Amigos do Fingidor

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

domingo, 29 de setembro de 2019

Manaus, amor e memória CDXL


Igreja de Santa Rita de Cássia, na Cachoeirinha.

sábado, 28 de setembro de 2019

Fantasy Art - Galeria

Eve.
Roman Fedosenko.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

A poesia é necessária?



Lembrança de morrer
Álvares de Azevedo (1831-1852)


Quando em meu peito rebentar-se a fibra
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
— Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade — é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade — é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada
Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,
Poucos — bem poucos — e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo....
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta — sonhou — e amou na vida.

Sombras do vale, noites da montanha
Que minh’alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!

Mas quando preludia ave d'aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua pratear-me a lousa!

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Gentle nude.
Helena Wierzbicki

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Cartão-postal versus Facebook



Pedro Lucas Lindoso


Recebi um cartão-postal de tia Idalina. Está em Paris. Resolveu, depois de muitos anos, rever Paris no outono.
Bem antes de o cartão-postal chegar havia recebido um e-mail de titia. Dizia-me que na primeira vez que esteve na França não precisou de mais de 15 minutos de fila para subir na Torre Eiffel. Agora, é praticamente impossível, me disse. Filas quilométricas.
Informada de que a torre piscava em certos horários pegou uma excursão noturna para conferir a novidade. Idalina ficou encantada. Na última piscada, as luzes da torre se apagam. Somente as luzes piscantes ficam acesas. Isso acontece à meia-noite.
Depois do espetáculo, titia foi até um quiosque à procura de cartão-postal. Havia estrangeiros vendendo bugigangas diversas. De roupas a miniaturas, menos postais.
– Um absurdo, me explicou titia.
Quem nesse mundo de e-mails e WhatsApp ainda manda postais, além de tia Idalina?
Enviar postais a amigos, parentes e pessoas queridas durante uma viagem é uma ótima forma de mostrar afeto e dar às pessoas uma noção de onde você está. Mas quem ainda faz isso?
As pessoas hoje em dia fazem isso pelo Facebook, Instagram e outras mídias. Há pessoas que nunca viram um postal. O jovem porteiro do meu prédio ficou curioso. Uma carta sem envelope!
Disse a ele que o cartão postal ou simplesmente postal, é uma carta simplificada.  Na verdade é um pequeno retângulo de papelão fino, com a intenção de circular pelo Correio sem envelope. Em uma das faces, do lado direito, se coloca nome e endereço do destinatário e o selo. Na outra parte, do lado esquerdo, a mensagem do remetente. No verso do postal há uma bela figura do local onde a pessoa está viajando.
O cartão postal que recebi de tia Idalina era obviamente a Torre Eiffel. O cartão de titia dizia: “Há diversas réplicas da Torre Eiffel pelo mundo. Vi uma em Las Vegas, nos Estados Unidos. Também avistei uma em Tóquio, no Japão. Ouvi dizer que tem uma em Calcutá, na Índia. Nada supera Paris. Paris toujours Paris. Paris sempre Paris. Beijos. Idalina”.
Foi uma alegria receber um postal da França. Tia Idalina dá lucro aos Correios. Manda postal aos amigos e parentes. Envia telegramas de felicitações e pêsames. Posta cartão de Natal todo ano.
Ela já utiliza e-mails. Vamos aguardar quando ela descobrir o Facebook e o Instagram.


domingo, 22 de setembro de 2019

Manaus, amor e memória CDXXXIX


Chácara d'O Pensador (Eduardo Ribeiro).

sábado, 21 de setembro de 2019

Fantasy Art - Galeria

Luis Royo.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

A poesia é necessária?


Súplica
Alfonsina Storni (1892-1938)


Senhor, Senhor, há muito tempo, um dia,
Um grande amor sonhei, que não pudera
Ninguém sonhar igual, um amor que era
A minha vida inteira de poesia.

Passava o inverno e, entanto, o amor não via;
E tornava a chegar a primavera,
o verão novamente aparecia
E o outono vinha me encontrar à espera.

Senhor, Senhor, meus ombros desnudados
Deixam-vos ver os golpes retalhados
Que ali deixaram látegos perversos...

