ar. Lola percebeu,
divertida, meu nervosismo. Tomou minhas mãos entre as suas e pediu. “Conta uma
história.” “Uma história?” “Sim, uma história. Você não é escritor? Me conta uma
história”. “Um homem e uma mulher estão sozinhos num apartamento. A primeira
vez que se viram foi há muito, muito tempo. Ele nunca a esqueceu. Na sua casa
ele pintou num quadro o rosto disforme de uma mulher que se ela olhasse por um
tempo e de uma certa distância veria que essa mulher se parece com ela. Nas
cores fortes e pinceladas brutas ela perceberia ali um certo desejo sublimado.
Nas grandes noites de insônia esse homem fica na sala a observar o quadro, a
luz da rua ilumina o rosto da mulher que por um instante lhe parece sorrir, ele
não entende esse sorriso. Agora estão um diante do outro e ela sorri aquele
mesmo sorriso das suas noites insones. Neste momento ele sabe que não hesitaria
em sacrificar sua vida para ver essa mulher nua e tocar o seu corpo. Pensa na
suavidade da sua pele, no seu cheiro, nas formas do seu corpo por debaixo das
roupas. Sente vontade de passar a língua nos lóbulos da sua orelha. Ela conhece
esse desejo que já viu refletido em tantos homens. Sabe que pode fazer dele o
que bem entender, pode fazê-lo seu amante, seu servo, seu escravo. O mundo
parece ter parado; por uma janela entra a última luz da tarde. Há um alinhamento
improvável dos astros e das estrelas, milhões de eventos insignificantes tiveram
que acontecer para que esse momento fosse possível. Eles não têm muito tempo,
então se beijam com volúpia e desespero como se disso dependesse suas
sobrevivências.” Lola então ri e diz. “Que bonito, essa história aconteceu?”
“Não, mas vai acontecer.” Então eu começo a desabotoar a blusa de Lola que se
oferece às minhas mãos e a luz opaca da tarde entra pela janela.
Muitos dias depois se eu fechasse os
olhos ainda poderia ver o corpo de Lola se oferecendo ao meu, a auréola cor de
rosa de seus mamilos, o tom indeciso de branco e moreno da sua pele. Eu nunca
mais esqueceria uma certa maneira sua de estar entregue. Eu estava pintando uma
série de quadros, mas todos eles pareciam ter tido ela como modelo, escrevia
poemas e era como se tudo que eu escrevesse fosse uma mensagem para Lola,
palavras inúteis que ela nunca leria.
II
A primeira vez que eu vi Lola nós
éramos ainda crianças. Talvez eu fosse um pouco mais velho que ela. Ela e o pai
haviam se mudado para nossa rua naquele ano, nada sabíamos sobre aquela
estranha família de duas pessoas. Lola estava sentada nos degraus da escada. Parecia
contrariada com alguma coisa, seu cabelo vermelho incendiava-se na luz do sol,
sorriu quando me viu olhando para ela. Nunca ninguém saberá o quanto eu gostei
daquela menina ali sentada, tão pequenina, tão cheia de si. À noite eu sonhava
com Lola e pela manhã acordava pensando nela. A primeira paixão de homem é
sempre a mais absurda, a mais estúpida, a mais ridícula e a única verdadeira,
as outras que virão depois são meros resquícios dessa primeira paixão.
Um dia roubei um broche da caixa de
joias da minha mãe, um broche muito bonito que havia sido da minha avó. Sempre
que ia pra escola eu encontrava Lola no caminho, nunca tinha coragem de lhe
falar. Naquele dia parei minha bicicleta na sua frente e lhe estendi a mão com
o broche. Seus olhos brilharam quando viram o objeto. Eu não dizia nada, ela
também não. Tomou o broche nas mãos e ficou observando, encantada. Aproximou-se
de mim e me beijou no rosto, o beijo estalou úmido e quente no meu rosto
vermelho. Ainda hoje há certos dias em que eu posso sentir esse beijo, guardei
essa lembrança como um amuleto contra as tristezas desta vida.
