quinta-feira, 30 de junho de 2016
Ensinamentos médicos no livro Charaka Samhita
João Bosco Botelho
As rotas comerciais regulares entre a Índia e
a Grécia, descritas por Estrabão e Plínio, e a bem documentada presença dos
gregos, a partir do século 4 a.C., no reinado de Dario, quando foi fundada a
cidade de Barce, na região de Cirenaica, onde florescia importante núcleo de
conhecimento médico, podem explicar as trocas dos saberes da Medicina entre as
duas populações.
O tratado médico de Charaka Samhita, composto de oito
livros, uma das mais extraordinárias produções da Medicina indiana, é
apresentado em forma de um diálogo entre mestre e discípulo, descreve
impressionantes conhecimentos de cirurgias, especialmente a que utiliza um
retalho de pele para a reconstrução nasal, até hoje conhecida como “retalho
indiano”. Essa técnica cirúrgica é utilizada por milhares de cirurgiões no
mundo, inclusive eu, em Manaus, para compor a cirurgia plástica reconstrutora após
a retirada de câncer de pele da pirâmide nasal.
Esse livro descrevia exame clínico semelhante
ao da Medicina grega e ao dos dias de hoje: inspeção e palpação das partes do
corpo e a ausculta do coração e dos pulmões.
Várias doenças foram descritas com notável
precisão, como a diabetes e a tuberculose. De igual modo, existem indícios de a
malária ter sido associada ao mosquito, e a peste, ao rato. Os tratamentos eram
divididos:
– Clínicos: purgativos, enemas, sangrias pela
flebotomia e sanguessugas, hidroterapia, banhos de vapor, inalações, com as
receitas baseadas em cerca de 760 plantas medicinais, inclusive a Atropa belladona a Rauwolfa serpentina, como sedativo, usada no Ocidente até alguns
anos atrás;
– Cirúrgicos: cirurgia plástica, para
reconstrução nasal; fístulas anais; hemorroidas; tumores no pescoço; amígdalas;
drenagem de abscessos; amputações de membros; fissura lábiopalatina; hérnias; catarata;
cesariana era praticada com grande precisão, para salvar a mãe e o filho; retirada
de feto morto retido.
Além desses procedimentos cirúrgicos, o livro
descreve o tipo e a profundidade de incisão mais recomendada. A delicadeza dos
instrumentos cirúrgicos voltados à diérese e à síntese, reforçam a convicção de
que a cirurgia fazia parte integrante das práticas de cura: nos abscessos
deveria ter dois dedos de profundidade, sempre na direção das cavidades, em
certas áreas específicas, como pálpebras, bochechas, têmporas, lábios, axilas,
deveriam acompanhar as pregas naturais da pele com direção transversa, para as
regiões palmares e circulares e semicirculares para o ânus e o pênis. No término da cirurgia, a área operada
deveria ser lavada com água morna e os curativos utilizando retalhos de linhos e
drenos nos abscessos que deveriam ser retirados após três dias. As
recomendações eram enfáticas nas renovações diárias dos curativos e imobilização
das fraturas e luxações.
De modo absolutamente extraordinário, o livro
de Charaka Samhita descreve
instrumentos cirúrgicos, alguns usados até anos atrás e outros com utilidade
atual: fórceps para retirada dos fetos, nos partos com dificuldade de passagem
no canal vaginal (a cesariana de baixo risco retirou o fórceps do cotidiano das
maternidades), espéculos de exame dos condutos auditivos externos, escalpelos para abrir abscessos, drenos, seringas e tesouras de diferentes formatos, serras
indicadas nas amputações dos membros, agulhas de suturas com formas esféricas,
fundamentais nas cirurgias atuais, cautérios na coagulação de vasos nas
hemorragias.
quarta-feira, 29 de junho de 2016
terça-feira, 28 de junho de 2016
Tempo em que se contratavam os bois
Pedro Lucas Lindoso
O Festival de Parintins
tornou-se um espetáculo de proporções grandiosas. Como o carnaval do Rio de
Janeiro, o São João do Nordeste e o Natal da Serra Gaúcha, atrai turistas e
promove a cultura gerando emprego e renda, além de movimentar a economia local.
