quinta-feira, 30 de agosto de 2018
A medicina entre confrarias, corporações e irmandades 1/2
João Bosco Botelho
As corporações, confrarias e irmandades, em especial a
Confraria dos Cirurgiões, fundada por Jean Pitart, parecem ter sido parte da
resistência dos trabalhadores que continuavam à margem das melhores fatias da
organização social na alta Idade Média.
O aperfeiçoamento desse processo de resistência contribuiu
para o surgimento dos grupos de proteção mútua, nos moldes da “compagnia”
fundada em Gênova em 1099 e financiada pelos marítimos.
Desde a baixa Idade Média, existiam organizações dedicadas à
guarda do interesse coletivo de grupos de trabalhadores especializados. A
encontrada em Valenciennes floresceu entre 1050-1070, tinha uma característica
predominantemente laica, enquanto que a de Saint-Omer, ativa entre 1072-1080,
era de natureza eclesiástica. Algumas delas já apresentavam rígida estrutura
administrativa, com um órgão de decisão (capitulum), um líder (decani) e uma
sede (guildhus).
As corporações-confrarias-irmandades ofereciam novo tipo de
proteção aos membros, sob a presença dos santos mais importantes ou ligados à
tradição religiosa da região. A próspera corporação de lanifício de Florença,
com cerca de vinte mil operários e duzentas oficinas, pode representar muito
bem esse interesse eclesiástico: a sede dessa rica corporação, o Palácio da Lã,
se ligava por meio de uma ponte com a Igreja Orsanmichele.
As corporações-confrarias-irmandades surgiram fortalecidas em
regras protecionistas de solidariedade econômica e social, em articulação com a
hierarquia das autoridades religiosas e laicas. A Igreja se manteve próxima
dessa nova articulação social compreendeu a importância histórica e estimulou
novas alianças a partir de estreitas ligações com os líderes, especialmente, na
Confraria dos Cirurgiões, já que os cirurgiões-barbeiros se mantinham fora da
ordem eclesiástica.
É importante relembrar que o aparecimento desse personagem, o
cirurgião-barbeiro, foi consequência da resposta social à interdição
intolerante da Igreja à dissecção do corpo morto para fim de estudo da anatomia
e ao fechamento das escolas de Medicina, determinando que os cirurgiões
ficassem cada vez mais escassos até o completo desaparecimento, na primeira
metade do século 9.
quarta-feira, 29 de agosto de 2018
terça-feira, 28 de agosto de 2018
Faltou o pai da Anna Júlia
Pedro Lucas Lindoso
Seminário jurídico de uma empresa do Polo Industrial de
Manaus. Ao final dos trabalhos é oferecido um coquetel de encerramento. Um
piano toca músicas suaves, enquanto advogados e executivos confraternizam
animadamente. De repente, um deles pede ao pianista:
– Toca “Marina”. Prontamente atendido. A música de Dorival
Caymmi é executada ao piano e magistralmente cantada pelo pianista. O
solicitante fala ao telefone com sua filha que se chama Marina. A moça é
instada a ouvir a música pelo celular do pai.
– Toca “Roberta”, pede outro. E a cena se repete. Por fim, um
terceiro solicita ao pianista que cante “Aline”.
O pai da Marina explica que não deu o nome a sua filha por
causa da música, muito bonita, por sinal. Mesmo porque não ficaria triste em
ver a filha bem maquiada nem ficaria de mal com ela.
Já o pai de Roberta confessa que a mãe dela não sabe e nem
pode saber. Antes de conhecer a mãe da garota, o tiozão sukita do pedaço havia
namorado outra “Roberta”. A famosa canção italiana, cantada em bom italiano por
Peppino di Capri, diz:
Roberta, ascoltami (Roberta, me escute)
Ritorna, ancor' ti prego (Volte, mais uma vez lhe peço)
A tal Roberta, obviamente não o perdoou e não voltou. O coroa
casou com outra. E essa outra não vai perdoar-lhe se souber o motivo do nome da
filha.