E tomba a tarde já na minha vida!
E essa paixão ardente e desmedida,
Eu a perdi, Senhor, fazendo versos!...

(Trad. Ivo Barroso)

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Anette Tjaerby.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Sobre cores e preferências



Pedro Lucas Lindoso


Definitivamente, não concordo com essa divisão política entre “vermelhos” e “verde-amarelos”. Em minha opinião, as cores verde e amarela e suas inspirações patrióticas pertencem a todos os brasileiros, sem distinção política ou ideológica.
Lembro-me do movimento das “diretas já”, nos anos de 1983 e 1984. Foi patrocinado principalmente pelos partidos mais progressistas e de esquerda. O objetivo era a retomada das eleições diretas para presidente da República. O movimento mobilizou o país pela redemocratização. Os brasileiros todos se vestiram de verde e amarelo.
Aqui no Amazonas, os torcedores do Boi Garantido gostam do vermelho e os do Boi Caprichoso gostam do azul. Eu sou garantido e tenho roupas em tom de azul. Sobre a já desgastada polêmica de que meninos vestem azul e meninas cor-de-rosa, digo que não compraria um carro cor-de-rosa. Mas não me importo em usar uma gravata dessa cor. Sem esquecer a beleza das rosas. E rosas são rosas!
O vermelho nos Estados Unidos não representa o partido progressista, como é comum na Europa e Brasil. Nos Estados Unidos os progressistas usam azul e os conservadores, vermelho. O Presidente Trump usa gravatas vermelhas com frequência.
Quando visitamos o Peru, fomos à fantástica e histórica cidade de Cusco. O visitante se depara com bandeiras coloridas hasteadas em casas e órgãos públicos da cidade. A bandeira de Cusco, um dos símbolos do Império Inca, possui sete faixas coloridas.
Durante o Império Inca, a bandeira foi criada em homenagem ao deus “Arco-íris”. A bandeira na verdade representa o exército da antiga civilização Inca.
Muitos confundem a bandeira de Cusco com a bandeira do movimento LGBT. O guia peruano me informou que a bandeira de Cusco possui sete faixas, diferente da outra que têm somente seis.
A bandeira do nosso Estado do Amazonas lembra muito a bandeira dos Estados Unidos. Podem ser facilmente confundidas.
Eu particularmente não tenho uma cor favorita. No festival de Parintins, eu faço questão de vestir uma camisa vermelha e torcer pelo Boi Garantido. Na copa do Mundo, como bom brasileiro, me visto de verde e amarelo e torço fanaticamente pelo Brasil.
E você caro leitor, tem cor preferida?



domingo, 15 de setembro de 2019

Manaus, amor e memória CDXXXVIII


Cine Politheama.
Colaboração: Mauri Mrq.

sábado, 14 de setembro de 2019

Fantasy Art - Galeria


The Virtuous Woman.
Harmonia Rosales.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Lago Curumucuri 5/5


Cadê o caminho
que estava aqui?

Seguindo em frente,
se não achamos caminho,
o caminho acha a gente.

Não é parede, é caminho...

Delicados, os tajás
acenam para os passantes.

A garça galante
desfila com graça
seu branco elegante.

Na superfície límpida,
onde começa o tronco,
onde termina a linfa?

Manhã-calmaria:
nas réstias de sol
gorjeios do dia.

Todos os caminhos
conduzem ao verde.

Todos os olhos
convergem a ti.

Tudo o que o sol pinta
a água destinta.

Sob a mansidão das águas,
as memórias mergulhadas.

Para além da serra,
 o que esconde a terra?


Texto e fotos: Zemaria Pinto.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Prosa & Panela em Juruti



A poesia é necessária?



Estudo XII
Alcides Werk (1934-2003)


Impossível voltar. A caminhada
já foi longe demais, e não me encontro.
Há marcas fundas do caminho antigo,
mas não posso sentir, vivo agitado.

Vejo em volta de mim alguns pedaços
do meu ser dividido. E tento, às vezes,
fraco e mesquinho como um delinquente,
redescobrir a minha identidade.