Mas em tempos de crise, as verbas estão vasqueiras, como diria meu velho pai.
Dizem que as autoridades responsáveis
pelo corte de verbas não vão ao festival. Seria medo do Pai Francisco? Quem
corta a língua de boi para satisfazer o desejo da mulher grávida, é capaz de
qualquer coisa.
Quando eu era menino e morava
na Rua Henrique Martins, sempre meu pai ou algum vizinho contratava um boi para
dançar na rua, nas festas de São João. Havia o Mina de Ouro, do Boulevard, o
Caprichoso da Praça 14, o Garantido da Cachoeirinha, o Tira Prosa do Imboca, e
ainda o Pai do Campo, Teimoso e muitos outros.
A lenda retrata a história de
Pai Francisco, um escravo que, para saciar o desejo de Catirina, sua esposa grávida,
por uma língua de boi, acaba por matar o animal de estimação do senhor da
fazenda. Percebendo a morte do boi, o coronel convoca pajés, índios e caboclos para
ressuscitar o animal. O boi ressuscita e a alegria é geral com festas e tudo
mais.
Naquele tempo o Poder Público
não se metia nem dava verbas. E tudo era muito simples. Cada bairro ou
comunidade administrava seu boi, dentro das tradições com origem no folclore do
Maranhão. E parte dos custos vinha da contribuição das famílias que contratavam
os bois para brincar em suas ruas, em frente às casas ou no quintal.
Obviamente não havia o
glamour, a grande ópera popular folclórica que temos hoje e que impulsiona a
economia principalmente da cidade de Parintins, a Ilha Tupinambarana.
Li na imprensa que as
autoridades responsáveis pelo orçamento estão sendo pressionadas diuturnamente
por verbas para os bois. E provavelmente sentem saudades de uma época em que as
famílias contratavam e pagavam pelo espetáculo dos bumbás. Ninguém lucrava com
os bois. Era um movimento folclórico genuíno.
Muitos devem estar pensando:
– Tempo bom aquele em que se
contratavam os bois.
domingo, 26 de junho de 2016
sábado, 25 de junho de 2016
sexta-feira, 24 de junho de 2016
Portugal para principiantes 5
Mercado Municipal de Santarém. |
Um entre dezenas de belos azulejos que ornam o Mercado de Santarém. |
Muralha de Santarém no Jardim Portas do Sol. |
O rio Tejo, sereno como um ancião, visto das Portas do Sol, na milenar e mítica Santarém. |
Ecoando a Ordem dos Templários, o Castelo de Tomar foi construído no século XII. |
Vista exterior do Castelo de Tomar. |
O Convento de Cristo, numa das alas do Castelo de Tomar, onde os cavaleiros templários penitenciavam-se de seus pecados. |
Detalhes interiores do Convento de Cristo. |
Detalhes do Convento de Cristo, em Tomar. |
Um dos corredores do Claustro do Convento de Cristo. |
Janela do Capítulo, no Convento de Cristo. Em Portugal, diz-se estilo Manuelino, numa referência a D. Manuel I, ao que o resto do mundo chama Gótico. |
Rua característica da pequena Tomar, sem a azáfama dos turistas. |
Fotos e
texto: Zemaria Pinto.
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Zemaria Pinto
quinta-feira, 23 de junho de 2016
Sabedoria médica nos textos vedas
João Bosco Botelho
Durante os dois últimos milênios a.C., as
práticas médicas das primeiras cidades mantiveram indissociáveis laços com as
ideias e crenças religiosas dominantes, a tal ponto de ser impossível
distinguir onde começava uma e terminava a outra.
Na Índia antiga está claro esse processo sociopolítico
complexo unindo medicina e as crenças e ideias religiosas. De certo modo, nos
dias atuais, permanece vivo em alguns segmentos sociais: os significados dos
binômios saúde-doença e vida-morte mantêm marcas profundas da influência dos
conceitos védicos contidos no Yajurveda.
Por exemplo, o termo yaksma, usado nos
textos védicos, com o sentido de debilidade, continua sendo utilizado na atualidade
no sentido de caracterizar as doenças crônicas, como a tuberculose, que exaurem
cronicamente o organismo.