O pai de Lola era um homem obscuro que
nos inspirava certo temor. A casa onde eles viviam permanecia sempre de janelas
fechadas, raramente os víamos na rua. Logo os vizinhos começaram a comentar
sobre aquele homem que não falava com ninguém. Alguns diziam que ele era um
assassino profissional, outros que era um traficante foragido, outros diziam
que ele havia matado a mãe de Lola e fugido com a menina, outros ainda diziam
que Lola não era sua filha e que ele a havia sequestrado. Eu só queria estar
perto de Lola, não me importava que o seu pai fosse um assassino cruel que
cortaria minha cabeça e arrancaria minhas vísceras. Só muitos anos depois
descobri que o pai de Lola na verdade era um homem bom que havia feito coisas
ruins, por isso coisas ruins aconteciam com ele. E porque ele era o pai de Lola
e a amava coisas ruins também aconteciam com ela.
Passei o ano todo criando coragem para
falar com Lola, naquele dia eu havia reunido todas as minhas forças e estava
decido a conversar com ela. O céu estava nublado e ameaçava chover a qualquer
momento, mas não choveu. Lola não apareceu na escola e sua casa estava fechada.
Havia dois carros rondando por perto, ficaram lá a manhã inteira, depois foram
embora, nem o pai nem Lola apareceram. Depois soubemos que eles haviam ido
embora no meio da noite, eles nunca mais voltariam para o bairro. Eu não sabia
nada sobre Lola, por isso inventei várias histórias suas para mim. Em uma delas
Lola e eu fugíamos para um lugar distante e exótico, cheio de aventuras, onde
havia camelos e tapetes mágicos, como no livro das mil e uma noites. Eu lia
esses livros e imaginava que éramos nós dois que vivíamos aquelas histórias. O
fim daquele ano foi triste. Eu era só uma criança e mal conhecia Lola, mas
depois que ela foi embora eu fiquei achando que o mundo era um lugar ruim e a
vida uma coisa sem sentido.
domingo, 23 de junho de 2013
Manaus, amor e memória CXIII
Jorge Amado, em visita à terra. Da esquerda para a direita: Max Carphentier, José Coelho Maciel, Ernesto Penafort, Van Pereira e Aluísio Sampaio. |
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sábado, 22 de junho de 2013
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Dabacuri – amazônica 9/13
Zemaria Pinto
cruzando o rio,
borboletas amarelas
– efêmera aventura
sob a chuva fina
adivinho Parintins
– ah, meu boi-bumbá
mochila às costas,
um barco e nenhum destino
– pescador de estórias
à beira da praia,
o pescador tece a rede
– desejos de rio
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quinta-feira, 20 de junho de 2013
Corpo, saúde e doença na filosofia grega II
João Bosco Botelho
Na Grécia, entre os
séculos V e IV, existiu complexa interdependência entre os conceitos produzidos
pelos filósofos não médicos e pelos médicos. Algumas vezes, estavam em acordo;
em outras, em completa discordância.
O autor desconhecido do
livro Da Natureza Antiga discorda do
dogmatismo a priori da filosofia de
que todas as doenças são formadas pelo excesso de calor, frio, secura ou umidade.
No Corpus Hipocraticum (cap. XIII), o
autor argumenta sobre o mesmo assunto: 1. Que no caso de um doente afetado por
uma alimentação cozida, não é possível dizer o que foi eliminado da dieta, se o
calor, se o frio, se a umidade ou a secura; 2. Que não existe um quente
absoluto que possa ser misturado para curar o frio; uma pessoa tem de tomar água
quente ou vinho quente ou leite quente e a água, o vinho e o leite têm propriedades
diferentes que serão mais eficazes do que o calor.
Apesar da compreensão entre
médicos e filósofos de que a saúde era o produto do equilíbrio de várias forças
no organismo, existiu outra corrente de pensamento, provavelmente liderada por
Políbio, genro de Hipócrates, que sob a influência da ideia dos quatro
elementos da Empédocles – fogo, ar, água e a terra – e da noção do equilíbrio
justo de Anaximandro, produziu a teoria dos quatro humores fundamentais – sanguíneo,
linfático, bilioso amarelo e bilioso
negro – para explicar a causa das
doenças.
