Amigos do Fingidor

terça-feira, 8 de abril de 2025

Onde o rio chega chega a vida

Pedro Lucas Lindoso

 

O meu pai costumava se referir às pessoas nascidas na calha do rio Madeira como conterrâneos. Para ele e muitos amazônidas, a sua lealdade, o senso de ser natural, de terra natal, de pertencimento, enfim, está ligado mais ao rio do que à cidade ou vila em que nascem. Daí a palavra ribeirinhos. Os caboclos são tão ribeirinhos quanto as aves ribeirinhas. Vivem nos rios e pelos rios.

Os nossos rios, sempre majestosos, serpenteiam pela floresta, deslizando entre as árvores imensas do Amazonas. O título desta crónica foi inspirado em homilia do Padre João Carlos, ao citar versículo do profeta Ezequiel. Como o rio que brota do templo traz vida em abundância, o Amazonas, com sua imensidão e força, é a artéria pulsante de um ecossistema bastante complexo.

As aves, em suas cores vibrantes, dançam entre as copas das árvores, enquanto os peixes nadam nas águas dos rios e igarapés, refletindo a luz do sol que se infiltra por entre as folhas. Cada canto, cada movimento, é uma sinfonia que ecoa na vastidão.

Os ribeirinhos, que vivem em harmonia com o rio, entendem que o rio não é apenas um recurso, mas uma fonte de vida. As águas são o sustento de suas comunidades, de suas tradições e de suas histórias. É na beira do rio que a vida se renova: nas colheitas das várzeas, nos igapós e no regime das águas; tempos de cheias e de vazante. E claro, nas festas e nos rituais que celebram a conexão com a natureza. Nos saberes repassados de geração a geração.

Mas, assim como a vida floresce a partir das águas, também há a sombra da degradação. O avanço do desmatamento, a poluição e as mudanças climáticas ameaçam esse delicado equilíbrio. O rio, que antes era um símbolo de fertilidade, agora carrega os vestígios de uma luta constante entre o progresso e a preservação.

Os habitantes da floresta, guardiões do saber ancestral, lutam para proteger esse legado. Eles reconhecem que a saúde do rio é a saúde da terra. Cada ação, cada escolha, reverbera na correnteza, e a vida que ali floresce depende da sabedoria de quem a habita.

Assim, onde o rio chega a vida se expande, mas é preciso cuidado. É um chamado à responsabilidade: preservar a riqueza do Amazonas é garantir que as futuras gerações herdem não apenas a beleza da natureza, mas também a sabedoria de viver em harmonia com ela. O rio continua a fluir, e com ele, a esperança de um futuro onde a vida, em toda sua diversidade possa sempre estar presente. Que o versículo bíblico citado pelo padre João Carlos, do Livro de Ezequiel seja uma verdade perene – onde o rio chega chega a vida.



domingo, 6 de abril de 2025

sexta-feira, 4 de abril de 2025

A lança de Anhangá: mais que um livro novo, uma nova literatura

 Zemaria Pinto

 

Relutei muito antes de escrever esta nota. Resisto ainda. Mas preciso seguir em frente. Começo pelo fim: a conclusão expressa no título.         

O livro de contos de Ricardo Kaate Lima, vencedor do Prêmio Literário Cidade de Manaus, de 2022, traz à literatura feita no Amazonas uma ramificação do gênero fantástico como ainda não víramos nas melhores páginas de Erasmo Linhares ou Adrino Aragão.

Na verdade, se “o fantástico é a suspenção da realidade e o maravilhoso é a realidade estendida”, como eu disse sobre os anões de Márcia Antonelli, estamos diante, em A lança de Anhangá, de um caso extremo de realismo maravilhoso, onde o não-real faz parte da realidade: uma paradoxal realidade não-real, que assume, muitas vezes, uma ambientação distópica de pura fantasia – fantasy art. Literatura em estado pleno.

Ricardo Lima assume o regionalismo que a literatura anêmica do “Sul maravilha” – lembrando a querida Graúna, criada pelo irmão do Betinho – insiste em fazer de conta que não existe. Os sete contos do livro trazem narrativas que contrapõem a gente comum e entidades que extrapolam a mitologia amazônica, como Anhangá, o demônio do título. Aliás, autores de peso, como Câmara Cascudo e Nunes Pereira, registraram que a grafia correta é Anhanga, mas a literatura – a melhor literatura, como Gonçalves Dias e Machado de Assis – registra Anhangá. Nenhuma dúvida. Mas o Anhangá de Kaate é menos um demônio que um justiceiro, na melhor tradição das Graphic novels.