De acordo com os conceitos védicos, a Medicina
teve origem divina. As práticas médicas, com o objetivo de empurrar os limites
da morte, teriam sido reveladas por Brahma a Prajapati, o senhor de todas as
criaturas, que transmitiu aos Ashvin, os médicos gêmeos; esses, à Indra, o rei dos
deuses; e este último, a Divodasa, rei de Kâshi (atual Benares). Finalmente, o
rei de Benares as ensinou aos homens mortais, revelando os segredos da medicina
aos médicos. Entre eles, estava o lendário médico indiano Sushruta.
É possível que esses personagens míticos tenham
existido e contribuído à transmissão dos conhecimentos médicos historicamente
acumulados. Um dos exemplos é o personagem Atreya, que é cantado em várias lendas
ao longo de milhares de anos.
O médico Sushruta, o último da cadeia da origem
mítica da medicina da Índia antiga, escreveu o Sushrutasamhita ou Manual
Médico de Sushruta. Esse tratado de Medicina, com novecentas páginas, nas
edições modernas, é conhecido como Corpus
Sushruta.
O magnífico Sushruta-samhita
aborda os diagnósticos e os tratamentos de muitas doenças e descreve
minuciosamente as plantas medicinais com as respectivas modalidades de preparo.
Está dividido em seis livros que tratam de: clínica; cirurgia; higiene pessoal
e coletiva; banhos e massagens; dieta e exercícios; gravidez.
O segundo mais importante livro médico da Índia
antiga é atribuído a Charaka. De data posterior ao de Sushruta, se caracteriza
pela pouca importância dada à cirurgia como forma de tratamento das doenças.
É provável a influência da medicina grega sobre
alguns aspectos da Medicina na Índia antiga e vice-versa. Um dos exemplos da
confluência dos conceitos que existiu entre as duas Medicinas é a referência à
temperatura dos lugares, às estações do ano, aos períodos das chuvas e ao vento
nas obras de Sushruta, Charaka e nas publicações da Escola de Cós.
As semelhanças dos conceitos são grandes para
serem somente meras coincidências. No livro “Dos Ventos, Águas e Ares”,
atribuído a vários autores, escrito em torno do século 4 a.C., na Grécia, na
Escola de Cós, existem passagens muito semelhantes às dos livros indianos, em
especial, os de Sushruta e Charaka.
Em acréscimo às aproximações conceituais, o
juramento dos iniciados na Medicina da Índia antiga também guarda notável
similaridade ao sermão atribuído a Hipócrates. Os pontos doutrinários de ambos
os juramentos são basicamente os mesmos: valorização aos professores que
contribuíram na formação médica, dedicação às atividades de curar; origem
divina da medicina; resistência frente às tentações da sexualidade; manutenção
do segredo profissional; e obediência às normas sociais.
quarta-feira, 22 de junho de 2016
terça-feira, 21 de junho de 2016
Dom da ubiquidade
Pedro Lucas Lindoso
Santo Antônio é um dos
santos mais queridos do Brasil. Em 13 de junho é celebrado festivamente em
Lisboa, onde nasceu. Aqui no Amazonas, a
cidade de Borba o tem como padroeiro e a festa é considerada uma das maiores do
Brasil.
Minha avó materna, dona
Brigitta Daou, era natural de Borba e devota de Santo Antônio.
– Se milagres tu procuras,
pede-os logo a Santo Antônio, dizia ela.
O santo acalmava o raivoso
mar enfrentado pelos portugueses em direção ao Brasil. Faz achar coisas perdidas
e dá saúde aos doentes. Mas a grande fama de Santo Antônio tem sido como santo
casamenteiro.
Quando Marinete*, conhecida
senhora manauara, fez vinte e um anos, uma de suas primas, maldosamente,
praguejou:
– Vinte e um é o primeiro
tiro da macaca! Vai ficar solteirona.
Em passeio a Portugal, Marinete
comprou em Lisboa uma linda imagem de Santo Antônio. No ano seguinte, ao dar o
segundo tiro da macaca, resolveu ir à festa de Santo Antônio de Borba, aqui no
Amazonas. Levou a imagem portuguesa.