A teoria dos quatro
humores, atribuída a Políbio, está no livro Da
Natureza Antiga: “O corpo humano contém sangue, fleuma, bílis amarela e
bílis negra; que estes elementos constituem a natureza do corpo e são
responsáveis pelas dores que se sente e pela saúde que se goza. A saúde atinge
o seu máximo quando estas coisas estão na devida proporção em relação uma às outras,
no que toca à sua composição, força e volume além de estarem devidamente misturadas.
A dor surge quando há excesso ou falta de uma destas coisas, ou quando uma
delas se isola no corpo em vez de estar misturada com as outras.”
Essa teoria norteou os
rumos da Medicina e transpassou o tempo e dominou o diagnóstico e a terapêutica
por quase vinte séculos.
terça-feira, 18 de junho de 2013
domingo, 16 de junho de 2013
sábado, 15 de junho de 2013
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Dabacuri – amazônica 8/13
verde verde verde
ora mais claro, ora escuro
verde verde, sempre
vida à beira-rio:
igreja, escola, seis casas
– o mais é imenso
dando vez à chuva
o sol causticante sai
– verão no Madeira
de margem a margem,
a tarde tem uma cor
– borboletas amarelas
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Zemaria Pinto
Corpo, saúde e doença na filosofia grega I
João
Bosco Botelho
A
Medicina apareceu com clareza na estrutura
do pensamento grego, no final do século
V e nos séculos
IV e III a.C., de forma tão
bem sedimentada que
influenciou marcadamente os caminhos
tomados pela Medicina ocidental nos
vinte séculos seguintes .
O
mais notável desenvolvimento da Medicina grega ocorreu após as guerras médicas (490-479). A partir
dessa época, o médico aparece como intermediário
na formação social
e na edificação do pensamento
coletivo , superando as suas funções
específicas na busca da saúde .
Empédocles,
médico e filósofo do século 5, utilizou a clepsidra para ilustrar a sua teoria
da respiração, segundo a qual o corpo transpira através dos poros espalhados
por toda a superfície da pele. A relação da Medicina com a filosofia grega está
inserida nas concepções jônicas da natureza.
A
influência jônica foi tão grande que toda a literatura médica dessa época que
chegou até nós foi registrada em prosa jônica, apesar de ter sido escrita em Cós,
ilha de população e língua dórica. Este fato só pode ser explicado pelo avanço
da cultura e da ciência jônica naquele tempo.
A
importância social do médico como agente na busca da saúde já era reconhecido
desde Homero: “O médico vale por muitos homens”. Porém, a consolidação dessa
posição foi alcançada a partir da busca da relação do corpo com a natureza,
referida de diferentes modos por Platão (Prot. 313 D,Gorg. 450 A, 517 E,
Rep.298 A e Timeu 78B), onde o médico é fixado em posição social definida.
Os
vínculos da Medicina com a natureza, que os gregos tão bem assimilaram, atingia
o social. Essa afirmação pode ser comprovada em Sólon, que descreveu a conexão
das doenças com o todo social. Baseado nesse pressuposto, Sólon fundamentou
parte do seu pensamento político afirmando que as crises políticas interferiram
na qualidade da saúde coletiva.
Os
elos entre o binômio saúde-doença com a natureza estão nitidamente presentes na
introdução do livro Dos Ventos, Águas e
Religiões, de autor desconhecido, do século V a.C.: “Quem quiser aprender
bem a arte de médico deve proceder assim: em primeiro lugar deve ter presente
as estações do ano e os seus efeitos, pois nem todas são iguais mas diferem
radicalmente quanto a sua essência especifica e quanto as suas mudanças.”
O
ponto fundamental da Medicina grega, dos séculos 5 e 4, foi marcado pela união entre a filosofia
jônica e o conceito de saúde e de doença. Começou, nessa época, a florescer a
Escola de Cós, que congregou médicos e filósofos, sob a influência de
Hipócrates, em quem Platão, no início do século IV, reconheceu a personificação
da Medicina. Hipócrates foi realmente respeitado como símbolo de uma Medicina
corretamente aplicada, como está claro nas conhecidas passagens de Platão
(Prot.313 B-C e Fedro 270 C) e de Aristóteles (Pol. VII, 1326).
O
aparecimento da literatura médica foi importante no desenvolvimento e aceitação
da importância da Medicina nas relações sociais. A interpretação do papel
social do médico também registrada por Platão (Leis, 857 D e 720 C–D), onde
aborda a diferença da Medicina praticada nos escravos e nos homens livres.