Já o pai de Aline, que já é uma jovem senhora, foi mais
tranquilo. Disse que tanto ele quanto a mãe da Aline, namoram até hoje ao som
da bela canção francesa de Cristophe, nome artístico de Daniel Bevilacqua.
Aline foi o primeiro sucesso do cantor e compositor francês. Aliás, gostamos de
música francesa e nossa lua de mel foi em Paris, explicou o pai da Aline.
O pianista se divertia com a conversa. Quando garotas e
adolescentes as meninas ficam envergonhadas, mas depois se acostumam.
Comentou que as três músicas são muito requisitadas nos dias dos pais em todas
as churrascarias do Brasil. Tem ainda uma outra. E perguntou: cadê o pai da Anna Júlia?
Esse é roqueiro e fã de Los Hermanos. Certamente, bem jovem.
Ainda não fez concurso para a companhia, respondeu o pai da Aline.
segunda-feira, 27 de agosto de 2018
domingo, 26 de agosto de 2018
sábado, 25 de agosto de 2018
quinta-feira, 23 de agosto de 2018
Zona de Guerrilha Franca
Zemaria Pinto
111 – Pesquisas. Têm seu
lado bom, quando feitas com honestidade e isenção. Manipuladas, são uma merda.
Mas, mesmo isentas e honestas, podem ser manipuladas na leitura.
112 – Quando o Merval
Pereira diz que se o Lula tem 38% das intenções de voto é porque 62% o rejeitam,
ele não está apenas fazendo um exercício de ilusionismo: está cometendo um
crime, manipulando a opinião pública a mando de seus patrões.
113 – E quando, no
cenário sem Lula, o Capitão Cueca sai de 18 para 20 pontos, ele dá aquele
sorriso de Tavares (o bêbado explorador da Biscoito, lembram?) e diz que 2% do
eleitorado de Lula migra para o Capitão Cueca.
114 – Porra. É muita
imbecilidade ou apenas cara de pau?
115 – Lula não vai
transferir 38% de votos para o Haddad, pois serão divididos com o Boulos e o
Ciro – porque a Marina, quando o eleitor for lembrado de sua traição, em 2014,
vai é perder votos.
116 – E sabem pra quem?
Pro Picolé de Chuchu, o líder máximo da horda de bárbaros do Centrão.
117 – Não subestime o
poder da televisão. Chuchu vai se expor e prometer o que não pode e não vai
cumprir. E vai crescer nas pesquisas, roubando votos do Capitão Cueca, que não
vai ter tempo nem de lembrar o Enéas.
118 – O eleitor da Marina
– que odeia o Lula e tudo o que diga respeito ao PT – vai acabar achando o
Chuchu simpático.
119 – E o canalha
Meirelles, o candidato do canalha Temer? Conseguiu passar um debate aí falando
de suas proezas à frente do Banco Central, de 2003 a 2010, sem citar o nome do
santo que produziu o milagre. O castigo veio em forma de traço. Meirelles, o
candidato 1%, não vai perder votos. Nem ganhar.
120 – Mas, e o Haddad,
onde entra na história? Vai receber a maior parte dos votos que seriam de Lula
e vai para o segundo turno com o Picolé de Chuchu – com apoio de Boulos e Ciro.
Marina e o resto da canalha apoiará o tucano, claro.
121 – Como dizia o
maestro soberano Jobim, “o Brasil não é para principiantes”.
122 – E cá, na taba? O PT
está fechado com o mais reacionários dos candidatos, que alugou o outrora
glorioso PSB.
123 – Espera-se que os
eleitores de Lula, ignorando os néscios do PT local, façam justiça à senadora
Vanessa, do PCdoB, que se manteve íntegra e coerente no episódio do golpe, e a conservem
no senado.
124 – O Tucuxi errou feio
quando, em 1982, disse que seu “grupo político” (eufemismo para quadrilha),
ficaria no poder por 20 anos. Em 2022, esse tempo terá dobrado – e eles continuarão
no poder, não importa quem ganhe: são todos sacos da mesma farinha.