Conversando com uma cabocla
borbense, a qual, cobiçando sua imagem portuguesa, vaticinou:
– Essa imagem você comprou.
Só serve se for roubada. E você tem que maltratar o santo. Põe ele de cabeça
para baixo. Ele vai te arrumar um marido.
Marinete deu-lhe a imagem
portuguesa de presente. Aproveitou para furtar o Santo Antônio da borbense,
displicentemente esquecido na saleta de visitas.
E começou sua saga de maus
tratos e xingamentos ao santo casamenteiro. Pendurava-o de cabeça para baixo.
Chamava-o de careca feioso. Ameaçava afogar o santo numa bacia de água fria.
Dizia que ia prendê-lo num garrafão até ficar sufocado na sua batina fedorenta.
Chegou ao cúmulo da heresia ao chamar o santo de nojento.
Antes do terceiro tiro da
macaca Marinete conheceu um jovem e talentoso advogado que a desposou, com
todas as pompas e circunstâncias.
Esse ano foi agradecer ao
santo Antônio de Borba. Ao confessar seus pecados e heresias feitas ao santo,
ouviu do padre:
– Minha filha, santo Antônio
não merece. É doutor da Igreja. Tinha o dom da ubiquidade. Podia estar em dois
lugres ao mesmo tempo.
Marinete respondeu:
– Me desculpe padre, não
sabia desse dom e nem o que é ubiquidade. O que eu queria mesmo era me casar.
*Nome fictício.
domingo, 19 de junho de 2016
sábado, 18 de junho de 2016
sexta-feira, 17 de junho de 2016
Portugal para principiantes 4
Móvel em madeira no interior do Castelo. |
Detalhe do Salão Nobre. |
Uma das muitas obras de arte que iluminam o Castelo da Pena, com motivos da mitologia greco-romana. |
Aqui, o mito parece evocar uma cena histórica: observem o barbudo, no alto, à esquerda; não é a cara de D. Pedro I, quer dizer, Pedro IV? |
A cozinha real, conservada tal como era (ou devia ser) à época de suas majestades. |
Ainda em Sintra, o Castelo dos Mouros, visto do Parque da Pena. Dois castelos num só dia era demais... |
O Farol do Cabo da Roca. |
Paisagem do Cabo da Roca. |
A solar Cascais em dia de muita nuvem. |
Cascais com frio. |
Fotos e texto: Zemaria Pinto.
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Zemaria Pinto
quinta-feira, 16 de junho de 2016
Curas nos livros sagrados da Índia
João Bosco Botelho
É provável que a medicina, na Índia antiga, estivesse
sistematizada séculos antes da invasão pelos arianos vedas, em torno do ano
2.000 a.C. Os estudos arqueológicos na cidade Mohenjo-Daro, no noroeste da Índia,
nas margens do rio Indo, mostram que os seguimentos aluvionais, com até 6.000
anos, oferecem-lhe a primazia de estar entre as cidades mais antigas do mundo. As
escavações arqueológicas mostram ruas bem traçadas, rede de esgotos,
canalização para água e banhos públicos. Esses achados reafirmam ideias precisas
dos cuidados de saúde pública na profilaxia das doenças.
A primeira sistematização da medicina na Índia
antiga está contida no Ayurveda, escritos originalmente em sânscrito e pleno de
forte religiosidade. Esses textos podem ser entendidos como a compreensão do
corpo ligado ao mundo circundante, donde Veda (conhecimento, saber) e Ayur ou
Ayu (corpo vivente religado ao mundo pelos cinco sentidos). Dessa forma, também
é aceitável compreender a palavra Ayurveda
como o conhecimento da vida humana ou a ciência da vida humana.
O Ayurveda significa veda da longa vida e
constitui a base teórica da medicina tradicional da Índia. O texto original é
constituído de mil capítulos divididos em cem mil versículos ou Shlokas, por
sua vez, subdivididos em Ashtânga, palavra até hoje entendida, na Índia, como
sinônimo de Medicina.