Ambientados numa Amazônia futurista não muito distante, os contos de Kaate Lima colocam o leitor, de supetão, entre as “guerras lunares de Phobos e Europa”, ou “em algum lugar entre as Trevas Exteriores e as Terras Devastadas”. E pra não dizer que não falei das flores, registro sem spoilers a narrativa mais completa do livro, “O prelúdio da escuridão”, uma novela noir, para ser lida em preto e branco, com todas as nuances de cinza. Sim, novela, não apenas pela extensão, cerca de cem páginas, mas pela complexidade da trama e da narrativa.

No centro dos acontecimentos, passados numa cidade semidestruída chamada Manaus, assistimos ao confronto entre o agente federal Heitor Navarro e Anhangá, o senhor das trevas, sugador de almas. O pano de fundo é um país dominado pelo totalitarismo nazifascista, lembrando a ficção de George Orwell e a história real das guerras do século 20: o Big Brother, aqui chamado de Grande Líder e sua milícia de “pacificadores”, mais a palavra de ordem de Franco antes de acionar o garrote vil, traduzida literalmente, “Viva la muerte!”.

Os contatos com a história recente do Brasil são muitos, como o slogan oficial, sobre a foto do Grande Líder: “O enviado de Deus protege o Brasil do caos”. Substitua caos por “comunismo” e terá a impressão de um déjà-vu. Mas a ação do vigilante justiceiro não passava em branco nas camadas inferiores, economicamente, da população, que buscava a proteção não do Grande Líder, mas de uma entidade espiritual em quem pudesse confiar:

– Arrependam-se! O fim está perto! O Anhangá é o Cavaleiro do Apocalipse trazido pelo senhor Jesus!

Os velhos professores “aposentados” pelo Grande Líder sabiam que Anhangá é um servo de Yurupari, o Legislador divinizado, que se encontra como base em todas as religiões e mitos ancestrais. Tempos medonhos pedem tempos de mudança. Heitor Navarro percebeu isso.

A literatura de Ricardo Kaate Lima é mais que mero entretenimento: é uma prospecção profunda e simbólica do que nos espera no breve tempo que ainda temos pela frente.  

 

A Lança de Anhangá (São Paulo: Cachalote, 2024), de Ricardo Kaate Lima, foi lançado no segundo semestre do ano passado, e vem obtendo excelente recepção crítica. No Brasil.

 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

A poesia é necessária?

  

A baforada do vazio

(fragmento de O drone de Yebá Buró)

Thiago Roney

 

Antes o mundo não existia

resistia o puro silêncio alado,

sempre incalculável,

do despovoado.

 

Antes o eu das coisas não existia

subsistia a poesia despida de fome,

sempre incessante,

do sem nome.

 

Antes o tempo não existia

persistia o instante bruto e contido,

sempre imóvel,

do infinito.

 

Antes o verbo não existia

insistia a voz muda e desmedida,

sempre ininterrupta,

do não-nascido.

 

Antes a forma não existia

remanescia o conjunto aliviado

sempre indizível,

do desabitado.



quarta-feira, 2 de abril de 2025

terça-feira, 1 de abril de 2025

Reflexões de Idalina

Pedro Lucas Lindoso

 

Tia Idalina me liga via whatsapp para me informar que desistiu de ir passear em Nova Iorque. Apesar de gostar muito da cidade, disse que é um desconforto usar banheiro por lá. Não tem bidé. Muito menos ducha.

Idalina não tem dúvidas de que o papel higiênico é a opção mais comum e prática. Mas discorda que seja totalmente eficaz na limpeza completa. Tem certeza que a relação do papel com as pessoas é ambivalente. Concorda que é prático e facilmente acessível. Mas gera uma montanha de resíduos. Quem nunca se pegou pensando na quantidade de árvores que se vão para manter esse hábito no mundo inteiro?

Advoga que o bidé é uma excelente opção para a limpeza completa e suave. Ora, o uso do bidé ajuda a limpar a área com água, sendo muito mais higiênico e confortável. Mas os americanos não usam. Uma das grandes contribuições dos franceses para a humanidade. Mas até eles deixaram de usar. Não se sabe o porquê. Os americanos com certeza não utilizam bidé em razão da colonização puritana. Os puritanos emigrados da Inglaterra eram moralistas rigorosos na aplicação de ideias e de costumes. Não usariam bidés, por certo. Titia tem umas teorias próprias e poucos ortodoxas. Mas deve ter razão.

E por que não adotam a ducha? É outra opção que permite a limpeza com água. É mais fácil de instalar em algumas configurações de banheiros.

Idalina ouviu dizer que no interior usam sabugo de milho e até jornal. Um horror. O uso do jornal pode ser arriscado devido à tinta e ao papel áspero. Já o sabugo de milho pode ser desconfortável. Mas é certo que a escolha do método vai depender das preferências pessoais e, claro, da disponibilidade dos materiais.

