Amigos do Fingidor

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

A poesia é necessária?

Poesia

Benjamin Sanches (1915-1978)

 

Procurei a poesia

Entre pétalas de rosas

Sentindo o seu perfume

Se esvaindo pelo espaço

Mas, estes meus dedos curtos

Não conseguiram tocá-la.

 

Fui encontrar o lirismo

No ventre da madrugada

Entre tristonhos amantes

Ela por cima das nuvens

Ele trepado no poste

Olha e pisca namorando.

 

Quando fui me aproximando

O moço fechou os olhos

A mocinha se escondeu

E tateando no escuro

Retalhei as minhas veias

Nas cinco pontas da estrela.

 

Ajoelhei-me no espaço

Pedindo perdão à luz

Meu sangue foi derramando

Pintando as vestes das nuvens

E o rei sol me perdoando

Fez-me engolir uma lua.

  

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

terça-feira, 26 de setembro de 2023

Viva o Zé Gotinha!

Pedro Lucas Lindoso

 

Há dois ditados que ouço desde sempre e nos quais acredito piamente: um homem prevenido vale por dois e é melhor prevenir que remediar.

De fato, prevenção é tudo. Na Engenharia e na Administração, o Equipamento de Proteção Individual – EPI, utilizado pelos trabalhadores, para proteção contra riscos à sua segurança e à sua saúde, é fundamental. No Direito, o parecer de um advogado é importante antes de assinatura de contratos em geral.

Mas é na Medicina que a prevenção se apresenta de crucial importância. Os “check ups” ou exames periódicos devem ser feitos regularmente. Sinais de doenças podem ser detectados preventivamente e a cura é garantida.

Mas nada previne determinadas doenças com eficiência e eficácia como as vacinas. O Brasil é craque em vacinação. Em 18 de setembro 1973, em pleno Regime Militar, foi criado o Programa Nacional de Imunizações – PNI, uma das grandes conquistas da saúde pública brasileira e uma das maiores iniciativas do mundo, no gênero. Assim, nesse calorento setembro, o exitoso programa completa 50 anos de existência.

Não compreendo porque o governo anterior não prestigiou como deveria, as ações do PNI. Mas não quero polemizar em torno de ideologias. Geralmente os membros do Rotary são pessoas conservadoras. Uma das coisas que me fez aderir ao Rotary Club e nele permanecer é um dos programas carro-chefe da instituição: o END POLIO NOW.

Segundo informações de meus pais, esse cronista teria sido um dos primeiros bebês de 1957, a ser vacinado em Manaus, da vacina Salk. Essa vacina pioneira contra a poliomielite (paralisia infantil) é feita de vírus inativados, para aplicação intramuscular ou subcutânea. Em crianças pequenas.

Hoje o nosso Programa Nacional de Imunização, segundo a enfermeira Neusa, lotada no Posto de Saúde do SUS, possui cerca de 30 vacinas para imunização dos brasileiros e brasileiras. Isso é formidável. Muitos países não oferecem isso em seu sistema público de saúde.

Em nossa família, a atualização da carteira de vacinas é preocupação constante. Minhas quatro netinhas seguem sendo vacinadas com regularidade. Peço aos pais, tios, irmãos e avós que observem se os cartões de vacinação das crianças da família estão em dia. Isso salva a vida delas!

O Zé Gotinha é um personagem criado em 1986 pelo artista plástico Darlan Rosa para a campanha de vacinação contra o vírus da poliomielite. Ficou famoso no Brasil inteiro nas campanhas de vacinação. Andou sumido, mas está de volta. Viva o Zé Gotinha!

 

domingo, 24 de setembro de 2023

Manaus, amor e memória DCXXXVII

 

Revista Redempção (1925).

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

A poesia é necessária?

 

A flor de lótus

Pollyanna Furtado

 

A lama formada

não deforma a flor.

Aflora límpida lágrima

da face imaculada.