Os oito capítulos do Ayurveda tratam de temas
médicos específicos:
Shalya:
cirurgia para retirada de corpo estanho, feto morto retido intra-uterino, drenagem
de ferida com pus e a utilização de instrumental cirúrgico;
Shalakya:
cirurgia dos olhos, nariz, orelhas e garganta;
Kayacikitsã: tratamentos
clínicos com mais de oitocentos diferentes tipos de plantas medicinais;
Bhutavidya: ensinamentos
de como se comunicar com os espíritos dos mortos, demônios e doentes possuídos
pelos deuses causadores de doenças;
Kaumarabhritya:
cuidados dos recém-nascidos e das mulheres grávidas;
Agadatantra:
toxicologia, os venenos e os antídotos;
Rasayana ou Jarâ: plantas do rejuvenescimento e os
afrodisíacos que contribuem para a manutenção da saúde;
Vajikarana ou Vrisha: descreve as propriedades dos
afrodisíacos.
As práticas médicas indianas estavam
diferenciadas em relação às do Egito e a assírio-mesopotâmica porque possuía estrutura
teórica para explicar a saúde e a doença, que aconteciam, respectivamente, pelo
equilíbrio ou desequilíbrio dos cinco elementos fundamentais: dhatu: éter ou vazio; vayu: vento; agni: fogo; jata: água; bhumi: a terra.
A alimentação inadequada seria o determinante
mais significativo da desarmonia entre os cinco elementos que regiam a vida.
Como consequência, a dieta e a higiene desempenhavam papel crucial no
tratamento contido no Ayurveda.
Ainda hoje, essas terapêuticas distinguem os
remédios que fortalecem o corpo dos que curam. Os primeiros eram os afrodisíacos
e os segundos eram os vegetais com propriedades medicinais, que deveriam ser
tomados segundo as normas rituais contidas nos Vedas.
É importante ressaltar que o Ayurveda entende
três tipos de doenças: curáveis (sadhya),
melhoráveis (yapya) e incuráveis (pratyakhyeya), consequências de culpas
das vidas anteriores (karmaja) e para curá-las é indispensável fazer a
penitência (prayashcitta).
Esse livro magistral descreve mais de setentas
espécies de vegetais, alguns utilizados nos dias atuais pelo curador andarilho –
shivaista – que, cantando hinos védicos, os administra aos doentes.
Não há dúvida: os ensinamentos do Ayurveda
ainda são extraordinárias fontes de saberes.
quarta-feira, 15 de junho de 2016
terça-feira, 14 de junho de 2016
Ninguém entendeu o sermão
Pedro Lucas Lindoso
Quem se chama Pedro não escapa
de ser chamado Peter pelos professores de inglês. Nem de Pierre se resolver
também estudar francês. Conheci um caboclo chamado Guilherme que ficou
altamente feliz quando descobriu que seu nome equivalia a William em Inglês. Nome
de rei!
Seu Guigui, como é conhecido,
tem muito dinheiro e pouca instrução. Mas é boa praça. Viaja muito e, claro,
vive passando vexame mundo afora. Mas conta seus contratempos para todos e ri
de si mesmo.
Sonhava em conhecer Florença,
na Itália. Somente quando a excursão retornou a Roma é que seu Guigui descobriu
que Firenze era Florença. Disse que tinha que voltar lá porque na cabeça dele
não tinha conhecido Florença e sim Firenze. Desde então quando se refere a uma
cidade do exterior coloca a tradução em parêntesis.
Estava no avião em voo que
saiu de New York (Nova Iorque) com destino a London (Londres). Ao amanhecer a
comissária lhe ofereceu aquela toalhinha branca, enroladinha e levemente
aquecida. Guigui achava que era tapioquinha e pôs na boca. E conta o fora para
todo mundo. Sem constrangimentos.
Da mesma forma que relata o
dia que quase brigou com a esposa em Paris. Ela queria ir ao Champs Elisée e Guigui
aos Campos Elísios. Quando descobriram que era o mesmo lugar, quase se acabaram
de tanto rir.
Na última vez que esteve na
Europa pegou uma excursão de ônibus saindo de Lisboa até Paris. A guia, uma
senhorinha portuguesa se referia à rainha Elizabeth II, como Isabel II da
Inglaterra. Guigui falou à esposa:
– Essa portuguesa quer me
confundir, disse ele.