125 – Falo do governo do
estado e da prefeitura da capital: sempre os mesmos, embora, às vezes, coloquem
um disfarce vagabundo, tentando nos enganar.
126 – O Amazonas,
definitivamente, não é para principiantes.
127 - E pra não dizer que não falei de flores:
127 - E pra não dizer que não falei de flores:
Marielle Franco, por Aroeira. |
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Depressão e genética: pós modernidade da medicina 2/2
João Bosco Botelho
A medicina no subdesenvolvimento, ainda continua empenhada,
com muita dificuldade, no estudo da morfologia celular, sempre alterada pela
desnutrição crônica e pelas doenças infectocontagiosas, dizimadoras de milhares
de crianças por ano.
Podemos afirmar, sem receio de estar cometendo um exagero,
que a medicina no terceiro mundo continua aperfeiçoando o diagnóstico da
morfologia dos tecidos, ainda ligado à microscopia celular e bacteriana,
oriunda do século 17. A maior parte das suas instituições de saúde estão
voltadas somente para o tratamento dos tumores e das infecções hospitalares já
instalados, sem dinheiro e tecnologia para pesquisar a causa dessas
doenças.
A tendência geneticista é a nova abertura aos conhecimentos
da medicina desde a micrologia seiscentista de Marcelo Malpighi (1628 1694).
Todas as certezas trazidas pelo conhecimento exclusivo da morfologia estão
sendo repensadas. Não avançar nesse rumo significa permanecer no conhecimento
contido no espaço hermético da doença já instalada, onde o olho clínico e o
diagnóstico microscópico (a biópsia) são as diretrizes maiores.
A medicina é na atualidade um grande trem caminhando velozmente
em direção aos laboratórios de estudo do genoma humano, com a saúde sendo
conduzida para a intimidade da estrutura molecular dos genes.
Esta posição, nascida com a pós modernidade, está rompendo
muitas fronteiras do homem com a linearidade do tempo organizado, onde é
impossível saber com precisão a diferença entre doença e saúde. O despertar
dessa consciência que floresce na descrença das certezas acabadas está muito
longe da simplicidade da morfologia celular e acaba compondo, inevitavelmente,
uma nova leitura da vida.
As notícias sobre a engenharia genética são cada vez mais
frequentes e completas, fazendo com que esse tema entre nas casas como o
anúncio de qualquer outro produto de consumo. A televisão mostra, com grande
destaque, as curas de certas doenças antes não imaginadas, tudo graças às
pesquisas reveladoras dos segredos dos genes.
Uma dessas notícias que dominaram a mídia internacional está
relacionada à atividade do gene S1c6a15, na área cerebral, ligada à depressão,
objeto de estudo dos pesquisadores do departamento de anatomia e neurobiologia
da Escola de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. A ação
desse gene nos neurônios de animais de experimentação interfere na manutenção
da vontade, para superar adversidades sociais que provocam grande estresse.
No futuro, substituindo verdades acabadas, até muito pouco
tempo, as resultantes dessa pesquisa substituirão alguns tratamentos das
depressões e abrirão caminhos para diminuir o incrível número de suicídios
anuais, no mundo, que ultrapassa 800 mil.
quarta-feira, 22 de agosto de 2018
terça-feira, 21 de agosto de 2018
Agosto de saudades
Pedro Lucas Lindoso
Alguns não gostam do mês de agosto. Dizem que é o mês do
cachorro louco. Há quem diga que os romanos antigos já consideravam agosto um
mês azarento. Mas não se sabe bem o motivo. Há notícias de que muitas caravelas
partiam de Portugal nesse mês. E muitas se perdiam na imensidão dos mares nunca
dantes navegados.
Nunca acreditei nisso. Como não acredito no azar do número
13. Afinal, nasci em um dia 13. São bobagens. Superstição sempre nos leva a
temer coisas inócuas e depositar confiança em coisas absurdas.
Para mim, o mês de agosto tornou-se não um mês de desgosto,
mas um mês de saudades. Saudades do meu saudoso pai José Lindoso. É quando se
comemora o dia dos pais. Sua ausência nos entristece. Ele realmente faz uma
falta danada. Saudade sentida por todos que têm seus pais já falecidos.