Clara sobre musgos

cresce silenciosa.

A mão que escreve

é a mão que planta

sementes de luz.

Brota em chão difícil

uma estrela úmida.



terça-feira, 19 de setembro de 2023

Símbolo da cidade

Pedro Lucas Lindoso

 

O Cristo Redentor é símbolo do Rio de Janeiro; a Estátua da Liberdade, de Nova Iorque; e a Torre Eiffel, de Paris. Nossa Manaus tem como logomarca turística o icônico Teatro Amazonas. A nossa “opera house”.

Procurei no Google quais seriam as mais bonitas e glamorosas “opera houses”. As que mais se destacam são o Metropolitan Opera House, em Nova York, o Harbin Grand Theatre, na China,  o Palais Garnier, em Paris, o Teatro Colón de  Buenos Aires, o Teatro Alla Scala de Milão, a Vienna State Opera, a Sydney Opera House, e, claro, o Bolshoi Theater, em Moscou.

Essas listas de mais bonitas e mais glamorosas são de uma subjetividade e relatividade impressionantes. Depende de quem as elabora e de interesses comerciais, turísticos e econômicos. Dizem que tudo é relativo. Mas grana, poder e prestígio influenciam em tudo e por tudo.

No caso das “operas houses” há de se considerar a época e a localização desses teatros. Inaugurado em 1778, o Teatro Alla Scala de Milão é, provavelmente, e em minha opinião, a mais famosa casa de ópera que existe. Não se pode compará-la com o Metropolitan Opera House, de Nova Iorque. A plateia do Metropolitan tem capacidade para 3.995 pessoas, o que faz dela a maior casa de ópera do mundo. Ocorre que o Metropolitan é de 1963 e o Scala de Milão é do século 18!

O Teatro Colón de Buenos Aires é maior que o nosso Teatro Amazonas. Mas não há dúvidas que tanto o Municipal do Rio de Janeiro quanto o nosso Teatro Amazonas superam o Colón em charme e grandiosidade. Que me desculpem os hermanos.

Em Brasília temos o Teatro Nacional Claudio Santoro. Foi projetado em 1958 por Oscar Niemeyer. Chamado inicialmente de “Teatro Nacional de Brasília”, a partir de 1989 passou a se chamar oficialmente “Teatro Nacional Claudio Santoro”, em homenagem ao maestro e compositor amazonense que criou e dirigiu a sua orquestra. Está em reforma há muitos anos. Os brasilienses aguardam a conclusão das obras com ansiedade.

Levei uns amigos de Brasília para conhecer o nosso Teatro Amazonas. O guia turístico, com desculpável ufanismo baré, dizia que Manaus era a única cidade do mundo que tinha um teatro como símbolo e logomarca.

Alguém protestou dizendo que o Teatro de Sydney é um dos edifícios de espetáculos mais marcantes em nível mundial, e um dos símbolos não só da cidade como da Austrália.

A ponte Rio Negro, que quer o lugar do teatro como símbolo da cidade, sorriu.

Teatro Amazonas.


 

domingo, 17 de setembro de 2023

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

A poesia é necessária?

 

A construção

Darlene Fernandes

 

 

A poesia vai se formar

É a poeta indagando a realidade do mundo

Às vezes fantasiosa

Quebrando o gelo do tempo

A poesia vai se alinhando

Brincando

Pegando ritmo

Nesta história de amor

Um pouco de mistério vai bem

Para silenciar a dor

A poeta engravidou a poesia

Muito rápido

Um grito para despertar o interior

A poesia está viva

Bate silenciosamente

Vai mexendo com a poeta

A vida é curta para quem ama.

 

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Tá doido, sô?