Disse à Tia Idalina que uma boa opção são os lenços umedecidos. Oferece uma limpeza mais suave e eficaz que o papel higiênico seco. Adverti titia de que ela deve escolher lenços que sejam biodegradáveis. Não podemos esquecer nossos princípios básicos de Ecologia. E ainda lhe disse que deve escolher lenços que não contenham produtos químicos irritantes.

Idalina vai reconsiderar e estudar a possibilidade de usar lenços umedecidos. Coisa que não existia na sua juventude.

Titia não tem dúvidas de que o uso da água, tanto no bidé como na ducha, são os mais higiênicos. E acrescenta: a ducha e o bidé são símbolos de um cuidado refinado. Oferecem uma abordagem mais delicada e definitivamente mais eficaz. Para Idalina a sensação de água fresca é revigorante e sinônimo de limpeza verdadeira.

Finalmente Idalina não abre mão de seu conforto e praticidade. E lembra-nos que a higiene é um ato de amor, por nós e pelo planeta.

 

 

segunda-feira, 31 de março de 2025

As diversas escritas de Zemaria Pinto


Entrevista com Tania Luz e Ecila Mabeline.

 

domingo, 30 de março de 2025

quinta-feira, 27 de março de 2025

A poesia é necessária?

 

Poemas para a minha rua – XXI

Sarah Rodrigues

 

E quando essa rua assoma

meus canteiros multicores,

há serenatas de aromas

na madrugada das flores...

Neste cenário perfeito

que a noite serena espreita,

a sombra parece um leito

onde o silêncio se deita.

 

 

terça-feira, 25 de março de 2025

Por um mundo justo e acolhedor

Pedro Lucas Lindoso

 

Vivemos em tempos difíceis. A globalização e a internet democratizaram as informações. Mas nem todos têm conhecimento e ética em processá-las corretamente. O mundo está dividido. O mais grave é o afloramento da xenofobia, racismo e intolerância.

A nossa Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, reza expressamente que todos são iguais perante a lei. Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações. Garante aos brasileiros e aos estrangeiros no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Folheando e relendo pela enésima vez a nossa Carta Maior, em especial o artigo sobre igualdade, um eco de silêncio ressoava no meu âmago. Era o silêncio daqueles que, por medo ou cansaço, não se manifestam contra as desigualdades que ainda persistem. O racismo, a xenofobia, a intolerância — essas chagas sociais ainda marcam nossa sociedade. Muitas vezes, as pessoas preferem se calar, acreditando que a mudança é impossível, que o preconceito é um mal inerente à natureza humana.

Lembrei-me de uma conversa que tive com um imigrante em Brasília, quando da minha experiência no Ministério da Justiça. Contou-me sobre as dificuldades que enfrentava ao se estabelecer no Brasil. O olhar triste enquanto falava sobre discriminação e desprezo me fez perceber o quão doloroso é viver em um mundo onde as diferenças são vistas como fraquezas. O que deveria ser uma celebração da diversidade frequentemente se transforma em um campo de batalha de estereótipos e preconceitos.

É fácil se perder na rotina, esquecer que cada um de nós carrega uma história única. Precisamos, no entanto, nos lembrar de que o verdadeiro progresso começa com pequenos gestos. Um sorriso, uma palavra de apoio, um ato de solidariedade podem ser o primeiro passo para desconstruir as barreiras que nos separam.

O pôr do sol em nossa capital é sempre deslumbrante. Da janela do Ministério da Justiça o sol se punha no horizonte, tingindo o céu de cores vibrantes, como se a natureza estivesse nos dizendo que a beleza está na diversidade. E ali, naquele instante, percebi que o futuro é moldado por nossas ações, por nossas escolhas.

Dizer não ao racismo e à xenofobia é um ato de coragem, mas também de amor. Amor por nós mesmos e por todos que compartilham este mundo. Que possamos ser, todos os dias, agentes de mudança, ecoando a mensagem de que a diversidade é o que nos torna humanos e que juntos podemos construir um mundo mais justo e acolhedor.

 

domingo, 23 de março de 2025

quinta-feira, 20 de março de 2025

A poesia é necessária?


almoço de domingo

Cynthia Teixeira


 

é domingo, leve como o silêncio.

um cheiro forte de desassossego de pai-morto e mãe abatida.

recordo meu passado

de ser sorridente e concreto.

– eu era viva em outro lugar,

rodeada de gente ao meu lado.

 

mas, que venha este velho almoço,

que eu escolhi e que me escolheu.

o vidro de sal e o pote de farinha,

há neles certa pena?

irrita-me a força de gente mais do que eu,

a potência da colher batendo no prato.

irrita-me o vigor que me exige a faca no cortar.

 

sim, e ainda há um festivo burburinho entre mesa e cadeira,

entre prato e colher,

entre garfo e faca.