E confundiu. Guigui sabia que
iria passar por Bordeaux, no sul da França. Ouviu falar dos vinhos e da cidade.
A portuguesa só chamava a cidade de Bordéus.
Quase acontece o mesmo que aconteceu em Florença.
Ao ouvir as estórias do
Guigui, lembrei-me de Frei Donald, pároco americano da Igreja de Santo Antônio,
em Brasília. Ele aprendeu que os brasileiros chamavam Martin Luther, o
protestante tradutor da bíblia para o Alemão, de Martinho Lutero. Só não
avisaram que o Martin Luther King, o negro americano expoente dos direitos
civis, que foi assassinado, não era Martinho Lutero King.
Ninguém entendeu o sermão
naquele domingo.
domingo, 12 de junho de 2016
sábado, 11 de junho de 2016
sexta-feira, 10 de junho de 2016
Portugal para principiantes 3
Claustro, no interior do Mosteiro. Como se observa, o claustro não era assim tão claustrofóbico. |
O modernoso túmulo de Fernando Pessoa, no Mosteiro. O poeta descansa em pé? |
Deitadinho, como manda o figurino clássico, o poeta Luís Vaz de Camões. |
Detalhe do Portal Principal do Mosteiro dos Jerônimos. |
Entrada do Castelo da Pena, em estilo mourisco, lembrando o invasor árabe. |
Detalhe do Castelo da Pena, em estilo medieval. |
Uma das entradas para o Castelo, que foi residência dos reis de Portugal. |
Detalhe mostrando a variedade de estilos do Castelo da Pena. |
Detalhe do Castelo da Pena, cujo interior ainda conserva o fausto dos tempos imperiais. |
Ainda no Castelo da Pena, o Pórtico do Tritão, em estilo gótico. |
Fotos e
texto: Zemaria Pinto.
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Zemaria Pinto
quinta-feira, 9 de junho de 2016
Influência da astrologia na medicina
João Bosco Botelho
Na Mesopotâmia dos anos 1700 a.C., existiu forte presença de
práticas de adivinhação, descritas nas tábuas de argila, com escrita
cuneiforme, o que acontece em várias passagens do Antigo Testamento. De modo
geral, os adivinhos atuavam em duas vertentes: a astrologia e a hepatoscopia
(aspecto do fígado) dos carneiros sacrificados.
A astrologia mesopotâmica pretendeu estabelecer a relação
entre os movimentos dos astros e as doenças. A aceitação coletiva gerou
formidável exército de especialistas, capazes de interpretar os movimentos dos
astros como sinais de diagnóstico e prognóstico.
É possível que a hepatoscopia estivesse atada às primitivas
relações pré-históricas com o sangue. O fígado, como o mais sanguíneo dos
órgãos, era identificado como o centro da vida. Assim, quem pudesse interpretar
as mensagens contidas no fígado dos animais sacrificados, estaria mais próximo
de saber onde, quando e como as doenças acometeriam as pessoas.
Parece que o mais antigo deus protetor da Medicina, na
Mesopotâmia, foi representado pela Lua, com o nome de Sin. Essa divindade
noturna governava o crescimento das ervas medicinais, por esse motivo, não
poderiam ser expostas aos raios do sol.
Entre os mais poderosos deuses do panteão mesopotâmico,
protetores dos adivinhos e dos médicos, capazes de provocar doença e garantir a
saúde se destacam: Marduk, o grande deus curador; Ninib, filho de Enlil, deus
protetor; Nabu, deus das ciências e da arte de curar; Ninchursag, deus ligado a
oito divindades, cada uma com poder de curar uma doença específica; Ninurta,
deus dos médicos; Gula, mulher de Ninurta; Ningischzida, filho de Ninurta,
representado pelas duas serpentes enroladas no bastão; Sachan, a
deusa-serpente; Ishtar, a deusa da graça, da fecundação e criadora da libido no
homem e na mulher.
Além desses deuses e deusas, os demônios responsáveis pela
dor e doenças: Nergal, da febre; Ashakku, do pulmão; Tiu, dor de cabeça;
Namtaru, da boca, do nariz e das orelhas.