Pedro Lucas Lindoso

  

Em Minas Gerais é comum a expressão “tá doido?”, para situações de surpresa, espanto ou admiração. Mineiro nenhum se ofende. Uma candidata de Minas ao programa Master Chef disse aos jurados que trouxera de Minas uma galinha caipira. Iria prepará-la especialmente para aquela competição. Uma jurada perguntou-lhe se a galinha estava viva. No que ela respondeu: “tá doida?” A jurada se espantou. A chef explicou-lhe que era força de expressão. Um jeito mineiro de falar. Tia Idalina ensina que quando a pessoa diz: “estou ficando louco”, não tem problema. Torna-se sério quando o fulano diz e repete: “não sou louco!”

Uma das loucuras da nossa História feita por um mineiro foi a construção de Brasília. O primeiro hospital da cidade, chamado de Hospital Distrital ou Hospital de Base, tinha o nono andar reservado para Psiquiatria. Na Brasília em construção, quando alguém se transtornava, dizia-se que a pessoa iria para o nono andar.

Outra loucura histórica foi a fuga da Família Real Portuguesa das tropas de Napoleão. Dona Maria, a louca, seu filho dom João VI e toda a corte aportaram no Rio de Janeiro, em 1808. Foi uma loucura. Mas os feitos de Dom João VI foram tantos que, quatorze anos depois, estávamos independentes de Portugal.

Neste setembro estamos comemorando 201 anos do Grito do Ipiranga. Entretanto, a Província do Grão Pará, incluindo a Capitania do Rio Negro, não aderiu de imediato à Independência do Brasil.

As forças políticas de Belém eram todas de origem portuguesa e não queriam que o Pará aderisse à Independência do Brasil, para não perder privilégios. Ademais, a Província do Pará havia aderido aos ideais da revolução constitucionalista do Porto. A adesão só ocorreu em 15 de agosto de 1823. Tratou-se uma anexação negociada com a classe política de Belém que foi coagida a aderir ao Império pela ameaça de bombardeio e bloqueio.

Aqui em Manaus, a adesão só correu em 9 de novembro de 1823.  Mais de um ano após a efetiva Independência do Brasil de Portugal.

A nossa Amazônia já foi historicamente Província do Maranhão e Grão Pará. Quando a Corte veio para cá, em 1808 cogitaram até ir para Belém. Era bem mais perto!

E não é que recentemente um importante mineiro, que governa as Minas Gerais, propôs desanexar a Amazônia do próspero sudeste do Brasil? Tá doido, sô? 

 

 

domingo, 10 de setembro de 2023

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

A poesia é necessária?

 

Debilidades

Marta Cortezão

 

Sempre haverá

um sorriso guardado

no rosto sofrido.

Um beijo idealizado

na boca que ultraja.

Um abraço esquecido

nos lânguidos braços.

Um grito contido

no peito que escarra.

Um prazeroso gemido

na profunda garganta.

Um doce toque

nas mãos calejadas.

E nos ríspidos passos,

sutis pegadas.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Entretenimento infantil

Pedro Lucas Lindoso 


Recebi a notícia que o palhaço Pão de Queijo faleceu em Brasília. Ele fazia parte de uma trupe de palhaços brasilienses. Todos, coincidentemente, tinham nomes de comidas. Pão de Queijo era mineiro. Acarajé é baiano. Pamonha é natural de Goiás. Mugunzá, nordestino. Sanduba, carioca e o único gay da trupe, é o Bambolê.

Eventualmente se empregavam em circos. Faziam festas infantis, shows e apresentações diversas em eventos públicos e privados. A trupe se desfez há alguns anos. Alguns trabalhavam em duplas e outros sozinhos mesmo.

O palhaço mais famoso da minha infância foi o Carequinha. Era carioca e de uma família circense. Seus pais foram os famosos trapezistas Savalla.

Lembro-me do Carequinha se apresentando aqui em Manaus, no Bosque Clube. Fez história na televisão brasileira por ser o primeiro palhaço a ter um programa, o “Circo Bombril”, posteriormente rebatizado como “Circo do Carequinha”.