Em agosto se comemora também o dia do advogado. José Lindoso
e seu sócio João Martins tinham uma das melhores e mais prestigiadas bancas de
advocacia de Manaus, na década de sessenta.
E para completar as saudades doídas, José Lindoso fazia
aniversário dia 21 de agosto. Meu pai nasceu em Manicoré, no rio Madeira, e
completaria 98 anos de idade neste 2018.
Descobri outro dia que o rio Madeira já foi chamado de
Caaiari. Meu pai era apaixonado pelo Madeira. Imagino o menino José observando
o rio que margeava o seringal de meu avô. Rio que o levaria de barco ainda bem
jovenzinho a Manaus.
Meu pai foi advogado brilhante, professor catedrático, secretário
de Educação, deputado, senador e governou o Amazonas. Mas para mim o mais importante
foi ter sido meu pai.
Chamávamos meu pai carinhosamente de Zecão. Gostava da
família, gostava de livros, de política, do rio Madeira e da cor amarela. E dos
ipês dessa cor.
Os ipês-amarelos florescem em agosto no cerrado do planalto
central, onde meu velho descansa em paz.
Sim, agosto é o mês dos ipês, principalmente dos amarelos. E um mês de
saudades. De muitas saudades.
domingo, 19 de agosto de 2018
Manaus, amor e memória CCCLXXXII
Publicado no Jornal do Commercio, Manaus, 26 de maio
de 1955. Pesquisa: Roberto Mendonça. |
Walquíria Líquida
(À Cerveja)
Farias de Carvalho
(do Clube da Madrugada)
Para o Coronel Costa Lima, com as continências do
estilo.
Loira, como as auroras e
os trigais;
pura, como o romance que há nos
ninhos;
és a chave de todos os caminhos,
princesa dos pecados noturnais.
E quando espumas, fulva,
nos cristais,
rendados de topázios e de arminhos,
tens o sabor de espasmos e carinhos,
deusa pagã das minhas bacanais.
Fazes parte de mim.
Serenamente,
as fronteiras do real venço e
transponho,
quando me entrego a ti, avidamente.
E, teus amantes, dormem
em ti submersos
os sonolentos cisnes do meu sonho
e os bordados doirados dos meus
versos!
Obs1: Peço
perdão ao querido Farias, por mexer na pontuação do poema: espero estar
corrigindo não o poeta, mas o sacana do linotipista, que, sob o efeito de umas Walquírias,
trocou os tipos.
Obs2: esse
primeiro terceto é uma obra-prima!
Marcadores:
A poesia é necessária?,
Farias de Carvalho,
Manaus antiga,
Roberto Mendonça
sábado, 18 de agosto de 2018
quinta-feira, 16 de agosto de 2018
Depressão e genética: pós modernidade da medicina 1/2
João Bosco Botelho
Ao aceitarmos a pós modernidade, como sugere Jean-François
Lyotard, moldada pelo desencanto dos metarrelatos universalizantes, será
inevitável o repensar do enquadramento metafísico de muitas palavras-sentimentos,
como “razão”, “sujeito”, “totalidade”, “verdade” e “progresso”.
Se abordarmos a pós modernidade da medicina sob o enfoque
técnico científico, veremos com transparência que o pilar sustentador está
fincado na aquisição do saber da engenharia genética – vendido, ao peso de
muito ouro, ou negado pelos países desenvolvidos aos subdesenvolvidos, de acordo
com as conveniências político-econômicas.
A condição pós-moderna, resultante dessas pesquisas de ponta,
obrigou à completa reformulação dos antigos conceitos em relação à saúde e à
doença, aceitos desde o aparecimento, no século 17, da micrologia.