 

e todos eles zombam de mim,

essas coisas da mesa do almoço de domingo, mais do que eu,

que sou menos gente do que eles, que não são gente.


e todos zombam, porque só o que me resta é bufar.



terça-feira, 18 de março de 2025

Natureza e fraternidade

Pedro Lucas Lindoso

 

A Campanha da Fraternidade é uma iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que ocorre todos os anos durante a Quaresma. Tem como objetivo promover reflexões e ações em torno de temas sociais, éticos e espirituais. Este ano o tema é Fraternidade e Ecologia Integral.

Dom Leonardo Steiner, nosso Arcebispo aqui em Manaus, está bastante engajado. É o primeiro Cardeal da Amazónia. Ele destaca que a preservação da natureza é essencial para garantir um futuro digno para todas as pessoas, especialmente as mais vulneráveis.

Dom Leonardo é Franciscano.  Todos sabemos que São Francisco de Assis, padroeiro da Ecologia, amava e até falava com os animais. Principalmente os passarinhos.

Em um mundo marcado pelo consumo desenfreado e a exploração desenfreada dos recursos naturais, a Campanha da Fraternidade nos convoca a um despertar. A mensagem ecoada por Dom Leonardo Steiner ressoa como um chamado à responsabilidade coletiva: cuidar da Terra é um ato de fraternidade.

Quando caminhamos por nossa floresta, ouvimos o canto dos pássaros e admiramos a beleza das árvores, dos igapós, da nossa fauna. Cada elemento da natureza é um irmão, uma irmã. São Francisco assim os chamava. No entanto, ao olharmos ao nosso redor, muitas vezes nos deparamos com a realidade da destruição: florestas desmatadas, rios poluídos e espécies ameaçadas de extinção. É um grito silencioso da Terra pedindo socorro.

Dom Leonardo nos lembra que a fraternidade não é apenas um ideal, mas uma prática. É agir em solidariedade, é reconhecer que nossas vidas estão entrelaçadas. A natureza nos oferece tudo o que precisamos, mas em troca, devemos cuidar dela. O cuidado com o meio ambiente é um reflexo do amor ao próximo. Quando protegemos a natureza, garantimos um futuro mais justo e sustentável para todos.

Que ao cuidar da Terra possamos também cultivar a fraternidade, reconhecendo que todos fazemos parte de uma mesma criação.

A natureza, em sua sabedoria, nos ensina que a vida é um dom precioso que deve ser respeitado e preservado. Que possamos, juntos, ser a voz que clama por um mundo mais justo, onde a fraternidade e o cuidado com a criação andem lado a lado. É hora de agir, de amar e de cuidar. É hora de ser verdadeiramente irmãos e irmãs da Terra.

 

 

domingo, 16 de março de 2025

Manaus, amor e memória DCCXIV


Precursora da Almir Neves, tradicional funerária de Manaus.

 

quinta-feira, 13 de março de 2025

A poesia é necessária?

 

Não vou dar voz

Vanessa Almeida

 

 

Aos abraços que torturam,

aos beijos que ferem,

às bocas que maltratam,

às pernas que enlaçam e

às mãos que afagam duramente.

Não vou dar voz. 

 

terça-feira, 11 de março de 2025

Descer para BC

Pedro Lucas Lindoso

 

Recebi um whatsapp de tia Idalina apavorada. Titia me contou que teve um terrível pesadelo. No sonho, Manaus, aliás toda a Amazônia, era invadida por extraterrestres.

Transformavam a floresta amazônica no maior jardim botânico das galáxias. Manaus se tornaria um grande cassino interplanetário.

Nós, os habitantes de Manaus, poderíamos escolher morar na Riviera de Gaza.  Aos paraenses foi dada a opção de colonizar a Groelândia. Muito frio por lá.  Entretanto, todos os colonizadores vindos do Pará teriam direito a tacacá e maniçoba.

Mas que show da Xuxa é esse, tia Idalina? Ela me disse que o último pesadelo que teve foi nos anos de 1960. Um alienígena queria transformar a região amazônica num grande lago. Uma loucura. Titia acordou suada e ofegante.

Depois criaram a Zona Franca. Vendiam de um tudo que era importado no centro de Manaus.

Foi nessa época que Idalina virou muambeira. Levava para Copacabana dúzias de calças Lee, dezenas de relógios e baralhos importados, diversos lenços de seda, roupas indianas e máquinas de retrato Cannon. Tinha alfândega, mas um sobrinho dela era inspetor. Então, sem problemas.

Seu apartamento em Copacabana era uma festa. Os clientes ainda tinham direito a xarope de guaraná gaseificado. Uma engenhoca onde se colocava gás no xarope, também adquirida na Zona Franca. Vendia aquilo também. Mas só por encomenda. Ficou tão rica que comprou um apartamento em Miami.

Mas agora não sabia o que me dizer. Estava preocupada conosco. O sonho era muito real. Ainda bem que morava no BC. Teria titia se mudado para Balneário Camboriú? Não BC é Balneário Copacabana, explicou-me.