Platão faz a descrição de modo satírica de como os médicos dos escravos correm
de um paciente para outro e dão instruções rápidas e sem falar com os doentes e
os compara com os médicos dos homens livres.
O
interesse pelo saber das matérias médicas, presentes no homem culto grego, pode
ser compreendido na figura do jovem Eutidemo, que Xenofonte descreveu como grande entendido da Medicina
sem ser médico, e do historiador Tulcídides, que relatou com incrível minúcia o
quadro médico social da peste que assolou Atenas entre os anos 430 e 427 a.C.
Aristóteles
vai longe e chega a distinguir na sua obra Política
I, II, 1282, o médico do homem culto em Medicina, estabelecendo o espaço que
cada um pode ocupar nas suas funções especificas.
Dessa
forma, pelo menos entre os cidadãos da polis, as práticas médicas foram
inseridas no cotidiano público.
terça-feira, 11 de junho de 2013
domingo, 9 de junho de 2013
Platônica IX
Hiram
Lopes
Com
o Bacellar
Algumas
vezes antes de dormir costumo exercitar a habilidade de encontrar com os
mortos, na imaginação, e buscar neles uma opinião isenta dos fatos que ocorrem
entre os vivos, pois imagino que estão libertos das paixões e tenham adquirido
mais sabedoria. Nesses encontros, os mortos não me aparecem translúcidos, como
os fantasmas da ficção, e nem flutuam, como balões de gás. Surgem com se fossem
de carne e osso, comportando-se como se fossem vivos. Para que isto ocorra é
preciso que o encontro se dê em locais onde eu não encontre nenhum conhecido
meu, pois é necessário que o morto também seja visto por outros para que eu não
pareça louco, conversando sozinho. Não sei exatamente porque, mas a presença de
um conhecido não favorece esses encontros e então é fundamental que sejam
ambientados em outras cidades.
Sendo
assim, outro dia estive em Santiago do Chile e fui me encontrar com o Luiz
Bacellar, o poeta. Preferi Santiago porque já estive lá uma vez e parecia a
cidade apropriada para encontrar um poeta. Poderia ser também em Buenos Aires
ou então em Paris, mas Santiago foi a escolhida por conta da lembrança do
magnífico Andes e a emoção de ter visto pela primeira vez aquela cadeia de
montanhas, vista inédita para um habitante da planície amazônica. Mas antes de
relatar esse encontro eu gostaria registrar dois encontros que tive antes, a
sós, com o Bacellar.
Conheci
o Bacellar através do Cláudio Fonseca. Os dois eram muito amigos e o relacionamento
parecia ser de pai e filho, mestre e pupilo ou de colegas de arte mesmo.
Algumas poucas vezes almoçamos os três juntos e eu pouco falava e mais
escutava. O Bacellar não me dava muita atenção, creio que me considerava uma
espécie de satélite de outro satélite, mas eu não me importava, bastava-me usufruir
da presença de um grande artista. Creio que nem soubesse meu nome, mas eu não
ligava e nem dispensava esses convites.
Em
um domingo pela manhã fui ao teatro assistir a um concerto com músicas de Ravel
e Debussy. Fui só, a família estava viajando, e cheguei cedo. Logo chegou
também o Bacellar, ele morava perto do teatro, quando me viu disse: “Vou ficar
aqui contigo até meus amigos chegarem”, naquele tom que só os que não o admiram
achariam que era arrogância. Foi um honra. Sentou-se ao meu lado, eu estava na
primeira cadeira do corredor.
Aconteceu
que o concerto começou e os amigos dele não chegaram. Fiquei contente com a
companhia e, à medida que as músicas iam sendo executadas, ele ilustrava cada
uma delas. A primeira foi Pavane pour une
infante défunte, uma música delicada, com uma cadência lenta e envolvente.