Quando o mundo microscópico começou a ser revelado pelas
lentes de aumento e foram identificadas as primeiras bactérias patogênicas,
pensou-se que tudo estava resolvido no trato das doenças. Para isto, bastaria
classificar o micro-organismo e descobrir o remédio. Nos anos seguintes, ficou
evidenciado que o corpo humano tinha muitos componentes, ainda desconhecidos,
também interferindo diretamente no processo. Com a ajuda do fantástico aparato
médico industrial da modernidade, as máquinas passaram a mapear cada centímetro
dos tecidos na busca das modificações ocorridas no período de tempo entre a
entrada da bactéria e a instalação da doença. Tudo isso resultou na aquisição
de um novo saber: os mecanismos imunológicos de defesa. Foram três décadas de pesquisas para revelar
o quanto é importante o papel dos linfócitos (células responsáveis por grande
parte da defesa do organismo) na imunologia humana.
Entretanto, a grande conquista tinha sido realizada apenas
parcialmente. A função imunológica de proteção à vida obedecia às ordens vindas
do núcleo da célula, onde está o genoma (conjunto de genes). Os genes são
formados por uma malha complexa de informações codificadas, responsáveis por
todas as características internas e externas dos seres vivos. No homem e na
mulher, eles respondem por desde a cor dos cabelos à pele dos pés.
A partir dessa certeza, a medicina afastou-se dos princípios
passivos da classificação morfológica das doenças e passou a utilizar a
engenharia genética na busca de soluções para as mortes causadas pelo câncer e o
envelhecimento.
quarta-feira, 15 de agosto de 2018
terça-feira, 14 de agosto de 2018
Mangará
Pedro Lucas Lindoso
Tia Idalina mora em Copacabana, no Rio de Janeiro, há
décadas, mas não se desliga das coisas daqui de Manaus. Telefonou-me quase de
madrugada para falar de bananas. Disse-me que comprou uma dúzia de bananas-prata
no supermercado e estavam horríveis. Banana de laboratório, resultante de
enxerto e possivelmente transgênica. Um horror, segundo ela.
Idalina não come banana-maçã. É coisa para criança e velho.
Explicou-me que também não come banana-d’água ou nanica porque é sem graça e
laxante. E claro, abomina a tal da banana-ouro porque, considera a mais
calórica das bananas.
Ainda existe a feira da banana aí em Manaus? Perguntou.
Tia Idalina ficou horrorizada com a feira da banana, da
última vez que esteve em Manaus. A feira surgiu do nada. Uma desorganização. São
frutas vindas do interior do estado. Compra-se por atacado. Além das bananas,
que é o carro chefe, vendem-se cebolas, tomates e batatas, frutas regionais
diversas e até queijo que vem do interior.
Eu disse a ela que estava bem mais organizada agora. Mas os
problemas ainda são muitos naquele lugar. A sujeira ainda é visível e existe a
questão da segurança. Quando tia Idalina visitou a feira tudo era ainda
improvisado. O Mercado havia ficado pequeno para a comercialização das bananas
e frutas. Criou-se o espaço quase que espontaneamente.
No final da conversa veio o pedido. Não sei como ela soube
que eu estava indo ao Rio de Janeiro. Os
pedidos de titia são ordens. Mandou ir ao mercado ou à feira da banana. As
encomendas dessa vez eram um cacho de banana-prata regional e um cacho de
pacovã. (Imaginem transportar essas bananas para o Rio de Janeiro). Traga com
mangará.
Mangará é a ponta terminal da bananeira, formada pelas folhas
que cobrem as pencas. Também conhecido como coração da bananeira.
Lembrei-me que um mangará fora usado para seviciar o
estudante Delmo. O rapaz foi vítima de um crime bárbaro que chocou Manaus dos
anos 50. Delmo foi morto por dezenas de taxistas, aqui em Manaus. Vingança pela
morte estúpida de um deles, cometida por Delmo. Os crimes, tanto o cometido por
Delmo quanto o seu assassinato, chocaram a cidade.