Disse ainda que os extraterrestres eram comandados por um velhote cínico, louro desbotado. Falavam Inglês.

Transformavam o Teatro Amazonas em cassino, o Palácio da Justiça em boate. O porto virou uma fantástica marina. O Palácio Rio Negro virou um hotel butique. O Mercadão, um shopping center.

Além da Riviera de Gaza, os amazonenses poderiam optar pelo projeto de colonização do Planeta Marte.

Ainda bem que foi só um pesadelo. Se fosse verdade iria aceitar o convite de Idalina. Pegar um avião e descer. Descer para BC.


domingo, 9 de março de 2025

Manaus, amor e memória DCCXIII

 

O Carnaval de Manaus, 1917, é notícia no Brasil.
Ao fundo, o Teatro Amazonas.

sexta-feira, 7 de março de 2025

Entrevista ao Jornal do Commercio – lançamento de "Folia no Seringal"


Entrevistador: Evaldo Ferreira

Entrevistado: Zemaria Pinto

 

1 – Por que você usou o Clube da Madrugada como referência para o antes, o durante e o depois da literatura amazonense?

R: Na perspectiva que temos hoje, 70 anos depois da fundação do Clube da Madrugada, é que este é um divisor de águas na literatura feita no Amazonas: há um “antes” e um “depois” do Clube. E durante 30 ou 40 anos, o tempo da história do Clube, houve um “durante”. O Antísthenes Pinto dizia que enquanto ele vivesse o Clube existiria. Jorge Tufic tinha uma posição similar, publicando livros com o selo do Clube até o fim. Então, peguei essa ideia e coloquei no livro.

 

2 – O Amazonas tem uma literatura com características próprias? Se sim, quem seriam seus expoentes?

R: A literatura feita no Amazonas é a literatura feita no Brasil. Fazemos parte dela, ainda que alguns façam “bico” para o nosso “regionalismo”. Márcio Souza deixou-nos como legado, pouco antes de sua morte, um livro pequeno no tamanho mas gigante no conteúdo – Amazônia, Regional e Universal. E ele começa com a frase clássica de Tolstoi, que cito de memória: “se queres ser universal começa por pintar a tua aldeia”. Um francês, um inglês ou mesmo um paulista jamais diria isso. E Tolstoi era então um periférico. Não se iluda: a padronização é o fim da arte. Sempre que tentaram padronizar o fazer estético deram um passo para trás na produção da arte.

 


3 – O Brasil tem ícones nos vários estilos literários. No Amazonas, quem seriam os ícones: na crônica, no conto, na poesia e no romance?

R: Essa pergunta repete a anterior. Desculpe-me. Você sabe quem foi Coelho Neto? Se não, vou lhe dizer quem é Coelho Neto agora: um escritor esquecido. E já foi considerado um monstro sagrado, que conviveu com monstros “menores” que ele, como Machado de Assis e Olavo Bilac. A história da literatura mundial é cheia de exemplos desse tipo. Shakespeare passou duzentos anos no esquecimento até ser resgatado. Gregório de Matos, o “Boca do inferno”, morreu no final do século 17 e somente no século 20 se teve notícias dele. A vida é dura, meu caro. Inclusive para os ícones e canonizados.

 

4 – O que acha dos(as) escritores(as) ditos(as) ‘marginais’, que buscam um lugar à sombra, ou que até mesmo preferem continuar ‘marginais’?

R: A história dessa tendência “marginal” tem séculos, mas vamos falar do Brasil, segunda metade do século 20, quando surge uma poesia marginal muito forte, mas também um cinema marginal, uma música marginal, um teatro marginal etc. Eu conto isso no ensaio sobre os anões de Márcia Antonelli. Resumo da ópera: marginal é tudo o que o mercado ainda não absorveu. Quer um exemplo de marginal clássico? Lima Barreto. Hoje, ele seria um respeitável acadêmico. De minha parte, eu admiro os que assim se autoproclamam. Sempre fui admirador dos marginais brasileiros, mas tem um amazonense que é um ícone do movimento há 50 anos: Simão Pessoa, na persona de quem abraço a todos os marginais das novas gerações.

 

5 – Quem é, e onde se enquadra o escritor Zemaria Pinto?

R: Coloco-me como um trabalhador. Eu não escrevo por reconhecimento ou cargos. Eu escrevo porque tenho uma compulsão por escrever e isso me ajuda a me manter vivo. E eu me sinto útil. Depois de 28 livros (e mais um no prelo), só penso em organizar minha poesia completa e meu teatro completo. Com que finalidade, ainda não tenho certeza. 

 

6 – Hoje, vivos, quem você destaca na literatura amazonense, entre 50+ e jovens iniciantes?