“Pavane era uma dança praticada nas cortes da Europa”, explicou, “dançada em
movimentos lentos e elegantes”. Apreciei os comentários e me achava com sorte
de ter um comentarista tão célebre e culto ao meu lado. Ele ia explicando todos
os movimentos, os papéis dos instrumentos solo e os timbres dos metais, e o
fazia em voz alta, sem se preocupar com os vizinhos. Comecei a ficar
constrangido com o incômodo que com certeza causávamos aos outros que estavam
ao nosso redor. Assim a coisa foi andando até que a orquestra começou a tocar o
Bolero! A música começa com um
flautim e uma caixa que acompanha toda a sua execução. Ele explicou: “Foi
composta para um número de dança”, e foi falando, falando, eu começava a me
angustiar, outros instrumentos começavam a participar da execução, a música aumentava
o volume e ele também elevava a voz, e a caixa continuava tá-tátátá tá-tátátá tá tá tá-tátátá tá-tátátátátátátátátá, o meu
constrangimento aumentava num crescendo, até que finalmente tudo acabou num
arremate breve. Alívio! Acabou também a primeira parte e veio o intervalo. Ele
localizou os amigos e se despediu: “Vou me encontrar com eles”. Confesso que fiquei confuso entre o sentimento
de satisfação de ter desfrutado sua companhia e ao mesmo tempo aliviado dos
comentários importunos. Acabei por perder a chance de me apresentar formalmente
e dizer meu nome, acreditava que ele não sabia.
O
segundo encontro se deu muitos anos depois quando eu havia ido a um shopping center fazer uns pagamentos e
fui almoçar em um restaurante de comida árabe. Já estava sentado quando ele
surgiu e sentou-se à minha mesa, porém em diagonal: “para um não atrapalhar o
outro”, explicou. Tá certo, pensei. Naquela época eu estava lendo o livro Cidade Antiga, cuja primeira referência
me foi dada por um amigo juiz que me disse que era sobre a origem do Direito e
ele o estava lendo para um curso de mestrado. Alguns meses depois, outro amigo
me emprestou o livro dizendo que era sobre a origem das religiões. Nessa época
estava encantado com a leitura e minha mulher e amigos de vez em quando eram
obrigados a ouvir minhas interpretações do livro e os relacionamentos que fazia
com os acontecimentos do dia a dia. Achei então oportuno falar do livro com o
Bacellar. “Estou lendo Cidade Antiga”,
eu disse. “De Fustel de Coulanges, li duas vezes, no original... um livro
fundamental!”, arrematou. Fiquei admirado, eu nunca me lembrava do nome do
autor e ele se lembrou de pronto! Já tinha lido duas vezes! Fiquei confortado
com o comentário, pois compartilhava das mesmas fontes do Bacellar. Não pude
ficar mais tempo com ele porque era precisava voltar ao trabalho, me despedi
rápido e saí. Mais uma vez não criei uma oportunidade para ele saber meu nome.
Houve
outro episódio marcante que foi uma palestra proferida por ele sobre o Ferreira
Gullar. Eu havia lido no noticiário sobre o evento, mas foi uma leitura rápida e
acreditei que o próprio Gullar estaria presente ao seminário. Localizei em casa
o livro que tem aquele poema que fala das “hélices de hidrogênio” e o levei ao
evento na expectativa de obter um autógrafo. Foi uma frustração e prontamente
procurei evitar a gafe, escondendo o livro dos conhecidos. Imaginei que a gafe
só se concretiza se o outro souber do ocorrido. É uma entidade das relações
sociais. Por sorte ninguém fez qualquer comentário.
Da
palestra, lembro-me que o nome Gullar vem de Goulart e dos comentários sobre o
poema “O cheiro da tangerina”. O Bacellar apreciava bastante esse poema e o
descreveu com grande entusiasmo e admiração. Lamentou, porém, não ter mais um
exemplar do livro. Quando cheguei em casa corri para encomendar a compra de
dois exemplares que chegaram pelo correio. Enviei um deles para ele através do
Zemaria. Não me recordo de ter feito alguma dedicatória ao poeta, continuaria
inominado para ele.
De
volta então ao encontro imaginário em Santiago. Havíamos combinado de nos
encontrar no Cerro de San Cristóbal, um morro que fica encravado na cidade,
frequentado pelos moradores e turistas, para passeios e diversão. O local do
encontro era em um café em frente à estação do teleférico, em um pátio voltado
para a cidade e para os Andes. Era uma manhã ensolarada de domingo e a poluição
era pouca, permitindo-nos apreciar as montanhas com suas neves eternas.