Impossível voltar, e continuo.
Elaboro miragens e as persigo
com a determinação dos suicidas.

E, passo a passo, cada dia cumpro
a função de votar o que me resta
em sacrifício a ti, num rito amargo.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Plural de avô



Pedro Lucas Lindoso


Uma das maiores alegrias de minha vida é ser avô da Maria Luísa. Aguardo ansiosamente para que ela tenha irmãozinhos e priminhos.
Um amigo, neto de italianos, me disse que só chamava os avós de “nonno” e “nonna”. Ele e seus irmãos desistiram de chamá-los de vovô e vovó. Disse-me que seus avós italianos nunca conseguiram entender a diferença entre a palavra vovô e vovó. De fato, os fonemas /ó/ e /ô/ para o falante de Português são bem distintos. Já para o falante de Italiano o som é o mesmo do fonema /o/. Não sentem a diferença.
Rachel de Queiroz, em seu belo texto “A arte de ser avó”, explica o prazer da sonoridade da palavra avó:
“... lhe reconhece, sorri e diz: “Vó!”, seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.”
E ela tem toda a razão do mundo. O texto é muito bonito. Acho que todo avô ou avó conhece.
O Português também tem as suas peculiaridades. O plural avós pode se referir à avó materna e paterna. As avós de Maria Luísa são bonitas e inteligentes. Também pode se referir ao avô paterno e avô materno. Os avós de Maria Luísa são amazonenses.
Em inglês, avô é “grandfather” e avó “grandmother”. O plural é “grandparents”. Maria Luísa tem o privilégio de ter os dois “grandfathers” e as duas “grandmothers”.
Não tive a felicidade de conhecer meus avós. Somente minhas avós. Minha inesquecível avó materna Brigitta Daou era minha madrinha e gostava muito de mim. Uma avó sempre presente e amorosa. Minha avó paterna, chamada de Zezé, era muito querida por todos. Transmitia uma sabedoria atávica que deu segurança e fibra de caráter aos seus filhos e netos.
     Um texto que percorre as redes sociais diz que as crianças crescem mais felizes com os avós ao lado delas. Um estudo confirma que as crianças que têm a sorte de ter seus avós por perto ficam mais serenas e felizes.
Maria Luísa, minha formosa e querida netinha, tem todos os avós maternos e paternos. Todos jovens e radiantes exercendo as suas “vovorices” com grande alegria.
     Outro dia ouvi uma garotinha da idade de Maria Luísa dizer que tinha vários “vovores’. Deve ser o novo plural para avô.

domingo, 8 de setembro de 2019

sábado, 7 de setembro de 2019

Fantasy Art - Galeria

Tangle Box.
Keith Parkinson.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Lago Curumucuri 4/5


Sejam bem-vindos,
diz o urucum.

Vermelho-sangue,
vermelho-guerra:
vermelho sempre!

O espelho d’água
reflete a vida
do calmo entorno.

O som do silêncio
e mais nada...

Caminhos que se separam
buscando o encontro.

Sobre o vasto verde
tímidas flores.

A saudade contemplando
a paisagem desmedida.

Fim de tarde, o sol
brilha a despedida.

Chegando em casa,
junto com a noite.



Texto e fotos: Zemaria Pinto.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

A poesia é necessária?



Cantar de andarilho
Alencar e Silva

Não tenho pátria
determinada
nem tenho pressa
nesta jornada:

só esta sede
que têm meus olhos
de ver e ver

e este incontido
impulso de asas
sobre meus pés.

Minhas sandálias
cobrindo o mundo
que descobriram
pé ante pé,
minhas sandálias
vão-se ficando
pelos caminhos
de minha fé.

Arde em meu rosto
o sol de todos
os continentes.

Todos os ventos
já visitaram
minhas narinas.
Todas as águas
já circularam
dentro de mim.

Em minha fala
todas as falas
se misturaram.

E nos meus olhos
os céus mais vários
se despejaram.

Não tenho pátria
determinada
nem tenho pressa
nesta jornada:

só esta sede
que têm meus olhos
de ver e ver

e este incontido
impulso de asas
sobre meus pés.