R: Não destaco ninguém, para destacar a todos. A vida literária não é uma batalha. Particularmente, procuro ser amigo de todos, embora aqui e ali receba umas pedradas. Mas tenho sobrevivido. Agora, é preciso entender que, fora da iconicidade (existe isso?) e do cânone, e deixando de lado o fantasma de Coelho Neto, o futuro só acontecerá quando estivermos todos irremediavelmente mortos. 

 

7 – Por que esse título ‘Folia no seringal’ e para qual tipo de leitor seu livro é indicado?

R: “Folia no seringal: alegoria e paródia em O amante das amazonas”, de Rogel Samuel. É o título de um dos ensaios pós-Madrugada. Uma referência a “As folias do látex”, peça de Márcio Souza, e também a Mikahil Bakhtin, teórico da carnavalização. Só que para ler Rogel eu não uso Bakhtin, preferi o Joãosinho Trinta. 

Quanto ao leitor, eu indicaria, em primeiro lugar, aos alunos de Literatura. Depois, às pessoas que gostam de literatura, ainda que não do ponto de vista técnico. Em terceiro lugar, eu indicaria para quem nunca leu um livro: quem sabe ela encontre uma razão de viver...

quinta-feira, 6 de março de 2025

A poesia é necessária?

 

O estupro

Dani Colares

 

Numa rua deserta

De uma hora qualquer

Abriram o meu peito

E estupraram o meu coração

 

Amassaram-no, pisaram-no

Foderam sem piedade

Eu gritava e ninguém ouvia

E enquanto me segurava,

Eu implorava para que o arrancasse de uma vez

 

Cuspiu-me na cara

As lágrimas formaram crateras em meu rosto

E buracos no chão

Eu carregava a dor que asfixia,

que se materializa, aprisiona,

vomita, grita e implora

A dor que provoca a inércia de morte

 

Meu rosto, transfigurado de dor

Se contentava a olhar o nada

Fiquei ali, nua na rua imunda

Sem dignidade, força ou identidade

Vendo meus sentimentos jogados

Por todos os lados no asfalto

 

E assim, de peito aberto

Com saliva, sangue e sêmen

Levantei-me

Metade vivo, metade morto.

E o bandido? Solto.



quarta-feira, 5 de março de 2025

Folia no Seringal – lançamento

Zemaria Pinto


Começo agradecendo a presença de todos: a família – esposa, filhas, netas e irmãs; os parceiros Mauri Mrq e Tenório Telles; o time da Valer – Isaac Maciel, Neiza Teixeira, Bruna Chagas; amigos velhos, ex-alunos, pessoas que estou conhecendo hoje... E destaco ainda a presença do mestre Marcos Frederico Krüger, e do nosso decano Elson Farias, em cujas personas cumprimento a todos os presentes. Num hipotético país parlamentarista das letras, o Marcos seria o primeiro ministro e o Elson, o presidente.

Vigésimo oitavo livro publicado, ainda não me acostumei com o estresse dos lançamentos, e às portas dos setenta anos, tomo o cuidado de trazer estas breves palavras pré-escritas, para não correr o risco de gaguejar ou de simplesmente esquecer – não só o que ia falar, mas o que estou mesmo fazendo aqui?...

E olha que setenta anos não é pra qualquer um, que o digam os meus amigos Antônio Paulo Graça, Anibal Beça, Sérgio Luiz Pereira... e Torquato Neto, Paulo Leminski, Ana Cristina César... e Glauber Rocha, Raul Seixas, Sergio Sampaio, Cazuza... e Jimi Hendrix, Janis Joplin, Amy Winehouse... Mas, de uma coisa fiquem certos: com a chegada da velhice, nós aprendemos que não sabemos nada do que pensávamos que sabíamos quando jovens. Por favor, não me cancelem, isto não é etarismo; é apenas uma autocrítica. Se não, vejam.

Professora Neiza Teixeira, que conduziu o evento.

Entre os 15 e os 17 anos, estudei o Científico, equivalente ao ensino médio de hoje, no Colégio Estadual (ou simplesmente Estadual). Ficava vendo de longe os componentes do Clube da Madrugada que frequentavam o Café do Pina, na praça em frente – a da Polícia. Moleques, eu e Geraldo dos Anjos ficávamos horas a falar mal dos “funcionários públicos da literatura amazonense”. Estúpidos, nós dois, não demoraria muito para tomarmos consciência dessa estupidez. Mas, a juventude, vocês sabem, não acaba aos 17 anos... É um processo. E de repente vem a artrose, a artrite, a arritmia, a glicose, as viroses a pressão alta, a pressão baixa, a falta de... sezão... E estamos irremediavelmente velhos.