Ao
chegar, ele já estava sentado, fumando um cigarro na piteira e havia uma caneca
pousada na mesa. Cumprimentei-o e sentei-me na cadeira que indicou; ofereceu-me
um cigarro. Era um Gauloises, famoso
cigarro francês de tabaco forte, que aceitei imediatamente, vencendo mais uma vez
a minha força de vontade de parar de fumar. Pedi uma cerveja e fui direto ao
assunto: “Bacellar, o Cláudio não foi eleito para ocupar a sua cadeira na
Academia”. Não conseguia imaginar sua reação, mas esperava que fosse com
indignação, entretanto ele ficou calado, soltou uma baforada e permaneceu assim
por uns instantes, olhando para as montanhas no horizonte.
Após
esse breve momento eu resolvi provocá-lo. “Você não acha que a temática do
Cláudio pode parecer antiquada para os nossos conterrâneos? Grandes
apreciadores dos temas regionais, muitas vezes postos à mesa impregnados de pitiú,
ao contrário de você que fez a feira e não escorregou na casca da banana?” Ele
respondeu de pronto, como reprisando uma fala: “O Cláudio é um artista que cria
obras de arte, como as oblatas em forma de rosáceas, tímpanos e claraboias das
catedrais góticas.” Referia-se ao livro de poemas Vitrais. “São poemas cuja justaposição lembra o trabalho de puzzle dos sopradores e coloristas da
guilda dos vidraceiros: grandes painéis de luz e cor, plenos de symbolismo
mystico!”
Continuei
instigando. “Você não acha que a Academia aderiu ao sistema de cotas e que a
cota dos poetas diminuiu, por isto ele não foi escolhido?” Respondeu já
indignado: “No momento em que as academias e grêmios preenchem suas vagas com
mediocridades, a verdadeira poesia brota triunfante deste poeta de raça,
profundo e criativo, uma verdadeira rajada de ar puro e renovador sobre o
monturo de nossa poesia”. Perguntei por fim: “Que mensagem levo aos nossos
conterrâneos?” Já tinha a resposta pronta: “O autêntico mérito é sempre
desdenhado pela conspiração dos pobres de competência e de criatividade”.
Palavras preciosas como o ouro em pó coruscante do El Dorado, porém ácidas como
o suor de um guerreiro mura. Eu arfava com a emoção de seu pronunciamento, meu
coração batia forte, parecia que ele também percebia que estava exaltado. Foi o
bastante, levantou-se e sumiu entre os numerosos turistas e ciclistas que nos
cercavam. Estava bem, ainda imortal, nada a temer por ele. Foi só e se bastava.
sábado, 8 de junho de 2013
15 anos sem Antônio Paulo Graça
As frases acima foram tiradas deste livro: Uma poética do genocídio (Topbooks: 1998), tese de doutorado de Antônio Paulo Graça, que não chegou a vê-lo pronto. |
quinta-feira, 6 de junho de 2013
Dabacuri – amazônica 7/13
Zemaria Pinto
casas submersas,
criação sobre a maromba
– tempo de esperar
latas de cerveja,
corpos estranhos ao rio,
na trilha dos homens
barcos enfeitados,
bandeirinhas coloridas
– festa de São Pedro
cidade dividida:
boi pra cá, boi pra lá
– junho em Parintins
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A poesia é necessária?,
Dabacuri,
Haicais,
Zemaria Pinto
Medicina e caos: onde está a doença?
João
Bosco Botelho
Não há como negar que os caminhos da
Medicina, na busca da arqueologia da doença, caminham na direção das menores
porções da matéria viva, para o átomo e as partículas subatômicas. Dessa forma,
é possível articular processo teórico para rever alguns pressupostos da Medicina,
tomando como parâmetro o caos, a instabilidade que persiste.
Apesar do grande avanço tecnológico, interferindo
cada vez mais profundamente no domínio da natureza, persistem muitas questões
fundamentais para que se possa compreender melhor a coisa em si
(referida ao conceito kantiano). Contudo, deve ficar claro que essa abordagem
está voltada à certeza da resolução do processo histórico do conhecimento, como
ponte para transformar a coisa em si para coisa para nós.