Os adivinhos, valorizados e bem pagos, se construíram junto
ao convencimento coletivo da capacidade de empurrarem os limites da morte. Por
outro lado, a medicina mesopotâmia se aderia à astrologia, onde a presença de
deuses e demônios era entendida como fator importante à obtenção da cura.
Alguns deuses, influenciados pelo movimento dos astros,
poderiam se postar a favor ou contra certa doença, dependendo do ato cometido
pelo doente: Marduk e Gula são os principais exemplos.
A relação da medicina mesopotâmica com a adivinhação, tanto
por meio da astrologia quanto pela hepatoscopia, está descrita nas tábuas de
argila onde é possível identificar dois tipos de médicos: Ashipu, do
diagnóstico quase sempre obtido com a ajuda dos deuses, e Asu, do tratamento
com plantas medicinais usadas em determinadas confluências dos astros.
Mantendo-se as obrigatórias margens históricas, sem pretender
comparar, professores e alunos da Universidade Federal do Amazonas, entre 1982
e 1984, no trabalho de extensão, que eu tive a honra de coordenar, no município
do Coari, nas comunidades ao longo do rio Copeá, comprovou o quanto é forte a
relação das pessoas com os astros e a crença coletiva de terem poder de causar
doenças mortais.
Em uma dessas pequenas comunidades, no alto Copeá, vimos os
hansenianos com as imagens de São Lázaro atadas no pescoço e ouvimos a
benzedeira explicar porque algumas plantas medicinais não curam: colhidas na má
influência da lua ou do sol. E repetiu enfática: só cura quem conhece o céu!
quarta-feira, 8 de junho de 2016
terça-feira, 7 de junho de 2016
Feliz foi Adão...
Pedro Lucas Lindoso
Certo dia chuvoso do mês de
abril encontro-me com meu amigo Dr. Chaguinhas, no corredor do fórum. Alguém
comenta que 28 de abril é dia da sogra. Chaguinhas lamenta-se de sua sogra. Diz
que faz ingerências terríveis em sua casa. Deseduca seus filhos. Não se dá bem
com sua mãe. É um relacionamento complicado. Já de minha parte, nada a
reclamar. Minha sogra é gentil. Jamais interferiu em nossa vida. Principalmente
agora que moramos em cidades distintas.
Chaguinhas então se lembrou de
um cliente, um próspero caminhoneiro, hoje dono de uma pequena transportadora. O rapaz também tinha sérios problemas com a
sogra. Procurou Dr. Chaguinhas para uma inusitada consulta e aconselhamento
jurídico.
– Foi no início do ano
passado, me disse Chaguinhas. O sujeito marcou hora com minha secretária. Era
um assunto ligado ao direito de Família.
Pensei que o cliente queria se
divorciar. Mas que nada. Ele queria uma ordem judicial para impedir que sua
sogra, vamos chamá-la de dona Olga, a entrar em seu domicílio. Dizia-me que as
visitas da mãe de sua esposa poderiam acarretar a dissolução de sua vida
conjugal ou mesmo um possível crime.
É fato que algumas sogras
se sentem no direito de visitar a casa da filha sem perceber que podem estar
invadindo a privacidade de marido e mulher.
Chaguinhas aconselhou ao
cliente que era preciso impor limites. Para tanto é necessário contar com a
conivência, parceria e colaboração da esposa.
O cliente caminhoneiro
argumentou que dona Olga aparece em sua casa sem aviso prévio. Opina em tudo na
vida do casal. Como caminhoneiro, transporta mercadorias de Manaus a Boa Vista
e vice-versa. Aproveita suas ausências em viagens de trabalho para manter com a
filha uma conexão paralela de informações, com ingerências na administração de
sua casa, excluindo-o de fatos importantes de seus filhos e de sua família.
Finalmente, Chaguinhas disse
que não poderia ajudá-lo. Que procurasse um psicólogo. Ele e a esposa.
Quanto à proibição de sua
sogra em visitas, Dr. Chaguinhas disse que aquilo era legalmente impossível.
Ela é avó. Os avós tem todo o direito de visitar os netos.
Ao se despedir do cliente
caminhoneiro, Chaguinhas notou o adesivo colado no automóvel:
– Feliz foi Adão que não teve
sogra nem caminhão.
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