Folia no seringal é um balanço da minha aventura como ensaísta, reunindo doze exemplares da minha produção no gênero, desde “Maranhão Sobrinho, o místico de Satã”, publicado em 1999, como prefácio de Papéis Velhos... roídos pela traça do Símbolo, na histórica Coleção Resgate, coordenada por esse mítico guerreiro das Letras amazônicas, Tenório Telles, até textos escritos nesta década, vinte e tantos anos passados. E tudo tendo como eixo o Clube da Madrugada, fundado em 1954. Com este livro, celebramos os 70 anos do Clube.

Folia no seringal faz um passeio pela trajetória do Clube, que é o caminho traçado pela literatura feita no Amazonas, mostrando que há um antes e um depois do Clube da Madrugada, sendo o durante a própria existência do Clube. Comecemos pelo princípio.

 

Mauri Mrq, músico e compositor.

Antes – o ensaio de abertura, “A paisagem na literatura de viajantes e nativos”, começa com Frei Gaspar de Carvajal, que escreveu, no seu relato, Descobrimento do rio de Orellana, a nossa certidão de nascimento; e faz um breve inventário dos viajantes e nativos que tomaram a paisagem como personagem: Cristóbal de Acuña (Novo descobrimento do grande rio das Amazonas), Henrique João Wilkens, o poeta do genocídio (Muraida), Julio Verne (A jangada, 800 léguas pelo Amazonas), Conan Doyle (O mundo perdido), Raul Pompeia, autor de O Ateneu, escreveu Uma tragédia no Amazonas, com 17 anos; Euclides da Cunha (que estava escrevendo Um paraíso perdido quando foi parado pela bala de um desafeto); Ferreira de Castro (e o superestimado A selva); e os amazonenses Octavio Sarmento (A Uiara) e Violeta Branca (Ritmos de inquieta alegria).

Destaco, no já citado “Maranhão Sobrinho, o místico de Satã”, o poeta que, vivendo em Manaus, na minha Cachoeirinha, e aqui morrendo, foi o autor que logrou maior reconhecimento nacional na era pré-Madrugada. Nenhuma antologia séria do Simbolismo brasileiro o ignora.

O terceiro ensaio, fechando esse grupo, diz ao que veio já no título: “Romancistas e contistas: a literatura de ficção na Academia Amazonense de Letras”. Porque sempre tem um incomodado a reclamar que a Academia tem escritores de menos. E é verdade, mas isso não chega a ser nenhuma catástrofe, porque os escritores da AAL dominam outros saberes, além da literatura de ficção. Vejam. Em cem anos de existência, 1918-2018, contam-se 15 ficcionistas, em um total de 148 acadêmicos; 10%, portanto; o que significa que os outros 90% dominam outros saberes. E escrevem livros sobre eles.

 

Tenório Telles, escritor e crítico literário.

Clube da Madrugada – o ensaio que abre este capítulo não se isenta de polêmica, em três frentes; duas afirmações e uma pergunta. Primeira afirmação: o Clube da Madrugada não se constituiu como um movimento, uma vez que não tinha um programa estético, e sim político. Segunda afirmação: o Clube da Madrugada não foi o Modernismo no Amazonas. E a pergunta: até onde vai, cronologicamente, o Clube da Madrugada? Costuma-se dizer, eu mesmo já o disse várias vezes, que o Clube da Madrugada foi fruto de uma geração excepcional. Na verdade, foram pelo menos três gerações.

Na sequência, quatro ensaios sobre quatro autores emblemáticos do Clube: Luiz Bacellar (Frauta de barro), Astrid Cabral (Alameda), Elson Farias (Memórias literárias) e Ernesto Penafort (uma visão geral de sua obra, mostrando que havia muita poesia além do azul). Esses quatro autores representam as mais de duas dezenas de autores que gravitaram em torno do Clube.

Eu lembro que, há exatos 10 anos, em um 9 de março, Eu e o Mauri, juntamente com o Tenório, o Marcos Frederico, o Alisson, a Nícia e outros amigos, lançávamos na sede da Academia o livro-objeto Lira da Madrugada, homenagem aos 60 anos do Clube – aliás, não fomos eu e o Mauri, mas sim o Mauri e eu. O Mauri cantou, tocou, fotografou, produziu, deu palpite em tudo. Eu só desorganizei as ideias poéticas, para dar um toque de não sei quê. Parece que faz tanto tempo: até o conceito de livro-objeto, nestes tempos virtuais, fica difícil de entender. Vou tentar: eram dois livros e um CD. O CD era um disquinho compacto, um compact disk... É melhor parar por aqui...