O que tia Idalina quer com um mangará? Vai saber!
segunda-feira, 13 de agosto de 2018
domingo, 12 de agosto de 2018
sábado, 11 de agosto de 2018
sexta-feira, 10 de agosto de 2018
quinta-feira, 9 de agosto de 2018
A arte rupestre formando consciência 2/2
João
Bosco Botelho
A localização da arte rupestre em locais de difícil acesso é
demonstrativa de que se tratava de sítios incomuns para o uso habitual. Em um
deles, a caverna Le Tue d’Audoubert, na França, foram encontrados dois bisões
esculpidos em argila, cada um deles com quase um metro de comprimento, numa
espécie de altar, cercado por incontáveis impressões de pés de adultos e de crianças.
Mesmo hoje, com todas as facilidades para o deslocamento no interior desses
esconderijos naturais, com balsas infláveis para percorrer as nascentes dos
rios subterrâneos e da luz elétrica, o caminho para se chegar a esse santuário
não é fácil de ser alcançado.
Certos homens se especializaram e se adiantaram na
interpretação do espaço simbólico por meio do conhecimento historicamente acumulado.
Podem ter sido esses especialistas do sagrado os autores dos intrigantes
desenhos parietais do mamute da gruta El Pindal, na Espanha, mostrando o
coração na sua forma correta e da mulher grávida com a criança na barriga,
encaixada na pelve, em posição cefálica, pronta para o início do trabalho de
parto.
As representações só poderiam ter sido feitas por alguém que
já tivesse observado uma barriga aberta com o útero ocupado pelo feto, para
algum fim que jamais saberemos. A possibilidade da existência, na pré-história,
de algumas pessoas que poderiam ver o que se escondia atrás da pele, constituiu
um marco importante na relação de poder que foi erguido entre os curadores e os
não especialistas.
É possível correlacionar esses saberes com personagens da
atualidade. O curador popular, graças à visão sobrenatural, seria capaz de ver
através da pele, enquanto a visão clínica do médico moderno poderia chegar ao diagnóstico
com o simples olhar. Essa visão continua sendo valorizada como símbolo de
competência profissional.
quarta-feira, 8 de agosto de 2018
terça-feira, 7 de agosto de 2018
Juruti – waku sese
Pedro Lucas Lindoso
Quando a Amazônia se chamava Grão-Pará, havia três cidades
importantes na enorme região: Belém, situada no litoral, era a grande
capital. Santarém, na região do rio
Tapajós, e nossa Manaus, capitaneando o majestoso rio Negro.
Fomos elevados à categoria de província e hoje Manaus é a
grande capital do Amazonas. Infelizmente, nossos irmãos do Tapajós até hoje não
conseguiram ficar independentes do Pará. Jamais faltou vontade e houve várias
tentativas.
Santarém tornou-se muito conhecida ultimamente por conta de
Alter do Chão. Mas o que muita gente não sabe é que na região do Tapajós tem
uma cidade que se prepara para ficar tão ou mais famosa que Parintins. Não
faltam por lá guerreiros valentes e belas cunhãs porangas. Falo da mimosa
Juruti.
Se você curte um sambódromo e um bumbódromo, com certeza vai
curtir o tribódromo de Juruti.
É no tribódromo de Juruti que acontece o TRIBAL – Festival de
tribos de Juruti. É sempre no final do mês de julho, para não atrapalhar o
festival de Parintins que é em junho. Esse ano, comemorou-se o bicentenário da
cidade e o grande campeão foi a tribo dos Mundurukus. Em sua apresentação, os
Mundurukus convidaram os povos da Amazônia, do Brasil e do mundo a reverenciar
e retomar o ponto onde tudo começou. Uma época em que os caciques indígenas
mandavam no mundo e o mundo era só a floresta.
Já os Muirapinima, que perderam por dois pontos (uma provável
injustiça), reverenciaram a essência da vida dos povos sataré-mawé. Os
sateré-mawé jamais se afeiçoaram aos portugueses. Davam ordens às suas mulheres
que não aprendessem a nossa língua. Participaram ativamente da Cabanagem. Foram
eles que transformaram o guaraná em arbusto cultivado, com o plantio e o
beneficiamento dos frutos.