O caos está presente na natureza
circundante e se manifesta quando um objeto é submetido ao efeito de mais de
uma força gerando situações impossíveis, com os atuais conhecimentos, de
previsibilidade. Os exemplos dessas bizarras situações, desde as mais banais,
como a tentativa de prever o próximo movimento de uma folha que corre livre ao
sabor da corrente das águas de um rio, às complexas, como a bactéria sobrevive
na corrente sanguínea, até às previsões climáticas (o movimento do ar). Nestes
exemplos, mesmo com a ajuda dos supercomputadores, não é possível saber o que
poderá acontecer à folha, à bactéria e se terá ou não tempestade, num determinado
dia, mesmo utilizando os mais sofisticados e complexos sistemas de cálculos.
A maior dificuldade reside em separar
a supremacia do caos à aparente estabilidade e ritmo da natureza. Aqui, tudo se
apresenta dentro de um ritmo uniforme e eterno: a noite, o dia, as estações do
ano, as estrelas e o movimento dos planetas. Sob a construção desse ritmo
aparente, o homem começou a transformar a natureza e acumulou saberes. Do modo semelhante,
se construiu a compreensão estática da saúde e da doença, onde parecia existir
um divisor de águas entre o homem doente e o sadio, sendo aquele representado pela
negação e este pela afirmação da vida.
O matemático francês Henri Poincaré
(1854‑1912) demonstrou a instabilidade mesmo nos sistemas simples. Este
pensador acabou ficando conhecido também pela avançada concepção acerca da comodidade
da ciência, onde as teorias científicas traduziriam, unicamente, a arbitrariedade
da razão com o objetivo de tornar inteligível um conjunto de fatos observados.
O
atual entendimento de instabilidade regendo o conjunto que mantém a vida no
planeta é majestoso e, ao mesmo tempo, reflexivo; também fantástico porque mergulhou
os cientistas na incerteza angustiante porque colocou por terra as certezas
acabadas.
O estudo do caos está abrindo a matemática aos
sentidos do homem, onde a capacidade de abstrair formas espaciais foi incorporada
à geometria diversa da euclidiana. Mesmo com a indiscutível indeterminação de
Heisemberg, os médicos e fisiologistas são capazes de imaginar como é a projeção
espacial de uma molécula de ADN e o feedback (retroalimentação) dos
hormônios hipotalâmico‑hipofisários no controle das glândulas endócrinas (tireoide,
ovário, testículo, suprarenal etc.) para o equilíbrio de funções vitais de muitos
animais, especialmente, nos humanos.
O avanço foi concomitante em várias
direções. Um novo entendimento de espaço surgiu e envolveu o caos, trazendo
subsídios ainda maiores e mais concretos para recompor o equilíbrio tridimensional.
Nesse contexto, parece razoável
pressupor que as doenças, de certo modo compondo situações biológicas abstratas,
nominadas pelo homem, no futuro, serão compreendidas como fenômenos dinâmicos,
no tempo e espaço, capazes de serem estudadas fora do espaço euclidiano. Haverá
tempo em que a Medicina perguntará: em qual espaço-tempo deseja estudar o
hipertireoidismo?
O simples raciocínio da hierarquização
orgânica (só estamos tratando dos seres vivos) pode reforçar essa suposição. Do
organismo vivo extremamente complexo, como o corpo humano, até as partículas
subatômicas, o caos pode passar sucessivamente pelos sistemas orgânicos
corpóreos (respiratório, digestivo, urinário etc.), órgãos, tecidos, células, organelas
(ribossomos, mitocôndrios etc.), moléculas, átomos e partículas subatômicas.
Sendo partes do mesmo todo é possível
que a caoslogia contribua também para a melhor compreensão dos sistemas vivos
sob o prisma da Termodinâmica. Hoje, continua sendo muito difícil entender o
homem, como exemplo de sistema aberto, consegue manter a vida com rigorosa
ordem interna e baixa entropia.
Na realidade, a saúde e a doença não existem
separadamente, são partes do mesmo conjunto, e estão indissoluvelmente unidas
no caos. Na realidade, esse é o maior paradoxo da Medicina: em qual dimensão da
matéria o normal se transforma em doença e se, realmente, a doença e a saúde
existem como a Medicina entende.
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