 

Depois – reunindo três ensaios de autores que surgiram após o auge do Clube da Madrugada, comenta-se a dramaturgia amazônica de Marcio Souza – A paixão de Ajuricaba, Jurupari, a guerra dos sexos, A maravilhosa história do Sapo Tarô-Bequê, As Folias do Látex, Tem piranha no pirarucu e muitas outras; o romance histórico de Rogel Samuel, O amante das Amazonas; e três títulos da escritora Márcia Antonelli, que tem a figura de um adulto portador de nanismo como protagonista e como isso se desenvolve entre o grotesco, o fantástico e o marginal: são eles O enterro do anão, O anão do açougue e O anão trompetista. De novo, quero deixar bem claro que isso não é capacitismo, até porque os anões de Márcia, além de protagonistas, são personagens com uma carga trágica muito forte. E foi isso o que me encantou neles, além da já conhecida capacidade da autora de engendrar tramas fantásticas. Antonelli representa, no livro, a literatura produzida no Amazonas neste século 21. É, portanto, o que há de mais novo em nossa literatura.   

Zemaria Pinto.

Fechando o capítulo, um ensaio – “Miniconto, microconto, nanoconto, contos são?” – onde se discute uma tendência minimalista do conto contemporâneo, que chega a usar os muros da cidade como veículos para o texto, lembrando a Poesia de Muro, teorizada pelo poeta madrugadense Jorge Tufic.

Por fim, sempre me têm perguntado “por que Folia no seringal”? Talvez estranhando um súbito relaxamento na sisudez com que se trata a literatura sobre a época. Lembro o amigo Márcio Souza, a quem presto todas as reverências que um discípulo deve ao mestre: a peça As folias do látex, encenada pela primeira vez em 1976, me deu a senha. Então, eu li o lírico romance do amigo Rogel Samuel como se fora um desfile carnavalesco, trocando o circunspecto Bakhtin, teórico da carnavalização, por um glamoroso e feliz Joãosinho Trinta. Evoé!   

O livro é de vocês! 

          

 Fotos: diversos autores; obrigado a todos.

terça-feira, 4 de março de 2025

Carnaval: encontro de ritmos

Pedro Lucas Lindoso

 

O Carnaval chega sempre vibrante e pulsante, colorindo as ruas e os corações. É um momento em que a alegria se torna uma linguagem universal e todos, independentemente de origem ou crença, se reúnem para celebrar. Nas esquinas, o frevo se mistura ao samba, o axé contagiando os passantes, e a toada do Boi de Parintins trazendo um sabor especial ao carnaval amazonense.

O frevo, com sua energia contagiante, é a cara do Carnaval pernambucano. Os passos rápidos e acrobáticos, as sombrinhas coloridas que dançam ao vento, e a música que nos arrasta para o meio da folia.

No Rio de Janeiro, as escolas de samba se preparam o ano todo para o desfile, onde a passarela se transforma em um espetáculo de luzes, plumas e muito brilho. O samba é um ritmo que conta histórias, desde as mais tristes até as mais alegres. Cada verso carrega consigo a luta e a resistência de um povo que encontrou no ritmo uma forma de expressão.

E não podemos esquecer do axé, que traz a energia da Bahia para o Carnaval. Com suas letras que falam de amor, axé e alegria, esse ritmo faz todo mundo querer dançar. Os trios elétricos tomam conta das ruas, e a festa é uma verdadeira celebração da cultura afro-brasileira. O axé é um convite à descontração, uma mistura de ritmos que faz do Carnaval baiano uma experiência única. Pergunte a quem já foi lá!

Mas aqui na nossa terra temos o Carnaboi. Essa festa que reúne Carnaval e Boi Bumbá, esse ano de 2025, terá seu ápice dias 7 e 8 de março. Afinal, o Boi Garantido e o Boi Caprichoso não são apenas símbolos de uma festa, mas verdadeiros ícones da nossa cultura. As toadas, cheias de emoção e poesia, servem como uma luva também para se pular o Carnaval. E por que não? As vozes se elevam, e a música ressoa pela galera animada. O ritmo das toadas, tão familiar ao amazonense, no período do Rei Momo acaba envolvendo a todos em um abraço sonoro e muito, mas muito mesmo, animado.

Assim, o Carnaval se torna um mosaico de ritmos e tradições. Cada expressão musical traz consigo a história do nosso Brasil. Tão diverso. Carioca, nordestino ou amazônida, acaba sendo unicamente e essencialmente brasileiro. Um só povo, suas lutas e suas vitórias. Na avenida, no bloco de rua, nos clubes e arenas ou na casa de amigos, a festa se faz presente, e por alguns dias, as diferenças se desfazem em meio à música e à dança.

Ao final, quando os últimos acordes se apagarem e os confetes e serpentinas se assentarem, restará a memória de dias de pura alegria. E, assim, o Carnaval nos ensina que a vida, com suas cores e ritmos, é uma grande festa que merece ser celebrada. Portanto, na cadência do frevo, no balanço do samba, na energia do axé e na leveza da toada de Boi, encontramos a verdadeira essência do ser brasileiro: um povo que dança, ri e celebra a vida em todas as suas nuances.