Praticam o ritual da tucandeira. É o conhecido e assustador ritual de
iniciação para a vida adulta. Ao enfiar as mãos em uma luva cheia de formigas
durante aproximadamente vinte minutos, o menino não apenas demonstra estar apto
para vida, mas também ganha respeito e admiração.
Há quem diga que esses povos guerreiros de grande resignação
e audácia tem alguma ascendência dos incas e vieram do Altiplano andino até a
Região do Tapajós, hoje também conhecida como Baixo Amazonas.
Já me considero torcedor da tribo dos Muirapinima, que parece
ser a tribo do povão. Ano que vem vou ao festival de Juruti. Deve ser mesmo
waku sese, que significa muito bom, em sateré-mawé.
segunda-feira, 6 de agosto de 2018
domingo, 5 de agosto de 2018
Manaus, amor e memória CCCLXXX
sábado, 4 de agosto de 2018
quinta-feira, 2 de agosto de 2018
A arte rupestre formando consciência 1/2
João
Bosco Botelho
Os nossos ancestrais distantes, desde o final do paleolítico,
em torno de 20.000 anos, ao aperfeiçoarem a organização social, mantiveram a
busca da explicação do significado da vida e da morte. Parece que a crença no
renascimento esteve contida nessa construção porque a presença dos utensílios
enterrados junto com o morto, em diferentes sociedades, traduz a esperança
comum de que ele continuará a atividade na nova vida após a morte. Esses corpos,
em sua maioria, foram sepultados voltados para o leste, definindo a clara
intencionalidade com o curso do nascimento do sol.
Por outro lado, Leroi Gourhan, o historiador da pré-história,
afirma que a partir desse período foram encontrados, em cavernas, crânios de
vários animais, colocados em lugares de destaque, sugerindo tratar-se de
altares primitivos. A partir do estudo comparativo entre esses achados e o
mundo mágico de alguns grupos sobreviventes de caçadores coletores, foi possível
compreender melhor o significado sociológico do senhor do animal, um dos mais
antigos mitos conhecidos.
Sob diferentes formas, o ser mítico teria força para controlar
quem representasse ameaça. A fé no poder sobrenatural do animal, capaz de
dominar bestas hostis, está intrinsecamente atada à necessidade de acreditar
que estas mesmas feras possuem qualidades maiores que as dos humanos. Com a
possibilidade de transferi-las ao homem, daria a oportunidade do enfrentamento
em condições mais favoráveis.
O historiador da medicina Lyons, publicou a intrigante
escultura no osso de uma mulher grávida, no final da gestação e com edema
vulvar, sob uma rena que acabara de parir, indicada pelas mamas túrgidas. É
possível teorizar que a representação do acontecimento pode estar relacionada à
busca da passagem da força do animal à mulher prenha, para ajudar o nascimento
da criança, durante um parto que se mostrava difícil.
Igual raciocínio pode amparar a interpretação do simbolismo
das pinturas neolíticas do bruxo dançarino de Afvalingskop, na Ásia Central, e
a do médico feiticeiro, da gruta de Trois Frères, nos Pirineus franceses, ambos
travestidos de animal em movimento de dança, fazendo supor a participação em
algum tipo de ritual. Existe uma incrível semelhança entre esses trajes com o
usado pelo pajé, envolto com a pele do bisão, para encarnar o senhor do animal,
nas celebrações da abundância entre os indígenas do norte dos Estados Unidos. A
festa, orientada nas sequências rituais, comemora desde a localização até o
abate do bicho, para obtenção do alimento e do agasalho daqueles povos que
mantêm a tradição de caçadores.
Os três personagens, dois pintados em lugares diferentes há
mais de 10.000 anos e um que ainda pode ser visto, ficam quase completamente
encobertos pela pele dos animais que respondem pela sobrevivência do grupo.
Esse aspecto das primitivas expressões de religiosidade é de
fundamental importância porque continua sendo através da linguagem simbólica
que o ser mortal se aproxima do imortal, fazendo com que o primeiro alcance o
divino, enquanto a divindade se humaniza nos momentos em que se estabelece a
comunicação entre eles.
quarta-feira, 1 de agosto de 2018
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