Na década de 1980, apresentou um programa chamado "Circo Alegre", na extinta TV Manchete. Carequinha foi o responsável por criar diversas brincadeiras com crianças. Depois, muitas dessas brincadeiras foram usadas por Xuxa e outras apresentadoras de programas infantis. Carequinha introduziu na TV brincadeiras como rodar bambolê, calçar sapatos, furar bolas, dentre outras.

A história da televisão brasileira deve muito ao Carequinha. Na minha opinião, com muito pouco reconhecimento. Carequinha faleceu bem idoso. Com cerca de 90 anos, na primeira década deste século.  Na TV Globo teve participações na Escolinha do Professor Raimundo e até em novelas.

A atriz Araci Balabanian, falecida recentemente, apresentava um programa americano adaptado para nossa TV, chamado Vila Sésamo. A TV aberta não está mais apresentando programas infantis como Show da Xuxa, Angélica e Eliana. Como avô presente e participativo na vida de minhas netinhas, sinto falta desses programas. Preocupo-me com a exposição exagerada das crianças de hoje na internet.

Bons tempos aqueles em que as crianças só tinham acesso à TV aberta e seus programas infantis. Alguns desenhos animados não me agradam. A maioria não são brasileiros e desconhecem a nossa cultura, nosso folclore e nossas tradições. Saudades também do Sítio do Picapau Amarelo e do Castelo Rá-Tim-Bum. O correto entretenimento das crianças é nossa responsabilidade.


domingo, 3 de setembro de 2023

Manaus, amor e memória DCXXXIV


Revista Redempção (1925).

 

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Psicopatologia da composição de Música para surdos 6/6

Zemaria Pinto

  

4o   movimento – lírica antilírica

 

. “exercício nº 7” síntese do primeiro movimento, onde o interesse do poeta flutua entre o vazio da adolescência e a solidão da velhice, culminando com a redescoberta da poesia, este exercício faz um breve inventário do mundo decadente que o circunda – a violência do trânsito, a poluição das cidades, a agressão ao meio ambiente, a violência urbana – transformando tudo isso em matéria de poesia, de uma difícil poesia, que não recusa o poema, e transubstancia-se na própria matéria da vida.

. “exercício nº 15” – a tristeza do segundo movimento é inoculada neste exercício, não mais representando a perda do objeto do desejo, mas a perda da poesia, em nova alusão frontal a Dante, tal como no “exercício nº 8”. A figura da pantera, recorrente em Dante e Rilke, já citados, volta neste exercício com todo seu simbolismo destruidor. O poeta abandona-se à violência, pois, no seu delírio, ele tem consciência do pesadelo, do qual despertará, vivo, no exercício seguinte, o de número 21, que termina o poema, tendo o iniciado.  

 

O poema vivo. Eis o meu poema, com todas as suas portas e janelas abertas à visitação, à exposição pública. Salvo, é claro, algumas frestas e goteiras que a mente esforça-se em vedá-las. Mas aí não poderei fazer nada além de pedir ao leitor que acredite em minha sinceridade. Um tempo razoável se passou entre os derradeiros versos escritos (as garras invisíveis me violavam / dilacerando a pele da memória) e este texto. Outro tanto, com certeza, vai passar até que este amontoado vire livro. Isso, entretanto, ainda não será garantia de nada.

É um poema apenas. Dois anos para escrevê-lo. Noites maldormidas, pesadelos, desconcentração diurna, e, no final, a que serve o poema?  

Ao vê-lo, assim, desprotegido, como semente sem água e sem luz, pergunto-me: valeu a pena? E lembro do velho Pessoa: “Tudo...”. Ah, o leitor deve estar cansado de tanta citação!

Servirá, sim, para eu dizer um dia que pude escrevê-lo. Pude construí-lo, como se constrói um muro – ou uma escada. Para quem, senão para mim mesmo?

 

 

Manaus, janeiro/1998; junho/2018 (revisão e notas)